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A Experiência Portuguesa quanto ao Instituto Previdenciário da Desaposentação: modelo

3 QUESTÕES ATUAIS REFERENTES À DESAPOSENTAÇÃO: DECISÃO

3.3 A Experiência Portuguesa quanto ao Instituto Previdenciário da Desaposentação: modelo

Diversos países reconhecem os direitos dos aposentados que retornam a trabalhar após a concessão da aposentadoria. Pode-se citar como exemplos a França, Espanha, Canadá e Estados Unidos. Cada um destes possui regras diversas acerca de como as contribuições previdenciárias serão consideradas, seja devolvendo-as aos aposentados ou possibilitando uma melhoria no aumento da aposentadoria.

Ante a necessidade de regulamentação da situação dos aposentados que retornam a trabalhar no ordenamento jurídico brasileiro, pode-se tomar como exemplo os modelos adotados em diversos países.

Entendeu-se, entretanto, no presente trabalho como modelo a ser seguido a forma de regulamentação adotada por Portugal, em razão das semelhanças do sistema previdenciário ibérico com o brasileiro. De acordo com o Decreto-Lei nº 329 de 1993, constante do Anexo III, semelhante aos benefícios previdenciários brasileiros, em Portugal adotam-se as seguintes prestações de aposentadoria: pensão por velhice e pensão por invalidez, além de redução de tempo de contribuição para os segurados que trabalham em condições prejudiciais à saúde ou integridade física.

Ademais, existe semelhança entre os dois países quanto à composição de suas populações, visto que Portugal encontra-se com uma população envelhecida, a qual anteriormente era marcada por um grande índice de natalidade que diminuiu ao longo dos anos, tendência a ser seguida por nosso país.

O citado diploma legislativo trata das prestações por invalidez e por velhice decorrentes do Regime Geral da Previdência Social Português, estabelecendo novo regime jurídico para estas. Com relação à acumulação dos benefícios de aposentadoria, nominado pelos portugueses de pensões, com rendimentos decorrentes do retorno ao trabalho, em sua Seção II, dispõe:

SEÇÃO II

Acumulação de pensões com rendimentos do trabalho Artigo 57º Princípio da Acumulação

É permitida a acumulação de pensão por invalidez com rendimentos de trabalho, auferidos no País ou no estrangeiro, atentas as capacidades permanentes do pensionista e tendo em vista sua reinserção sócio-profissional. Artigo 58º Limites da Acumulação

1 – A acumulação a que se reporta o artigo anterior tem por limite o valor de 100% da remuneração de referência tomada em consideração no cálculo da pensão, actualizada pela aplicação do coeficiente a que se refere o artigo 35.º

2 – Para efeitos de acumulação, não se consideram incluídos no valor da pensão mensal os respectivos montantes adicionais, o complemento social, nem o montante por subsídio de assistência de terceira pessoa.

Artigo 59º Redução da pensão de invalidez por efeito da acumulação

1 – Se o quantitativo mensal recebido pelo pensionista, como soma da pensão de invalidez com rendimentos do trabalho, for superior ao limite estabelecido no nº 1 do artigo 58º, o montante concedido a título de pensão é reduzido na parte em que o referido quantitativo mensal exceda esse limite.

2 – O quantitativo mensal dos rendimentos do trabalho, a considerar para efeitos do número anterior, corresponde aos valores seguintes conforme o caso:

a) No início da acumulação, ao valor da remuneração declarada pelo pensionista;

b) Posteriormente, a 1/14 das remunerações auferidas no ano anterior.

Artigo 60º Acumulação de pensões de velhice com rendimentos de trabalho, tendo em vista contribuir para a manutenção da inserção sócio-profissional dos pensionistas.

(GRIFO NOSSO)

As pensões por velhice e invalidez e a possibilidade de cumulação destas com rendimentos decorrentes do retorno ao trabalho foram regulamentados pelo Decreto- Regulamentar nº 7, de 1994.

Nota-se que uma importante diferença entre o Sistema Previdenciário brasileiro e o português é a possibilidade de retorno ao trabalho do aposentado que deixa de exercer atividade laborativa em decorrência de invalidez.

