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Natureza Jurídica do Ato de Concessão da Aposentadoria e suas implicações na

1 BREVE EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA PROTEÇÃO SOCIAL O SISTEMA DA

2.3 Natureza Jurídica do Ato de Concessão da Aposentadoria e suas implicações na

Os benefícios previdenciários, após o requerimento destes por parte do segurado, são concedidos no momento em que a autarquia previdenciária verifica que este possui os requisitos legais para auferi-lo. Desse modo, trata-se de ato que apenas reconhece o direito que se encontra no âmbito de disponibilidade do segurado, o qual escolhe o melhor momento para requerê-lo, desde que alcançadas às exigências legais.

O ato de concessão dos benefícios, como dito, é elaborado pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), autarquia federal, ente pertencente à Administração Pública Indireta, no exercício concreto de sua função administrativa de gerir a Previdência

Social, sendo, portanto, um ato administrativo. Nesse sentido, IBRAHIM (2011, p. 33) afirma que:

A concessão da aposentadoria é materializada por meio de um ato administrativo, pois consiste em ato jurídico emanado pelo Estado, no exercício de suas funções, tendo por finalidade reconhecer uma situação jurídica subjetiva. É ato administrativo na medida em que emana do Poder Público, em função típica (no contexto do Estado Social) e de modo vinculado, reconhecendo o direito do beneficiário em receber sua prestação.

Conceituando ato administrativo, CARVALHO FILHO, de forma que nos permite incluir o ato de concessão em questão, aduz (2012, p. 99) que este é: “a exteriorização da vontade dos agentes da Administração Pública ou de seus delegatários, nessa condição, que, sob regime de direito público, vise à produção e efeitos jurídicos, com o fim de atender ao interesse público.”

Vemos assim que o ato concessório da aposentadoria, bem como dos demais benefícios previdenciários, possui as seguintes características: emana do Poder Público, visto que é elaborado por entidade pertencente ao Estado; decorre do exercício da função administrativa, pois objetiva atender exigências individuais ante as obrigações do Estado, no caso prover a Previdência Social; e é ato vinculado, já que alcançadas as exigências previstas em lei, o administrador deve reconhecer o direito do segurado, concedendo o benefício, sem nenhum juízo de conveniência ou oportunidade.

Firma-se ainda que o ato concessivo em questão, quanto ao seu efeito, é ato administrativo declaratório, uma vez que a administração reconhece direito existente antes de sua concessão (DI PIETRO, 2001, p. 209).

Cumpridos os requisitos legais pelo segurado e emanado o ato concessório em conformidade com todas as exigências, este se aperfeiçoa e recobre-se pela prerrogativa de ato jurídico perfeito. Garantia esta prevista no texto constitucional (Art. 5º, inciso XXXVI, CRFB/88), a qual é corolário da segurança jurídica, juntamente com o direito adquirido e a coisa julgada, e tem como finalidade resguardar os direitos individuais e coletivos. O ato jurídico perfeito impermeabiliza o ato contra futuras alterações, não podendo este ser atingido por exigências legais ou requisitos administrativos posteriores à sua elaboração.

A Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro (Decreto-Lei nº 4.657/42), em seu Art. 6º, §1º, define o ato jurídico perfeito como: “... o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou”.

No âmbito do Direito Previdenciário, o ato jurídico perfeito protege os atos concessórios de benefícios previdenciários de modificações posteriores, determinando que

estes sejam realizados nos termos da legislação vigente no momento de sua elaboração. Pode- se dizer que é garantia decorrente do Princípio do Tempus Regit Actum, norteador da aplicação das normas previdenciárias, que determina que os atos sejam regulamentados pelas normas vigentes no momento de sua elaboração.

Ante o exposto, observa-se que o ato de concessão da aposentadoria trata-se de ato administrativo revestido da garantia do ato jurídico perfeito. Esta natureza visa assegurar os direitos dos indivíduos, sendo Direito Individual classificado como Direito Fundamental de Primeira Dimensão, que impede o Estado de atuar de forma que o contrarie. Não pode, entretanto, ser utilizada em desfavor dos sujeitos, uma vez que é garantia concedida para proteger seus direitos.

Os indivíduos, todavia, podem desconstituir os atos jurídicos perfeitos quando for para lhes possibilitar melhores condições e desde que não atinjam direitos de terceiros, cenário que se insere no caso da Desaposentação. Nesta, o cidadão renuncia à sua aposentadoria, ato jurídico perfeito, com a finalidade de requerer benefício posterior, de maior renda mensal, visando melhorar sua condição econômica.

