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A expressão oral

No documento Projeto de Investigação são Final (páginas 38-42)

2. Quadro Teórico de Referência

2.2. O domínio da oralidade

2.2.4. A expressão oral

A expressão oral é uma competência essencial na língua materna de cada indivíduo,

uma vez que permite “produzir cadeias fónicas dotadas de significado e conformes à gramática de uma língua” (Sim-Sim, Duarte, & Ferraz, 1997, p. 28). Ao entrar no 1.º

Ciclo, as crianças são capazes de interagir em momentos de conversa espontânea, instância primária da expressão oral. Compete então à escola proporcionar aprendizagens que levem as crianças a uma expressão fluente e adequada aos vários géneros discursivos do oral. Na perspetiva da educação básica, compete à escola

“adoptar uma pedagogia do oral que proporcione ao aluno um saber-fazer de ordem linguística, cognitiva e social” (idem, p. 29) que lhe permita sentir-se um interlocutor

fluente.

A competência da expressão oral, em conjunto com a compreensão oral, formam o domínio do modo oral no programa de Português de 2009, enquanto no programa de 2015 formam o domínio da oralidade. Em ambos os documentos existem referências à importância de aprofundar o conhecimento das crianças no domínio da oralidade. É igualmente visível nos descritores de desempenho do programa (Reis, et al., 2009) a interligação de ambas as competências. Inclusivamente é referido que a expressão oral

“implica a mobilização de saberes linguísticos e sociais e pressupõe uma atitude

cooperativa na interacção comunicativa, bem como o conhecimento dos papéis desempenhados pelos falantes em cada tipo de situação” (idem, p. 16), conhecimento que apenas se torna possível se for aliado à compreensão do oral.

No programa de Português de 2015, é referido que o trabalho que o docente faz no

domínio da oralidade “influencia a qualidade da exposição dos alunos, por exigir deles

uma estruturação, um rigor e uma propriedade lexical cada vez maiores na expressão do que querem dizer” (Buescu, Morais, Rocha, & Magalhães, 2015, p. 7). A capacidade de expressão oral, tanto na sua vertente de interação verbal, como na produção de

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pequenos textos, ganha assim uma maior importância, permitindo aos alunos aprofundar o conhecimento e o domínio da linguagem oral.

De acordo com Florez (1999), “[s]peaking requires that learners not only know how to produce specific points of language such as grammar, pronunciation, or vocabulary (linguistic competence), but also that they understand when, why, and in what ways to produce language (sociolinguistic competence)”. À luz desta definição, importa esclarecer que a competência sociolinguística pode ser descrita como a área que trata das relações entre a linguagem e a sociedade. Menéndez (1990, p. 16) define esta competência como “el análisis de la variedad y variación de la lengua en relación con la estructura social de las comunidades de habla, y en general, el estudio de la covariación de los hechos lingüísticos y sociales”, pelo que a expressão oral, tal como na fase de aquisição, é influenciada pela linguagem da comunidade em que se está inserido.

Um aspeto importante da competência sociolinguística é a noção de registo. Pode-se caracterizá-lo como a ferramenta que permite delimitar o grau de formalidade do discurso. Para que um discurso seja mais ou menos formal, recorre-se a alguns meios como as estruturas gramaticais, a pronúncia, o vocabulário, a entoação, entre outros. Relativamente a este tema, Menéndez (idem, p. 54) refere que “el discurso es regulado de acuerdo con normas y expectativas socialmente reconocidas”, pelo que, nos momentos de treino do oral, o docente terá de compreender que a expressão oral afeta, inevitavelmente, a compreensão e a entoação desempenha um papel importante na interpretação do discurso oral. Assim, a entoação é vista como “uma parte activa da comunicação linguística e desempenha uma função chave na produção e interpretação

de sequências discursivas” (Mata, 2008, p. 45).

É a entoação dada às frases e palavras que permite que o ouvinte perceba o sentido do

que está a ser dito, ou seja, a entoação “contribuiu de modo significativo para a distinção de valores gramaticais” (idem, p. 46). Torna-se assim imperativo integrar esta

especificidade da língua nos treinos das competências orais realizando, por exemplo, exercícios de audição global e seletiva (ver Capítulo 2, secção 2.2.2.).

