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A feminização da Velhice: a população idosa por sexo no País

3 – A vivência feminina da Velhice

3.2. A feminização da Velhice: a população idosa por sexo no País

As estatísticas no Brasil e no mundo exibem uma predominância da população feminina entre os idosos – e este fenômeno é uma realidade numérica constatada internacionalmente na literatura, pelos estudos sociodemográficos. Existem no mundo cerca de 302 milhões de mulheres e 247 milhões de homens com 60 anos de idade ou mais. Nos países desenvolvidos, as mulheres acima de 60 anos representam mais de 20% do total da população feminina (ONU, 1995, apud Veras, 1999). Essa maior proporção de mulheres no total da população idosa – superioridade que aumenta com a idade - é denominada de “feminização da

velhice” (Arber & Ginn, 1991; Britto da Motta, 1998; Berquó, 1999; Veras, 1999; Camarano et al, 1999; Neri, 2001a; Ratcliff, 2002; Bassit, 2004).

Arber & Ginn (1991) comentam que o diferencial por gênero na expectativa de vida se ampliou neste século. Comparando-se idosos de 65 anos de idade em 1906 e em 1985, um homem nesse ano podia esperar viver por mais 13 anos, ao invés de 11, mas uma mulher podia esperar viver mais 17 anos em vez de 12. O mesmo acontece com pessoas na faixa etária dos 80 anos, quando a diferença em expectativa de vida favorece as mulheres em 13 anos em relação aos homens. No Brasil, em 1997, dentre o grupo etário formado pela população de mais de 80 anos, existia 1,5 mulher para cada homem (Camarano et al, 1999).

A feminização da velhice está intimamente relacionada com a maior redução da mortalidade feminina em todo o mundo. Na Grã-Bretanha, a razão por sexo aumentou de 22 por cento a mais de mulheres idosas do que de homens em 1871 para 60 por cento um século depois, percentual que tem se mantido em torno de 50% desde então. Para Arber & Ginn (1991), já no caso dos Estados Unidos existe um perfil histórico completamente diferente, com mais homens idosos do que mulheres na população até 1930. A partir de então, tem havido um expressivo aumento na razão por sexo nesse país, atingindo, no final dos anos 1980, um percentual de 46 por cento de mulheres em relação aos homens idosos. Para os autores citados, a predominância de mulheres na velhice é encontrada em todos os países europeus, variando de proporção de um lugar para outro.

O Brasil não foge a essa regra: tanto no quesito superioridade numérica quanto em relação à diferença na expectativa de vida, os números são mais favoráveis às mulheres. Segundo dados do Censo 2000 e da PNAD/2001 do IBGE, dos 14 milhões de idosos existentes no país (o que corresponde a 8,6% da população) a parcela feminina representa 55,8% do contingente de pessoas de 60 anos ou mais de idade.

Analisando-se as tabelas do Censo 2000/IBGE para a população residente total e de 60 anos ou mais de idade, por sexo e grupo segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação (1991-2000), encontra-se uma equivalência, em 1991, de 5.791,280 mulheres para 4.931,425 homens. Em 2000, a disparidade entre os números aumentou: 8.002,245 mulheres para 6.533,784 homens. A região brasileira que reúne o maior contingente relativo de idosos (46%) é a Sudeste e, em nível de unidades federativas, o Rio de Janeiro é o Estado onde progressivamente se encontram mais idosos (10,7%) – destes, a maioria, principalmente no caso das mulheres – se concentra nas áreas urbanas, exibindo o bairro de Copacabana impressionantes 28% (Camarano

et al, 1999; Freitas, 2004).

Na região Nordeste esta tendência se confirma: em 1991 havia 1.639,104 mulheres para 1.448,482 homens. Em 2000, a superioridade feminina se mantém: 2.193,647 mulheres para 1.827,210 homens. No estado do Rio Grande do Norte, as estatísticas não são diferentes: em 1991 havia 104.223 mulheres para 94.899 homens. Em 2000, os números continuam apontando para a superioridade feminina: são 136.475 mulheres para 114.119 homens (Censo 2000/IBGE).

