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Secularização: causas e consequências

1. A extinção das ordens religiosas e as suas repercussões

Tal como as restantes casas religiosas espalhadas um pouco por todo o país, o

convento de Nossa Senhora dos Mártires e da Conceição encontrou em oitocentos o início de uma longa e dolorosa caminhada que viria a alterar, definitivamente, a sua história. Portugal conhecia novas realidades políticas e sociais que teriam repercussões fatais nas instituições religiosas e no seu património.

A partir dos anos 20 de oitocentos assistiu-se ao acentuar da laicização da sociedade:

“nascer e morrer, contratar ou casar, estudar ou intervir na vida pública, nada teria de ser condicionado por qualquer sacralidade prévia, tudo se reconduziria à simplicidade dos actos naturais, ainda que coloridos com os sentimentos e convicções de cada um”225

A relação da sociedade com a religião ia mudando e a tensão entre o liberalismo e os institutos religiosos

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226

viria a sofrer um crescimento de 1820 até 1834, com o quadro eclesiástico de paróquias e dioceses a ver-se envolvido nas lutas que levariam ao triunfo do liberalismo político227. Com a independência do Brasil em 1822 e consequente acabar de lucros fáceis, a burguesia e a nova aristocracia liberal voltam-se para as riquezas do clero e da nobreza; as somas realizadas pelo Estado não foram, no entanto, as esperadas, visto muitos bens terem sido pagos pelos títulos de dívida pública avolumados durante as guerras liberais228

Com a instauração do regime liberal, a Igreja sofreria um profundo ataque, dirigido em particular ao clero regular, que viria a culminar em 1834, com a extinção das ordens religiosas e a consequente desamortização dos seus bens; no entanto, como sublinha Maria João Neto “ em termos práticos, a justificação para a extinção das ordens religiosas, em 1834, não pode só residir na necessidade urgente de vender bens e

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225

História Religiosa de Portugal, dir. AZEVEDO, Carlos de, Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, Vol.3, p.66

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“As ordens e congregações religiosas eram encaradas como perturbadoras da ordem social e esvaziadas de qualquer sentido social, conforme o padrão liberal: não produziam e estimulavam a atitude esmoler, constituindo um mau exemplo em relação ao trabalho tornado valor do homem livre; viviam o celibato, que se entendia contrário à constituição de família e à realização natural do homem; tinham a obediência como voto religioso, agora desqualificado na medida em que o ideal liberal transferia a natureza das relações sociais da dimensão de súbdito para a de cidadão, isto é afirmava um entendimento do indivíduo como parte da nação, perspectiva sedimentada pelo patriotismo enquanto referencial da consciência colectiva; e também ao serem tomadas como expressões da igreja não controlada pela autoridade episcopal nacional, as ordens e congregações eram encaradas como formando um Estado dentro do próprio Estado nacional.(…)” in Liberalismo, Dicionário de História Religiosa de Portugal, dir. AZEVEDO, Carlos Moreira de, Rio de Mouro, Círculo de Leitores, 2001, vol. p.429

227

História Religiosa de Portugal, dir. AZEVEDO, Carlos de, Lisboa, Círculo de Leitores, 2000, vol.3, p.67

228

NETO, Maria João Quintas Lopes Baptista, A Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais e a Intervenção no Património Arquitectónico em Portugal (1929-1960), Tese Doutoramento, Hist. Arte, Univ. Lisboa, 1995, p.102

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realizar dinheiro por parte do Estado português. A extinção é independente da incorporação dos bens. As ordens religiosas podiam continuar subsistindo mesmo depois de expropriadas. No entanto, a crescente onda anti-clerical que considerava as antigas casas conventuais como estruturas obsoletas do antigo regime e as opunham à nova ordem, não podia permitir a continuação da sua existência, devido a uma perfeita incompatibilidade entre a consciência revolucionária liberal, o seu sentido de individualismo e liberdade e a estrutura monástica.”229

Com o decreto de 1834 todas as casas de ordens regulares masculinas foram extintas

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, vendo os seus bens nacionalizados e, os religiosos pagos desde que não fossem colaboradores do deposto governo; por razões de índole moral, política e humanitária as disposições deste decreto não se aplicaram, contudo, aos conventos de ordens regulares femininas – as religiosas podiam continuar, embora de uma forma algo precária, a habitar os seus conventos e a usufruir dos respectivos bens231

