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Secularização: causas e consequências

11. O “convento” e a igreja hoje

Depois de longos processos burocráticos, relacionados com a propriedade, iniciados a partir 1877 e que se mantiveram quase até aos anos 70 do século XX, o espaço do quartel e da igreja ganhariam, finalmente, definição. Muito perto, mas separados pelo tipo de ocupação, conseguiram ganhar utilização e visibilidade independente.

A construção de muros de separação e acessos independentes para a igreja (por conta desta) nos anos 60 conseguiu, sem dúvida, criar um espaço próprio apesar de conviver paredes meias com uma realidade bem diferente – a de um quartel. O quartel, por outro lado, com todas as valências entretanto construídas e que ocuparam a totalidade dos terrenos disponíveis, tornou-se cada vez “mais quartel”. Apesar de estar junto à igreja esta não colidiu com os objectivos “militares” e, em conjunto com o edifício do quartel, pelo seu tipo de arquitectura, acabou por dignificar e não retirar a “austeridade” necessária às funções que lhe eram solicitadas. Apesar de independentes, sobretudo quando observados de longe, continuam um todo.

Actualmente a igreja, continua interna e externamente similar à que resultou da recuperação efectuada pelo Padre Filinto Ramalho, em meados do século XX. Alguns “acrescentos” foram, entretanto, feitos exteriormente.427

A nova política de defesa e a política de venda de património do Estado, vieram ao encontro da necessidade/ interesse de venda; os 105.469.40m2 de área total do quartel constituem um objecto apetecível de venda e de compra. Deste modo, em 27 de Novembro de 2006 um despacho

O quartel, por outro lado, enquanto espera o seu novo destino, atravessa a pior fase da sua existência. De facto, e mais particularmente, o espaço ocupado pelo convento, desde meados de 2007 que se encontra ao “abandono”. A sua transformação de Escola Prática do Serviço de Material (anos 60) em Batalhão de Adidos, já nos anos 90, veio desde logo, indiciar um fim próximo, se não a curto, pelo menos a médio prazo, expectativa que se veio a concretizar; com uma significativa redução de efectivos militares, bastante aquém dos que anteriormente o ocupavam, começou a ser um espaço subaproveitado.

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conjunto dos Ministérios das Finanças e da Administração Pública e da Defesa Nacional estabelecia a venda do quartel de Sacavém. Em 21 de Dezembro do mesmo ano429

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Há cerca de um ano na zona que acolhe o cartório, construído pelo Padre Filinto aquando das obras de recuperação; mais algumas salas nasceram para dar apoio à igreja.

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SPatr/DIE, Cx.nº1, 3ºvol.

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SPatr/DIE, Cx.nº1, 3ºvol.

169 em Diário da República, 1ª série, nº31, de 13 de Fevereiro de 2007. Entretanto o quartel foi sendo desactivado…

No processo do imóvel (neste caso o respeitante ao edifício do antigo convento) são descritos sumariamente, os diversos pisos que o compõem430; tal como anteriormente, embora reformulado ao sabor dos tempos e das necessidades, trata-se de um edifício misto, reservado a habitação, alojamento e serviços. No total tem uma área coberta de 2.086.00m2, sendo a área do claustro considerada na área descoberta do prédio. A empresa pública ESTAMO, Participações Imobiliárias, que é responsável pelas vendas do património do Estado, fica encarregue da venda431

Durante os meses que se seguiram, o complexo do antigo quartel esteve ao abandono. Sucessivos alertas junto das entidades competentes, nomeadamente Junta de Freguesia e Câmara Municipal, que apesar de não serem proprietárias eram partes interessadas, revelaram-se infrutíferos.

e durante o mês de Novembro de 2007 foram publicados anúncios nos principais jornais nacionais (Doc.2); as respostas dariam entrada até ao dia 4 de Dezembro. Durante longos meses manteve-se o mistério sobre quem teria sido o comprador, num processo que, inclusive, implicou a Câmara e possíveis direitos de preferência… O convento não estava classificado assim como a igreja, razões essas que, teoricamente, terão levado a Câmara de Loures a não poder (ou não querer…) exercer esse direito.

No início de 2007, um número mínimo de militares manteve-se no espaço, mas acabaram também eles, inevitavelmente, por ir embora. Foram alguns os meses em que o quartel esteve na “posse” do Ministério da Defesa mas sem qualquer tipo de utilização. Basicamente as instalações estavam encerradas, ao abandono, acessíveis a qualquer tipo de intrusão. Quando o visitámos, no último dia em que esteve na posse dos militares, a degradação fazia-se já sentir a diversos níveis. Era um espaço ao abandono. Portas e janelas abertas, sujidade, mato, animais mortos e os primeiros sinais de degradação do património azulejar, com azulejos a cair /tentativas de roubo.

