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Análise do Recurso Especial nº 1.334.488 SC (2012/0146387-1), julgado pelo Superior

3 QUESTÕES ATUAIS REFERENTES À DESAPOSENTAÇÃO: DECISÃO

3.1 Análise do Recurso Especial nº 1.334.488 SC (2012/0146387-1), julgado pelo Superior

Controvérsia – Art. 543-C, do Código de Processo Civil

Em 08 e maio de 2013, conforme inteiro teor do julgado em anexo, foi julgado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) o Recurso Especial (REsp) nº 1.334.488 - SC (2012/0146387-1), o qual versava sobre as questões mais relevantes do instituto da Desaposentação. O citado recurso foi escolhido como parâmetro para servir de modelo as futuras decisões do STJ e dos Tribunais e juízes à este vinculados que versarem sobre o mesmo tema.

Para tanto, foi utilizada a forma de processamento prevista no Art. 543-C, do Código de Processo Civil, o qual estabelece a escolha de um ou mais recursos representativos, quando houver várias causas com decisões controvertidas sobre o mesmo tema, com a finalidade de dar celeridade no proferimento das decisões e estabelecer um modelo a ser seguido. O artigo citado dispõe que:

Art. 543-C. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica questão de direito, o recurso especial será processado nos termos deste artigo. § 1o Caberá ao presidente do tribunal de origem admitir um ou mais recursos representativos da controvérsia, os quais serão encaminhados ao Superior Tribunal de Justiça, ficando suspensos os demais recursos especiais até o pronunciamento definitivo do Superior Tribunal de Justiça.

§ 2o Não adotada a providência descrita no § 1o deste artigo, o relator no Superior Tribunal de Justiça, ao identificar que sobre a controvérsia já existe jurisprudência dominante ou que a matéria já está afeta ao colegiado, poderá determinar a suspensão, nos tribunais de segunda instância, dos recursos nos quais a controvérsia esteja estabelecida.

§ 3o O relator poderá solicitar informações, a serem prestadas no prazo de quinze dias, aos tribunais federais ou estaduais a respeito da controvérsia.

§ 4o O relator, conforme dispuser o regimento interno do Superior Tribunal de Justiça e considerando a relevância da matéria, poderá admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com interesse na controvérsia.

§ 5o Recebidas as informações e, se for o caso, após cumprido o disposto no § 4o deste artigo, terá vista o Ministério Público pelo prazo de quinze dias.

§ 6o Transcorrido o prazo para o Ministério Público e remetida cópia do relatório aos demais Ministros, o processo será incluído em pauta na seção ou na Corte Especial, devendo ser julgado com preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam réu preso e os pedidos de habeas corpus.

§ 7o Publicado o acórdão do Superior Tribunal de Justiça, os recursos especiais sobrestados na origem:

I - terão seguimento denegado na hipótese de o acórdão recorrido coincidir com a orientação do Superior Tribunal de Justiça; ou

II - serão novamente examinados pelo tribunal de origem na hipótese de o acórdão recorrido divergir da orientação do Superior Tribunal de Justiça.

§ 8o Na hipótese prevista no inciso II do § 7o deste artigo, mantida a decisão divergente pelo tribunal de origem, far-se-á o exame de admissibilidade do recurso especial.

§ 9o O Superior Tribunal de Justiça e os tribunais de segunda instância regulamentarão, no âmbito de suas competências, os procedimentos relativos ao processamento e julgamento do recurso especial nos casos previstos neste artigo. Tal medida foi estabelecida com a finalidade pacificar o entendimento jurisprudencial acerca do instituto da Desaposentação, estabelecendo entendimento a ser seguido nas decisões sobre o tema. As diversas questões que esta abrange geraram enorme celeuma entre os tribunais federais, os quais decidiam o assunto de diferentes formas, gerando situação de insegurança jurídica aos aposentados que requerem a renúncia de seu benefício de aposentadoria e posterior concessão de outro benefício desta mesma natureza, com a finalidade de majorar sua renda mensal.

Assim, a medida possibilitou maior segurança jurídica nas causas que versam sobre a Desaposentação.

No caso em tela, a relatoria do citado recurso coube ao Ministro Herman Benjamin, o qual proferiu ementa nos seguintes termos:

RECURSO ESPECIAL. MATÉRIA REPETITIVA. ART. 543-C DO CPC E RESOLUÇÃO STJ 8/2008. RECURSO REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. DESAPOSENTAÇÃO E REAPOSENTAÇÃO. RENÚNCIA A

APOSENTADORIA. CONCESSÃO DE NOVO E POSTERIOR JUBILAMENTO. DEVOLUÇÃO DE VALORES. DESNECESSIDADE.

1. Trata-se de Recursos Especiais com intuito, por parte do INSS, de declarar impossibilidade de renúncia a aposentadoria e, por parte do segurado, de dispensa de devolução de valores recebidos de aposentadoria a que pretende abdicar.

2. A pretensão do segurado consiste em renunciar à aposentadoria concedida para computar período contributivo utilizado, conjuntamente com os salários de contribuição da atividade em que permaneceu trabalhando, para a concessão de posterior e nova aposentação.