Em Portugal, admite-se que o inválido retorne ao trabalho, exercendo atividade compatível com suas limitações, cumulando os rendimentos desta com os ganhos decorrentes da aposentadoria. No Brasil, de forma diversa, o aposentado por invalidez, caso retorne ao trabalho, terá seu benefício previdenciário cancelado, visto que este só pode ser concedido quando for comprovado que o segurado não possa exercer nenhuma atividade remunerada, nos termos do Art. 46, da Lei nº 8.213, de 1991.

Explicitando o modelo português, IBRAHIM (2011, p. 88) tece os seguintes comentários:

Em Portugal, a aposentadoria é livremente acumulável com rendimentos de trabalho, como no Brasil. Nas situações de cumulação, o montante da aposentadoria é aumentado em razão do novo tempo de contribuição. O acréscimo produz efeitos a partir de 1º de janeiro de cada ano, com referência aos valores recebidos no ano anterior.

Portugal traz justamente a ideia, a razão de ser da desaposentação – a utilização do novo período contributivo para a melhoria da prestação previdenciária. Ocorre o seguinte: o segurado não carece de renunciar a um para obter o outro, mas simplesmente tem o mesmo benefício aumentado. È procedimento mais simples e adequado, Pois facilita a percepção do incremento por parte do segurado.

Pode-se dizer que o modelo português estabelece uma espécie de revisão anual do benefício de aposentadoria, desde que o segurado comprove o efetivo exercício de atividade laborativa no exercício financeiro anterior. Assim, não há necessidade de requerimento por parte do segurado, sendo uma forma mais rápida e eficaz para a concessão e reconhecimento deste direito.

Dessa forma, seria o modelo a ser seguido por nosso ordenamento, visto que possibilitaria uma concessão periódica de reajuste da aposentadoria em razão das novas contribuições previdenciárias, desafogaria os Tribunais nacionais que possuem inúmeras causas versando sobre o assunto, garantiria os direitos dos aposentados e daria ao INSS previsibilidade do pagamento desta diferença na renda mensal dos beneficiários das aposentadorias por tempo de contribuição, idade ou especial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ato do Instituto Nacional do Seguro Social em negar aos aposentados a Desaposentação vem violando o direito destes de buscarem um benefício de aposentadoria com renda maior, a qual os possibilite uma vida digna e a manutenção de seus ganhos quando estes deixarem definitivamente de prestarem serviços à sociedade.

No Brasil, vários aposentados encontram-se nessa situação, como se pode depreender do número de ações movidas ante a Justiça Federal, o que se pode concluir do julgamento do Recurso Especial nº 1.334.488 - SC, com base no processamento por amostragem, pelo Superior Tribunal de Justiça. Este teve a finalidade de pacificar o entendimento sobre o instituto previdenciário em tela, de modo a diminuir o tempo para julgamento definitivo das causas que versem sobre o assunto.

O entendimento adotado no julgado foi favorável aos jubilados, permitindo que estes renunciem ao seu benefício de aposentadoria, seja por tempo de contribuição, especial ou por idade, com a finalidade de requerer novo benefício previdenciário da mesma natureza. Neste último, deverão ser consideradas as contribuições vertidas pelos aposentados que continuaram a trabalhar mesmo com a concessão da retirada, o que lhes possibilitará uma renda mensal mais vantajosa.

O presente trabalho apresentou posicionamento semelhante ao adotado no citado julgado, na medida em que a análise de obras de autores referentes do Direito Previdenciário permitiu um estudo mais apurado do tema, o que foi aprimorado pela apresentação de alguns julgados no mesmo sentido.

Este posicionamento favorável à Desaposentação consubstancia-se, em especial, no fato do aposentado, que continua a exercer atividade laborativa após a concessão do benefício de retirada, não ser beneficiário da generalidade de prestações concedidas pela Previdência Social, apesar de possuir a qualidade de segurado obrigatório e verter contribuições para o financiamento do sistema.

Desse modo, é tratado de modo dispare aos demais segurados, sendo suas contribuições um excedente para os cofres da previdência, excedente este que poderá ser utilizado para o pagamento de novo benefício sem violação aos princípios da viabilidade atuarial e financeira. Tal situação decorre da lógica contributiva do sistema previdenciário, o qual exige que os trabalhadores vertam contribuições para a Previdência Social como forma de custear os benefícios previdenciários.

Ademais, a concessão da aposentadoria é ato administrativo passível de renúncia pelo segurado, uma vez que o benefício faz parte do patrimônio deste, não podendo ser alegada violação ao ato jurídico perfeito, já que possibilitará uma majoração na renda do beneficiário.

