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A FORMAÇÃO CONTINUADA, O PAPEL NA INSTITUIÇÃO E A AVALIAÇÃO

5 FAMÍLIA, PROTEÇÃO SOCIAL E AS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO DE

5.9 A FORMAÇÃO CONTINUADA, O PAPEL NA INSTITUIÇÃO E A AVALIAÇÃO

E COMUNITÁRIO

Quando indagados sobre a participação em cursos de formação continuada, a maioria afirmou frequentar cursos, seminários, conferências, encontros sobre diferentes temáticas, principalmente aqueles relacionados à criança e ao adolescente.

Sim, participo de curso sobre ECA; do GT Pró-convivência familiar e comunitária, recentemente, tivemos o encontro norte/nordeste sobre convivência familiar e comunitária, Gt Nacional de Convivência familiar e comunitária e o Encontro Estadual de Alagoas, em Agosto 2010 (entrevista nº 01).

Quando eu chequei aqui, eu já estava fazendo um curso na ESPEP sobre medida socioeducativa (entrevista nº 03).

Eu fiz um curso de medidas socioeducativas de pelo SINASE de cinco meses. E assim, sempre que tenho oportunidade participo (entrevista nº 07). Quando eu entrei na Prefeitura de João Pessoa a gente tinha um programa que mensalmente realizava encontros, com temas bem interessantes pertinentes ao nosso trabalho, mas algum tempo por motivos maiores tivemos que parar, mas sempre temos fóruns, seminários, procuramos sempre participar, estamos sempre em contato com novos benefícios para o nosso trabalho (entrevista nº 09).

Sim, através de seminários, fóruns, capacitações, que a Vara, o GT abrigo oferecem ás vezes e surgem algumas vagas para Alta Complexidade. Ainda não foi feita uma formação direcionada aos gestores das Unidades (entrevista nº11).

A formação profissional continuada está associada à busca de melhores intervenções que defrontem os desafios postos pela prática cotidiana. Ela contribui para elaboração de novas propostas de trabalho que articulem teoria e prática. Esse processo favorece, ainda, a construção de um novo perfil profissional comprometido, efetivo, criativo, crítico, dinâmico, elaborador e executor de respostas qualitativas que atendam às diferentes demandas da realidade em que atua.

Os profissionais foram ainda questionados sobre participação nas reuniões do Grupo de Trabalho Nacional (GT Nacional) Pró-Convivência Familiar e Comunitária62, promovidas pela 1ª Vara da Infância de Juventude, conhecido como GT-Abrigo. Os encontros acontecem uma vez por mês e têm por objetivo discutir ações de promoção e mobilização para implementação do PNCFC. Apenas dois dos entrevistados responderam não participar,

62O Grupo de Trabalho Nacional (GT Nacional) Pró-Convivência Familiar e Comunitária existe desde novembro de 2005, por iniciativa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e da Associação Brasileira Terra dos Homens (ABTH). O Grupo já congregou 26 estados brasileiros, visando prioritariamente: A mobilização para implementação do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária - PNCFC; A difusão nacional de uma cultura de Promoção, Proteção e Defesa do Direito à Convivência Familiar e Comunitária; O alinhamento conceitual das modalidades de atendimento prestado a crianças e adolescentes com seus direitos violados preconizadas no PNCFC.

alegando trabalho no horário do encontro; outros afirmaram participar quando há tempo disponível. Abaixo, as falas correspondentes.

Não, ainda não participei, infelizmente porque no horário do GT estou no outro serviço (entrevista nº 05).

Fui uma reunião, por que não posso no horário da manhã (entrevista nº 08). Participo, vou um mês no outro quem vai a é outra coordenadora e uma técnica, até porque eu fico mais com a parte administrativa (entrevista nº 04). Participo, às vezes (entrevista nº 06).

Sim, quando tenho tempo (entrevista nº 10).

A formação continuada dos profissionais interfere diretamente no desempenho de suas funções e nas ações interventivas na instituição. Essas ações devem ser fundamentadas por objetos de estudos teóricos, metodológicos e práticos que favoreçam a execução das atividades com eficiência.

