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2 AS POLÍTICAS E A ESTRUTURA DE INTEGRAÇÃO AOS REFUGIADOS

3.1 LEGISLAÇÃO APLICADA AOS REFUGIADOS NO BRASIL

O Brasil é uma República Federativa, a qual possui em sua base a divisão em três poderes, quais sejam: Poder Legislativo, Poder Judiciário e o Poder Executivo. Esses poderes são os responsáveis pela elaboração das leis, execução e administração do país, respectivamente. Por ser um país que passou por algumas inseguranças políticas governamentais, presa pela autonomia entre os estados e municípios e pela prevalência dos direitos humanos, como alguns dos seus direitos fundamentais descritos na Constituição Federal 1988.

Para Jubilut (2007, p. 175):

Com a redemocratização do Brasil, a Constituição Federal de 1988 e o crescente interesse pelos refugiados e pelos direitos humanos em geral, foi elaborada a Portaria Interministerial 394, de 1991, que amplia o elenco de direitos dos refugiados e estabelece procedimento específico para a concessão de refúgio envolvendo tanto o ACNUR – que analisa os casos individuais – quanto o governo brasileiro, que dá a decisão final.

Em um contexto conflituoso tanto internacionalmente como nacionalmente, ―o Brasil foi o primeiro país da América do Sul a ratificar a Convenção de 1951, no ano de 1960, tendo aderido ao Protocolo de 1967, em 1972, mantendo, porém, a reserva geográfica que reconhecia como refugiados apenas os europeus‖ (SIMÕES, 2017, p, 163).

Em meados dos anos 70, no meio de uma ditadura militar, o Brasil cooperou com o ACNUR por meio ―das instituições religiosas (sobretudo as Cáritas14

, que fazem parte da Igreja Católica) com o intuito de fornecer assistência a refugiados‖ (MOREIRA, 2014, p. 91).

Ademais, graças aos tratados e convenções aceitos pelo Brasil foi possível a elaboração do Estatuto do Refugiado no país, o qual buscou por meio desse assegurar os direitos e garantias fornecidos pela Constituição Federal brasileira, independentemente se é brasileiro ou estrangeiro.

De acordo com Simões (2007, p. 163-164):

O processo de institucionalização do tema dos refugiados no Brasil se constituiu com base na aprovação de uma legislação nacional específica (Lei n. 9.474/97), a qual trouxe uma série de provisões, dentre elas a

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A Cáritas é uma organização sem fins lucrativos da Igreja Católica com atuação mundial em diversos projetos sociais. Foi estabelecida oficialmente em 1950, apesar de ter atuado embrionariamente auxiliando as vítimas da Segunda Guerra Mundial e de um terremoto no Japão em 1948 (JUBILUT, 2007, p.172).

definição do termo refugiado, que contemplava não apenas aquela da Convenção da ONU, mas também a chamada definição ampliada trazida pela Declaração de Cartagena. Entre as inovações, estava o direito de reunião familiar, estendendo-se a concessão do refúgio aos demais membros da família do refugiado.

A Lei n. 9.474/97 inspirada na Declaração de Cartagena 15ampliou o conceito de Refugiado representado pela Convenção de 51 em âmbito internacional, havendo assim o reconhecimento da condição de refugiados se contrapondo quanto a convenção que a ONU estabelecia sobre o conceito de refugiados (JUBILUT; GODOY, 2017).

Além disso, ―a legislação do Brasil ao refugiado estabelece que: o estado receptor não confere o estatuto, ele apenas o reconhece, não o torna refugiado, o reconhece porque ele já é um refugiado‖ (JUBILUT; GODOY, 2017, p. 95).

De acordo com Jubilut e Godoy (2017, p. 101):

No sentido da lei 9.474 o indivíduo deve estar no Brasil ou se dirigir a um oficial de fronteira, onde já atua o princípio da não devolução ou non- refulement, uma vez que o refugiado pode solicitar refúgio nos portos, aeroportos e postos de fronteira. Igualmente, o solicitante pode ter vindo ao Brasil por outros motivos e, devido à uma mudança na situação de seu país, ser impedido de voltar, podendo então acolher-se a condição de refugiado ―surplace‖, ou seja, aquele que já estava fora e, por circunstâncias advindas em seu país, torna-se refugiado devido à impossibilidade de retorno.

