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5 FAMÍLIA, PROTEÇÃO SOCIAL E AS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO DE

5.6 O TRABALHO COM OS ACOLHIDOS E AS FAMÍLIAS ATENDIDAS NAS

As instituições de acolhimento enfrentam várias dificuldades no trabalho junto a crianças, adolescentes e suas famílias. Cada acolhido apresenta uma demanda marcada por questões provenientes do contexto familiar e comunitário que merecem estratégias e técnicas que façam a leitura da realidade social e contribuam para a construção de intervenções profissionais mais eficazes.

A ausência ou a falta de interesse da família em participar do processo de reintegração consiste em uma das dificuldades enfrentadas pelos profissionais.

O trabalho com a família de origem é um pouco complicado, porque já acompanhamos a criança e a família em si é foco também, é uma série de diferentes funções, mas é preciso um esforço maior para acompanhar aquela família. A criança é mais fácil porque ela está aqui, o trabalho com a família de origem, algumas se recusam, eu não quero ficar não querem contato. Então isto dificulta, a gente tem que respeitar a família de um lado e do outro lado, vai ter que promover ou tentar promover suas necessidades. O trabalho com a família de origem é pouco complicado neste sentido, de muitas vezes se recusar, temos de ter todo um trabalho de convencimento até que a família se aproxime. Esta questão de resgatar os vínculos é um pouco mais trabalhoso o que não seja possível. Este acompanhamento a família e ao mesmo tempo a criança, muitas vezes, a família não tem ou está sem condições de receber, dar este apoio para que ela possa se tornar adaptar a receber a criança de volta, isto tem certas dificuldades de encaminhamentos (entrevista nº 01).

A principal dificuldade é a falta da participação da família, o acolhido fica aqui, às vezes, a gente liga para os pais, eles colocam dificuldades, [...] há porque é distante, é ruim de chegar. No tempo que estou aqui, a própria família não tem essa participação, de ver o interesse do acolhido (entrevista nº 03).

É a falta de atenção, de cuidado, de interesse da família, muitas das famílias não procuram saber como estão. Muitas famílias chegam a nós, a gente tenta resgatar, procura fortalecer os vínculos familiares entre acolhidos e sua família, para eles (pais) é melhor que os meninos estejam aqui, porque não estão em casa dando trabalho Então é a falta de responsabilidade, de saber qual é seu papel da família, que lugar de criança e adolescente é na família. É o desconhecimento deste papel que também inviabiliza o processo e a falta de interesse de resolver, saber que é responsabilidade deles, muitos sabe, mas não estão interessados. É mais cômodo para eles que a criança continue aqui, porque não tão trabalho, despensas. É essa falta de interesse, desconhecimento que prejudica nosso trabalho e o desenvolvimento do acolhido (entrevista nº 05).

Eu sinto dificuldade com os pais, na medida em que os adolescentes vêm serem acolhidos aqui, os pais acham que vai deixar os seus filhos ali e eles só vêm visitar, isto é, um probleminha na reintegração, porque muitas vezes são ameaçados de morte, têm que mudar de comunidade para receberem os filhos de volta, eles não querem. Ai dificulta nosso trabalho (Entrevista nº 08).

O trabalho de fortalecimento dos vínculos afetivos e sociais entre famílias, crianças e adolescentes, às vezes, é complicado. A maioria apresenta problemas na organização familiar oriundos das mudanças provocadas pelo sistema econômico e produtivo em voga. Essas mudanças exigem novas intervenções mais integradas e concretas por parte das políticas sociais públicas. Dentre as necessidades mais visíveis que afetam as famílias, podemos citar o

desemprego ea falta de acesso aos direitos básicos do indivíduo, como educação, saúde, moradia, alimentação, trabalho etc.

Segundo os profissionais entrevistados, a família, muitas vezes, prefere que os filhos fiquem na instituição, alegando que durante este período os mesmos têm suas necessidades fundamentais asseguradas, ou que estão longe das ameaças sofridas na comunidade. Existem famílias, também, que pelo sofrimento vivido com seus filhos, vítimas do tráfico de drogas, não querem contato.