No tocante ao papel profissional na instituição, os entrevistados falaram sobre a importância do profissional de serviço social, psicologia e pedagogia no trabalho com as crianças, adolescentes e suas famílias; da experiência na área social e de seus desafios cotidiano; do apoio e acompanhamento aos acolhidos na busca pela garantia dos direitos e da convivência; da troca de conhecimentos e experiências de vida.

Acredito que é fundamental o assistente social, quando ao diálogo com os acolhidos, no processo de investigação de ver a questão da família, as visitas, a questão da sensibilidade na investigação sobre a realidade tanto do acolhido como da família. A experiência está sendo válida, como falei não tinha experiência, mas a equipe está me ajudando, então estou achando interessante (entrevista nº 03).

Quando eu vi para o abrigo não tinha muita experiência na área social, apesar de já ter sido professora, diretora de escola, mas me apeguei muito, é uma experiência nova, nosso trabalho aqui vai de repente volta tudo de novo, a gente fica desanimada, mas logo superamos e aprendi muito com as crianças. Eles têm muitas coisas boas, se procuramos interagir com eles, você vai perceber, tenho um relacionamento muito bom com os funcionários e com a equipe técnica. Eu me encontrei, faz o eu queria (entrevista nº 04). Eu coordeno, sou assistente social, insistente, eu brigo pelos direitos dos acolhidos, mesmo que lá na frente puxem minhas orelhas, porque se eu não brigar quem é que vá brigar, é tanta coisa errada no caminho, a gente encontra pessoas que diz não é assim, quer ensinar a você, mas eu digo não é assim, se você for por este caminho vai ter que recuar, a situação do menino não é o que você tá pensando, entendeu (entrevista nº 06).

Eu trabalho diretamente com o juizado, sempre que estou fazendo relatório da situação dos meninos, encaminhamentos, informamos tudo ao juizado, encaminhamentos para cursos profissionalizantes, CAP’s, médico, é isso (entrevista nº 08).

Meu papel é este como já falei antes, é de orientar, avaliar os comportamentos, como posso contribuir com a criança e adolescentes diante da circunstância e do comportamento, acompanhado, participando das atividades, estou sempre me integrado ao grupo deles para conquistar a confiança deles, pois são muitos temerosos, porque já foram muitos enganados, abandonados e, infelizmente, eles perdem a confiança das pessoas, e eles têm medo de se apegarem porque acham que vai abandoná- los. Meu papel é este de passar confiança, está com eles quando eles necessitarem de mim, e até mesmo quando não necessite de mim, momento em que oriento e avalio. O papel do psicólogo é de ajuda, no que é possível, a melhorar a convivência dele aqui, com os outros abrigados e com funcionários. É de melhorar esse período de abrigamento que não seja tão penoso para ele, está longe de sua família, das coisas que ele gostava de fazer antes, e também, amenizar a dor do abandono (entrevista nº 05). Enquanto assistente social, temos muita dificuldade em buscar a rede, muitos entraves. Muitas vezes, o não entendimento e a falta de compreensão da situação dos acolhidos por parte dos atores que fazem parte da rede, o que complica. Enquanto, coordenação tem a dificuldade, a gente sente muito inseguro em relação aos próprios adolescentes diante da situação do risco de morte, das ameaças que tem, do risco que a gente ver no dia-a-dia, quando alguém na rua vem saber se o adolescente está aqui e ameaça de matar o adolescente. Hoje a maior dificuldade é essa, não é só querer a convivência, mas enfrentar as ameaças que vem de fora (entrevista nº 07).

Eu sempre trabalhei em sala de aula com educação infantil, de um ano para cá, vim trabalha na Alta Complexidade foi aprende muito, foi fazer outra faculdade, foi aprender coisa que eu nem imaginava que existia trabalhando dentro da assistência. Brinco sempre com as meninas que estou apreendendo a cada dia, mas estou feliz por tá podendo ajuda o pouco com o que sei fazer, aqui dentro da nossa unidade. Queria mais tempo para poder trazer alguns projetos, coisas mais concretas, mas o tempo é muito pouco, mas estou feliz e realizada. Brinco com os adolescentes de 15, 16 anos dizendo que eles são crianças, chau crianças e eles falam oh! tia a gente não é mais crianças, a gente é adolescente. Estou aprendendo bastante, espero está contribuindo no trabalho com eles. O bom é isso, é está feliz no que sabe fazer e pode contribuir com o futuro nosso (entrevista nº 09).