Ressalte-se que o TRF da 3ª Região mantém entendimento em sentido contrário.

Com a finalidade de assegurar de forma célere e inquestionável o direito à Desapotação, os Legisladores brasileiros devem editar regulamentação que indique os requisitos e formas de concessão deste direito, possibilitando justiça no tratamento dos segurados e garantindo a manutenção da renda dos aposentados que continuam a trabalhar, mesmo após tantos anos de serviços prestados ou de sua idade avançada. Para tanto, podem seguir modelos internacionais ou adotar sistemática própria.

Ante o exposto, nota-se a importância da Desaposentação como mecanismo garantidor de justiça social, o qual beneficiará parcela importante de nossa sociedade, àquela que já produziu de forma substantiva para nosso país e necessita de uma renda digna para garantir sua subsistência no fim da vida.

REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS

BONAVIDES, Paulo. “Curso de Direito Constitucional”. 25 ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2010.

BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de Direito Constitucional. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2009. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 25 ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2012.

CASADEL, Salete F.; GÓIS, Cláudia C. Políticas Sociais comparadas (1). Revista Espaço

Acadêmico, nº 70, março de 2007, mensal, ano VI. Disponível em: < http://www.espacoacademico.com.br/070/70casadei_gois.htm>. Acesso em: 04 setembro 2013.

CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista. Manual de Direito

Previdenciário. 5 ed. São Paulo: LTr, 2004.

DI PIETRO, Maria Silvia Zanella. Direito Administrativo. 13 ed. São Paulo: Editora Atlas S.A.: 2001.

IBRAHIM, Fábio Zambitte. Desaposentação: o caminho para uma melhor aposentadoria. 5 ed. Niterói, RJ: Impetus, 2011.

IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 15 ed. Niterói, RJ: Impetus, 2010.

KERTZMAN, Ivan. Curso Prático de Direito Previdenciário. Salvador: Jus Podvim, 2005. LEITÃO, André Studart; MEIRINHO, Augusto Greco Sant’Anna. Manual de Direito

Previdenciário. São Paulo: Saraiva, 2013.

MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. 24 ed. São Paulo: Atlas, 2007. MENEGUIN, Fernando B. “PREVIDÊNCIA COMPLEMENTAR DOS SERVIDORES PÚBLICOS”. Textos para Discussão 88. Disponível em: < http://www.mpas.gov.br/arquivos/office/4_111005-102330-547.pdf>. Acesso em: 19 de agosto de 2013.

NOLASCO, Lincoln. Evolução Histórica da Previdência Social no Brasil e no Mundo.

Âmbito Jurídico. Disponível em: < http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=11335>. Acesso em: 04 de setembro de 2013.

SERAU JÚNIOR, Marco Aurélio. Desaposentação: novas perspectivas teóricas e práticas. 3 ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2013.

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 36 ed. São Paulo: Malheiros, 2013.

SILVA JUNIOR, Gilson Lopes da. “A LEI DOS POBRES 1601: PRIMEIRA LEI ASSISTENCIALISTA E POLÍTICA DE BEM ESTAR SOCIAL”. Web Artigos. Disponível em : <http://www.webartigos.com/artigos/a-lei-dos-pobres-1601-primeira-lei-assistencialista- e-politica-de-bem-estar-social/101885/>. Acesso em: 04 de setembro 2013.

ANEXO I

Recurso Especial nº 1.334.488 - SC (2012/0146387-1)

Documento: 1186178 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe:

14/05/2013.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.334.488 - SC (2012/0146387-1) RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN

RECORRENTE : WALDIR OSSEMER

ADVOGADO : CARLOS BERKENBROCK E OUTRO(S)

RECORRENTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL FEDERAL - PGF

RECORRIDO: OS MESMOS

INTERES. : CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DOS APOSENTADOS PENSIONISTAS E IDOSOS COBAP - "AMICUS CURIAE"

ADVOGADO: JOSÉ IDEMAR RIBEIRO

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO

DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E

REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA A APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES. DESNECESSIDADE.

1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoria e, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.

2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação.

3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.

4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação, conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR, 1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg no AREsp 103.509/PE.

5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterior aposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposição de devolução.

