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A Formação do Conceito de Paisagem

No documento Conceito jurídico de paisagem (páginas 154-170)

Embora já se tenha analisado a criação da ideia de paisagem, julga-se importante falar sobre o surgimento, no Ocidente, dos conceitos de paisagem desde seu início, para se compreender como se chega à ideia atual. O conceito

de paisagem foi construído e ampliado com base no que existiu e existe de útil e de relativamente compreensível no entorno da existência humana. Como o ambiente vivido e/ou captado pela consciência humana, a paisagem, de alguma maneira, sempre existiu junto aos seres humanos, levando ora à utilização prática de seus recursos, ora à contemplação e ao encantamento.

No Ocidente, inicialmente, os conceitos de paisagem e sua representação perpassam pela pintura. Os primeiros surgiram na Holanda, no século XIII, e na Alemanha, no século XV, onde landscap e landschaft tinham uma conotação de “região onde se desenvolviam pequenas unidades de ocupação humana” (MAXIMIANO, 2004, p. 84).

O termo holandês evolui, ao longo dos séculos, desse sentido territorial do conceito de paisagem para o sentido da percepção, mas sem criar uma nova palavra para definí-lo, ao contrário da língua francesa, que, a partir do termo pays com um sentido territorial, criou um novo termo, paysage. Já o termo alemão landschaft, apesar da grande variação de ortografias, segundo Franceschi (2000, p. 83), "Le plus anciennes occurrences connues de landschaft ont été trouvées das dês gloses latines de la fin du VIIIéme siècle pour traduire les termes patria, provincia, ou regio. [...] Au début do XVIéme siècle, le mot est également utilisé pour désigner le landschaft représenté"68.

A conceituação de paisagem como noção pitoresca e desvinculada do sentido de território surge a partir do século XV, quando se diferencia território de paisagem, na maioria das línguas, nas quais “Les premières occurrences du mot paysage tendent donc à situer le formation dans le champ de la représentation, pour designer des images. Ceci n’est pas le cas des trois mots allemand, néerlandais et italien, que ont des équivalents latins"69 (FRANCESCHI, 2000, p.

83).

Na França, o dicionário Étienne, em sua edição de 1539, não continha o verbete paisagem, o que, segundo Franceschi (2000, p. 78), confirma “le fait qu’il ne correspond à rien en langue latine”70. Nesse dicionário, o termo paisagem

68

É o mais antigo nos gloses latinos do fim do século VIII e pode ser traduzido pelos termos pátria, província ou régio. [...] No começo do século XVI, a palavra é igualmente utilizada para designar a landschaft representada (tradução nossa).

69

As primeiras aparições da palavra paisagem tendem a situar sua formação no campo da representação para designar imagens. Isso não acontece com as três palavras em alemão, holandês e italiano, que têm seus equivalentes em latim (tradução nossa).

70

vai aparecer pela primeira vez dez anos depois, em 1549, demonstrando a necessidade de expressar essa situação de fato, definindo paisagem como “mot commun entre les painctres”71

Segundo o dicionário etimológico e histórico Larrousse, de 1971, o termo paisagem foi definido pela primeira vez “Paysage 1493, Molinet, ‘Tableau représentant un pays’”72.

No dicionário Richelet, em 1680, o termo paisagem aparece em francês com duas sonoridades: pésage, que era a pronúncia dos pintores, enquanto peisage era a pronúncia dos não pintores. No entanto, tem como conceito único ser um quadro que representa qualquer meio rural considerado uma bela paisagem.

Nesse período, havia uma perspectiva estética e interligada à ditadura dos pintores, que definiam o que era e o que não era a paisagem. E como a intenção era vender quadros, muitas vezes deturpavam a realidade, fazendo-a parecer mais agradável, possibilitando vendas melhores. No século XVIII, por exemplo, Lorrain utilizava espelho e vidros ligeiramente coloridos para reproduzir a realidade, filtrando-a, mais ou menos como nosso olhar cultural faz com ela hoje.