Para Berquó (1999), esse diferencial por sexo entre os idosos – favorável às mulheres tanto na população total quanto na população de idosos – é explicado pela diferença nos ritmos de crescimento das populações idosas feminina e masculina, cabendo às mulheres, desde a década de 50, uma maior expectativa de vida. Em 1980, enquanto a expectativa de vida para os homens era de 59 anos, às mulheres correspondia 65 anos, ou seja, chance de viver seis anos a mais do que os homens. Em 1991 essa diferença aumentou para sete anos e, em 1996, alcançou nove anos (Camarano et al, 1999). Por volta de 2020, dois terços dos idosos com mais de 80 anos serão mulheres (Goldani, 1999). Observando-se os ganhos na longevidade da população brasileira no período de 1980 a 1996, observa-se que os homens passaram a viver 4,8 anos a mais e as mulheres, 6,7 anos. Mas entre a população idosa, os ganhos foram um pouco maiores para as

mulheres (2,8 anos) em relação aos homens (2,1 anos). Estes dados, trazidos por Camarano et al (1999), apontam que os ganhos na expectativa de vida da população idosa foram maiores do que os obtidos pela população total: em 1996, um homem que chegasse aos 60 anos poderia esperar viver mais 18,4 anos, e uma mulher, mais 21,5 anos. É importante destacar que esse diferencial na expectativa de vida mais favorável às mulheres acontece tanto na população total quanto na população de idosos, tanto no Brasil como nos países desenvolvidos.

Segundo verifica Camarano et al (1999), dentre as principais causas de morte de mulheres e homens de 60 anos e mais no Brasil, encontram-se as doenças do aparelho circulatório, seguida dos neoplasmas e das doenças do aparelho respiratório. No Brasil, ainda merecem destaque as estatísticas elevadas para os óbitos de idosos de causas mal definidas (19,3% para os homens e 19,8% para as mulheres) embora esses percentuais venham diminuindo ao longo do tempo, o que reflete, para os autores, uma baixa assistência médica a esse segmento populacional. Entretanto, o Ministério da Saúde calcula que uma das maiores causas externas de mortalidade entre os idosos decorre das quedas, que acontecem com elevada freqüência entre essa população: 14,24% para idosos em idade mais avançada, com 80 anos ou mais (Ishizuka & Jacob Filho, 2004).

No contexto mundial, as principais causas de morte entre pessoas de 65 anos e mais são, pela ordem, as doenças cardíacas, o câncer e as doenças cerebrovasculares. No entanto, com a idade ocorre uma inversão nessa ordem e as diferenças por gênero na ocorrência de doenças cardíacas desaparece (Baltes, Freund & Horgas, 1999, apud Neri, 2001a).

De acordo com Goldani (1999), “a maior sobrevivência e longevidade femininas está comprovada para todas as sociedades modernas, desenvolvidas ou não.” (p.80). Mas, qual(is) a(s) razão(ões) para as mulheres viverem mais do que os homens? É ainda esta autora quem traz algumas hipóteses explicativas: os homens morrem mais cedo devido a um estilo de vida

associado a fatores de risco (fumo, álcool, maior exposição a acidentes devido a ocupações de risco e a uma maior competitividade entre si, além de uma maior mortalidade associada à participação em guerras); as mulheres ainda se beneficiariam dos efeitos protetores dos hormônios e do ciclo menstrual e das diferenças de metabolismo associadas às lipoproteínas – conjugados aos efeitos da genética.

A estas explicações, Veras (1999) acrescenta outros fatores contribuintes à longevidade feminina: uma menor exposição ao risco de mortes violentas e acidentais, melhorias no atendimento médico obstétrico e a diferença de atitudes em relação às doenças. Segundo este autor, “a mulher cuida mais do seu corpo em relação ao homem, e qualquer alteração do funcionamento de seu organismo a leva a procurar um serviço de saúde” (p.41). Ao contrário dos homens – que não freqüentam os consultórios médicos com regularidade, fazendo isto somente quando a dor ou o desconforto estão insuportáveis ou quando as doenças estão já em estágios avançados -, o fato das mulheres utilizarem mais os serviços de saúde termina colaborando para que o diagnóstico seja feito no estágio mais inicial das doenças. Assim, tendo a doença curada ou mantida sob controle, as mulheres conseguem prolongar seu tempo de vida, afastando doenças que poderiam levá-las precocemente à morte. Segundo Veras (1999), “dados coletados em países emergentes revelam que estes padrões são universais” (p.41), e no Brasil, ainda segundo este autor, um fato corrobora esta informação: nos planos de saúde, observa-se uma cobertura maior entre pessoas com idade superior a quarenta e um anos, encontrando-se um número um pouco superior de associados entre pessoas do sexo feminino.