• Nenhum resultado encontrado

O papel do diretor na construção de cultura escolar de caráter educativo

Ao diretor escolar, responsável pela influência intencional e sistemática da escola sob sua responsabilidade, cabe, portanto, o papel da liderança que consiste em levar os seus participantes a focalizar os aspectos importantes da experiência, identificar as suas características, analisar seus resultados sob o enfoque dos objetivos educacio- nais, orientar o grupo na revisão de seu desempenho, suas competências, hábitos de pensamento, atitudes, etc., à luz daqueles objetivos e valores educacionais. Sem essa liderança, ocorre na escola a formação de uma cultura caracterizada por concepções e ações centradas em interesses pessoais, por tendências imediatistas e reativas, em vez de por interesses socioeducacionais com foco no desenvolvi- mento dos alunos. Os ambientes em que os gestores hesitam em exercer liderança nesse sentido, passam a ser objeto da criação de regularidades em que interesses individuais ou corporativos têm primazia inadequada e ilegítima como um direito funcional, em detrimento dos interesses de aprendizagem e formação dos alunos. Essas características passam então a ser subliminarmente socializadas para os novos membros da escola, que são influenciados a aceitá-las e assumi-las, ocorrendo então o reforço à consistência e estabilidade do modo de ser e de fazer estabelecido, mesmo que em contradição aos propósitos educacionais.

Tais condições, no entanto, podem ser alteradas e as são, a partir de novos líderes que orientam a reflexão sobre essas práticas e inspiram valores mais amplos, cuja realização promove o ganho de todos:

• dos profissionais da escola, por seu sentido de realização, sua aprendizagem em serviço e, portanto, por seu desenvolvimento profissional;

dade de vivência em ambiente educacional mais condizente com as condições de aprendizagem significativa, e os benefícios que usufruem dessa condição; • da escola, pela construção de uma identidade social positiva;

• da comunidade por contarem com instituição que contribui para o seu apri- moramento e aprimoramento sociocultural.

Tem sido destacado que o desempenho de professores é determinado muito mais pelos elementos e características da cultura organizacional da escola, do que por oportunidades formais de aprendizagem de novas formas de desempenho em cursos e oficinas de capacitação. Isto é, a vivência cotidiana tem demonstrado ser mais efetiva na determinação de como agem os profissionais do que por cursos de capacitação de que participam.

Sem desqualificar a importância dos cursos de capacitação, sempre necessários para a atualização da competência dos profissionais em educação, é necessário reconhecer o impacto que a cultura organizacional exerce na conservação do statu quo. Profes- sores têm indicado que saem de seus cursos entusiasmados e com a firme intenção de pôr em prática suas aprendizagens, mas que, ao chegar à escola, “encontram tudo do mesmo jeito”. Esse fato, portanto, indica a importância de se investir no apri- moramento da cultura organizacional da escola, como condição para a melhoria de desempenho de seus profissionais e consequente qualidade do ensino.

Como um processo eminentemente social e coletivo, constituído a partir de apren- dizagens e compreensões compartilhadas, a formação da cultura escolar se efetiva a partir da liderança¹ de pessoas que, de alguma forma, exerce influência sobre o grupo no sentido de que em seu trabalho focalize determinados aspectos, que pense sobre eles segundo um padrão mental específico e que construa referenciais mentais e significados peculiares em relação a eles. Esses líderes existem naturalmente ao nosso redor, e todos fomos, alguma vez, inspirados por eles.

O diretor escolar, ao assumir as responsabilidades de seu cargo, assume necessa- riamente, a responsabilidade de liderar a formação de cultura escolar compatível com a necessária para que o ambiente escolar seja estimulante e adequado para a formação de seus alunos. A partir de atuação nesse sentido, orienta o curso dos eventos e ações; ajuda as demais pessoas a fazerem sentido desses eventos, a reti- rarem lições das ações em que se envolvem, estabiliza as soluções bem-sucedidas, disseminado-as; organiza os processos e interações sociais, tornando-os estimu- lantes. Fazê-lo, no entanto, depende de estar atento às múltiplas expressões da cultura vigente, de modo a conhecer e compreender a sua natureza, a sua dinâmica os seus resultados; compreender como as pessoas representam o seu trabalho e o seu papel na escola, a partir do que orientam a sua atuação.

No entanto, paradoxalmente, nem sempre ocorre na escola essa liderança exercida em favor da qualidade do ensino e bem-estar dos alunos, em nome da educação e do papel social da escola.

É possível observar em escolas, diretores exercendo papéis burocráticos de controle e cobrança, ou ainda, papéis formais de representação, sem um esforço deliberado e comprometido em exercer influência sobre a organização social da escola como um todo e a orientação para a realização dos objetivos educacionais. Por como- dismo, por receio de enfrentar dificuldades, por medo de desestabilizar poderes constituídos, omitem-se em assumir suas responsabilidades. Dessa forma, deixam o espaço da liderança para outras pessoas que, no entanto, podem fazê-la algumas vezes, sem o sentido global da ação educacional e uma concepção abrangente da educação, dentre outros preceitos essenciais à gestão escolar.

Quando um grupo é envolvido em uma experiência organizada de modo a obter sucesso, mesmo que este venha a ser parcial, na medida em que o líder identifica e torna visível esse sucesso e reforça o caráter coletivo dessa realização, dá início a um processo de mudança de orientação cognitiva do grupo para o sucesso e criação de uma crença entre os participantes da escola, no sentido fundamental de autoria e responsabilidade pelos seus feitos.

Identifica-se que a cultura é um conceito abstrato e que existe na subjetividade das pessoas que compõem a escola e a influenciam pelo seu modo coletivo de pensar: “somos e agimos a partir do modo como pensamos”. Uma vez que aquela represen- tação determina, em grande parte, o modo como as pessoas agem na escola e nela se orientam, é de grande importância conhecer, pela sua representação, a cultura da escola. Como também a cultura organizacional da escolas é dinâmica e se cons- titui num fenômeno vivo e ativo no qual as pessoas se renovam e criam relações múltiplas para manter seu ideário, há na cultura um elemento de permanência, mas também um elemento evolutivo que encobre e dissimula a subjetividade, daí porque, a compreensão da cultura organizacional ser desafiadora.

A essência da cultura de uma escola é expressa pela maneira como ela promove o pro- cesso ensino-aprendizagem, a maneira como ela trata seus alunos, o grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades e o grau de lealdade expresso por todos em relação à escola e à educação. A cultura organizacional representa as percepções dos gestores, professores e funcionários da escola e reflete a mentalidade que predomina na organização. Por esta razão, ela condiciona a getão das pessoas.

A discrepância entre os objetivos educacionais e os objetivos