Inicialmente, o que aparece nas pinturas são os jardins e campos cultivados, sinônimo de beleza no século XVI. A natureza em si, que hoje é considerada o belo estético, era antes tida como feia e insalubre, mudando apenas com as expedições a montanhas (como de Pétrarque ao Mont Ventoux) e com os pintores e escritores que as descreviam com beleza divina a ser descoberta. Fator decisivo para que se propagasse a noção de que certo lugar constituía uma paisagem ao ser descoberto pelos artistas e excursionistas.

Com a absorção da paisagem pela geografia, o conceito se torna mais científico e técnico, saindo da subjetividade da perspectiva fundamentada no sentimento no qual se encontrava, apesar de ser definido não apenas como resultado de um fato natural, mas que incluía a existência humana.

Ao tornar-se o objeto central da geografia, a paisagem passa a ser conceituada a partir do que se vê, ou seja, uma seleção de objetos entre os que se oferecem ao olhar, conjunto visto que dá prazer ou satisfação. Segundo Roger

71

Palavra comum entre os pintores (tradução nossa).

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(1997), esse modelo deforma o estudo da paisagem e dos componentes dela, desintegrando-a cada vez mais, esquecendo sua origem, e reduzindo-a ao elemento natural.

Por outro lado e tendo também uma raiz alemã, semelhante aos primeiros estudos geográficos, a paisagem passa a ser expressão de identidade nacional, tornando-se algo obsessivo, porque era associado à pátria alemã em afirmação. Desse modo, configurava patrimônios culturais regionais que demonstravam o pertencimento do indivíduo àquele todo, identificando-o e interligando a sua formação e a sua inserção naquele mundo em que ele vivia. Essa noção se amplia para outros países e torna-se básica na construção dessa teoria em novas nações, contribuindo para o nacionalismo exacerbado que conduz às guerras mundiais.

Inicialmente, seguindo a lógica tradicional, no século XIX, a paisagem não está nas cidades, que têm apenas a função de produtoras econômicas e são vistas como local de habitação para os trabalhadores. A paisagem está fora da cidade, relacionada ao refúgio, um lugar de fuga dos barulhentos e poluídos centros urbanos. Com o crescimento das cidades, a urbanização e a industrialização de grande porte, bem como com o grande êxodo rural, que ocorre no século XX, as cidades passam a se preocupar com sua organização, para permitir a vida digna e funcional e começam a se planejar funcionalmente para essa nova etapa do desenvolvimento da sociedade.

Inicialmente, tinham uma conotação de utilidade, funcionalidade, mas quanto mais a cidade era vista como espaço de vivências e não de habitação mais se buscava torná-la um lugar melhor para se viver. Havia a preocupação em proteger o passado, pois uma sociedade sem memória não tem presente, tornando a cidade bela, de forma a garantir um equilíbrio psicológico e emocional nos indivíduos que ali habitavam, dando um senso de pertencimento e prazer em viver ali, o que apenas o belo estético consegue realizar.

Nesse contexto, a cidade transforma-se em um espaço de identidade cultural, com elementos naturais e artificiais que buscam garantir uma vida melhor para os indivíduos. Isso complica a análise do que venha a ser paisagem, pois agora ela também se vincula a um sentimento de vida melhor e pertencimento. Logo, media o objetivo e o subjetivo.

Segundo Rodríguez (2007), a modificação para chegar à paisagem moderna é produzida, com certeza, no romantismo, quando a contemplação adquire independência referente à compreensão conjetural, convertendo-se em um prazer estético. A paisagem, na realidade, é um elemento que compensa uma época em que o avanço dos métodos científicos empíricos e objetivos conduz a um desencanto do mundo, produzindo uma ruptura, uma antítese.

Compreende-se que só há paisagem quando há interpretação e esta é sempre subjetiva, reservada e poética ou, pelo menos, estética. Muitos locais são apreciados por sua fertilidade, sua capacidade produtiva, sua situação estratégica ou pela abundância de seus elementos minerais. Outros, ao contrário, têm valor por sua inusitada beleza. A paisagem definitivamente requer um olhar estudado, pois, para ver, é necessário aprender a olhar de forma a distinguir as diferentes características e estruturas.

