• Nenhum resultado encontrado

Articulação curricular

No documento Projeto de Investigação são Final (páginas 52-56)

2. Quadro Teórico de Referência

2.4. Articulação curricular

Nos programas de Português referidos ao longo do presente projeto (2009 e 2015), assim como nas Metas Curriculares de 2012, verifica-se que a oralidade é um ponto comum a todos. No Programa de Português do Ensino Básico de 2015 (Buescu, Morais, Rocha, & Magalhães, 2015), o domínio da oralidade possui diferentes objetivos e descritores de desempenho para os três ciclos, dividindo-os por anos de escolaridade, desde o 1.º até ao 9.º ano. Torna-se assim possível para os docentes trabalhá-la de forma autónoma com os alunos, sendo exequível a introdução de materiais e exercícios para o desenvolvimento do treino da competência oral.

Contudo, como referido ao longo deste capítulo, a oralidade é uma capacidade que se encontra presente diariamente no quotidiano dos alunos, não só dentro como fora da escola. Será correto que este domínio seja trabalhado apenas na área do Português? Desta forma, torna-se imprescindível analisar os programas das outras áreas curriculares de maneira a compreender a importância dada à oralidade fora das aulas da língua materna.

No Programa de Matemática do Ensino Básico (Damião, et al., 2013), um dos objetivos

previstos para os quatro anos do 1.º Ciclo do Ensino Básico é a “comunicação

matemática”, na qual o docente deve “trabalhar com os alunos a capacidade de compreender os enunciados dos problemas matemáticos, identificando as questões que levantam, explicando-as de modo claro, conciso e coerente, discutindo, do mesmo modo, estratégias que conduzam à sua resolução” (idem, p. 5).

39

Para além disto, o programa também visa o incentivo por parte do professor a que os alunos exponham as suas ideias e comentem as afirmações dos colegas, mostrando assim se compreenderam ou não o que foi dito e/ou explicado. Com este tipo de comunicação, os discentes poderão desenvolver a sua compreensão e expressão oral aliadas a termos especificamente matemáticos.

No que diz respeito às Expressões, estas dividem-se em Expressão Físico-Motora, Expressão Musical, Expressão Dramática e Expressão Plástica. Relativamente à Expressão Físico-Motora, no programa não encontramos nenhum bloco ou objetivo que esteja diretamente relacionado com a oralidade. Porém, uma vez que este tipo de expressão está relacionada com a atividade física e é, por norma, realizada em espaços abertos ou ginásios, a compreensão oral encontra-se presente nas aulas de expressão físico-motora quando o professor explica as regras dos jogos aos alunos, levando-os a compreenderem-nas para que o jogo seja bem executado. Quer a aula seja destinada a exercícios de perícia e manipulação, quer tenha como objetivo realizar ações básicas de deslocamentos e equilíbrios, quer seja no âmbito da ginástica, da patinagem, da dança ou de jogos tradicionais, todas têm como base a compreensão dos exercícios por parte dos alunos. Assim, de forma simples e natural, as crianças desenvolvem a compreensão oral neste tipo de aulas e contactam com um tipo de texto diferente – o instrucional. Na Expressão Musical, o domínio da oralidade encontra-se presente em vários tipos de jogos realizados com a voz, nomeadamente quando as crianças têm de “Dizer rimas e

lengalengas; Entoar rimas e lengalengas; Reproduzir pequenas melodias” (Ministério da

Educação, 2004, p. 69). Para além da presença da oralidade, ao cumprirem com estes objetivos os alunos estão igualmente em contacto com a poesia, uma vez que as rimas, as lengalengas e as canções em geral fazem parte da linguagem poética. No bloco que diz respeito à experimentação, desenvolvimento e criação musical, a expressão oral encontra-se presente em atividades de grupo, nomeadamente quando as crianças têm de

“Dialogar sobre: meio ambiente sonoro; audições musicais; produções próprias e do

grupo; encontros com músicos; sonoplastias nos meios de comunicação com que tem contacto (rádio, televisão, cinema, teatro,…)” (idem, p. 72).

A Expressão Dramática é, das quatro, aquela que utiliza maioritariamente a oralidade

nos seus jogos/exercícios. As crianças têm de “Participar na elaboração oral de uma

40

associação de palavras por afinidades sonoras e semânticas; Experimentar diferentes

maneiras de dizer um texto: lendo ou recitando” (ibidem, pp. 83-84).