No caso das religiosas, uma disposição de 9 de Agosto de 1833 proibiu as admissões à profissão de freira e previu a supressão das casas com menos de 12 religiosas; passados vinte e quatro anos, em 1857, decidiram realizar a inventariação dos conventos femininos que, na altura, totalizaram 112, encontrando-se a maioria (80) em situação de

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De facto, teoricamente, o Estado deveria encontrar uma solução que assegurasse uma dignidade mínima dos religiosos e a preservação dos bens que acabando por ter diferentes destinos, consoante a categoria, acabavam dispersos e acabaram, como já referimos anteriormente, por não amortizarem a dívida pública nem reduzirem os défices orçamentais ou produzirem transformações profundas na estrutura de produção, servindo sim, essencialmente, para a ascensão de uma elite constituída pela nobreza (pró-liberal), pela média burguesia de negócios e pelos quadros superiores da administração militar e civil. Alguns religiosos conseguiam subsídios do Estado, que atribuídos consoante as simpatias políticas, acabavam por ser reduzidos ou mesmo não serem pagos. As freiras, por exemplo, apesar de poderem continuar a habitar os seus conventos acabavam, na maioria dos casos, esquecidas e votadas ao abandono.

229

Idem, p.103

230

A transferência de propriedade, fruto da extinção das ordens, reduziu em grande parte o suporte económico do poder eclesiástico o que se traduziu na vitória de uma ideia secular do funcionamento da Igreja e inevitável funcionarização do clero; incorporando a riqueza das ordens na restauração liberal acabou-se também por suprimir a presença da Igreja em diversos domínios socioculturais, tentando-se com isso igualmente reduzir o apoio ao absolutismo e ao partido miguelista.

231

Consequência imediata da extinção das ordens foi a supressão de 448 casas religiosas (356 conventos de frades e apenas 12 de freiras); em 1834 estas casas possuíam um rendimento anual de cerca de 500 contos de réis (para um capital de aproximadamente 15000 contos de réis). Muito desigual de casa para casa este rendimento servia para alimentar um número elevado de população conventual, que no caso dos conventos masculinos se cifrava em cerca de 6289 pessoas. Cfr. Dicionário História Religiosa de Portugal, op. cit., vol.II, p.233

99 irregularidade face ao último diploma.232 Em finais de 1858 foi apresentada uma proposta233 na Câmara dos Deputados com vista a proceder-se «à suspensão e união de todos os conventos de religiosas que não estivessem em condições de continuar a subsistir» e de possibilitar a admissão ao noviciado e profissão religiosa nos conventos de freiras que se dedicassem à educação de meninas, proposta esta que acabou por não ter desfecho legislativo; contudo, em 30 de Maio de 1860 o debate foi retomado com a apresentação de novo documento governamental, no qual os bens imóveis dos conventos femininos eram avaliados em mais de 5348 contos de réis, e se propunha a desamortização deste e de outros bens com idêntico estatuto jurídico.234

• desamortização dos bens prediais das corporações religiosas e das igrejas, com excepção das casas e cercas destinadas a habitação e recreio;

A lei de 4 de Abril de 1861 que veio a resultar da discussão parlamentar implementou novas regras:

• o preço das arrematações destes bens remidos ou vendidos em praça seria pago em títulos da dívida pública fundada, averbados a favor dos estabelecimentos a que pertencessem;

• as ordens não eram extintas e os conventos eram conservados, apesar de reformados e reduzidos, podendo as religiosas continuar a habitar neles até à morte da última freira.235

Todo o património espelhava a “revolução” operada (não só no Estado mas também, inevitavelmente, na sociedade) que acabava por ter influência directa na ordem estabelecida e consequentemente nos bens das ordens e, enfim, no património nacional. Em termos culturais a perda foi grande ou mesmo enorme.

Como refere o Monsenhor Elviro dos Santos, “o germe de uma decadência pasmosa não só nas artes mas em… tudo” residia, essencialmente, no amortecimento da fé na medida em que o culto tinha sido desprezado e reconhece a extinção das ordens religiosas, com o roubo, a delapidação, destruição e profanação, como um dos mais rudes golpes para as artes e cultura do seu tempo.236

232

Cfr. Dicionário História Religiosa de Portugal, op. cit., vol.II, pp.232-235

233 Mencionada no Relatório do Ministro e Secretario d’Estado dos Negocios Ecclesiasticos e de Justiça […], de

1858, vide bibliografia

234

Dicionário História Religiosa de Potugal, op. cit., vol.II p.235

235

Ibidem

236

SANTOS, Alfredo Elviro dos, As Artes Portuguesas no século XIX ou breves considerações sobre o seu estado causas e remédio do mesmo, Braga, Typografia Lusitana, 1882, pp.12-20.

