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Capítulo I- Fundamentação Teórica

3. O Educador de Adultos

3.2. A formação contínua do Educador de Adultos

O trabalho é, segundo diversos autores, um aspeto nuclear na vida dos adultos ativos, e de acordo com Correia (2003) desde há, praticamente, três décadas para cá, tem sido atribuída uma crescente e relevante importância à problemática das relações entre o mundo da formação e o mundo do trabalho, de tal forma que, é precisamente em torno desta relação que as políticas educativas, nos seus eixos de referência, tendem a aproximar-se no sentido de renovar a epistemologia teórica e metodológica das denominadas Ciências do Trabalho e as denominadas Ciências da Formação. O que outrora era um discurso político que procurava validar-se através das alusões ao combate às desigualdades sociais, à democracia ou ao seu aprofundamento, foi-se alterando, sendo hoje, de forma mais vincada, um discurso que faz claras referências ao reforço das ligações entre a escola e o trabalho, à modernização e o crescimento tecnológico.

Para Pinto (2003) “o problema da formação do educador é estudado nesse tema somente do ponto de vista antropológico-sociológico, e não nos seus atos técnicos, pedagógicos. O problema da formação do educador, especialmente do educador de adultos, é da mais alta importância” (p.105). Este autor adverte que é um dever examinar a questão da formação do educador de adultos, sob o ponto de vista da consciência crítica. De novo, interessa ter presente que este tipo de consciência social, de natureza crítica, opõe-se à consciência ingénua, uma vez que, o principal esforço da educação será prover o aluno, aquele que se está a preparar para ser professor/educador, de uma consciência de que não poderá haver uma verdadeira função de professor/educador senão mediante a intensificação das influências sociais e a compreensão de que a sua atividade é eminentemente social, influi sobre os acontecimentos que estão em curso no seu meio e só pode ser relevante se o educador admitir ser um participante consciente desses acontecimentos.

Neste sentido, Pinto (2003) considera e recomenda que a questão basilar de toda a discussão em torno da problemática da formação do professor/educador é: “quem

70 educa o educador?” A consciência ingénua não cogita a hipótese de colocar esta pergunta porque a resposta axiomática seria que quem educa o educador é outro educador. Ora, este raciocínio abre portas a uma nova questão que é: quem educa a este educador que está a educar o outro? Prosseguir nesta linha de pensamento seria infrutífero, pelo que a resposta mais acertada ou adequada à pergunta fundamental da formação do educador é aquela que mostra o papel da “sociedade como educadora do educador” (p.76). A conceção que cada educador tem sobre qual é o seu papel, o modo de executá-lo, as finalidades das suas ações, é, em grande parte, fruto da sociedade em que está inserido.

Aquilo que nos parece essencial e, de acordo com Pinto (2003) é que o educador deve compreender que a fonte da sua aprendizagem, da sua formação, é sempre a sociedade, no entanto, também deve entender que esta atua de duas formas: uma indireta mas que se revela direta ao educando (aquele que futuramente será educador), porque é através do seu educador que recebe os ensinamentos que irá por em prática, no futuro. E outra, direta mas que, aparentemente, surge de forma indireta, aos olhos do educando, uma vez que não sente ou não a perceciona, de imediato, e que é a consciência em relação ao meio natural e humano, em que o Homem está inserido e do qual recebe estímulos, desafios e problemas que contribuem para que forme a sua consciência de educador.

Também Carabantes (s/d) avança algumas considerações acerca da formação do educador que, embora tecidas, maioritariamente, no contexto da América Latina, nos atrevemos a convocar, não só porque com elas concordamos, mas porque defendemos que, independentemente, do contexto geográfico elas vão ao encontro daquilo que consideramos ser importante na formação contínua do educador de adultos.

A formação, seja qual for o tipo ou nível de educador de adultos, deve dar-se em contacto direto com a realidade social, económica e cultural circundante;

A formação deve integrar a teoria e a prática, a reflexão e ação sobre o meio, de modo que o educador conceptualize, por um lado, os índices de desenvolvimento do meio e, por outro, que conceba a educação de adultos como uma ferramenta para coadjuvar o desenvolvimento integrado desde a base, na qual cabe a cada adulto ter um papel protagonista;

Para a formação do educador de base devem recrutar-se, prioritariamente, elementos do mesmo meio socioprofissional e laboral, no próprio meio comunitário;

71 Torna-se necessário intensificar a formação de educadores interdisciplinares que obedeçam, em cada caso, aos requisitos das agências e organismos de desenvolvimento e às necessidades comunitárias que se conjugam num determinado meio.

A formação do educador de adultos deve deixar de lado o magíster dixit para abrir-se ao diálogo num profundo sentido filosófico e prático que este implica. Trata-se de um diálogo crítico para um “ser mais” do homem e para um “melhorar a qualidade de vida” numa comunidade participativa.

Do próprio meio socioeconómico e cultural, surgem os mais eficazes educadores de adultos.

Os organismos internacionais, governamentais ou não, devem promover a formação de educadores de adultos nos próprios países em detrimento de um plano internacional abstrato, desligado da realidade (Carabantes, s/d, pp.43-44).

Estas são algumas das observações que achámos pertinentes e que se relacionam, no nosso ponto de vista, com uma aposta na formação específica do educador de adultos, mas também na sua formação contínua. Existem princípios e métodos (vimos acima alguns deles) que poderiam levar a uma revisão aprofundada das modalidades de formação de educadores de adultos, já que estes são, simultaneamente, agentes de mudança e alvo das mudanças constantes da sociedade, são sujeitos e beneficiários do desenvolvimento, são seres inacabados que estão em formação contínua, tal como os demais. Advertindo-se a si próprio, que o outro lhe merece respeito e ter consciência de que é um ser inacabado, o educador de adultos, se faz ser ético (Freire, 1996, p.59). É nossa convicção de que ser educador de adultos passa por fazer, também, uma revisão ética e moral da pessoa que ele é.

Se o educador compreender que o meio envolvente, as pessoas que o compõem, isto é, as circunstâncias sociais, económicas e culturais em que se encontram são condição sine qua non para se educar a si, educando os outros, certamente, adquiriria uma consciência de si, da responsabilidade dos seus atos e da repercussão que estes teriam na sua vida e na vida dos educandos. Naturalmente, não podemos colocar apenas a tónica no educador de adultos, enquanto agente da sua própria formação, cremos que as instituições, através das quais o educador recebe formação, também têm um papel importante ao criar agendas adequadas à realidade em que o educador está inserido e,

72 por este motivo, quisemos também saber no âmbito desta investigação se esta tem sido uma realidade atendida no âmbito institucional e político do nosso país.

3.3. O perfil do Educador de Adultos segundo as políticas públicas