Por fim, na Expressão Plástica, apesar de estar diretamente ligada com a manipulação de objetos como tesouras, lápis, pincéis, etc., a compreensão oral encontra-se presente nos momentos de explicação, por parte do professor, de técnicas que requerem especial atenção e que seguem determinadas regras como a tecelagem, a costura e as montagens audiovisuais. Assim, neste tipo de atividades, as crianças contactam, também, com o tipo de texto instrucional.

O Estudo do Meio é uma área pela qual, normalmente, os alunos de 1.º Ciclo se interessam devido ao facto de retratar e ensinar sobre o mundo que os rodeia. Como afirma Sá (2002, p. 29), “nas atividades de Ciências, as crianças são estimuladas a falar, descrevendo e interpretando o que observam, procuram palavras novas face à insuficiência de vocabulário para lidar com novas situações, fazem registos escritos,

etc.”, pelo que se compreende desde já que a oralidade se encontra integrada nas aulas

de Estudo do Meio.

Uma prática comum dos docentes nos momentos de exploração e execução de atividades práticas é solicitar aos alunos que comentem o que observam e, no caso do 3.º e 4.º ano, que registem por escrito essa observação. Uma outra estratégia de ensino neste tipo de situações é o tratamento de situações problemáticas relevantes e de interesse para os alunos, permitindo-lhes “formular hipóteses e delinear estratégias de resolução (incluindo planificações experimentais) para testar/contrastar as hipóteses à luz do corpo de conhecimentos que se possui” (Martins, et al., 2007, p. 34). A observação de documentários e a realização de experiências tendo como base um guião experimental são igualmente práticas docentes num ensino experimental.

Num trabalho de caráter investigativo, nomeadamente nas atividades práticas, o aluno

deve “[participar] na definição de uma questão-problema, [envolver-se] nos

procedimentos a seguir, [executá-los] e, por fim, [discutir] os limites de validade das

conclusões alcançadas” (idem, p. 7). Verifica-se que o envolvimento dos alunos em

atividades deste tipo e a sua articulação com a oralidade permite que as crianças interajam com géneros textuais diversificados.

41

Analisando o Programa de Estudo do Meio (2004), encontram-se diversos objetivos que integram tanto a expressão como a compreensão oral:

Descrever lugares, actividades e momentos passados com amigos, com

familiares, nos seus tempos livres…; Comparar-se com os outros; Descrever

a sucessão de actos praticados ao longo do dia, da semana; Descrever os seus

itinerários diários (casa/escola, lojas, tempos livres…); Enumerar soluções

para a qualidade do ambiente (idem, pp. 105-131).

Para além destes objetivos, é referido no programa que “o Estudo do Meio está na

intersecção de todas as outras áreas do programa, podendo ser motivo e motor para a aprendizagem nessas áreas” (idem, p. 101). Como abordado anteriormente, o Estudo do Meio é uma área que, pela curiosidade que desperta nos alunos, poderá servir de base para vários tipos de tarefas, articulando com as diferentes áreas disciplinares. Assim, esta área poderá igualmente servir de mote para exercícios de treino das competências

orais, promovendo igualmente “capacidades de pensamento (criativo, crítico, metacognitivo,…) úteis noutras áreas (…) e em diferentes contextos e situações”

(Martins, et al., 2007, p. 17).

As atividades práticas mostram-se de extrema importância para o desenvolvimento da criança em vários domínios, incluindo o da oralidade, pois, ao realizar tarefas deste tipo, o aluno deve “Utilizar alguns processos simples de conhecimento da realidade envolvente (observar, descrever, formular questões e problemas, avançar possíveis respostas, ensaiar, verificar), assumindo uma atitude de permanente pesquisa e experimentação” (Ministério da Educação, 2004, p. 103).

Pode-se então concluir que o domínio da oralidade pode ser treinado e interligado com as diferentes áreas curriculares, tornando assim o treino das competências orais mais rico em vocabulário, competências sociolinguísticas, diversidade de géneros textuais e objetivos comunicativos. Com a variedade de opções, o docente poderá partir de um tema que seja do interesse dos alunos e daí criar materiais que desenvolvam as suas competências orais, aliando-as à aprendizagem de novos conceitos de Matemática, Expressões ou Estudo do Meio.

Neste projeto de intervenção, o treino das competências orais foi aliado à área curricular de Estudo do Meio, partindo de temas como o ar, a água e a dentição, e incidindo na temática do ensino experimental das Ciências.

42

No documento Projeto de Investigação são Final (páginas 52-56)