6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da PRIMEIRA Seção do Superior Tribunal de Justiça: "Prosseguindo no julgamento, a Seção, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial do INSS e deu provimento ao recurso especial do segurado, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Napoleão Nunes Maia Filho, Mauro Campbell Marques, Benedito Gonçalves, Eliana Calmon, Arnaldo Esteves Lima e Humberto Martins votaram com o Sr. Ministro Relator.

Não participaram do julgamento os Srs. Ministros Sérgio Kukina e Ari Pargendler.

Brasília, 08 de maio de 2013(data do julgamento).

MINISTRO HERMAN BENJAMIN Relator

RECURSO ESPECIAL Nº 1.334.488 - SC (2012/0146387-1) RELATOR: MINISTRO HERMAN BENJAMIN

RECORRENTE: WALDIR OSSEMER

ADVOGADO: CARLOS BERKENBROCK E OUTRO(S)

RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS ADVOGADO: PROCURADORIA-GERAL FEDERAL - PGF

RECORRIDO: OS MESMOS

INTERES.: CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DOS APOSENTADOS

PENSIONISTAS E IDOSOS COBAP - "AMICUS CURIAE" ADVOGADO: JOSÉ IDEMAR RIBEIRO

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator):

Trata-se de Recursos Especiais interpostos contra acórdão proferido pelo TribunalRegional Federal da 4ª Região.

Transcrevo relatório da decisão de fls. 326-328/STJ, que bem sintetiza a controvérsia:

Trata-se, na origem, de Ação Ordinária de segurado objetiva a renúncia à aposentadoria por tempo de serviço concedida pelo INSS em 1997 (a chamada "desaposentação") e a concessão de posterior benefício da mesma natureza, mediante cômputo das contribuições realizadas após o primeiro jubilamento.

A sentença de improcedência foi reformada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região conforme acórdão assim ementado (fls. 140-141/STJ):

PREVIDENCIÁRIO. DESAPOSENTAÇÃO PARA

RECEBIMENTO DE NOVA APOSENTADORIA.

POSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE NORMA IMPEDITIVA. NECESSIDADE DE DEVOLUÇÃO DO MONTANTE RECEBIDO NA VIGÊNCIA DO BENEFÍCIO ANTERIOR. COMPENSAÇÃO COM OS PROVENTOS DO NOVO BENEFÍCIO. IMPOSSIBILIDADE. DECADÊNCIA.

1. O ato de renúncia à aposentadoria, por se tratar de direito patrimonial disponível, não se submete ao decurso de prazo decadencial para o seu exercício. Entendimento em sentido contrário configura, s.m.j., indevida ampliação das hipóteses de incidência da norma prevista no citado art. 103 da LBPS, já que a desaposentação, que tem como consequência o retorno do segurado ao status quo ante, equivale ao desfazimento e não à revisão do ato concessório de benefício.

2. Tratando-se a aposentadoria de um direito patrimonial, de caráter disponível, é passível de renúncia.

3. Pretendendo o segurado renunciar à aposentadoria por tempo de serviço para postular novo jubilamento, com a contagem do tempo de serviço em que esteve exercendo atividade vinculada ao RGPS e concomitantemente à percepção dos proventos de aposentadoria, os

valores recebidos da autarquia previdenciária a título de amparo deverão ser integralmente restituídos. Precedente da Terceira Seção desta Corte.

4. O art. 181-B do Dec. n. 3.048/99, acrescentado pelo Decreto n.º 3.265/99, que previu a irrenunciabilidade e a irreversibilidade das aposentadorias por idade, tempo de contribuição/serviço e especial, como norma regulamentadora que é, acabou por extrapolar os limites a que está sujeita, porquanto somente a lei pode criar, modificar ou restringir direitos (inciso II do art. 5º da CRFB).

5. Impossibilidade de compensação dos valores a serem devolvidos ao INSS com os proventos do novo benefício a ser concedido, sob pena de burla ao § 2º do art. 18, uma vez que as partes já não mais seriam transportadas ao status jurídico anterior à inativação (por força da necessidade de integral recomposição dos fundos previdenciários usufruídos pelo aposentado).

O INSS opôs Embargos de Declaração (fls. 177-178/STJ), que foram rejeitados (fls. 183-190/STJ).

O segurado interpôs Recurso Especial (fls. 233-255/STJ) com fundamento no art. 105, III, "a" e "c", da Constituição Federal. Para configurar a divergência jurisprudencial, apontou várias decisões proferidas por esta Corte que entendem pela desnecessidade de devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que pretende renunciar.