Em 28 de Dezembro de 2007, dia em que o visitámos, dá-se a entrega das chaves. No respectivo auto, o convento corresponde ao “Edifício 7 – Edifício Misto – (administrativo/alojamento/habitação)”.

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SPatr/DIE, cx.nº1, 3ºvol. vide apêndice 21/12/2006. No processo é referido que “A construção do convento situa- se entre o séc. XVII e o séc.XIX. No que resta do antigo convento ainda é visível o claustro com 2 pisos – o térreo com arcaria e volta perfeita assente em colunas e o superior em vãos de verga larga. As paredes encontram-se revestidas a azulejos da segunda metade do séc. XVII.”

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No processo que a Estamo preparou sobre o imóvel na “Descrição do imóvel” pode ler-se: “(…) Imóvel composto por 25 construções sendo a principal a de um convento cuja arquitectura remonta ao século XVIII, composto por 4 pisos e que se encontra em razoável estado de conservação.”

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Em determinada altura foram colocados, simbólicamente, seguranças junto à entrada, que só ali estavam durante o dia, e completamente insuficientes para garantir a segurança de um local com aquela dimensão e com o número de edifícios que comporta; as portas continuavam abertas e o acesso facilitado a qualquer pessoa menos honesta… Simultaneamente, a realização de obras na igreja, acabaram por fazer do terreno circundante um estaleiro, o que certamente acabou por fragilizar o espaço; se o movimento estabelecido indicava a presença humana e podia trazer uma “teórica” segurança acrescida, poderá ter dado a conhecer um património e facilitado a retirada de materiais.

No final de 2008, os seguranças acabariam por sair do local e em Janeiro de 2009, segundo dados da empresa, a Obriverca, finalmente recebe as chaves e toma posse da propriedade. Na altura, terão dado pela falta de inúmeros azulejos, entre outros materiais, o que terá levado a empresa a decidir-se pelo imediato emparedamento dos acessos. Na Junta de Freguesia, fontes oficiais com contactos na Obriverca, davam conta do desaparecimento de azulejos.

Depois de diversas tentativas infrutíferas para um grupo de pessoas (“Amigos do Convento”) visitar o local, finalmente, em 23 de Setembro de 2009 (Fig.142) é realizada a desejada visita, juntamente com elementos da Câmara Municipal de Loures. A Obriverca, logo à partida, refere a data em que assumiu a posse do imóvel e o estado em que o recebeu, justificando que nada tinha a ver com a delapidação ali praticada. O contraste com a última visita realizada no final de 2007, quase dois anos antes, foi chocante. De facto, foram milhares os azulejos roubados (Figs.143-150), sendo os de figura avulsa que forravam as escadarias principais, o alvo preferencial. As escadarias foram despidas de azulejos, num trabalho de escolha apurada que permitia deixar para trás os partidos ou por outro motivo, menos interessantes… Nos corredores, o cenário era semelhante, com diversos tipos de azulejos (albarradas e outros motivos, como a Cruz de Malta) a conhecerem igual destino. O claustro, a zona principal, onde a concentração de azulejos é maior também conheceu significativas perdas, apesar de uma reposição dos deixados para trás, permitir imaginar que o prejuízo não seja tão elevado. Apenas a zona da entrada principal e a sala do capítulo foram poupadas, certamente, fruto da quantidade de azulejos encontrados nas outras áreas do imóvel e do emparedamento, que terá colocado um fim inesperado ao furto.

Como abordaremos mais adiante, acordos entre a Obriverca e a Câmara Municipal de Loures terão colocado um centro cívico, como o próximo “ocupante” da antiga zona

171 conventual; com o edifício no estado em que actualmente se encontra e sem o conceito de centro cívico definido (cultura, serviços), aguarda-se o futuro.

No que se refere à igreja, a requalificação da Praça da República e o encerramento do quartel, com o nascimento de uma nova espacialidade, promete abri-la à comunidade. Teoricamente, ao contrário do que acontece hoje, a igreja terá livre acesso ao seu adro, e estará mais próxima da população; os arranjos exteriores (escadarias, muros, etc.) mandados realizar pelo Padre Filinto, darão lugar a novos acessos, integrados na requalificação / arranjos exteriores.

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