Colaborar, orientar e apoiar os encaminhamentos das instituições, em todos os aspectos, inclusive, os funcionários (entrevista nº 10).

Eu coordeno as ações de acolhimento dentro da unidade, bem como me articulo com a rede de serviço (entrevistanº12).

Vou falar da minha experiência como gestora de um abrigo, sou assistente social, trabalhei no combate a violência no CEAV, quando eu vi para o Unidade de acolhida foi uma experiência nova que eu não conhecia, tem sido gratificante, tem alto e abaixo, ás vezes a gente se sente muito mãezona terminamos nos envolvendo, a gente sabe que essas crianças às vezes não tiveram a formação dos pais, a atenção, carinho, não sabe o que é um abraço, um beijo. Acho que o meu momento aqui dentro eu conquistei passo a passo, porque num momento em que eu chequei, eu me choquei, até por que a coordenadora que estava aqui era muito querida pelos funcionários e pelos acolhidos, então no início sofri um pouco de rejeição, mas fui conquistando aos poucos, tem momentos em que a gente se desespera se decepciona por que a gente quer ver acontecer e não acontece. Muitas vezes, a gente encaminha um acolhido, traçamos uma meta, encaminhar o adolescente que dê tudo positivo, de repente, o acolhido volta diz que não quer mais, desiste. A gente colocava o adolescente na hora que ele estava bem no curso, de repente, ele dizia não quero mais fazer isso, para gente isto é uma queda, é subi uma escada e descer, mas na Alta Complexidade a gente tem isto, sobe e desce. Eu tiro como positivo, tudo é experiência. Se amanhã, eu estiver aqui ou sair, mas eu estou levando uma experiência de vida, convivei com outras pessoas, com crianças e adolescentes, passei algumas coisas para elas, e elas passaram para mim, tem sofrimento, tem historia de vida, para mim foi uma experiência gratificante (entrevista nº11).

Os profissionais entrevistados mostraram interesse pela área de atuação, principalmente em relação às ações que promovam o bem estar dos acolhidos. Tal experiência proporciona aos profissionais conhecimentos, oportunidades e novas práticas pedagógicas no trabalho desenvolvido junto aos acolhidos, às famílias e aos demais profissionais envolvidos.

O trabalho profissional nas instituições de acolhimento é satisfatório para os entrevistados, embora não tenham o reconhecimento e recursos (financeiros e materiais), necessários para atuarem com mais qualidade. O pouco investimento e o baixo interesse dos gestores no fortalecimento das ações de promoção à proteção social e do direito à convivência familiar tem dificultado a efetivação dos objetivos que norteiam as instituições de acolhimento.

Em relação aos serviços e programas de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários de crianças, adolescentes e de suas famílias, os profissionais afirmaram que têm contribuído, embora argumentem ser necessária a construção e a efetivação de políticas sociais públicas que visem à prevenção e o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários antes que estes se fragilizem e chequem ao rompimento, em especial, de criança e adolescente. Os serviços, programas, projetos e benefícios precisam ser continuados independentemente das mudanças políticas, e comprometidos qualitativamente com o atendimento e sua viabilização enquanto direito constitucional.

Eu acho que hoje, a política social perde muito na questão da efetividade, a política existe, mas a efetividade, a eficiência desta política não alcança, um exemplo clássico disso é o Programa Bolsa família, em minha opinião, no projeto teria inúmeras outras ações, só o que eu vejo é a transferência de renda sem uma porta de saída, mas tem o curso profissionalizante não é algo que está acontecendo de uma maneira eficaz, o estágio de saída do Bolsa família é muito pouca que eu conheça. Então, a efetividade da política, ela é um pouco complicada, e assim, eu acredito que a política social deveria ter um papel de prevenção, o que foi feito por estas famílias antes dos vínculos serem fragilizados ou quebrados totalmente, que tipo de acompanhamento estava sendo feito pelo CRAS, CREAS, antes de chegar na alta complexidade, quando chega na alta complexidade é porque já existe uma perda muito grande dos vínculos. O trabalho com a família passa muito por esta questão, acho que deve preserva o máximo estes vínculos, porque depois que já foram pedidos para resgatar é mais complicado do que prevenir a perda (entrevista nº 01).