A relação entre paisagem e natureza desenha contornos de uma identidade de substituição, que compensa os desequilíbrios de uma civilização urbanizada. Ela traduz, em particular, a esperança de recriar o equilíbrio ancestral entre a cidade e o campo. A capacidade da paisagem é dar um senso ao mundo fragmentado e modificável de nossa modernidade, proporcionando aos membros da sociedade ou nação uma identidade de pertencimento, de comunidade, o que impreterivelmente passa pela mediação de mitos emblemáticos. Ela é símbolo da harmonia entre os seres humanos e a natureza, da abundância e do prazer em favorecer a expressão de saudades de um tempo passado, no qual havia uma harmonia, hoje perdida. A nostalgia de nossas próprias raízes, que se mantêm através da paisagem, em face da degradação dos fatores tradicionais de identidade de nossa sociedade e sua perda ou destruição, lembra-nos da precariedade do imediato e a incerteza das condições de vida futuras.

Ainsi, le paysage n’est pas seulement um agencement banal d’objets, mais il est une construction propre à chaque individu, en fonction d’un modèle perceptif élaboré par sa personnalité, sa culture, la civilisation dans laquelle el vit, son desir de comprendre et sa volonté d’agir. Ce sont ces diverses représentations réunies qui font émerger l’idée de paysage. (CAILLE-CATTIN, 2005, p 10)73

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Assim, a paisagem não é apenas um agenciador banal de objetos, mas ela é uma construção própria de cada indivíduo, em função do modelo perceptivo elaborado pela personalidade, sua cultura, a civilização na qual ele viveu, o desejo de compreender e sua vontade de agir. São as diversas representações reunidas que fazem emergir a ideia de paisagem (tradução nossa).

No Brasil, a construção do conceito de paisagem sofreu influência especialmente das culturas francesa e alemã e tem raiz, sobretudo, na geografia. Por isso, na atual discussão e formação do conceito de paisagem brasileiro no âmbito geral, e, em especial, no campo jurídico, fala-se não em paisagem como termo puro, mas em paisagem cultural. Isso para diferenciar-se da perspectiva naturalista inicial que o termo paisagem tinha para a geografia.

Parece evidente que toda paisagem é cultural, pois depende da percepção do observador, que tem sua determinada cultura, não sendo necessária essa adjetivação. No entanto, como o termo está difundido dessa forma, será utilizada a expressão paisagem cultural. Fora da perspectiva geográfica e encaminhando para o campo jurídico, surge, em 2009, por portaria do IPHAN, um conceito de paisagem cultural, com a finalidade de fixar e difundir a lógica da paisagem como algo não apenas ambiental. Essa portaria define a paisagem cultural brasileira como “uma porção peculiar do território nacional representativa do processo de interação do homem com o meio natural à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores” (IPHAN, 2009). Este conceito tenta contemplar os três elementos da paisagem (objeto, observador e percepção), seguindo a linha conceitual da UNESCO, mais ainda se revela um pouco vago e não parece contemplar ou dar indícios de se preocupar com a paisagem imaterial.

O primeiro conceito de paisagem cultural, proposto por Schlüter (CASTRO, 2007), restringe a paisagem ao visível, entretanto, a paisagem não é tão simples assim. A polissemia do termo foi ignorada, não ficando aberto o suficiente para contemplar as novas figuras de paisagem como a ordinária, ou para garantir os elementos essenciais à sua composição física, como o vazio, além de não considerar o problema jurídico de não ser a forma adequada de se estabelecer um conceito de grande importância como a paisagem.

No pensamento moderno, a percepção da paisagem é uma junção do seu desenvolvimento pela ciência, na qual se constitui em um objeto, conceito, palavra, em que os componentes podem ser separados, classificados, mensurados, havendo uma multiplicidade de explicações. A sensibilidade desenvolvida por séculos de busca da beleza trazida pela arte leva à polissemia e

complexidade de seu conceito. Segundo Berque (1995, p. 133), 74“La réalité,

toutefois, est bien plus complexe; car d’un autre cote, Il s’est opéré en même temps un changement qualitatif dans la nature même de la ville et dans le regard que nous portons sur elle". A interpretação da noção de paisagem flutua segundo o momento, as épocas e as idades. Ela se colore ou se cobre de emoções, de lembranças, de desejos, diferindo segundo a região, as línguas, as culturas, as profissões e as práticas.

