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2 AS POLÍTICAS E A ESTRUTURA DE INTEGRAÇÃO AOS REFUGIADOS

3.2 A ESTRUTURA GOVERNAMENTAL BRASILEIRA PARA A INTEGRAÇÃO DE

Em 2014 o Brasil realizou um importante marco na construção da internacionalização do tema refugiados no país, mesmo havendo a criação da CONARE, por meio da lei do refugiado, foi realizado a Declaração e Plano de Ação do Brasil16, como forma de avançar a implantação das políticas públicas no contexto inserido na América e no Caribe (ONUBR, 2018).

De acordo como Gediel e Godoy (2016, p. 107) a Lei Federal n. 9.474/97, ―subdivide estruturalmente a relação de atendimento sobre o status de refugiado em solicitação na Policia Federal, CONARE e em caso de não ser concedido o status o solicitante pode buscar o Ministério da Justiça (MJ)‖. Ademais, podemos dizer que está relacionado a participação de três organismos: ―o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refúgio (ACNUR), o Departamento da Polícia Federal e o Comitê Nacional para Refugiados (Conare)‖ (GEDIEL; GODOY, 2016, p.105).

Além da cooperação realizada entre o ACNUR, CONARE e Policia Federal, o país possui uma política de que os estados e municípios possuem responsabilidades no aspecto de criar maneiras de assegurar a proteção e integração aos refugiados, por meio de Centros de Referência e Acolhida de Migrantes e Refugiados (CRAI) em parceria com o Conselho Nacional de Imigração.

Conforme se lê em SALLES e GONÇALVES (2016):

Dentre as ações anunciadas pelo governo, destacam-se a construção de parcerias com estados e municípios tanto para o fortalecimento da atuação do CONARE em nível estadual, quanto para implementação de programas de descentralização do acesso à documentação, oferta de cursos de português e de qualificação profissional para migrantes. Assim também a

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Avançar na implementação da Declaração e Plano de Ação do Brasil

Em dezembro de 2014, ministros dos governos de toda a América Latina e o Caribe, juntamente com o ACNUR, se reuniram para reafirmar a cooperação internacional e a solidariedade regional como respostas humanitárias efetivas aos refugiados, deslocados e apátridas na região. O encontro, em Brasília, concluiu o processo de comemorações do 30º aniversário da Declaração de Cartagena para Refugiados – melhor conhecido como Cartagena+30 (ONUBR, 2018).

criação de mais Centros de Referência e Acolhida de Migrantes e Refugiados (CRAI).

Instituída graças ao Estatuto do Refugiado no Brasil, o CONARE está vinculado ao Ministério da Justiça e possui como um de seus objetivos a aprovação de instruções normativas que possibilitem a execução da lei do estatuto, e como forma organizacional têm como membros um representante do Ministério da Justiça (Presidente), das Relações Exteriores (Vice-Presidente), do Trabalho, da Saúde, da Educação e Desporto, um representante do Departamento da Polícia Federal, um representante de uma ONG relacionada à proteção e assistência aos refugiados e por fim um convidado do ACNUR (Regimento Interno – CONARE, 1998).

Como o CONARE trabalha em parceria com a Polícia Federal toda a estrutura de atendimento estabelecida pelo Governo Federal está relacionada aos trabalhos realizados por eles.

É importante destacar que em 2018 foram realizadas algumas alterações na norma anterior e incluindo novas questões das quais não eram mencionadas pelas resoluções anteriores.

Vejamos o que dispôs o Ministério da Justiça:

Durante a realização da 127º Reunião Ordinária do Comitê Nacional para os Refugiados, no dia 29 de março de 2018, o Comitê, por unanimidade, aprovou a Resolução Normativa nº 26, do Conare. A referida Resolução altera a Resolução Normativa nº 18, do Conare, para corrigir imperfeições da norma original, atualizar nomenclatura e, pela primeira vez, disciplinar hipóteses de extinção do processo de solicitação de reconhecimento da condição de refugiado sem resolução do mérito. Até então, não havia norma processual disciplinando a questão. Além disso, na maioria das hipóteses, a resolução ficará a cargo da Coordenação-Geral do Comitê, sem necessidade de ser submetido ao colegiado, o que vai simplificar a facilitar o encerramento dos processos. Além disso, a Resolução dispõe que, para casos de extinção por desistência expressa do solicitante, a Coordenação- Geral ficará autorizada a declarar o encerramento do processo, desde que por formulário próprio de desistência. Esse ponto foi inovador na Resolução, ao estabelecer uma uniformização no formulário de desistência dos solicitantes de refúgio (o formulário está disponível em: Formulário de Desistência do Pedido de Refúgio. Com isso, além de padronização, a desistência informada traz também segurança ao solicitante original. Por fim, outra novidade da resolução foi a inclusão do art. 6º-B na Resolução Normativa nº 18, que disciplina uma hipótese muito específica de extinção do processo sem resolução do mérito – quando o solicitante obtém, durante o curso do pedido, residência no Brasil. É sabido que diversos estrangeiros solicitam reconhecimento da condição de refugiado apenas como maneira de regularizar-se no território nacional e que, tão logo obtenham residência, deixam de mover o processo de refúgio. Com essa medida o Comitê, por maioria de votos, poderá declarar a extinção dos processos de quem já tenha residência no país, sem adentrar no mérito. A norma prevê, ainda, que o solicitante que tiver seu processo extinto poderá solicitar

reconsideração da decisão, no prazo de 15 dias após ser notificado (MJ, 2018).

Ademais o Brasil tem em sua base governamental o CONARE, para tanto, não é possível definir se o país possui um número de refugiados que podem ser reassentados, o que tem é uma estrutura que está dividida, ―o CONARE tem privilegiado dois grupos vulneráveis de reassentados: refugiados sem proteção física ou legal e mulheres em risco (como chefes de família ou vítimas de violência)‖ (SIMÕES, 2017, p.164).

O Brasil possui os postos da Policia Federal como meio para a solicitação de refúgio, o solicitante deve preencher um formulário e passar por coleta de informações biométricas, sendo que o solicitante que deseja incluir familiares na solicitação deve informar no formulário para que estes sejam concedidos o status de solicitante por extensão (MJ, 2018).

Em torno disso, é possível compreender que a solicitação do status de refugiado no Brasil passa por duas instituições, a primeira é a Polícia Federal, a responsável pela coleta das solicitações, e o CONARE que possui o papel de averiguar as informações e entrar em contato com o solicitante e ainda definir se a pessoa se encaixa ou não no status de refugiado descrito pela legislação interna já mencionada na seção anterior (MJ, 2018).

Porém, a solicitação do status de refugiado não possui restrições, a qual é descrita na própria Lei n. 9.474/97, conforme descrito por Simões (2017, p.166):

O artigo 7º da referida lei estabelece que o refugiado poderá solicitar o reconhecimento de sua condição assim que chegar ao território nacional perante qualquer autoridade migratória que se encontre na fronteira. Apoiando o princípio da não condenação por ingresso irregular, a lei brasileira de refúgio, em seu artigo 8º, diz não haver impedimento de o estrangeiro solicitar esse reconhecimento após a entrada em território nacional.

É importante destacar que havendo o arquivamento da solicitação do refúgio sem análise de mérito, o solicitante poderá procurar o CONARE ou a Polícia Federal para averiguar a situação, desde que seja justificado e realizado a atualização dos seus dados cadastrais, pois a averiguação da análise de mérito possui como meio crucial a entrevista, seja por meio de conferência ou pessoalmente, e o arquivamento da solicitação possui a não realização desse meio para poder prosseguir com o processo de solicitação (MJ, 2018).

Por outro lado, sendo realizado todo o processo referente ao status de refugiado, já com o status ―refugiado‖, deve procurar ―a unidade do Departamento de Polícia Federal mais próxima de sua residência, a fim de obter o Registro Nacional de Estrangeiros (RNE) e a Cédula de Identidade de Estrangeiro (CIE)‖ (MJ, 2018).

Neste sentido, assevera Simões (2017, p. 166) que:

De acordo com a Instrução Normativa nº 06 do CONARE, o solicitante e seu grupo familiar receberão um protocolo provisório permitindo-lhes a estada no país. O protocolo tem validade de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual período, data na qual o CONARE deverá emitir a decisão final sobre o pedido de refúgio. O protocolo assegura ao estrangeiro a possibilidade de solicitar Carteira de Trabalho (CTPS) provisória. Após esse período, o CONARE decidirá sobre a condição de refugiado. Caso essa seja positiva, o refugiado passa a obter direito ao registro perante a Polícia Federal e um visto de residência provisória. Se a decisão for negativa, cabe recurso do Ministro da Justiça, no prazo de 15 (quinze) dias.