As referidas dificuldades levam crianças, adolescentes e suas famílias a viverem em situações desumanas, em que o sentimento de pertença é deixado, na maioria das vezes, em segundo plano. A falta de acesso aos direitos contribui para a fragilização e rompimento dos vínculos familiares, além de colaborar para o aumento de outros problemas sociais, como violência – em todos os aspectos –, abandono, envolvimento com drogas (lícitas e ilícitas), problemas psicológicos e outros.

Tais situações não podem ser naturalizadas e individualizadas como sendo problemas que atingem a família em decorrência de suas próprias atitudes. É necessário fazer reflexões sobre a realidade, identificando que essas situações de vulnerabilidade e risco social são efeitos das desigualdades sociais que fundamentam as relações sociais impostas pelo sistema capitalista.

Outra dificuldade enfrentada é ameaça de morte que alguns dos acolhidos enfrentam. O clima de preocupação ganha espaço na instituição, mesmo que funcionários, equipe técnicas e coordenadores tentem minimizar, mas a situação provoca inquietações que atrapalham, muitas vezes, o trabalho de reintegração familiar e comunitária, especialmente quando o conflito é na comunidade. Como revelam as falas seguintes.

É a situação de risco e de morte que eles têm, alguns, a maioria, na própria comunidade onde moram. A gente tem como alternativa sugerir a família mudança de endereço. Esse risco de morte que eles têm na comunidade impede, na maioria das vezes, este direito de ir até a família, de conviver, de passar finais de semanas com as famílias (entrevista nº 07).

A família desestruturada (drogados, sem cidadania, sem trabalho...). A instituição trabalha a criança e o adolescente quando chega à família encontramos esta totalmente desestruturada, às vezes, a própria comunidade não ajuda, por causa do tráfico (entrevista nº 10).

Ainda segundo os entrevistados, as instituições de acolhimento são atingidaspor outros problemas relacionados à infraestrutura, aos recursos financeiros e humanos, à falta do

trabalho intersetorial, à burocracia dos serviços e programas, à falta de compromisso com o trabalho social por parte dos atores responsáveis pela elaboração, execução e avaliação das políticas sociais públicas, em especial aquelas destinadas à população infanto-juvenil, o que tem dificultado a consolidação das ações designadas aos acolhidos e suas famílias.

Em relação aos encaminhamentos com as famílias e com a rede de proteção social, uma das dificuldades é a burocracia, muitas vezes um encaminhamento que seria fácil e simples esbarra na burocracia. A burocracia está na estrutura da própria rede, entre setores é um pouco complicado, dificulta o próprio trabalho. Em relação à questão da intersetorialidade, alguns profissionais, que atuam na Proteção Social Especial de Alta Complexidade, não entendem a política fica difícil essa intersetorialidade, quando partimos para fora da alta complexidade, até mesmo as escolas fica muito complicado este diálogo. Ah!Porque o menino está dando trabalho; ah! Porque não é assim, a gente fica o tempo inteiro neste diálogo, que deve ser feito, mais de conscientização (entrevista nº 01). É a burocracia, encontramos muita burocracia, no meu olhar coisas fácies de serem resolvidas, tem coisa assim que um papel impede o processo. Acho que deveria ser mais desburocratizada, ser mais rápida (entrevista nº 05). É necessário, mais esclarecimento e compreensão da rede de serviços; a fragilidade da família em relação à compreensão do trabalho da instituição; falta de acompanhamento da família antes do abrigamento da criança; esclarecimento maior para os conselheiros tutelares; falta de consciência da sociedade em relação a escolha dos conselheiros” (entrevista nº 12).

Diante disso, o trabalho nas instituições apresenta dificuldades semelhantes, que exigem posturas profissionais e de gestão qualificadas e críticas da realidade, desconstruindo as práticas conservadoras, assistenciais e burocráticas existentes através da construção de estratégias e técnicas capazes de garantir a proteção social aos indivíduos.

5.7 ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS PROFISSIONAIS NO TRABALHO COM CRIANÇAS,