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O cumprimento das orientações técnicas de serviços e programas de acolhimento

5 FAMÍLIA, PROTEÇÃO SOCIAL E AS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO DE

5.2 AS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO NA GARANTIA DA PROTEÇÃO SOCIAL

5.2.2 O cumprimento das orientações técnicas de serviços e programas de acolhimento

As orientações técnicas têm por finalidade fornecer bases teóricas e metodológicas para (re) organização dos serviços em todos os aspectos de funcionamento. Isto é:

[...] estabelecer parâmetros de funcionamento e oferecer orientações metodológicas para que os serviços de acolhimento de crianças e adolescentes possam cumprir sua função protetiva e de restabelecimento de direitos, compondo uma rede de proteção que favoreça o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários, o desenvolvimento de potencialidades das crianças e adolescentes atendidos e o empoderamento de suas famílias (BRASIL, 2009, p.23).

Os profissionais entrevistados foram questionados se conheciam as orientações técnicas dos serviços de acolhimento. Apenas um profissional afirmou não conhecer. Sobre implementação das orientações na instituição, a maioria dos entrevistados respondeu que estava sendo executada na medida do possível e conhecia algumas recomendações, principalmente em relação ao funcionamento e à infraestrutura.

Sim. As orientações impõem a questão do espaço físico, hoje, estamos numa unidade que comporta este espaço físico, a questão da equipe técnica interdisciplinar, o papel do educador, o papel do psicólogo, assistente social, a questão da modalidade de abrigo, hoje abrigo institucional, tomamos como base aquilo que é colocado para gente (entrevista nº 01).

Tudo que está na teoria, na prática não, hoje, a nossa dificuldade é a questão do espaço físico, não é o ideal (entrevista nº 03).

Sim. A gente procura que seja feita todas as orientações que a gente tem aqui, a prioridade são eles, a gente sabe que são crianças que têm direitos e a gente procura fazer aqui na instituição (entrevista nº 04).

Sim, na medida do possível (entrevista nº 05).

As orientações ainda estão em fase de implementação. As instituições pesquisadas apresentam evolução, mas estão distante dos padrões recomendados (atendimento de qualidade provisório que crie bases de restabelecimento e de fortalecimentos dos vínculos familiares e comunitários de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco social). Dentre os desafios está o cumprimento dos princípios norteadores do processo de acolhimento institucional, como: excepcionalidade do afastamento do convívio familiar; provisoriedade do afastamento do convívio familiar; preservação e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; garantia de acesso e respeito à diversidade e não discriminação; oferta de atendimento personalizado e individualizado; garantia de liberdade de crença e religião; respeito à autonomia da criança, do adolescente e do jovem. Quando perguntados sobre os princípios, três responderam não conhecer, e os outros profissionais afirmaram:

A questão da excepcionalidade, a medida protetiva tem que ser excepcionalidade e transitória, a questão do tempo, que é no máximo dois anos de permanência, a própria convivência familiar e comunitária, as ações que promovam essa convivência, ações de acompanhamento a criança e a família (entrevista nº 01).

Excepcionalidade do atendimento, preservação familiar, PIA, acompanhamento, encaminhamento, primar pela convivência familiar e comunitária, provisoriedade de acolhimento, atendimento familiar, respeito à liberdade religiosa (entrevista nº 02).

Sim, as prioridades no atendimento, os direitos e deveres também. Aqui eles têm todos os direitos, mas também, deveres (entrevista nº 04).

A criança só pode ser abrigada (adotada) quando esgotadas as possibilidades de reintegração familiar, de volta para o seio de sua família e mesmo diante da condição de está abrigada. A criança só pode ficar dois anos no abrigo (se for o caso ode ser ampliado), a criança tem todos os direitos respeitados. Uma mudança que achei interessante na Lei 10.012/2009 é que a criança participar de seu processo de reintegração, de adoção e do processo de avaliação da sua situação de abrigamento, e é acatada muitas vezes, a sua opinião nas audiências concentradas com o Juiz (entrevista nº 05).