Referindo-se à possibilidade de renúncia à aposentadoria como hipótese de desconstituição do ato jurídico perfeito, SERAU JUNIOR apud Wladimir Novaes Martinez (2013, p. 82) afirma:

No caso em tela, o ato jurídico perfeito é uma proteção ao cidadão e nãodo órgão gestor. Nessas exatas condições, os responsáveis pela seguradora não poderão ser penalizados por atender pretensão do indivíduo de se aposentar. (...) Compondo o patrimônio jurídico do indivíduo, uma segurança sua, o ato jurídico perfeito não pode ser arguido contra ele, petrificando condição gessadora de um direito maior, que é o de legitimamente melhorar a vida. Por ser produto dessa proteção constitucional, a Administração Pública não poderá ex offício desfazer a aposentação. Porém, o indivíduo que teve e tem o poder de requerer deve ter o direito de desfazer o pedido.

Tem-se assim uma possibilidade de desconstituição do ato jurídico perfeito na medida em que há a proteção a outros preceitos constitucionais, como a construção de uma sociedade justa e solidária, por meio de uma interpretação teleológica da Constituição da República de 1988, uma vez que esta busca salvaguardar os direitos dos cidadãos, não permitindo que suas garantias sejam utilizadas para impedir o exercício destes. Ademais, possibilita o alcance das finalidades da Previdência Social, possibilitando uma situação mais favorável ao segurado.

Nesse sentido, o Tribunal Regional Federal da 5ª Região, um dos órgãos de segunda instância da Justiça Federal, a qual é competente para julgar as causas que envolvam o INSS, nos termos do Art. 109, inciso I, da CRFB/88, emitiu o seguinte julgado:

PREVIDENCIÁRIO. RENÚNCIA À APOSENTADORIA. CONTAGEM DO TEMPO PARA OBTENÇÃO DE NOVA APOSENTADORIA. POSSIBILIDADE. DIREITO DE OPÇÃO DO SEGURADO.

- Não há óbice legal à renúncia da aposentadoria previdenciária. a disposição contida nos decretos 2.172/97 e 3.048/99, dada a suas natureza puramente regulamentar, não tem força para criar, extinguir ou modificar direitos, somente possível mediante lei em sentido formal.

- A ocorrência de ato jurídico perfeito na aposentadoria previdenciária regularmente concedida, não impede a renúncia do segurado. tal como o direito adquirido e o direito emanado de coisa julgada, pode o direito resultante do ato jurídico perfeito, no caso da aposentadoria previdenciária, ser renunciado com vistas a possibilitar a contagem do mesmo tempo de serviço para fins de aposentadoria estatutária, mais vantajosa para o mesmo. precedentes do c. STJ e deste Tribunal.

- Apelação e remessa oficial improvidas.

(TRF5. APELAÇÃO EM MS Nº 80556/CE, 2002.05.00.010990-2. RELATOR DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO WILDO. PRIMEIRA TURMA, DIÁRIO DA JUSTIÇA - DATA: 21/09/2004 - PÁGINA: 539 - Nº: 182 - ANO:

2004). Disponível em: <

http://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/busca?q=PREVIDENCI%C3%81RIO.+ REN%C3%9ANCIA+%C3%80+APOSENTADORIA.+CONTAGEM+DO+TEMP O+PARA+OBTEN%C3%87%C3%83O+DE+NOVA+APOSENTADORIA.+POSS IBILIDADE.+DIREITO+DE+OP%C3%87%C3%83O+DO+SEGURADO>. Acesso em: 26 de agosto de 2013. (grifo nosso)

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região emitiu julgados semelhantes, dentre os quais o seguinte:

PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO INTERNO. DESAPOSENTAÇÃO. DECISÃO MANTIDA PELOS SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. RECURSO NÃO PROVIDO.

- A hipótese de renúncia a aposentadoria anterior não encontra qualquer vedação no ordenamento jurídico, quer de ordem constitucional quer legal, sendo legítima a pretensão do autor ao pretender perceber, por conseguinte, benefício que lhe é mais benéfico, inclusive, diante do caráter alimentar dos benefícios previdenciários.

[…]

- Não há que se falar em violação ao ato jurídico perfeito que concedeu aposentadoria ao autor, pois o art. 5º, XXXVI da Constituição Federal, objetiva justamente resguardar direitos, entre os quais o do segurado contra atos do Poder Público, não podendo servir de pretexto para lesar direitos individuais.

[…]

(TRF2. APELAÇÃO CIVEL Nº 201050010155327 RJ 2010.50.01.015532-7. RELATOR DESEMBARGADOR FEDERAL MESSOD AZULAY NETO. SEGUNDA TURMA ESPECIALIZADA, E-DJF2R - DATA::12/06/2012 - PÁGINA::82). Disponível em: <http://trf- 2.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/23476416/ac-apelacao-civel-ac-

2.4 O Benefício Previdenciário de Aposentadoria como Direito Patrimonial, sendo