3. Os benefícios previdenciários são direitos patrimoniais disponíveis e, portanto, suscetíveis de desistência pelos seus titulares, prescindindo-se da devolução dos valores recebidos da aposentadoria a que o segurado deseja preterir para a concessão de novo e posterior jubilamento. Precedentes do STJ.

4. Ressalva do entendimento pessoal do Relator quanto à necessidade de devolução dos valores para a reaposentação, conforme votos vencidos proferidos no REsp 1.298.391/RS; nos Agravos Regimentais nos REsps 1.321.667/PR, 1.305.351/RS, 1.321.667/PR, 1.323.464/RS, 1.324.193/PR, 1.324.603/RS, 1.325.300/SC, 1.305.738/RS; e no AgRg no AREsp 103.509/PE.

5. No caso concreto, o Tribunal de origem reconheceu o direito à desaposentação, mas condicionou posterior aposentadoria ao ressarcimento dos valores recebidos do benefício anterior, razão por que deve ser afastada a imposição de devolução. 6. Recurso Especial do INSS não provido, e Recurso Especial do segurado provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução 8/2008 do STJ.

As partes envolvidas no caso ficaram insatisfeitas com a decisão do Tribunal de origem, tendo o autor impetrado o REsp em questão. O recorrente, aposentado, teve seu direito à Desaposentação reconhecido pelo tribunal de origem, entretanto, este condicionou a concessão do citado direito à devolução dos valores auferidos em primeira aposentadoria para os cofres da Previdência Social. O INSS recorreu na medida em que não reconhece o direito à Desaposentação, alegando que esta gera ônus para a Previdência Social, bem como viola o equilíbrio atuarial e financeiro do sistema.

O emérito relator, inicialmente, analisou a questão da possibilidade de renúncia à aposentadoria, condição necessária para a Desaposentação. Este chegou à conclusão de que o ato de renúncia à benefício previdenciário é admissível, visto que estes, apesar de seu caráter alimentar, tratam-se de direito patrimonial disponível, sendo tal condição reconhecida para a concessão da Desaposentação. Consubstanciando o posicionamento adotado, apresentou diversos julgados daquela corte seguindo o mesmo entendimento.

Outra questão abordada foi a necessidade de devolução dos valores recebidos a título de primeira aposentadoria, a qual é renunciada para ser requerida nova aposentadoria levando em consideração as contribuições vertidas posteriormente ao jubilamento. O julgador reconheceu que o STJ possui entendimento consolidado no sentido da desnecessidade desta devolução, aplicando-o ao caso. Este, entretanto, ressalvou que possui entendimento pessoal que é contrário ao adotado pela corte.

É possível, portanto, ao segurado pleitear a desaposentação para posterior reaposentação, computando-se os salários de contribuição posteriores à renúncia, sem necessidade de devolução dos valores recebida da aposentadoria preterida. (REsp nº 1.334.488 - SC 2012/0146387-1. Inteiro Teor, p. 14, do Anexo I).

O presente recurso e julgamento possuem grande importância para a consolidação da concessão da Desaposentação. O entendimento adotado será seguido por todos os Tribunais Federais e Juízes Federais, os quais terão suas decisões reanalisadas pelo STJ caso sentenciem em sentido contrário.

Assim, a presente decisão é marco de grande avanço do reconhecimento dos direitos dos aposentados, consolidando os ideais de solidariedade e de justiça social pregados para a real consecução dos objetivos da Seguridade e Previdência Social.

Merece menção o fato de que a questão da Desaposentação será definitivamente decidida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o qual analisará a admissibilidade do instituto ante à Constituição da República.

O Recurso Extraordinário (RExt) nº 381367, foi impetrado no ano de 2003. Este foi proposto em razão do não reconhecimento do direito à Desaposentação, alegando que este ato viola o Art. 201, §11, da CRFB/88, o qual dispõe que: “Os ganhos habituais do empregado, a qualquer título, serão incorporados ao salário para efeito de contribuição previdenciária e consequente repercussão em benefícios, nos casos e na forma da lei.”, uma vez que as contribuições previdenciárias vertidas após o jubilamento não são consideradas para majoração do benefício de aposentadoria ou concessão de outros benefícios previdenciários. Tais informações foram obtidas no sítio eletrônico do STF5.

Desse modo, a inconstitucionalidade está presente na medida em que o aposentado, ao voltar a trabalhar e, consequentemente, a verter contribuições previdenciárias não vê melhoramento em seu benefício, além de que à este é vedada a concessão de quase todos os benefícios previdenciários, exceto ao salário-família e à reabilitação profissional (Art. 18, §2º, da Lei nº 8.213/91).

O citado recurso encontra-se em vistas para o Ministro Dias Toffoli, revisor do caso, desde 2011, para que emita decisão e seja retomado seu julgamento.

5 Supremo Tribunal Federal. Desaposentação é tema de repercussão geral. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=195735>. Acesso em: 05 de setembro de 2013.