Sim, respeito à dignidade, o tempo de permanência só é até dois anos, só pode ser prorrogando em casos excepcionais, como medida protetiva que naquele momento ele esteja precisando de proteção, no caso de menino de rua, de vulnerabilidade (entrevista nº 08).

Fazemos a escuta, buscando identificar de onde ele veio. O que aconteceu para que ele esteja aqui; visitamos inicialmente à família procurando saber se àquele adolescente e àquela criança tem família. Essa buscativa inicial visa saber um pouco sobre a história, o que aconteceu; inseri-lo na casa; apresentamos aos outros acolhidos; mostramos que é uma casa norma que vai ter um lugar para que ele fique protegido (entrevista nº 09).

Acolhimento, respeito às diferenças, excepcionalidade do atendimento (entrevista nº 10).

Conheço. Manter os irmãos junto; respeito da faixa etária; quantidade de atendimento; garantir a qualidade do atendimento; tempo de acolhimento; PIA; revisão (avaliação) da situação da criança e do adolescente (entrevista nº 12).

Durante as entrevistas, os profissionais ficaram apreensivos, demonstrando a fragilidade na apreensão e implementação destes princípios no cotidiano profissional, como observado nas falas, o que é preocupante. Os princípios são fundamentais para o acolhimento institucional. Caso um deles não seja garantido, violam-se direitos. Cabe às instituições de acolhimento assegurar os referidos princípios através de ações sistemáticas e contínuas que favoreçam a interação, socialização, autonomia e emancipação das crianças e dos adolescentes dentro e fora do contexto da instituição.

O princípio de preservação e fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários de crianças e adolescentes acolhidos é fundamental para a garantia do direito à convivência familiar e comunitária. As ações de fortalecimento devem oferecer condições dignas para que criança, adolescente e família tenham um desenvolvimento saudável enquanto cidadãos de direitos.

A família deve ser entendida e respeitada nas suas diferentes organizações, tem papel primordial na potencialização dos vínculos sociais de seus membros, pois, tradicionalmente, a família é considerada “[...] a célula mater da sociedade ou a base a qual outras atividades de bem-estar se apoiam [...]” (PEREIRA, 2010, p.36).

Assim, o conceito de família apresenta características e arranjos diversos. Atualmente, pode ser formada por: união formada por casamento, união estável, família extensa, família monoparental, família de homossexuais, famílias reconstituídas, família substituta, dentre outras organizações familiares. Deste modo, a família é entendida como elemento central para

a vida dos indivíduos, pois é no âmbito desta que as crianças, adolescentes, jovens buscam possibilidades de inserção social que atendam a suas necessidades pessoais e sociais.

A família ressurge como a principal responsável por prover as necessidades de seus membros, em especial, nos momentos de crise econômica e da retração do Estado na esfera social. Tal valorização é fundamentada por concepções conservadoras que reativam as práticas de transferência de responsabilidades do campo público para o privado.

É neste contexto que “[...] o Estado tende a se desobrigar da reprodução social, persiste a tendência de transferir quase que exclusivamente para a família responsabilidades que, em nome da solidariedade, da descentralização ou parceria, a sobrecarregam” (ALENCAR 2010, p. 64).

Segundo Alencar (2010), a família no Brasil “[...] sempre funcionou como anteparo social, diante do vazio institucional de políticas públicas que assegurassem a reprodução social [...]”. Principalmente, a partir da última década do século XX, contexto marcado pela preferência de iniciativa que centralizam a família nos programas, projetos, serviços e benefícios sociais com intuito de fortalecer e garantir os vínculos familiares e comunitários de seus membros. No entanto, essa centralidade é acompanhada pela transferência de responsabilidades por parte do Estado para o núcleo familiar e a sociedade civil através do incentivo às ações individuais e de solidariedade que atendam às necessidades não atendidas integralmente pelo poder público, que somente o faz de modo pontual e seletivo.