De facto, a onda de destruição foi uma constante o que veio resultar na degradação progressiva dos imóveis religiosos,

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alvo de uma lenta implementação de protecção por parte do Estado, o qual, muitas vezes, acabaria por atribuir aos próprios religiosos, acusados de ignorância e negligência, essa mesma degradação.

Então, o Estado, com uma actividade construtiva praticamente inexistente, readaptava os antigos conventos para a instalação dos serviços públicos decorrentes do novo sistema liberal, satisfazendo desta forma a sua necessidade de “novos” imóveis, futuro mesmo assim mais risonho do que para aqueles, que mesmo considerados monumentos, quer pelo seu valor histórico como artístico se viam, por falta de um plano de salvaguarda e por falta de verbas, remetidos ao abandono e destruição. Como refere, Simões Rodrigues “não foram raras as vezes em que a reutilização dos conventos e dos mosteiros veio salvá-los da ruína. A maior parte das ordens religiosas não recebia, desde o século XVIII, rendimentos suficientes para proceder à reparação dos seus edifícios, cuja deterioração material se foi agravando com o Terramoto e as invasões francesas. Todavia, este processo de adaptação das construções religiosas a serviços da população foi totalmente aleatório e empírico, resultando, quase sempre, na mutilação da traça original, ou reconstruída, de igrejas, claustros e mais dependências conventuais. Para além disso, desapareceram sepulturas, altares e outras peças votivas.”237

A necessária rentabilização e a preservação possível serviam de justificação à reutilização dos monumentos; no caso de um convento, a sua transformação em instituição pública, apesar de implicar alterações mantinha o essencial da sua estrutura arquitectónica, tinha a vantagem de o continuar a deixar integrado e implicado na vivência urbana.

O convento de Sacavém e a sua ocupação pelo Ministério da Guerra em 1877 é um exemplo perfeito, do tipo de repercussões que as “novas utilizações” tiveram neste tipo de antigos edifícios religiosos. De facto, desde a década de trinta até aos últimos anos da monarquia constitucional, a instituição militar foi aquela que acabou por mais beneficiar com a desamortização dos bens prediais das ordens religiosas; isto pode dever-se, nomeadamente, ao facto de os conventos e mosteiros, pela sua arquitectura (preparados para acolher grupos) poderem ser facilmente adaptados à nova função militar.

238

Na altura, as iniciativas de preservação do património mostravam-se escassas, muitas vezes bem-intencionadas mas, na prática pouco efectivas. O mundo intelectual e

237

RODRIGUES, Paulo Simões, Património, Identidade e História. O valor e o significado dos monumentos nacionais no Portugal de Oitocentos, UNL, FCSH, 1998, pp.29-30

238

101 eclesiástico tentava reflectir acerca do assunto, a discussão das definições de monumento e de património começavam a surgir cada vez mais nesses círculos, muitas vezes com pouca ou nenhuma tradução efectiva na realidade, revelando, no entanto, uma crescente sensibilidade para com estes temas. Herculano, Ortigão, entre muitos outros traduzem esse novo sentimento239

De um modo geral constata-se que, como refere Maria João Neto, “o abandono, a pilhagem, a venda abusiva, tanto dos edifícios, como de peças dos seus recheios, que foram ingressar colecções de particulares nacionais e estrangeiros, a mudança de função ou a simples demolição foram uma constante nos anos que se seguiram à extinção dos conventos, cujo cenário se repete, em alguns aspectos, depois de 1911. Por parte das entidades governativas faltou, de imediato, a organização de um serviço, dotado de verbas suficientes, capaz de por cobro à delapidação do nosso património, acumulado durante séculos à sombra das casas conventuais.”

