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ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS PROFISSIONAIS NO TRABALHO COM CRIANÇAS,

5 FAMÍLIA, PROTEÇÃO SOCIAL E AS INSTITUIÇÕES DE ACOLHIMENTO DE

5.7 ESTRATÉGIAS E TÉCNICAS PROFISSIONAIS NO TRABALHO COM CRIANÇAS,

A intervenção profissional deve estar articulada ao PPP de cada profissão, fundamentado pelas estratégias e técnicas de garantia e concretização dos direitos humanos. Na atuação profissional não há uma receita definida, e cabe aos profissionais conhecer a realidade social em que atuam e elaborar estratégias e técnicas que possam ser utilizadas no exercício da profissão, as quais exigem criatividade, planejamento, participação dos envolvidos, conhecimentos, dinamismo, dentre outras habilidades pessoais e coletivas.

Neste contexto, as estratégias utilizadas pelos profissionais no atendimento às crianças, adolescentes e famílias são as seguintes: diálogo, escuta psicossocial, palestras temáticas, trabalhos em grupos e reuniões. Elas têm por objetivo conhecer, informar e refletir sobre assuntos de interesse individuais e coletivos dos acolhidos e de suas famílias no tocante à socialização de informações que contribua para o acesso e a efetivação de direitos e o desenrolar do trabalho interno e externo à instituição.

A questão da escuta da criança, da família, reuniões com as crianças e as famílias, relatórios e pareceres (entrevista nº01).

[...] Escuta psicológica, preenchimento da ficha individual, momento em que busco levantar informações sobre o histórico, pessoal e familiar da criança, faço reunião e atendimento individual e em grupo (entrevista nº02).

Procuro fazer a escuta, trazer a família para ter uma conversa, procura levá- los para CAP’s I, passo as orientações para que a gente possa faça um trabalho bom [...] (entrevista nº04).

Eu gosto da conquista, do diálogo, de ser verdadeiro, você tem que ser verdadeiro, porque o adolescente cobrar isso, você sendo uma pessoa que fale a verdade, a criança, o adolescente vão ser verdadeiro. Ele tem dificuldades e precisamos perceber com sutileza, às vezes, ele mete tão bem que você tem que ter essa sensibilidade para perceber. Ter que ser fraco e objetivo (entrevista nº07).

Buscamos mantém a tranquilidade, orientamos os pais, dizemos o andamento dos adolescentes na instituição (como ele está na escola, em relação à saúde, comportamento), sempre com uma preparação, uma conversa com a família mensalmente, sempre trocando essas experiências. Quando eles vão aos finais de semanas procuramos saber como foi, o que houve de diferente e o comportamento (entrevista nº 09).

Reuniões de integração com as famílias e as crianças e adolescentes na instituição, orientações sobre os direitos e deveres, visita quando necessário (entrevista nº 10).

Em relação às técnicas utilizadas destacam-se: visitas domiciliares, atendimento individual e coletivo, encaminhamentos para os serviços e programas sociais, entrevistas, preenchimento do PIA, elaboração de relatórios, de diagnóstico social, utilização de dinâmicas, músicas, jogos, incentivo a leituras coletivas, produções de cartazes temáticos, dentre outras ações.

A entrevista, as visitas domiciliares e o acolhimento quando a criança e a adolescente chega aqui (entrevista nº03).

[...] faço visitas às famílias, às escolas, ao DEDI (Vila Olímpica Roberto Marinho) onde eles fazem natação, Centro de Formação Margarida, fazemos com toda equipe. Para fazemos ao acompanhamento deles, no Centro Margarida a gente manda uma agenda para fazermos o acompanhamento, na família ficamos sempre ligando para saber com ele tá, como foi o final de semana. Fizemos agora pouco, uma mudança de uma família da barreira do São José para o Roger, a SEDES conseguiu um auxilio aluguel e eles estão morando em uma casa bem estruturada no Roger, diferente de antes que moravam debaixo de papelão na barreira do São José, fui eu, motorista junto com a mãe do adolescente que fizemos a mudança (entrevista nº 04). Atendimento individual, aqui as crianças não gostam de falar em grupo porque elas têm medo, que fiquem sabendo alguma coisa sua, por exemplo, quando chequei comecei a atender em grupo, perguntei o nome da mãe, sei não, depois eu fui percebendo que era porque o outro poderia ficar enchendo “o saco dele” com o nome da mãe, há sua mãe é isso, sua mãe é aquilo. Daí, percebi que o trabalho grupal não estava indo bem, comecei trabalhar individualmente. Faço trabalho lúdico com eles, trabalho questão de pintura, desenho, porque muitas vezes eles não conseguem falar, né, colocar suas angustias, expectativas, choro verbalizando, mas colocam no papel através da escrita, do desenho e da pintura, brincadeiras, jogos dominó, quebra- cabeça, momento em que aproveito para ir entrando em certos assuntos com ele (entrevista nº05).

Visita domiciliar, institucional, encaminhamento, relatórios, aplicação de oficinas, entrevista e conversas (entrevista nº06).

[...] brincadeiras (jogo de bola, desenho, pintura, escutam músicas), o pouco, que a gente pode fazer, a gente faz (entrevista nº09).

