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A explicitação da dinâmica da comunicação e do relacionamen to interpessoal

Uma escola, como organização social, é marcada por uma rede de relações inter- pessoais que, segundo as pesquisas modernas indicam, são fundamentais para o desenvolvimento das pessoas em seu interior (Andrade, 2003). Essa rede se desenvolve a partir das ações, comportamentos e gestos das pessoas, como por suas palavras faladas e escritas. Verifica-se que ela pode ser saudável e eficaz, do ponto de vista educacional, como pode ser inadequada e limitada, dependendo da clareza que as pessoas tenham sobre esse processo, como também das habilidades pessoais e sociais relacionadas a ele. Portanto, deixá-la fluir naturalmente, sem atenção especial com a sua natureza e os seus resultados, representa deixar que aspectos negativos nela ocorram e tomem conta do processo.

A comunicação e o relacionamento interpessoal são centrais no fazer educacional e na construção da organização social da escola, sendo inerente a esses processos. Conforme indicado por Carl Rogers (1981), educação é processo de relacionamento interpessoal, que envolve a comunicação. Esses processos envolvem muitas nuances e sutilizas, nem sempre observadas, reconhecidas e compreendidas, de que resulta uma limitação nos processos educacionais.

A responsabilidade do diretor escolar pela gestão da escola representa a respon- sabilidade pela qualidade do processo e, portanto, pela rede de comunicação e relações interpessoais que ocorrem na comunidade escolar, de modo a orientá-la, a fim de que represente fenômenos sociais de natureza educacional e produtivos na promoção da aprendizagem e formação dos alunos.

Que entendimento há na escola sobre esses processos? A seguir são apresentados e analisados depoimentos de profissionais da escola a respeito, de modo a trazer luz sobre entendimentos convencionais.

Assim se expressou uma supervisora educacional:

• “Em nossa escola, a comunicação é muito boa, ela flui naturalmente, pois a dire- tora coloca em edital as informações necessárias para o bom funcionamento da escola, e só não lê quem não quer.”

Por este depoimento depreende-se que a comunicação é entendida como sendo a emissão unilateral e unidirecional de informações, sem levar em conta a recepção e, menos ainda, o retorno e a reciprocidade, vale dizer, sem consideração ao relacio- namento interpessoal. É ainda possível sugerir que há a expressão autoritária e sem qualquer consideração ao processo de mobilização e liderança da gestão escolar. Um entendimento diferente sobre a questão é revelado por outra supervisora: • “Na minha escola não há problema de comunicação. Nos damos muito bem e

não discutimos. Cada um assume suas responsabilidades e por isso não temos nenhum problema, não nos metemos na vida dos outros.”

Já neste depoimento a comunicação é expressa como correspondendo ao relacionamento interpessoal, porém, sem revelar os elementos da comunicação. O bom relacionamento é considerado como aquele harmonioso e discreto, sendo livre de conflitos e tensão. Porém, como não existe relacionamento interpessoal livre de tensões e conflitos, o que é representado como falta de problema de comunicação, pode ser falta de comunicação, sugerido pela frase “não nos metemos na vida dos outros”.

A desconsideração da comunicação e relacionamento interpessoal como elementos do cotidiano escolar é revelada na indicação de que “...o processo de comunicação na nossa escola se dá através de reuniões pedagógicas, recados escritos (bilhetes), recados falados, jornal escolar e editais”. Pois, dessa forma, um diretor escolar evi- denciou seu entendimento limitado da comunicação como se constituindo apenas pelo processo de informação, desconsiderando o diálogo, a troca, a reciprocidade. Observamos, portanto, a partir desses fragmentos de depoimentos, que os mesmos apresentam certas limitações de entendimento e em outros casos, uma distorção. Considerando que agimos de acordo como pensamos em relação à realidade, é possível identificar que qualquer esforço para melhorar os problemas apontados não terá condições para superá-los, tendo em vista suas bases inadequadas de entendimento. Portanto, evidencia-se como necessário que o diretor escolar se esforce no sentido de alcançar o aprofundamento e alargamento do entendimento sobre comunicação, promovidos na escola, a partir de observações do processo, orientadas por leituras e estudos esclarecedores de seus desdobramentos.

Verifica-se que os gestores mais críticos e conscientes da problemática da comuni- cação no processo social, indicam uma noção mais abrangente e clara do mesmo, apontando problemas comuns em relação a ele, como você verá a seguir.

Uma diretora assim se manifestou: “na dinâmica do diálogo, percebe-se que mui- tas vezes somos simplesmente ouvidos, ocorrendo a emissão, a recepção, mas não havendo reação. Ou seja, não ocorrem novas emissões de comunicação. Por outro lado, também nos deparamos com situações em que antes de se emitir uma mensagem, já se tem a idéia pré-formulada (preestabelecida), desvalorizando as colocações emergentes no grupo”.

Este depoimento revela o entendimento de dois aspectos do processo de comunica- ção: i) a emissão – recepção –, resposta do processo, reconhecendo corretamente a sua circularidade, e ii) o papel de preconcepções e prejulgamentos determinando posições prefirmadas e, dessa forma, impedindo o desenvolvimento do grupo. Outra diretora afirmou, a respeito da situação em sua escola: “encontramos algumas dificuldades relacionadas à interpretação dos comunicados, devido aos diferentes pontos de vista das pessoas envolvidas; muitas vezes resolvem-se alguns problemas, mas criam-se outros”.

Este relato indica um aspecto importante da comunicação, que é o entendimento de como as pessoas pensam e quais suas opiniões a respeito das situações, idéias e processos do trabalho e seu ambiente, isto é, a construção de significados. Esse é um desafio constante na comunicação, uma vez que pessoas atribuem significados diferentes a uma mesma comunicação, tendo em vista sua experiência e história de vida diferente, que afetam seus valores, sensibilidade e capacidade perceptiva. Esses exemplos comentados indicam ao diretor escolar como as falas revelam sig- nificados atribuídos pelas pessoas ao que representam e dessa forma permitem trabalhar sobre eles, de modo a torná-los mais efetivos, claros e consistentes em relação ao processo educacional a ser promovido pela escola.