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240

A nível legislativo depressa se constatou que a legislação existente241 era ineficaz para fazer face à nova situação com que o património nacional se deparava; Mousinho de Albuquerque, Ministro do Reino, começa por em 1836 convidar a Academia Real das Ciências de Lisboa para formar uma relação de todos os edifícios pertencentes às extintas Ordens Religiosas, a que se seguiu quatro anos depois o envio da sua parte (então enquanto Inspector Geral das Obras Públicas do Reino) ao Secretário de Estado dos Negócios do Reino um relatório, onde procurou estabelecer as bases para um projecto de restauro e conservação dos edifícios públicos a realizar pelo governo.242

239

Vide as referências a este tema nas obras de NETO, Maria João Neto e RODRIGUES, Paulo Simões

240

NETO, op. cit, pp.138-139

241

Remontava a D. João V (Alvará Régio de 20 Agosto de 1721) ; renovado em 1802

242

NETO, op. cit . p.168

Neste relatório, Mouzinho classificava os imóveis em três classes distintas, sendo que na 2ª estariam englobados aqueles que podiam ser destinados a fins militares, administrativos ou judiciários e na 3ª os designados monumentos; a classificação estava na competência da Academia Real das Ciências de Lisboa. Sem grande efectivação prática, em 1880 seria elaborado um relatório onde, entre outras coisas, se tentou classificar os imóveis em seis classes distintas, forma de classificação que se manteria ainda por bastante tempo, e que em parte, acabaria posteriormente por servir, igualmente, à Comissão dos Monumentos Nacionais, que com a ajuda dos Conselhos de Arte e Arqueologia estava incumbida do estudo, classificação e inventário dos monumentos nacionais, assim, como pelas propostas de conservação, defesa e

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dinamização desses monumentos.243

Encontramos, no entanto, uma fonte que nos permite conhecer números referentes quer à ocupação (nº de freiras) quer à parte financeira (rendimentos) – o “Relatório do

Ministro e Secretario d’Estado dos Negocios Ecclesiasticos e de Justiça, apresentado ás Cortes em Dezembro de 1858 sobre a execução dada á carta de Lei de 20 de Junho de 1857 para a Organisação dos Inventarios dos bens dos Conventos de freiras, Cabidos e Mitras”.

Apesar de bem-intencionados, e com um trabalho que não deixa de ser louvável, constata-se que muito ficou por fazer, muito do que foi feito é questionável, e que, se muitos monumentos foram salvos pela sua acção, muito património se perdeu, por uma acção tardia ou até contrária aos interesses nacionais. A igreja do convento de Sacavém é o exemplo de toda esta problemática que, mais à frente, abordaremos.

No Convento de Sacavém encontramos, pois, reflectidas, todas as consequências do regime liberal e da lei de 1834.

Infelizmente não encontrámos nenhum inventário anterior a 1834; tal seria útil para avaliar / comparar o património existente. Os inventários que fazem parte do processo de extinção deste convento, de 1860 e por último o de 1877, a que aludiremos mais pormenorizadamente, não nos dão uma perspectiva temporal que permita, por exemplo, conhecer o património móvel da instituição, senão antes da extinção das ordens (e consequentes medidas que depauperam os conventos e as freiras, como pudemos constatar anteriormente), na altura imediatamente a seguir. Existe, portanto, um hiato de quase trinta anos em que, certamente, muito património se perdeu, fruto, nomeadamente, da satisfação das necessidades básicas de manutenção do convento.

244

243

Quanto a este assunto vide NETO, op.cit., pp.166-209

Os documentos ali apresentados, nomeadamente os Mapas,

244

Vide bibliografia. Este Relatório, como refere o seu título, contém a mencionada proposta de Lei de 20 de Junho de 1857, acompanhada dos respectivos Resumos e Mapas, organizados segundo uma forma previamente mencionada, com vista a uma uniformização. São mencionados o nº de conventos inventariados e por inventariar em cada distrito. No que se refere especificamente aos conventos apresenta igualmente a Circular de 10 de Junho de 1858 a qual proibia a celebração de contratos pelos conventos de religiosas sem permissão régia. Existiam então, 60 conventos no “continente do Reino”, onde se encontravam 527 religiosas professas, 306 recolhidas, 336 pupilas e educandas e 1142 pessoas empregadas nos conventos (interessante pensar neste nº de pessoas dependentes dos conventos, que seriam mais em 1834, e que, inevitavelmente, sentiram as repercussões da Lei). Destes 60 conventos apenas 1 tinha 26 religiosas (nº máximo apresentado), sendo que mais de metade não tinham mais de 10, aliás referem que “ há pois nos 60 conventos só 16 que tenham 12 ou mais religiosas professas, isto é, o numero sufficiente para constituir communidade”(p.VII). O rendimento dos conventos de religiosas totalizava os 249:066$064 réis, sendo o distrito de Lisboa o mais “rico” recebendo uma soma de 70:181$922 seguido do de Évora (39:545$791). São feitas contas e reflexões e são lembradas as Propostas de Lei de 23 de Maio de 1848, de 27 de Maio de 1852 e de 31 de Março de 1854 – “O rendimento de 249:066$064 réis repartido pelas 1:090 religiosas hoje existentes, daria a cada uma uma dotação annual de 228$500 réis. E apesar d’isto o Thesouro concorre para a sustentação de alguns conventos de religiosas coma soma de 12:777$100 réis, termo médio, e todos os dias se recebem requerimentos

103 fornecem dados importantes até porque permitem uma visão comparada com os restantes conventos.