Ao realizar uma exposição oral, o aluno terá de utilizar não só a sua competência linguística como também a sociolinguística, compreendendo o objetivo do seu discurso e de que forma o deverá produzir.

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Na visão de Câmara (1978, p. 15),

quem fala em público tem de atentar para o timbre da voz, para a altura da emissão vocal, para o complexo fenômeno que se chama entoação das frases, bem como saber jogar, adequadamente, com gestos do corpo, dos braços, das mãos e da fisionomia.

Para além da entoação que, como referido, é essencial para a construção de um discurso oral estruturado e coerente, existem outras competências relacionadas com a expressão oral que devem ser trabalhadas com os alunos, pois, tal como o texto escrito, o texto oral requer um planeamento organizado e criterioso.

Tendo como base o GIP (Silva, Viegas, Duarte, & Veloso, 2011, pp. 19-25) e o respetivo capítulo que aborda os aspetos envolvidos no treino do oral, as dimensões que devem ser trabalhadas no que à expressão oral diz respeito são as que se apresentam no quadro 3.

Quadro 3 - Aspetos envolvidos no treino do oral

Competências Articulatórias Competências Prosódicas Competências Pragmático- Discursivas Consciência explícita de fenómenos de variação linguística Na produção da fala, há que ter em atenção que o aparelho fonador está a imprimir constantemente a uma corrente aérea um conjunto de modificações com consequências a nível das propriedades sonoras da onda que emite.

A articulação dos sons que compõem os encadeamentos de material verbal tem de ser feita de forma percetível e clara.

Propriedades sonoras que tomam como domínio de aplicação unidades maiores do que o segmento (consoante ou vogal). Competências associadas à transmissão de emoções. Adequação ao contexto, ao tema, ao tempo disponível e, sobretudo, ao alocutário a diferentes níveis: linguístico e comunicativo.

Os alunos devem adquirir uma consciência explícita de que uma língua não é um bloco monolítico de unidades, regras e construções utilizadas da mesma forma por todos os falantes.

Existem, então, variáveis que interferem na variação linguística como o grau de

formalidade/informalidade; origem geográfica dos falantes; articulação dos sons.

A expressão oral e o treino das competências orais não se resumem à simples exposição de conteúdos. Através da tabela, conclui-se que o trabalho de treino da expressão oral

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pode ser um “instrumento relevante para o trabalho explícito acerca de outras competências linguísticas e não linguísticas” (ibidem, p. 19).

Uma vez que as competências articulatórias e prosódicas tomam um lugar de destaque na expressão oral, visto estarem ambas ligadas à articulação e às propriedades sonoras das palavras, o GIP (ibidem, p. 40) sugere a atividade seguinte para ser realizada com alunos do 1º. Ciclo do Ensino Básico.

Apresentação geral: Os alunos são chamados a reproduzirem oralmente pequenos textos que explorem de forma particular recursos fónicos como as rimas, as aliterações, os esquemas métricos, etc.

Desta forma, pretende-se elevar o nível de consciência explícita das estruturas sonoras da língua e treinar nos alunos uma articulação cuidada, planeada e percetível.

Descritores de desempenho:

 Dizer textos poéticos memorizados, com clareza e entoação adequadas

(1.º Ciclo).

 Reproduzir (…) trava-línguas, lengalengas, adivinhas, provérbios. (id.)

Conteúdos:

Articulação, acento, entoação, pausa.

Conhecimentos prévios:

Os alunos já participaram em atividades de expressão oral orientada: Ouvem os outros e esperam a sua vez para falar.

Exercitaram a voz e o ouvido na manipulação de sons da língua. Distinguem diferentes tipos de entoação.

Este tipo de atividades, direcionadas para o treino da expressão oral, contribuem para diminuir as dificuldades inerentes à realização de uma exposição oral. Tal como refere Câmara (1978, p. 16), existe “uma enorme riqueza de recursos que facilitam extraordinariamente a comunicação linguística, quando são bem empregados; mas, como toda a riqueza, se podem transformar em pesadelo e danação”, levando a que os

alunos se “isolem” por não saberem empregar estes recursos. Muitas crianças têm

dificuldades em expressar-se, não conseguindo expor o seu ponto de vista nem interagindo com os colegas nos momentos de grupo-turma. Para ultrapassar estas dificuldades, atividades como a anteriormente descrita podem ser desenvolvidas em sala de aula.

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