O INSS também interpôs Recurso Especial (fls. 214-230/STJ) com embasamento no art. 105, III, "a", da Constituição Federal. Sustenta violação do art. 535 do CPC e do art. 18, § 2º, da Lei 8.213/1991. Aduz que o citado dispositivo da Lei de Benefícios veda a renúncia à aposentadoria concedida.

O Tribunal de origem admitiu o Recurso Especial do segurado (fl. 293/STJ) e não admitiu o do INSS (fls. 294-297/STJ). A autarquia agravou dessa decisão (fls. 306-310/STJ).

Os presentes recursos foram admitidos sob o regime dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC e Resolução STJ 8/2008), conforme decisão de fls. 326-328/STJ, já mencionada.

O Ministério Público opinou pelo não provimento do Recurso Especial (fls. 285-293/STJ). Apontou a "reiterada orientação desta Egrégia Corte Superior no sentido de que é possível a renúncia à aposentadoria, para que outra, com renda mensal maior, seja concedida, levando-se em conta a contagem de período de labor exercido após a outorga da inativação, não importando em devolução dos valores percebidos".

RECURSO ESPECIAL Nº 1.334.488 - SC (2012/0146387-1) VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Os autos

foram recebidos neste Gabinete em 6.9.2012.

Preenchidos os requisitos de admissibilidade dos Recursos Especiais, adentro o exame do mérito.

1. Possibilidade de desfazimento (renúncia) da aposentadoria. Exame da matéria sob o rito do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 8/2008

Conforme decisão de fls. 326-328/STJ, o presente Recurso Especial foi submetido ao procedimento dos recursos repetitivos, de forma que passo a fixar a orientação acerca da questão jurídica controvertida.

O objetivo do segurado é desfazer o ato de aposentadoria. Alega que trabalhou após a concessão do benefício e pretende obter novo benefício em que sejam considerados os posteriores salários de contribuição, além dos computados na primeira aposentação.

Há dois pontos jurídicos a serem enfrentados in casu: a possibilidade de o segurado renunciar à aposentadoria e, se admissível, a necessidade de devolução dos valores recebidos por força do benefício preterido.

A aposentadoria, direito fundamental garantido no art. 7º, XXIV, da CF, é prestação previdenciária destinada a garantir renda mensal por incapacidade total e permanente para o trabalho ou pelo decurso predeterminado de tempo de contribuição e/ou de idade. Destes suportes fáticos resultam seus três tipos: por tempo de contribuição, por idade e por invalidez.

Antes de adentrar o tema, introduzo breve análise da evolução legislativa. A redação original da Lei 8.213/1991 previa a possibilidade de o aposentado continuar trabalhando e contribuindo para o sistema. Estabelecia o direito a tal segurado de se ver ressarcido das contribuições previdenciárias vertidas após a aposentação. Determinava ainda que o aposentado tinha direito somente à reabilitação profissional, ao auxílio-acidente e aos pecúlios (contribuições pós-aposentadoria), não fazendo jus a outras prestações. Seguem os dispositivos legais correspondentes:

Art. 18. (...)

2º O aposentado pelo Regime Geral de Previdência Social que permanecer em atividade sujeita a este regime, ou a ela retornar, somente tem direito à reabilitação profissional, ao auxílio-acidente e aos pecúlios, não fazendo jus a outras prestações, salvo as decorrentes de sua condição de aposentado, observado o disposto no art. 122 desta lei.

(...)

Art. 81. Serão devidos pecúlios: (...)

II - ao segurado aposentado por idade ou por tempo de serviço pelo Regime Geral de Previdência Social que voltar a exercer atividade abrangida pelo mesmo, quando dela se afastar; (Revogado pela Lei nº 8.870, de 1994)

(...)

Art. 82. No caso dos incisos I e II do art. 81, o pecúlio consistirá em pagamento único de valor correspondente à soma das importâncias relativas às contribuições do segurado, remuneradas de acordo com o índice de remuneração básica dos depósitos de poupança com data de aniversário no dia primeiro.

As contribuições previdenciárias pós-aposentadoria pertenciam ao segurado, portanto, e o recebimento de tal pecúlio estava sob a condição do afastamento da atividade que gerou o recolhimento.

Com o advento das Leis 9.032/1995 e 9.527/1997, o direito ao pecúlio foi