Outra hipótese, seria a solicitação ser indeferida, sendo negado o status de refugiado ao solicitante, nesse caso o governo brasileiro deixa mais uma possibilidade para ser avaliada a solicitação podendo ser buscado junto ao Ministério da Justiça a revisão do processo.

No caso do refugiado querer ir para outro país será averiguado as soluções previstas na Resolução Normativa nº 23, de 2016, vigorando a partir de 2017. A pessoa refugiada reconhecida pelo Estado brasileiro, enquanto mantida essa condição, poderá solicitar junto ao Departamento de Polícia Federal a emissão de passaporte, art. 6º da Lei n. 9.474/97 (MJ, 2018).

Ademais, a Declaração e Plano de Ação do Brasil realizada em 2014 acrescentaram alguns objetivos relevantes pretendidos pelo governo brasileiro, quais sejam: garantir o acesso aos procedimentos de refúgio e aos mecanismos de proteção internacional, fortalecer a integração local como solução duradoura para os refugiados e a capacitação acadêmica, jurídica e operacional em matéria de proteção internacional.

Com todas essas políticas públicas adotadas nos últimos anos o Brasil se tornou um exemplo para os países vizinhos no aspecto de busca e melhorias no processo de reassentamento aos refugiados.

Porém, ainda falta realizar mudanças nas questões estruturais do governo para poder ser um exemplo mundial, em contraponto isso vem sendo cada vez mais debatido desde 2010 com o fluxo migratório de haitianos buscando o Brasil como

principal país de destino, tendo a partir desse contexto a implantação e estruturação em maior potencialidade, como forma de garantir os preceitos demandados dos acordos internacionais, como por exemplo, a Conversão de Cartagena, tratados de Direitos Humanos e da própria Constituição Federal de 1988.

A temática da migração e do refúgio está ganhando destaque nos últimos anos no Brasil, conforme dito, sobretudo, a partir da entrada de haitianos (pós- terremoto de 2010). Com isso, ―a produção de conhecimento e dados sociodemográficos dos migrantes e dos refugiados tem aumentado‖ (SIMÕES, 2017, p. 168). Assim, os aspectos da cooperação com a sociedade civil será apresentado na próxima seção.

3.3 O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL NA INTEGRAÇÃO DE REFUGIADOS NO BRASIL

O processo de integração com o apoio da sociedade civil brasileira ainda vem passando por um processo de adaptação graças ao aumento do fluxo de refugiados nos últimos anos. ―No Brasil esta integração tem sido feita pelo CONARE em parceria com o ACNUR, mas também em parceria com ONGs de direitos humanos e com a iniciativa privada (GEDIEL; GODOY, 2016, p.107)‖.

Destacam-se os cursos de língua portuguesa e profissionalizantes oferecidos pelo SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) aos refugiados, especialmente no norte do país, porta de entrada para maioria dos refugiados latino-americanos (GEDIEL; GODOY, 2016, p.107).

É importante destacar que o processo de integração brasileira teve como base a cooperação entre o ACNUR e a sociedade civil, a qual pode ser representada pelas ações realizadas pelas ONG‘s, como por exemplo, as Caritas em 1977 que foi crucial para a inserção da Conversão de 1951 no Brasil devido o contexto histórico da época (MIALHE; MALHEIRO, 2016).

Segundo Moreira (2011, p. 04), ―o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-98/1999-2002) foi marcado pela atuação em prol dos direitos humanos, com o objetivo de projetar internacionalmente uma imagem de país democrático engajado em questões humanitárias‖.

O apoio das organizações não-governamentais tem sido decisivo para a recepção destes refugiados no Brasil, em virtude do pouco interesse das autoridades brasileiras para com eles. Relevante então, é examinar como se deu o desenvolvimento das ONGs no país e, examinar essas organizações, é perscrutar sobre o papel da sociedade civil face ao Estado de Direito (MIALHE; MALHEIRO, 2016, p. 09).

Por derradeiro, nos últimos anos houve um aumento da busca do país por pessoas vítimas de deslocamentos forçados, e consequentes cobranças internacionais para o acolhimento, proteção, integração e reassentamento aos refugiados presentes no Brasil. Isso fez com que a sociedade brasileira, por meio das ONG‘s, auxiliasse os pontos não assistidos pela estrutura governamental presente no Estado, seja em aspectos locais ou regionais.

