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Capítulo I- Fundamentação Teórica

2. O Reconhecimento de Adquiridos Experienciais como modalidade da Educação de

2.3. O caso português: A criação do Sistema Nacional de Reconhecimento, Validação e

2.3.2. A Evolução da tutela do setor em Portugal

Considerámos necessário olhar para a evolução tutelar da educação de adultos e do SNRVCC, uma vez que, ao fazê-lo, ficámos com uma ideia da forma como o setor tem sido encarado, (promovido, ou não, e desenvolvido, ou não,) ao nível das políticas públicas. Ao analisarmos a lógica operativa das várias tutelas, percebemos o sentido do desenvolvimento do setor. Cremos, também que tal revela a importância que a educação de adultos tem tido na agenda política nacional, e que se reflete através do tipo de organismo que a tutela. Comecemos, portanto, com aquele que foi o primeiro organismo responsável pelo setor em Portugal.

A Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos – ANEFA:

A Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos - ANEFA6 teve um período de vigência entre 1999 e 2002. Foi criada como um Instituto Público, com autonomia administrativa, técnica e científica, ao abrigo do Decreto-Lei nº 387/997, publicado a 28 de Setembro de 1999, e que envolveu um longo período de trabalho prévio e muitas negociações entre os Ministérios que a tutelaram, o Ministério da Educação e o Ministério do Trabalho e da Solidariedade.

As atribuições da ANEFA foram, entre outras, a construção gradual de um sistema de reconhecimento e validação das aprendizagens informais dos adultos, com vista à sua certificação escolar e profissional; a realização de estudos e promoção da investigação em domínios da educação e formação dos adultos, apoiar a formação especializada dos formadores e de outros agentes da ação socioeducativa e motivar, informar e aconselhar as pessoas adultas quanto às possibilidades e oportunidades de aprendizagem ao longo da vida.

Podemos considerar que, sem a existência do Grupo de Missão cujo trabalho se traduziu, posteriormente, na criação da ANEFA, a Educação de Adultos em Portugal teria demorado muito mais a ter tamanha visibilidade pública. O Sistema Nacional de

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Constituída através do Dec.-Lei nº 393/99 de 20 de julho

51 Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (CRVCC) e toda a rede de centros que o suporta, foram legalmente instituídos, através da Portaria nº 1082 – A/2001 de 5 de Setembro, dos Ministérios da Educação e do Trabalho e da Solidariedade. Contudo, cerca de três anos depois da ANEFA ter sido criada para motivar as pessoas a aderirem à ideia da aprendizagem ao longo da vida, a ANEFA, viu seu trabalho interrompido e, pelas alterações políticas na altura, a reconversão foi inevitável. Não obstante, diversificar a oferta educativa adequando-a aos perfis das pessoas, e ter apostado na formação dos agentes de EFA, entre vários outros aspetos, foi um marco da ANEFA.

A Direção Geral de Formação Vocacional - DGFV

Com a extinção da ANEFA, foi criado, através do Decreto-Lei nº208/20028 de 17 de Outubro, um serviço central, da responsabilidade do Ministério da Educação, a designado de Direcção-Geral de Formação Vocacional – DGFV, que vigorou entre 2002 e 2005. De acordo com informação que consta no Despacho conjunto nº 24/2005, este serviço foi concebido, organizado, monitorizado e avaliado pelo Ministério da Educação e, surgiu porque, apesar de constar na Lei de Bases do Sistema Educativo9, algumas ofertas como o Ensino Recorrente e o Extraescolar, consideradas adequadas e específicas, já que cumprem duas funções, ao mesmo tempo que as pessoas obtêm a certificação escolar, estão também a preparar-se para o emprego, eram ainda insuficientes para dar a resposta adequada, no que à qualificação dos portugueses dizia respeito. Neste caso, o sistema educativo é reduzido, apenas, ao sistema escolar, sendo que apenas se referencia o Ensino Recorrente e a Educação Extraescolar.