Embora os diversos termos tenham raízes comuns ou uma lógica similar de construção, a noção de paisagem varia culturalmente, pois sua existência passa pela percepção do indivíduo ou da comunidade, sendo percebida de forma diferente, tornando importante o estudo da morfologia das palavras, pois elas traduzem a sociedade e as representações de seus valores, que importam. Por isso, será traçado brevemente um quadro com alguns termos que definem paisagem em alguns países. Ao traçar esse quadro, o objetivo é privilegiar contextos diferenciados para demonstrar a percepção da paisagem, sem a pretensão de ser exaustivo ou mesmo discriminatório.

Idioma Termo Significado

Francês (França)

Baysage Pays = território

Parte do território que se vê de um só aspecto, onde os objetos dispersos se reúnem sob um só golpe de vista. (CONSELHO DA EUROPA)

Espanhol (Espanha)

Baisaje Pais = território

É um termo polissêmico, pois pode significar:

. um cenário – um elemento visto a partir de uma posição vantajosa; panorama, vista – ênfase em qualidades visuais e em espaços rurais.

. uma representação de um pedaço de terra pelos meios artísticos – ênfase na pintura de paisagem.(CONSELHO DA EUROPA)

Italiano Baesaggio Paes = território

É o território que expressa uma identidade, cuja formação derive de fatores naturais e humanos e de suas inter-relações.

As leis atuais protegem a paisagem e seus aspectos materiais, bem como a representação e a importância para a identidade nacional, sendo uma expressão de valores culturais. (CONSELHO DA EUROPA)

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A realidade é, entretanto, bem mais complexa, pois, por outro lado, ela é operada ao mesmo tempo que uma modificação qualitativa na própria natureza da cidade e no olhar que colocamos sobre ela (tradução nossa).

Inglês (Inglaterra)

Landscape Land = terra, território

A paisagem foi descrita como sendo gerada sobre o relacionamento entre povos e lugar. É construída na relação do dia a dia com o território. O termo não é aplicado apenas a paisagens especiais ou designadas, ou somente ao campo. A paisagem pode significar um pedaço pequeno de uma área urbana ou uma montanha ou ainda um parque urbano ou mesmo uma planície completa. (CONSELHO DA EUROPA)

Dinamarquês Landskab Land = terra, território

A natureza e as paisagens culturais são partes importantes da definição da paisagem na Dinamarca. O termo é usado frequentemente em relação às paisagens rurais e ao campo aberto, onde poderia haver alguns elementos de ocupação humana. O uso do termo com relação às cidades não é comum. Na legislação e na administração, existe a tradição de usar o conceito de paisagem como o cenário. Entretanto, nos últimos anos, tem sido relacionado ao planejamento do campo de cultivo. Na proteção da paisagem, há um foco especial em tópicos como paisagens montanhosas, geologia, ambiente histórico, praias e costa e elementos da natureza. (CONSELHO DA EUROPA)

Sueco e

Norueguês

Landskap Land = terra, território

Em norueguês, landskap significa uma área pequena que constitui uma unidade naturalmente definida.

Em sueco, landskap tem basicamente dois significados: a) Paisagem como unidade histórica, territorial/política fundada nas características culturais e geográficas que muitos identificam com imóvel hoje. Nesse caso, o termo é equivalente a “província”.

b) Paisagem como o ambiente físico em geral, que inclui a dimensão cênica. (CONSELHO DA EUROPA)

Turco Dogal

Manzara

Dogal está ligado à natureza.

Manzara significa vista ou panorama (LORZING, 2001).

