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5 FAMÍLIA, PROTEÇÃO SOCIAL E AS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO DE

5.4 A CONVIVÊNCIA COMUNITÁRIA

Segundo Silva; Mello; Aquino (2004), a convivência comunitária está relacionada às ações que estimulam a participação de crianças e adolescentes na vida da comunidade local e de pessoas da comunidade nas atividades educativas realizadas nas instituições. O direito à convivência comunitária foi reconhecido e promulgado pelo ECA como um princípio norteador dos serviços e programas de atendimento à criança e ao adolescente. Estes têm por finalidade assegurar o acesso às políticas básicas e aos serviços oferecidos para a comunidade em geral: lazer, esporte, religião e cultura etc. Tais iniciativas visam a proporcionar o estabelecimento de novos vínculos e relações de crianças, adolescentes, suas famílias e o meio em que residem.

Os profissionais entrevistados afirmaram que a convivência comunitária é um direito de todos, consiste na participação de crianças e adolescentes em movimentos, serviços, programas existentes na comunidade, isto é, trata-se do direito de viver na comunidade e usufruir de todos os benefícios existentes, conforme falas a seguir.

A convivência comunitária está muito ligada à convivência familiar, ninguém vive isolado, então, é uma forma de crescimento [...] (entrevista nº 01).

É você participar na comunidade da estrutura física, dos equipamentos sociais e dos vínculos comuns e dos prazeres da comunidade usufruem (entrevista nº 02).

Participar de movimentos, de programas sociais voltados à comunidade [...] (entrevista nº 03).

É a convivência dentro da comunidade, num momento em que o acolhido está inserido no seio de sua família, ele passa a vivenciar na comunidade, em que está inserido [...](entrevista nº 05).

O indivíduo participar dos programas que existentes dentro da comunidade, em termos de religiosidade, dos programas socioassistenciais, é ele participar (entrevista nº 06).

É a convivência dessa família, desse acolhido junto da família na comunidade usufruindo os programas que existem na comunidade, como: o PSF, CRAS, os serviços das políticas sociais oferecidos na comunidade. É justamente isto, a convivência dessa família na comunidade (entrevista nº 11).

Os entrevistados relataram ainda que a convivência comunitária de crianças e adolescentes acolhidos é complicada devido às inúmeras situações que os atingem. Dentre elas, destacam-se ameaças provenientes de conflitos na comunidade, atitudes preconceituosas por parte da sociedade, situação de pobreza, de violência etc. Como destacado nas falas abaixo.

[...] a questão de convivência na comunidade de origem, geralmente, é mais complicada porque alguns têm ameaças, a criança mesmo não aceita aquela comunidade devido à negação de direitos, a situação de vulnerabilidade em que ela estava, acho que é uma forma de proteção delas de não aceitar isto. (entrevista nº 01).

[...] no caso dos acolhidos, a convivência comunitária, os acolhidos não tem (entrevista nº 03).

A convivência comunitária é a que temos mais problemas, porque a gente tentar inserir de volta a criança, mas a gente tem aquele problema na comunidade, que eu já falei como os vizinhos, a escola, entendeu. Tem escola, este ano não, porque todos estão em escola do Município, mas o ano passado a gente teve muito problema com as escolas do Estado (a rede Estadual), teve diretora que falou para gente ‘este menino não é para estudar aqui’ e (eu falei) porque ele é diferente dos outros, ele é igual a toda criança, acho que a criança de abrigo é igual a toda criança, muitas vezes eu bati de frente com algumas diretoras de colégio do Estado, da prefeitura não graça a Deus, a gente tem uma boa convivência. A comunidade não tá preparada para receber essas crianças, a gente tem que investir muito na comunidade para que essas crianças recebam essa convivência (entrevista nº 04).

O direito a convivência comunitária é muita vezes impedidos pelo risco de morte que eles correm (entrevista nº 07).

É difícil a gente conseguir engolir muitas coisas, que a gente ver na sociedade, a discriminação, o olhar torto para com os nossos adolescentes, a gente procura enfrentar essas dificuldades, inserindo-os como pessoas normais, como pessoas do bem e procuramos o melhor para eles [...]. Então é isso, a gente insere na comunidade, mesmo que, às vezes, quebramos a cara, a gente volta de outro jeito até dar certo (entrevista nº 09).

A não aceitação de instituições em bairros residenciais ainda é um problema enfrentado pelos órgãos responsáveis pela execução da política de proteção à população infanto-juvenil, principalmente, quando este bairro é de classe média ou alta. Esta problemática é percebida por reclamações, abaixo-assinados, denúncias na mídia por parte dos vizinhos e estabelecimentos comerciais etc., que querem a transferência da instituição para outro local, alegando que os meninos e meninas fazem barulho, bagunça, são marginais, dentre outras atribuições preconceituosas.

Tais atitudes demonstram que parte da sociedade ainda não considera a criança e o adolescente como sujeito de direito, já que nega o direito à convivência com seus familiares no meio em que reside, principalmente aqueles que se envolveram com situações ou atos infracionais. Na maioria das vezes, a sociedade e o poder público se esquivam da corresponsabilidade na garantia de direitos, em especial quando estes são violados, transferindo para a família e o indivíduo toda a culpa.

A principal estratégia desenvolvida pelas instituições de acolhimento quando os acolhidos não podem frequentar a comunidade de origem são ações de incentivo a outros espaços e locais em que as crianças e adolescentes têm família extensa, através de passeios, visitas aos familiares, matrícula em escolas e cursos, participação de festas, de igreja etc.

[...] a convivência em outros espaços já é mais fácil, na comunidade em que mora a família extensa (avó, o tio...), a comunidade próximo a escola [...] a convivência comunitária é de todos, é um direito também, como falei em relação à família, desde que não infrinja a proteção da criança, ela deve ser garantida. A instituição não tem mais aquela ideia de orfanato, a criança tem que conviver, ela tem que ir para os espaços, até porque isto é transitório, vai chegar um momento que essa convivência vai passar e ai vai ser este tempo que vai possibilitar que ela siga sua vida (entrevista nº 01).

[...] De repente a criança é tirada do seio da família e do convívio comunitário. Ele aqui, claro ele também tá fazendo parte da nossa comunidade, porque ele está convivendo com os educadores, com os técnicos, com as outras crianças dos abrigos, com as outras pessoas que são funcionários, ele passou a participar de outra comunidade que não é a dele de costume (entrevista nº 05).

É importante o incentivo à convivência comunitária de crianças e adolescentes em outros espaços. Este convívio fortalece e amplia os conhecimentos e as relações sociais dos acolhidos e seus familiares, contribuindo para o processo de reintegração familiar.