Ao se tratar das atividades realizadas aos refugiados, foi criado o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), conforme se lê em MOREIRA (2014, p. 92):

A lei brasileira também criou o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), formado por representantes dos Ministérios da Justiça (MJ), das Relações Exteriores, do Trabalho, da Saúde, da Educação, do Departamento da Polícia Federal e da sociedade civil (representada pelas instituições religiosas), todos com direito a voto.

Atualmente o Brasil no âmbito de proteção nacional aos refugiados criou duas principais juridicidades, são elas: a Lei Federal criada em 1997 (lei 9.474 –

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A Declaração de Cartagena é um marco na conceituação de refugiado na América Latina. Resultado de um Acordo entre países da América Central foi emanada em 1984, considerando a violência generalizada, invasão estrangeira e conflitos internos como razões que justificam o pedido e a concessão de refugio (MILESI, 2004,p.03).

Estatuto do Refugiado) e a Resolução Normativa nº 18/2014 do CONARE (JUBILUT; GODOY, 2017).

No entanto, Jubilut e Godoy (2017), esclarecem que as diretrizes vigentes na CADH e pela Corte IDH devem ser respeitadas para a aplicação do que se refere ao o artigo 1º, III da lei brasileira de refúgio (Lei n. 9.474/97), como forma de não sofrer represálias internacionais por não cumprimento do estabelecido, sendo que isso está relacionado a qualquer tipo de violação, ou seja, discriminação ou tratamentos desigual.

Conforme descrito no artigo 1º, III da lei brasileira de refúgio, Lei 9.474/97: ―Art. 1º Será reconhecido como refugiado todo indivíduo que: III – devido a grave e generalizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país‖.

Ao estabelecer quem será reconhecido como refugiado no Brasil, a Lei n. 9.474/97 considerou tanto o conceito adotado pela Convenção de 51, como a abordagem estabelecida pela Declaração de Cartagena. Nesse sentido, a lei brasileira permite a proteção por uma perspectiva individualizada, mas também aquela baseada na situação objetiva do país de origem. Assim, será considerada refugiada a pessoa que, devido a grave e generalizada violação aos direitos humanos, é obrigada a deixar seu país de nacionalidade para buscar refúgio em outro país. No entanto, em razão da ausência de conceito para o termo ―grave e generalizada violação aos direitos humanos‖, sua aplicação no processo de reconhecimento do status de refugiado no Brasil pode sofrer limitações. Assim, o Brasil deve adotar conceitos desenvolvidos por Tribunais Internacionais, tal como a Corte IDH, para que não viole o direito em razão da inexistência de conceito definido (JUBILUT; GODOY, 2017, p.131).

Mesmo havendo alguns contrapontos, a legislação brasileira ao refugiado é considerada a mais abrangente e a que mais descreve direitos e garantias aos refugiados na América do Sul.

Sobre o tema, dissertam Gediel e Godoy (2016, p. 106):

O refugiado goza da proteção do governo brasileiro, podendo obter documentos, trabalhar, estudar e exercer os mesmos direitos que qualquer cidadão estrangeiro legalizado. Tudo o que está garantido já que o país possui uma das legislações mais modernas sobre refugiados – Lei n.º 9.474/97 – resultado da internalização dos diversos Tratados Internacionais sobre o tema. Outro ponto interessante de trazer ao debate diz respeito aos reflexos previdenciários e assistenciais da proteção dos refugiados e estrangeiros no Brasil. Do ponto de vista previdenciário, reconhece-se o direito ao refugiado desde que cumpra os requisitos de tempo de contribuição previstos na legislação brasileira para aposentadoria.

Por fim, o Brasil possui um grande papel na construção e na proteção aos refugiados, principalmente na América do Sul, pois é caracterizado por ter como rol

a cooperação, e ter os Estados-nação e a cooperação internacional, como equiparação dos tratados e conversões internacionais equiparadas às emendas constitucionais e os tratados vinculados aos direitos humanos em que o país faz parte.

3.2 A ESTRUTURA GOVERNAMENTAL BRASILEIRA PARA A INTEGRAÇÃO DE