• Nenhum resultado encontrado

3 CONSTRUÇÃO METODOLÓGICA: TRILHANDO OS

3.2 LÓCUS DA PESQUISA

3.2.2 A Estrutura do Curso de Pedagogia da UFRN

O curso de Pedagogia está ligado ao Centro de Ciências Sociais Aplicadas e tem como disciplinas oferecidas pelo Departamento de Educação. O curso funciona no setor I da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ocupa os blocos A, D e H deste setor. Ele funciona nos turnos vespertino e noturno. É composto por nove períodos no turno vespertino e dez períodos no turno noturno. Este, por possuir uma carga horária diária menor que o turno vespertino, tem um período a mais, isto é, os alunos do vespertino têm uma formação mínima de quatro anos e meio, enquanto que os alunos do noturno possuem uma formação mínima de cinco anos.

No momento da realização da pesquisa empírica em 2008, o curso contava com aproximadamente 700 alunos matriculados regularmente, os quais são, predominantemente, do sexo feminino como já discutimos anteriormente, Pereira (apud Pimenta, 2002, p.31), evidencia que a característica mais marcante do magistério primário está no fato de ser uma ocupação exclusivamente feminina. Conforme esse autor, a justificativa é dada pelos próprios professores de seu estudo: traços de personalidade como instinto maternal, carinho, amor, paciência, compreensão e por fatores extrínsecos que é próprio do sistema de ensino, como baixos salários, horas extensas de trabalho diário e prestígio ocupacional insatisfatório.

O Currículo 004/1994 assume a docência como base formativa, considerada como própria da identidade do profissional da educação. Essa base se articula aos núcleos temáticos e à pesquisa em educação para contribuir com uma formação articulada do docente e do pesquisador em educação. Estabelece uma estrutura curricular baseada em três vertentes: a primeira concentra uma extensa formação geral, com base nas ciências da educação. A segunda vertente agrupa as disciplinas referentes aos ensinos, nas áreas de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História e Geografia; e a terceira vertente está relacionada às disciplinas práticas, com aprofundamento de estudos sobre a docência nos anos iniciais do ensino fundamental. No atual currículo, as disciplinas práticas estão concentradas ao final do curso. Essas três vertentes são complementadas pelas disciplinas dos núcleos temáticos de Educação de Jovens e Adultos, Coordenação Pedagógica, Tecnologia Educacional, Educação Infantil, Arte e Educação e Educação Especial. Contudo, alguns núcleos praticamente não oferecem disciplinas, pela falta de professores dessas áreas específicas.

Nessa estrutura curricular há o conjunto de disciplinas teóricas que visam oferecer uma fundamentação teórica básica e específica; e situado nos últimos períodos, temos os estágios curriculares com a função de aplicar os conhecimentos adquiridos. Nesse sentido, é possível inferir uma compreensão de estágio como um momento de aplicação ou adequação da teoria à prática, expressando uma dissociação entre uma formação idealizada, constituída de um conjunto de teorias e procedimentos e uma prática profissional formada por atividades repetitivas, fragmentadas, de caráter apenas instrumental.

O estágio curricular, nessa conjuntura, ainda se configura como uma repetição do modelo tradicional, com uma fundamentação inicial propedêutica e, apenas no final do curso, uma intervenção prática por meio dos estágios supervisionados, nos quais o

aluno deverá demonstrar, a seu fazer, tudo o que aprendeu na teoria. Para esta concepção de ensino e de aprendizagem, a formação dos professores se caracteriza por uma perspectiva de prontidão para a ação e não em uma articulação entre a teoria e a prática na reconstrução de saberes a partir da reflexão gerada pelo conflito em um processo de ação-reflexão-ação.

Os estágios curriculares são realizados habitualmente no sexto e sétimo períodos do curso para os alunos do turno vespertino, enquanto que para os alunos do noturno são oferecidos nos sétimo e oitavo períodos do curso. O primeiro estágio tem carga horária de 90 horas e deve ser realizado em curso de Magistério de Ensino Médio, ministrando disciplina pedagógica para curso de formação. Porém, devido à quase extinção desses cursos, esse estágio é realizado nas séries iniciais do ensino fundamental, dando ênfase a aspectos pedagógicos de atuação; outra estratégia usada é a realização de oficinas para professores das séries iniciais que lecionam na rede pública de ensino. O segundo estágio tem uma carga horária de 180 horas e deve ser realizado ministrando as disciplinas polivalentes dos anos iniciais do ensino fundamental da rede pública de ensino.

As dificuldades enfrentadas pelos alunos na efetivação dos estágios e práticas estão relacionadas ao campo de atuação bastante restrito (devido à quase extinção de escolas de magistério de nível médio, o que impossibilita a atuação desses alunos no campo da formação de professores; também pelo fato de o atual currículo não considerar a prática de estágio nas turmas da educação infantil, também, campo de atuação do pedagogo), e ainda a rejeição das escolas em receber os alunos da universidade. Segundo as escolas, essa rejeição decorre da falta de retorno, pelos estagiários e pela universidade, dos resultados das atividades desenvolvidas e do indicativo, da parte dos professores das escolas, de que a presença de estagiários acarreta o não cumprimento de sua programação. A análise dessas dificuldades desencadeou ações institucionais junto às redes públicas de ensino, com o estabelecimento de convênios e uma melhor definição de campos de estágios. No caso dos alunos do turno noturno, a dificuldade é ainda maior, pelo fato de não ser possível realizar sua prática no turno diurno, ficam limitados a realizar seu estágio curricular em turmas de educação de jovens e adultos, que se configuram turmas pequenas e com grande possibilidade de rejeição a esses estagiários.

Um aspecto reivindicado pelos alunos é para que, embora a docência seja o espaço privilegiado da atuação do pedagogo, esta não se resuma à sala de aula, mas

envolva a totalidade do trabalho pedagógico e da ação educativa, o que inclui espaços não escolares e não formais.

Na dimensão socioeconômica e política, o contexto de inovações tecnológicas e da globalização da economia denuncia modificações em diferentes campos, trazendo novos desafios para o mercado de trabalho e, consequentemente, para o perfil do profissional que nele deverá atuar. Essas transformações provocaram alterações nos padrões de intervenção estatal resultando na emergência de novos mecanismos e novas formas de gestão, redirecionando as políticas públicas e, particularmente, as educacionais e de formação de professores.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Pedagogia, licenciatura, (BRASIL, 2006, p. 01), orientando-se por essa perspectiva, explicitam as seguintes exigências como centrais na formação do pedagogo:

Art. 3º. O estudante de pedagogia trabalhará com um repertório de informações e habilidades composto por pluralidade de conhecimentos teóricos e práticos, cuja consolidação será proporcionada no exercício da profissão, fundamentando-se em princípios de interdisciplinaridade, contextualização, democratização, pertinência e relevância social, ética e sensibilidade afetiva e estética.

Parágrafo Único. Para a formação do licenciando em Pedagogia é central:

I - conhecimento da escola com organização complexa uque tem a função de promover a educação para e na cidadania;

II- a pesquisa, a análise e a aplicação de resultados de investigações de interesse da área educacional;

III- a participação na gestão de processos educativos e na organização e funcionamento de sistema e instituições de ensino.

Alguns desses aspectos encontram-se já incorporados n proposta curricular do curso de pedagogia da UFRN (Currículo 004), todavia, como já dissemos, com um caráter complementar e optativo na formação, não se configurando como constitutivos do percurso formativo para todos os egressos.