Eu avalio que temos que superar muita coisa na parte da saúde; apoio maior da rede Municipal e Estadual; o social já superou muita coisa, mas na saúde, na educação, habitação, temos que investir muito ainda. Acho que temos de fortalecer a rede para evoluímos mais, a alta complexidade tem evoluído muito (entrevista nº 04).

Eu acho que são muitos bons, o que promove ou estiver promovendo e garantindo os direitos das crianças e adolescentes, uma melhor convivência dentro da sua família da sua comunidade, para que as crianças tenham um bom desenvolvimento social ou um desenvolvimento de suas capacidades, como cidadãos, se estes programas estiverem garantidos isso, para mim, eles são bons (entrevista nº 05).

Bem existentes programas que aplicados com exatidão, de forma efetiva, ele depende de cada funcionário que esteja lá, porque dar para funcionar e melhorar a situação de vida das pessoas, mas quando chega lá, ou a família recuar ou não existe aqueles profissional adequado para que seja aplicado, o que é para ser trabalhado (entrevista nº 06).

A rede precisa ser fortalecida, a gente consegue muita coisa, mas sentimos que a rede precisa ser fortalecida, o próprio CRAS que é a porta de entrada da família, a gente ver que os serviços ainda não estão funcionando na sua plenitude , o número de CRAS são poucos e também, a distancia da morada daquela família para o CRAS. Eu acho que a grande falha (não sei bem se é falha), hoje, está na própria rede em relação ao fortalecimento (entrevista nº 07).

Avaliou positivo, no caso da reintegração, a gente consegue muita coisa, cesta básica, auxilio aluguel, inserção em programas habitacional. Tem família que tem muitas crianças inseri-las no Programa Bolsa Família, isso já ajuda, eu acho que tem ajudado muito (entrevista nº 08).

São satisfatórios, embora a gente vê que muita gente abusa desses programas em alguns momentos, as famílias estão despreparadas, mas são programas muitos bons, aí de nós sem eles (entrevista nº 09).

Sim, garante, mas não 100%, precisam aumentar a rede e integrar (entrevista nº 10).

É positivo, mas acho que como todo programa existe falha, a demora, a burocracia atrapalha muitos encaminhamentos, por exemplo, no termo de audiência diz que o Município e o Estado têm que prover aquela família de utensílios domésticos, então, a burocracia, a demora deixam o trabalho, o programa, a política com falha. Essa burocracia em todas as instâncias, mas as políticas em si são todas positivas, merecem ser cumpridas (entrevista nº 11).

Com necessidade de melhor entrosamento na rede (entrevista nº 11).

Os desafios e os caminhos que marcam o trabalho dos profissionais nas instituições de acolhimento exigem iniciativas interdisciplinares, multiprofissionais, de articulação, trabalho em redes que complementem a atuação e proporcionem o sucesso no atendimento e na reintegração de crianças e adolescentes acolhidos.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pode-se constatar, através da discussão realizada, que a temática em questão é complexa e contraditória, pois, historicamente, a trajetória das ações de proteção social desenvolvidas junto à criança, ao adolescente e às famílias em situação de vulnerabilidade e risco social apresenta abordagem diferenciada, a depender de cada contexto político, econômico, social e cultural vivenciado pela sociedade brasileira e mundial.

O segmento infanto-juvenil foi motivo de debates pelos religiosos, médicos higienistas, juristas, assistentes sociais, políticos e outros no decorrer da história brasileira. Tais discussões deram origem a intervenções de caráter contraditório e discriminatório, caracterizadas pela dualidade entre aqueles considerados pobres e aqueles de classe média e alta da sociedade.

Esta população empobrecida era tratada como problema e que necessitava da intervenção do Estado para inserção no modelo proposto pela sociedade. Este entendimento marcou por muito tempo as iniciativas sociais de proteção social à criança e ao adolescente promovidas pela igreja, pela sociedade e pelos governos brasileiros, as quais visavam, através das ações de qualificação profissional e repressivas, corrigir e adequar os indivíduos ao modelo vigente. As principais práticas realizadas no atendimento de crianças que estavam em situação de desordem foram os asilos, educandários, abrigos que os atendiam estes e educavam para a vida em sociedade com intuito de salvá-los e garantir a segurança do país.

