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Desnecessidade de Restituição dos valores auferidos a Título de Aposentadoria com a

1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROTEÇÃO SOCIAL O SISTEMA DA

2.7 Desnecessidade de Restituição dos valores auferidos a Título de Aposentadoria com a

A questão da restituição dos valores recebidos a título de aposentadoria por parte do segurado que teve concedido o direito à Desaposentação foi um dos temas que gerou maiores controvérsias entre os doutrinadores e nas decisões judiciais que tratavam do instituo em questão.

Para os que defendem a necessidade de restituição aos cofres da previdência das verbas pagas a título da aposentadoria originária, alegam em especial os seguintes argumentos:

i. A concessão de novo benefício traria desequilíbrio atuarial e financeiro na medida em que a nova aposentadoria levaria em consideração período de contribuição já utilizado para o cálculo da primeira, bem como ocorreria diminuição dos fatores que reduzem o valor dos benefícios, como o fator previdenciário;

ii. Necessidade de restabelecimento da situação anterior na medida em que o tempo de contribuição primeiro será considerado para o cálculo do segundo benefício; e

iii. Enriquecimento ilícito do beneficiário, uma vez que o beneficiário utilizaria o mesmo tempo de contribuição, no caso o utilizado para a concessão da primeira aposentadoria que também é levado em conta para a segunda, com a finalidade de ter concedido dois benefícios previdenciários diversos.

Em favor destas alegações MARTINEZ, citado por SERAU JÚNIOR (2013, p. 88 e 89) afirma:

Olvidando-se o regime financeiro de repartição simples, que permeia o RGPS e o RPPS, de regra, para que a desaposentação seja sustentável do ponto de vista técnico do seguro social e atenda aos seus objetivos é imprescindível o restabelecimento dos status quo ante. De modo geral, não subsiste esse efeito gratuitamente; a relação jurídica aí presente não prescinde de fundamentos econômicos, financeiros e atuários de um plano de benefícios.

Ainda que seja um seguro social solidário, pensando-se individualmente se a Previdência Social aposenta o segurado, ela se serve de reservas técnicas acumuladas pelos trabalhadores, entre as quais as do próprio titular do direito ao benefício.

Na desaposentação, conforme o caso, o órgão gestor teria de reaver parte dos valores pagos para estar econômica e financeiramente apto para aposentá-lo adiante (…). Ocorre que o ato de concessão do benefício originário constitui situação abrangida pelo direito adquirido do segurado, o qual por meios lícitos obteve a concessão de seu benefício de aposentadoria. A desconstituição do primeiro benefício, em razão da renúncia praticada por seu beneficiário, produz efeitos ex nunc, já que rescinde ato legítimo que teve seus efeitos produzidos legalmente, não havendo que se falar em restituição dos valores auferidos em razão deste.

O sistema previdenciário brasileiro possui caráter solidário, conforme anteriormente afirmado, vertendo o segurado que continua a trabalhar após o jubilamento contribuições previdenciárias, as quais devem ser utilizadas para o custeio de todos os benefícios, não podendo ser restringindo o acesso a estes ao próprio segurado que voltou a contribuir. Além disso, as citadas contribuições ocasionam excedente atuarial para os cofres da previdência, gerando desta feita enriquecimento ilícito para o Estado, o qual recebe os citados valores e não concede em contrapartida benefícios para o segurado aposentado que retorna a trabalhar.

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região apresenta julgados no mesmo sentido deste entendimento, conforme se pode ver:

PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO. DESAPOSENTAÇÃO. RESTITUIÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS. NÃO OBRIGATORIEDADE. DECISÃO MANTIDA PELOS SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO NÃO PROVIDO.

- A hipótese de renúncia à aposentadoria anterior não encontra qualquer vedação no ordenamento jurídico, quer de ordem constitucional quer legal, sendo legítima a pretensão do autor ao pretender perceber, por conseguinte, benefício que lhe é mais benéfico, inclusive, diante do caráter alimentar dos benefícios previdenciários. Por outro lado, a renúncia à aposentadoria anterior possui natureza desconstitutiva, gerando efeito ex nunc, sendo, portanto, descabida a devolução de parcelas recebidas a esse título, inclusive, porque estas foram pagas de forma devida. - Inexistindo qualquer novidade nas razões recursais que ensejasse modificação nos fundamentos constantes da decisão ora impugnada, impõe-se sua manutenção. - Agravo interno não provido.

(TRF 2. APELRE - APELAÇÃO/REEXAME NECESSÁRIO - : REEX 201051018105194. RELATOR DESEMBARGADOR FEDERAL MESSOD AZULAY NETO. SEGUNDA TURMA ESPECIALIZADA, PUBLICAÇÃO EM

14/06/2012). Disponível em: <http://trf- 2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23378792/apelre-apelacao-reexame-necessario- reex-201051018105194-trf2>. Acesso em 02 de setembro de 2013. (grifo nosso)

No âmbito processual a restituição dos valores auferidos em razão da primeira aposentadoria possui diversas atecnias. O segurado que requer judicialmente a Desaposentação veria concedido o seu direito por meio de decisão que o prejudicaria, já que esta determinaria a restituição destes valores, sendo tida como espécie de reformatio in pejus, a qual só poderia ser deferida caso a autarquia previdenciária, juntamente com a contestação ao pedido do autor, apresentasse reconvenção requerendo tal devolução. Além disso, a decisão judicial que concedesse a Desaposentação, nestes termos, estaria proferindo decisão judicial condicionada, a qual é expressamente veda pelo Código de Processo Civil, em seu Art. 4603 (SERAU JÚNIOR, 2013, p. 94).

Merece menção o fato de quando a Desaposentação ocorre com o pedido de nova aposentadoria em regime previdenciário diverso do concedido o benefício originário. Nesse caso, deverá haver compensação de valores entre os dois sistemas para que não ocorra prejuízo a nenhum destes, sendo tal ônus de competência da administração dos regimes, não havendo que se falar em restituição dos valores por parte do segurado.

De outra banda, a exigência em questão tornaria inviável a concessão da Desaposentação, visto que oneraria de forma desmedida a renda do aposentado, diminuindo suas condições de vida, não alcançando o objetivo primordial do instituto, o qual se consubstancia na majoração da renda mensal do benefício.

2.8 Entendimento contrário à Desaposentação adotado pelo Tribunal Regional Federal