• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3: Revisão Bibliográfica

3.1. A evolução da manutenção, breve retrospectiva

Na era em que o homem começou a criar instrumentos e a desenvolver máquinas para a produção de bens de consumo, a manutenção foi emergindo como uma necessidade para responder às exigências dos mercados, tendo acompanhado a evolução técnico-industrial da humanidade, desenvolvendo-se com as mudanças nos perfis produtivos.

No final do século XIX, com a mecanização da indústria, surgiu a necessidade das primeiras reparações, sendo que até ao ano de 1914, a manutenção era desprezada e deixada para segundo plano, sendo executada pelo mesmo efectivo da operação.

Com o surgimento da produção em série, implementada por Henry Ford, as fábricas passaram a estabelecer mínimos de produção. Em consequência, surge a necessidade de criar equipas que possam executar reparações nas máquinas produtivas no menor tempo possível.

Desta forma, surge um órgão subordinado à operação, cujo objectivo básico era a execução da chamada manutenção correctiva.

Após a Segunda Guerra Mundial, com o aumento da necessidade de uma produção mais ágil e confiável, verificou-se que as intervenções correctivas, não se revelavam suficientes nem satisfatórias para alcançar os objectivos das empresas. Desta forma, a manutenção preventiva surgia, não só para corrigir falhas, mas também para evitá-las, permitindo rentabilizar o tempo da operação em produção efectiva.

Após a década de 50, verifica-se uma grande evolução na aviação comercial e na indústria electrónica. Com a manutenção preventiva baseada na estatística, em horas ou períodos de trabalho, verificou-se que o tempo despendido para diagnosticar avarias era superior ao tempo gasto para realizar as reparações. Neste sentido, os órgãos de gestão de topo das empresas, resolveram criar equipas de especialistas, a que denominaram “ Engenharia de Manutenção”, tendo como função o planeamento e controlo da manutenção preventiva, debruçando-se sobre a análise das causas e efeitos das avarias.

A introdução alargada de computadores ao serviço das empresas, o fortalecimento das Associações Nacionais de Manutenção e o desenvolvimento de instrumentos de protecção e medição, fizeram com que a Engenharia de Manutenção passa-se a desenvolver critérios mais sofisticados de manutenção, unidos a sistemas automatizados de planeamento e controle, reduzindo os serviços burocráticos aos técnicos de manutenção.

Estas actividades induziram o desmembramento da Engenharia de Manutenção que passou a ser composta por duas equipas, com funções distintas; a primeira, responsável por estudos de ocorrências crónicas, e a segunda, responsável pelo planeamento e controlo da manutenção. Esta última surge com a finalidade de desenvolver, implementar e analisar os

15 resultados dos serviços de manutenção, utilizando sistemas informáticos como ferramenta de suporte.

No início da década de 70, a preocupação das organizações recai sobre os custos do processo da gestão de manutenção, tendo sido desenvolvida uma técnica que se debruçou sobre o estudo deste tema, tendo ficado conhecida como terotecnologia.

Esta técnica desenvolveu a capacidade de combinar os meios financeiros, estudos de confiabilidade, avaliações técnico-económicas e métodos de gestão, de modo a obter ciclos de vida dos equipamentos mais longos e menos dispendiosos. O conceito de terotecnologia verifica-se ser a base da actual manutenção centrada no negócio, onde os custos norteiam as decisões na área da manutenção e as decisões estratégicas das empresas.

Esta postura é fruto dos novos desafios que se apresentam para as empresas neste novo cenário de economia global, altamente competitivo, onde as mudanças sucedem em alta velocidade, e onde a manutenção surge como uma das actividades fundamentais do processo produtivo, como agente pró-activo nas organizações (Kardec, 2002).

Ainda na década de 70, denota-se o surgimento do conceito TPM - Total Productive

Maintenance, estabelecendo como objectivo a maximização da disponibilidade dos

equipamentos para a produção, através da meta zero avarias, com a consequente eliminação das perdas de produção, através do envolvimento e participação de todos os intervenientes da organização no sector da manutenção.

Com o desenvolvimento dos microcomputadores na década de 80, as áreas de manutenção passaram a ser apoiadas por softwares dedicados à actividade, o que permitiu melhorar o processamento das informações, diminuindo a dependência e disponibilidade humana para executar as tarefas de gestão de manutenção. Ainda nesta década, em virtude da consciencialização da importância da manutenção pelas empresas, verifica-se que o sector de planeamento e controlo da manutenção passou a ter um lugar de destaque na supervisão geral de produção, em virtude da introdução de tarefas de manutenção realizadas pelos operadores de máquinas e equipamentos produtivos.

No final da década de 80, com as novas exigências para o aumento da qualidade dos produtos e serviços, pelos consumidores, a manutenção passou a ser um elemento importante no desempenho e fiabilidade dos equipamentos. Este reconhecimento foi formalmente atribuído, quando em 1993, a organização ISO - International Organization for

Standardization, revê a norma ISO 9000, onde incluiu a função manutenção no processo de

certificação, validando a área de manutenção como sendo um contributo importante para as estruturas organizacionais, no incremento da qualidade, aumento da confiabilidade operacional, redução de custos e redução de prazos de produção e entrega, garantindo a segurança do trabalho e da preservação do meio ambiente.

No final do século passado, a manutenção passou a ter um grau de importância equivalente ao que já vinha sendo dado à operação. Como consequência, o planeamento e controlo da manutenção, passou a desempenhar uma função estratégica dentro da área de

16 produção, através do registo de informações e análise de resultados, auxiliando a gestão da produção e operação, na tomada de decisão.

Na tabela 3.1, é apresentada de uma forma sucinta, a evolução histórica do conceito manutenção nas últimas décadas, onde se denota uma mudança de mentalidade por parte das organizações para com a manutenção. Tendo estas, passado a reconhecer o sector da manutenção como um aliado de extrema importância para o sucesso empresarial.

Tabela 3.1 – Manutenção numa perspectiva temporal

Fonte: (Adaptado de Geert Waeyenbergh e Liliane Pintelon, 2001)