[...] fazemos os encaminhamentos das suas necessidades, a questão médica (saúde), está tudo ligado; ver a questão da família; direciona para a família os serviços; busca acompanhamento dessas famílias nos serviços básicos. No caso, estamos recentemente com uma família reintegrada e a gente já está buscando o CRAS e o CREAS para fazerem o acompanhamento dessa família, apesar de que nós temos que fazer o monitoramento por seis meses da família, vai buscar tudo que for necessário para essa família (entrevista nº11).

Escuta, estudo de caso, acompanhamento à família, encaminhamentos e a entrevista (entrevista nº12).

As estratégias e técnicas utilizadas são focadas no trabalho de troca de informações sobre os acolhidos e suas famílias no que se refere à sua história de vida, necessidades sociais e possíveis encaminhamentos à rede de proteção social, visando à inserção destes nos serviços, programas, projetos e benefícios que assegurem os direitos e as necessidades sociais básicas de cada criança, adolescente e de sua família. Precisam ser fundamentadas na relação teoria e prática profissional, articulação necessária para desenvolvimento de ações qualificadas e concretas de atendimento aos usuários. De acordo com Iamamoto (2005, p.21),

[...] as possibilidades estão dadas na realidade, mas não são automaticamente transformadas em alternativas profissionais. Cabe aos profissionais apropriarem-se dessas possibilidades e, como sujeitos, desenvolvê-las transformando-as em projetos e frentes de trabalho.

Além disso, as estratégias e técnicas profissionais devem ter por finalidade ampliar e consolidar direitos humanos, melhorar as condições de vida, promover ações participativas, assegurando a efetivação da democracia e da cidadania, contrapondo-se às ações assistencialistas e clientelistas que marcaram as políticas de proteção social brasileiras.

A técnica visita domiciliar é usada por todas as instituições pesquisadas. Busca obter informações sobre os acolhidos e suas famílias, com intuito de conhecê-las, fazer o levantamento das necessidades sociais, informá-las sobre os direitos, inseri-las e encaminhá- las à rede de proteção social.

Segundo os profissionais entrevistados, os principais encaminhamentos realizados pelas equipes técnicas após a visitação às famílias são para os serviços de atendimento psicológico, apoio e acompanhamento social via CRAS e CREAS; para os programas sociais como Bolsa Família, ProJovem Adolescente, etc. e benefícios eventuais (cesta básica, auxílio aluguel), elaboração de relatórios para Vara da Infância e Juventude; para a Defensoria Pública e serviços de saúde, previdência; inserção em curso profissionalizantes; cadastro em projetos habitacionais, dentre outros procedimentos, conforme abaixo.

Depende da demanda da família, encaminhamento para CAP’s I para atendimento psiquiátrico, marcenaria para que o adolescente fazer uma atividade manual para que este não só fique dentro do abrigo, deitado, dormindo. A gente tentar trabalhar as questões emocionais e capacitá-lo para quando ele for sair daqui, já sair encaminhado para alguma coisa, depende muito do que a família nos oferecer (entrevista nº 05).

Encaminhamos muito para o CRAS, todas as informações vão para juizado porque tem família que não contribui, nem quer ser ajudada, só coloca dificuldade, o que dificulta o trabalho da gente e não acolhe o outro, muitas vezes, encaminhamos para justiça e para os programas sociais (entrevista nº 06).

Depende muito da necessidade da família, atualmente, é a solicitação do auxílio moradia, encaminhamentos para retirada de documentos, muitos não têm, às vezes, temos que recorrer a Defensoria Pública (entrevista nº 07). Encaminhamentos para o CAP’s, porque a maioria é usuários de drogas, também eles saem de casa e precisam de um acompanhamento (entrevista nº 08).

[...] A gente procura encaminha de acordo com as necessidades maiores, com prioridades (saúde, atendimento psicológico, etc.), fazemos os encaminhamentos mais urgentes e os outros encaminhamos aos poucos (entrevista nº 09).

Após identificamos as necessidades daquela família, encaminhamos para os programas, por exemplo, o Programa Bolsa Família, a questão de documentos, de escola, às vezes é preciso fazer o resgate do histórico escolar da criança, pois às vezes, a criança está matriculada é não tem nenhum documento, e ai, temos que buscar informações de onde essa criança estudava, transferência, em que ano estava matriculado. E em seguida, dar todos os encaminhamentos (entrevista nº 11).

Encaminhamentos para o Balcão de Direito, sistema de Saúde, Atendimento terapêutico, auxílio Aluguel, inscrição em programas habitacionais (entrevista nº 12).

Os encaminhamentos referenciados estão atrelados à rede de proteção social, integrada pelo tripé da seguridade social (saúde, previdência e assistência social), além de outras políticas públicas. Para as orientações técnicas, a articulação e planejamento entre os diversos órgãos envolvidos no seu atendimento são necessários, pois contribuem para fortalecimento das ações, evitando as sobreposições. Neste processo são definidas as atribuições e responsabilidades de cada instância envolvida.

O Juizado da Infância e Juventude, em parceria com as instituições de acolhimento de crianças e adolescentes, estão organizando e desenvolvendo ações integradas, denominadas de audiências concentradas, com intuito de avaliar as diversas situações dos acolhidos, além de proporcionar maior agilidade aos processos de reintegração familiar.

5.8 AUDIÊNCIAS CONCENTRADAS DE REINSERÇÃO PARA REAVALIAR A