Começamos por analisar os documentos nºs 54 e 55, aqueles que nos fornecem os dados mais antigos, referentes a 1821, interessantemente em data anterior a 1834.

Na “Relação dos conventos de Religiosas existentes em todos os disctrictos do Reino,

com o número das mesmas religiosas em 1821”, documento nº54, constatamos que Nossa Senhora da Conceição dos Martyres, em Sacavém, albergava então 17 religiosas,

número não muito distante de alguns dos conventos da Diocese de Lisboa245

Em 1823 o número de religiosas mantinha-se em 17, número então revelado pelos trabalhos da Comissão Eclesiástica – “O Convento de Sacavém tem actualmente 17

Religiozas e cellas 22, podendo acomodar mais cinco religiosas, por isso o seu numero não pode exceder ao de vinte e duas;”

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Igualmente correspondente ao ano de 1821 é o documento nº 55 – “ Mappa do

Rendimento dos conventos de religiosas existentes no continente do reino em 1821”;

este documento, é muito completo e detalhado. Neste ano existiam em Sacavém, 17 religiosas, 2 noviças e 8 “creados e creadas”, num convento que recebia de “rendas, foros e censos” 257$700 e de “esmolas e tenças” 586$000, num total de rendimento de 843$700, um valor baixo quando comparado com outros conventos. Nele não se incluem, ao contrário de muitos outros, verbas relativas a “tenças vitalícias”, “dizimarias”, “direitos de pescado”, “padroes”, “inscripções”, “capitaes” ou “acções de companhias”.

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Deduzimos que em 1830, o número rondaria as 16; tal facto prende-se com o requerimento apresentado a “Vossa Magestade” pela “Abbadessa do Real Convento de

Nossa Senhª dos Martyres”: “(…) que fazendo a mais nobre porção (?) do seu Sagrado pedindo subsídios, e se ouvem queixas de que as religiosas estão na maior penuria; o que infelizmente é exacto a respeito de muitas.

Ninguem dirá, que em taes circumstancias não é imperioso dever do Governo prover de prompto remedio para que cesse uma tal situação (…), as tendências que há n’estas casas, com honrosas excepções, para alienar seus bens, distratando e consumindo capitaes, aforando propriedades, reduzindo foros, e praticando actos de que há de resultar infalliyelmente em pouco tempo a perda de grande parte do rico patrimonio que administram, em grave prejuizo das mesmas religiosas e do Estado.

A má administração d’estas casas vem de longe, e já em diversas epochas provocou providencias enérgicas da parte do Poder temporal, sendo a mais notável a de 8 de Junho de 1824 (…)”; quanto às Propostas mencionadas anteriormente (de 48, 52 e 54) “que tinham por fim auctorisar o Governo, pelos meios competentes” destacamos as seguintes: 1º Á supressão e união de todas as casas religiosas do sexo feminino, que não poderém, nem deverem nem deverem continuar a subsistir; 2º A applicar em favor em favor das casas religiosas, que ficarem subsistindo, quando seja necessario, ou não o sendo em beneficio de outros estabelecimentos de religião e de piedade, ou bens dos conventos que deixarem de existir (…)”pp.IX-X (sublinhado nosso)

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Por exemplo, os conventos de Sant’Anna, Santa Mónica contavam então com 15 religiosas, a Madre Deus com 21; na Diocese de Lisboa o convento então com maior número de religiosas era o do Santo Cruxifixo, que albergava 40. Em Portugal Continental existiam, em 1821, 140 conventos femininos, que albergavam 2839 religiosas; o distrito de Lisboa, o mais preenchido, contava então com 36 conventos e 681 religiosas.

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Instituto, a celebração dos officios Devinos, com a decencia que prescrevem os Sagrados Ritos: o mesmo Convento se acha com deminuição de Religosas, originada em consequência de se acharem vagos, seis lugares do seu Numero com a qual falta, lhes he impossível, o poder preencher as obrigaçoens do convento, a beneficio da