O número de pessoas com qualificações certificadas em Portugal, em comparação com as dos outros países europeus, era ainda muito díspar, por esse motivo, justificava-se, neste contexto, o reforço da oferta da educação e formação de adultos, sendo que tal ir-se-ia traduzir numa oportunidade para que os adultos pudessem obter um certificado escolar e profissional por via formal, devendo esta oportunidade estender-se a todos os cidadãos, especialmente aos que tivessem menos escolaridade e aos ativos empregados e desempregados, de verem reconhecidas, validadas e certificadas as competências e conhecimentos que foram adquiridos nos vários percursos ou contextos, ao longo da sua vida.

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Acedido em http://bdjur.almedina.net, a 11/11/2010.

52 Ainda segundo o mesmo documento, a utilidade deste serviço, está inscrita na Estratégia Europeia para o Emprego e no Plano Nacional de Emprego, com o objetivo de estimular e apoiar quem esteja à procura de formação (empregados e desempregados, homens e mulheres) com vista à valorização das qualificações adquiridas (pelo adulto) ao longo do seu percurso pessoal e profissional, numa perspetiva de aprendizagem ao longo da vida. O Estado Português e a Comissão Europeia decidem, assim, investir, financeiramente, para reforçar de uma rede de centros que prestassem esse serviço.

A Agência Nacional para a Qualificação, I.P. - ANQ, I.P.

Em 2005, Portugal vive uma situação constrangedora e de transição de políticas sociais e educativas, uma vez que o Primeiro-ministro Pedro Santana Lopes e o seu governo são demitidos, sobe ao poder o partido socialista, com José Sócrates a representar o país. Um dos objetivos do Programa do Governo, no que concerne à modernização administrativa, à melhoria da qualidade dos serviços públicos de forma mais eficiente, foi consagrado pelo Decreto-Lei n.º 213/2006, de 27 de Outubro, que aprovou a lei orgânica do Ministério da Educação, avançando na definição dos modelos organizacionais dos serviços que integram a respetiva estrutura.

Neste contexto, o presente Decreto-Lei criou e aprovou a estrutura orgânica da Agência Nacional para a Qualificação, I.P. - ANQ, I.P., que esteve em funções desde 2006 até meados de 2011, sendo um organismo tutelado, conjuntamente, pelos Ministérios do Trabalho e da Solidariedade Social e da Educação, cuja missão e atribuições lhe são cometidas pela nova lei orgânica do Ministério da Educação.

É missão da ANQ, I. P., coordenar a execução das políticas de educação e formação profissional de jovens e adultos e assegurar o desenvolvimento e a gestão do sistema de reconhecimento, validação e certificação de competências.

A coordenação das políticas de educação e formação, assegurando a coerência e a pertinência da oferta formativa orientada pelo objetivo da dupla certificação, assim como a valorização dos dispositivos de reconhecimento, validação e certificação de competências são pilares fundamentais da nova estratégia de qualificação da população portuguesa e de promoção da aprendizagem ao longo da vida. Propõem-se, agora, metas ambiciosas no domínio da certificação escolar e profissional da população e exige a mobilização alargada dos instrumentos, políticas e sistemas de qualificação.

A articulação institucional entre os Ministérios com responsabilidade na educação e formação profissional e a participação dos parceiros sociais e das

53 organizações do terceiro setor constituem condições fundamentais de afirmação desta estratégia. Cabe à ANQ promover a sua concretização, pautando a sua ação por um trabalho sustentado e articulado com as entidades certificadoras e com as entidades que asseguram a acreditação e a formação no âmbito das redes de organizações públicas e privadas, nomeadamente, as Direções Regionais de Educação (DRE), a Direcção-Geral do Emprego e das Relações de Trabalho (DGERT) e o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).

Fazemos ainda notar, que a tutela voltou, entretanto, a alterar-se, em consequência (previsível) da mudança da governamental (social-democrata) em junho de 2011, tendo passado a designar-se Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional, I.P. - ANQEP, I.P., sendo um Instituto Público integrado na administração indireta do Estado, sob a tutela dos Ministérios da Economia e do Emprego e da Educação e Ciência, em articulação com o Ministério da Solidariedade Social, com autonomia administrativa, financeira e pedagógica no prosseguimento das suas atribuições.

2.3.3. A Expansão do SNRVCC: a Iniciativa Novas Oportunidades