Tal situação ganhou nova roupagem com a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, que revoga as ações de repressão e de culpabilização da população infanto-juvenil. Estabeleceu-se, assim, os direitos fundamentais inerentes à criança e ao adolescente, fundamentados na doutrina da proteção social integral, reconhecendo-os como sujeitos de direito em condição peculiar de desenvolvimento e que precisam de prioridade no atendimento e cuidado.

As políticas de proteção social devem ser desenvolvidas pelo Estado, assegurando aos cidadãos um conjunto de direitos reconhecidos legalmente, que cuide e proteja-os das situações de risco social. No entanto, as políticas sociais atuais não conseguem atender universalmente e com qualidade as necessidades sociais dos indivíduos, principalmente de crianças, adolescentes e suas famílias, pois estão restritas às iniciativas de transferência de

renda e de combate à pobreza para aqueles que mais necessitarem, ao invés de promover a distribuição da riqueza produzida socialmente no país.

Mesmo com o reconhecimento dos direitos nas legislações brasileiras, estas leis não garantem a efetividade dos direitos no cotidiano. A violação de direitos está presente em todos os espaços e contextos sociais, seja pela omissão ou abuso por parte do poder público, da família, da comunidade e da sociedade civil no tocante ao atendimento das necessidades dos indivíduos.

O próprio ECA, após 21 anos de sua promulgação, é desrespeitado diariamente, milhares de crianças e adolescentes estão expostos a várias situações de vulnerabilidade e risco social e pessoal que contribuem para a fragilização e rompimentos dos vínculos familiares e/ou comunitários. Esta situação se reproduz através do abandono e do afastamento de criança e adolescente da família e da comunidade onde reside.

Apesar de habitualmente se ouvir que o Estatuto não foi implantado, e que serve par proteger “menores” e “marginais”, percebe-se que sua efetivação é complicada, mas é um processo em curso, que requer mudanças políticas de pensamento, institucionais, de investimentos, dentre outros reordenamentos que estão propostos no ECA.

Deste modo, as informações e reflexões que compõem esta pesquisa revelam particularidades e vivências no cotidiano das instituições de acolhimento de alta complexidade no trabalho com os acolhidos e suas famílias a respeito da garantia do direito à proteção social integral e à convivência familiar e comunitária.

Os serviços de acolhimento ora pesquisados apresentam desafios e dificuldades quanto às ações desenvolvidas cotidianamente junto aos acolhidos e suas famílias. A primeira está relacionada à proteção e assistência das crianças e adolescentes na instituição; a segunda, junto às famílias, nos seus diferentes arranjos e contextos, no processo de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; a terceira se refere aos recursos financeiros disponibilizados para realização das ações e infraestrutura; a quarta consiste na precarização do trabalho dos profissionais; a quinta é a desarticulação entre as políticas sociais na concretização dos encaminhamentos e das ações democráticas que garantam a autonomia e participação dos usuários aos serviços e aos direitos, dentre outros impasses.

A garantia do direito à proteção social integral a crianças, adolescentes e famílias atendidos nas instituições de acolhimento de alta complexidade é mínima, e está articulada ao atendimento em residências, onde são oferecidos serviços que assegurem as necessidades

básicas, como descanso, higiene, alimentação, educação e segurança durante curto e médio período. Além de encaminhamentos para os serviços, programas, projetos e benefícios das redes socioassistenciais municipal, estadual e federal, os quais são atendidos ou não, a depender da disponibilidade de vagas e de recursos financeiros, materiais e humanos.

Outro desafio está relacionado à garantia dos princípios que fundamentam o acolhimento institucional, como a excepcionalidade e a provisoriedade do afastamento do convívio familiar; a preservação e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, os quais são primordiais para o processo de reintegração familiar. O processo de reintegração é também um desafio para os serviços de acolhimento devido aos problemas que atingem a organização familiar, além da falta de investimentos nas políticas sociais destinadas à garantia dos direitos fundamentais e de serviços de fortalecimento sociofamiliar e comunitário que atendam às necessidades essenciais e criem oportunidades para emancipação e potencialização dos indivíduos e suas famílias frente às dificuldades da realidade vivida.