De acordo com Simões (2017, p. 167-168):

Nos últimos anos, a temática do refúgio tem crescido, sobretudo, a partir do ingresso dos haitianos em território brasileiro e do aumento expressivo do número de solicitações de refúgio [...] A partir de 2011, a entrada de haitianos no Brasil aumentou, principalmente após o terremoto de 2010 (GODOY, 2011). [...] Por outro lado, sobretudo em 2016, o aumento de cidadãos venezuelanos apresenta mais um desafio à atrasada legislação migratória brasileira o que se reflete em um aumento do número de solicitações de refúgio de venezuelanos, sobretudo no estado de Roraima. Dessa forma, é possível introduzir uma base reflexiva sobre o papel que a sociedade exerce para o atendimento dos serviços básicos que são assegurados pelo direito internacional aos refugiados e o direito fornecido pelas diretrizes dos direitos humanos como dever de assegurar o acolhimento e a proteção aos refugiados.

A Sociedade Civil no cenário protetivo deve buscar meios para aqueles que não possuem apoio devido a inércia do Estado para com a segurança, saúde, educação e trabalho, mostrando ao governo que existem novas demandas que necessitam de assistência governamental para viverem e conviverem em uma sociedade justa.

Reforça-se que o governo de Fernando Henrique Cardoso foi um marco para a inserção da relevância da integração da sociedade civil na temática da proteção e acolhimento aos refugiados. ―A formulação do programa, que enfatizava os direitos civis e políticos, contou com a participação de organizações internacionais e da sociedade civil brasileira‖ (MOREIRA, 2011, p. 04).

Por outro lado, segundo a mesma autora da citação anterior:

A inclusão do tema dos refugiados como parte do tema mais amplo dos direitos humanos na agenda política nacional foi fruto de demandas de representantes do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e de instituições religiosas que atuavam em prol dos refugiados no país desde meados dos anos 1970. (MOREIRA, 2011, p. 04). Como base de análise, a tese de Simões (2017) menciona que no ano de 2016 o número de ONG‘s que se relacionam com os aspectos de proteção aos refugiados e aos direitos destes, ultrapassavam cinquenta instituições, sendo que possuem atuação em diversas regiões do Brasil.

Ao mencionar os sistemas educacionais (SESI, SENAC, SENAI) como meio e ação, pode ser destacado o ensino do idioma nacional e qualificação profissional como uma das principais formas de inserção e adequação ao meio social que o refugiado será inserido.

Com um papel relevante, Simões (2017, p. 177) destaca que:

A partir da emissão do ato declaratório do CONARE de reconhecimento da condição de refugiado, intensificam-se as ações de integração dessas pessoas no país. A sociedade civil tem assumido esse papel mediante a aplicação de mais de 60% dos recursos aplicados com a integração local no Brasil. A Caritas Arquidiocesana, vinculada à Igreja Católica e com acentuada atuação em São Paulo e Rio de Janeiro, integra o CONARE na condição de representante da sociedade civil organizada com ações de proteção, assistência e integração local em parceria com entidades de classe, organizações não governamentais, empresas e o sistema ―S‖ (SESC, SESI e SENAI), além de agências internacionais.

Sobre o assunto, os doutrinadores Jorge Luis Mialhe e Karina Caetano Malheiro justificam a busca e a preocupação presente no país nos últimos anos como consequência do Estado de direito oriundo da inserção do tema no cenário nacional no final da década de 70 e que nos anos 90 houve, em forma definitiva, a presença das organizações não governamentais (ONG‘s) na construção do pensamento social brasileiro.

Neste cenário, o Brasil possui uma Associação Brasileira de Organização Não Governamental (ABONG) que no ponto de vista social, busca a presença de ONG‘s que possuem grande relevância nacional e internacional para o auxilio aos refugiados, seja na mídia ou em outro meio de visibilidade interna e externa.

Como forma de abstrair toda a relevância da sociedade civil no processo de integração dessas pessoas é primordial não deixar de lado o papel de cada um para

a construção de mecanismos adequados de proteção e inserção, destacando a cooperação entre o poder público e privado nessa relação.

A sociedade civil possui o papel de cobrar e assegurar os direitos e garantias de toda a população nacional, seja estrangeiro ou não. Portanto, é através das ações sociais e politicas exercidas pela comunidade brasileira que é possível impulsionar o Estado a agir de forma mais eficaz e competente quanto ao assunto. Na seção seguinte serão realizadas as considerações finais do trabalho, como forma de comparar os pontos positivos e melhorias possíveis para o Brasil sobre a temática.