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Bem-Estar Subjetivo, Envelhecimento e Adaptação

4 – Bem-Estar Subjetivo na Velhice

BEM-ESTAR PSICOLÓGICO

4.3. Bem-Estar Subjetivo, Envelhecimento e Adaptação

Desde os primeiros estudos tem se comprovado que, em geral, o Bem-Estar Subjetivo como medida global parece não experimentar mudanças significativas associadas à idade, nem em estudos do tipo transversal nem em estudos longitudinais – ou seja, “se mantêm em níveis semelhantes aos encontrados em pessoas jovens e de meia idade” (Villar et al, 2003, p.158). “Até

a década de 60, acreditava-se que o grau de satisfação com a vida estava associada à juventude e também a um bom nível de instrução – mas essa idéia foi negada pela experiência”, diz Seligman (2004).

Observa-se assim que o sentimento de Bem-Estar Subjetivo, de uma maneira geral, mantém-se estável com o passar dos anos, tendência que aparece em grupos com status conjugal, situação sócio-econômica e condições objetivas de vida diversas. Ou seja, mesmo em situações que apresentam declive em indicadores significativos, tais como escassez de recursos econômicos e ausência de um companheiro(a) – eventos que se tornam mais comuns à medida que se envelhece, o Bem-Estar Subjetivo permanece estável (Villar et al, 2004).

No entanto, em estudos mais recentes utilizando medidas de Bem-Estar Subjetivo que incluem diferentes componentes, têm sido evidenciadas algumas mudanças associadas à idade em certas dimensões do Bem-Estar Subjetivo. A satisfação com a vida e as emoções negativas não mostram significante relação com a idade – estas, quando mudam, parecem diminuir à medida que as pessoas envelhecem. Assim, mesmo que as emoções negativas e a satisfação com a vida tendam a permanecer estáveis ao longo do ciclo vital, as emoções positivas tendem a declinar ligeiramente com a idade, à medida que se envelhece. Alguns pesquisadores atribuem esses ligeiros declives das emoções positivas ao fato de que, na idade avançada (a partir dos 80 anos), dificuldades e obstáculos em várias áreas da vida prevalecem, o que parece resultar em algum rebaixamento nos índices de bem-estar. Outros pesquisadores acreditam que, na idade avançada, os estados de grande atividade e excitação poderiam ser menos freqüentes ou menos intensos à medida que os anos passam (Villar et al, 2003; Staudinger, Baltes & Fleeson, 1999).

Os estudos de Carstensen (1995) também confirmaram que, em comparação com pessoas mais jovens, a magnitude da excitação é reduzida em pessoas mais velhas. No entanto, para esta autora seria um engano afirmar que os níveis mais baixos de excitação refletem uma

diminuição da importância da emoção na vida de adultos mais velhos: “as pessoas idosas relatam mais ou menos as mesmas experiências subjetivas das mais jovens e dizem que a emoção ocupa um lugar central em suas vidas” (p. 138).

Carstensen (1995) constatou, em dois estudos que conduziu, que a emoção tem mais importância para os mais velhos do que para os mais jovens, e que as pessoas mais idosas parecem controlar melhor suas emoções e investir mais energia em busca de uma “moderação da experiência emocional” (p.137). Essa regulação emocional assume uma posição central na velhice, o quê, para Otta & Fiquer (2004), tem valor adaptativo: “as pessoas mais velhas tenderiam a maximizar os afetos positivos e a minimizar os negativos, o que se daria mediante a adaptação aos eventos da vida e as alterações vivenciadas em contextos sociais” (p.145).

A regulação emocional dos contatos sociais como valor adaptativo é a premissa central da Teoria da Seletividade Socioemocional (Carstensen, 1995), que propõe que “(...) na velhice avançada, os contatos sociais são avaliados e, conseqüentemente, procurados ou evitados, quase que inteiramente com base em sua qualidade afetiva” (p.130). Ou seja, com o avançar da idade, a interação é cada vez menos motivada pela busca de informações ou pelo atendimento de necessidades de afiliação com pessoas pouco conhecidas – o que vai importar é a qualidade, o conteúdo emocional das relações. Isto leva a uma maior seletividade de parcerias sociais e explicaria o “encolhimento da vida social dos idosos” – na velhice as pessoas interagem bem menos com os outros do que na juventude, fato que é confirmado por uma grande quantidade de estudos transversais e longitudinais (Carstensen, 1995).

Esse decréscimo no contato social não é imposto aos idosos e nem reflete um desengajamento emocional da vida, “típico da velhice” – como postula a Teoria do Afastamento (1961) – ao contrário, os idosos desempenham um papel voluntário nessa relação e isso, em parte, refletiria a diminuição da importância de outras metas sociais em função, entre outros

aspectos, da limitação temporal imposta implicitamente pela idade. “A velhice impõe um limite à realização de metas a longo prazo. Uma mulher de 90 anos não fará velhos amigos. Não se justifica uma interação aversiva por seus eventuais benefícios a longo prazo” (Carstensen, 1995, pp.139-140). Segundo esta autora, nesse estágio da vida faz mais sentido mudar o foco das metas de longo prazo por outras mais próximas, quando as oportunidades sociais futuras são vistas como limitadas. E explica que “a diminuição das taxas de contato reflete a reorganização da hierarquia de metas que embasam a motivação para o contato social e levam a uma maior seletividade de parcerias sociais” (p.143).

Na avaliação de Villar et al (2003), os esforços adaptativos que as pessoas idosas empreendem diante de certas mudanças ligadas ao envelhecimento podem ter um papel central na explicação das tendências de mudança ou de estabilidade que acompanham as dimensões do bem-estar geral, já comentadas neste trabalho. Para estes autores, “existe um esforço automático ou conscientemente dirigido, para as pessoas ajustarem-se às novas realidades que implicam no fato de envelhecer, e ante as quais a pessoa não pode permanecer passiva” (p.159). A regulação dos contatos sociais exemplificaria, portanto, uma ação adaptativa por parte das pessoas idosas diante das mudanças que acompanham o processo de envelhecer.

4.4. Os mecanismos adaptativos e o Bem-Estar Subjetivo na Velhice -