É uma percepção da completude da composição de valores naturais e culturais em um meio ambiente. Paisagem é uma área percebida pelo povo, cuja formação é o resultado da ação e da interação de fatores naturais e/ou humanos. (CONSELHO DA EUROPA)

Finlandês Maisema Vem de maa, que significa para o território, para a terra. (LORZING, 2001)

Grego Τοπίο pronuncia- se Topio.

Topos = local ou ponto (LORZING, 2001)

É qualquer conjunto dinâmico de agentes e elementos bióticos ou abióticos do ambiente, que, tomados separadamente ou em interação sobre um lugar preciso, formam uma experiência visual. (CONSELHO DA EUROPA)

Polonês Krajobruz Kraj = terra, território

A paisagem é definida como conjunto de elementos ambientais típicos em uma área transformada ou não pelas ações humanas. (CONSELHO DA EUROPA) Tcheco Krajina Kraj = terra, território

A paisagem é uma parte da superfície de terra que tem o relevo característico, podendo ser também

ecossistemas e elementos funcionais

interconectados com a civilização. (CONSELHO DA EUROPA)

Russo Landschaft

Beyzazh

Landschaft vem do alemão e é usada para aspectos objetivos da paisagem, enquanto Beyzazh denota aspecto subjetivo, dando ênfase ao valor poético, pitoresco e emocional. (LORZING, 2001)

Hebraico Nof Significa vista ou panorama. (LORZING, 2001)

Chinês Jēng jĭng

Jĭng guán Yuan lin

Jēng jĭng é mais poético e se traduz, mais ou menos, como “um sentimento elevado ao sentir o vento”. Jĭng guán tem ideia aproximada de vista, panorama. Yuan lin tem sentido de floresta, jardim. (LORZING, 2001)

Japonês Késhiki Jukeiga

Késhiki significa vista ou panorama.

Jukeiga significa paisagem como trabalho de arte. (LORZING, 2001)

Letônia Ainava No passado era usado para definir lugares da beleza natural que devem ser protegidos devido às evidências da unicidade da natureza e da herança cultural. O termo paisagem na sociedade é usado, hoje em dia, para caracterizar lugares bonitos, que são agradáveis para visitar. (CONSELHO DA EUROPA)

Croata krajobraz', krajolik `pejzaž'

krajobraz', mas igualmente se usa krajolik e `pejzaž', que significa um retrato ou uma expressão visual da área particular. (CONSELHO DA EUROPA)

Português (Portugal)

Paisagem Pais = território

Paisagem é a unidade geográfica, ecológica e estética resultante da ação do homem e da reação da Natureza, sendo primitiva quando a ação daquele é mínima, e natural quando a ação humana é determinante, sem deixar de se verificar o equilíbrio biológico, a estabilidade física e a dinâmica ecológica. (PORTUGAL, 1987)

A partir desse quadro, percebe-se que é preciso ter cuidado, pois apesar de se traduzir a palavra nos diversos idiomas como se o sentido fosse o mesmo, isso não é real, pois a paisagem tem inserção e raízes históricas diferenciadas em cada cultura, apresentando sentidos diferentes. Deve-se ter cuidado também com os casos em que as culturas não fazem uso de um termo específico para paisagem, pois isso não significa que não haja a representação no imaginário social. Embora não exista um estudo aprofundado sobre esse aspecto, parece que essa representação existe em muitas outras culturas.

Os primeiros termos, landscap e landschaft, vêm de pagus, termo equivalente em latim, que designa “une région rurale bien définie”75 (JACKSON,

2003, p. 52). Para os alemães, landschaft remete à noção de território, semelhante ao landscape inglês. No entanto, ao analisar os conceitos em ambos, percebe-se que se referem também ao aspecto visual e a um sentimento em relação ao território, que transmite uma identidade definida com uma terra criada pelos indivíduos, apesar de, na ciência geográfica alemã, haver durante muito tempo a vinculação apenas de paisagem ao geossistema.

A paisagem não é apenas meio ambiente, mas circunstancialmente uma relação estética com o meio que está no entorno. A paisagem é objeto e sujeito, objetividade e subjetividade. O nascimento da paisagem não é outra coisa senão o nascimento desse tipo de relação com o entorno. Sem essa relação não existe paisagem.

A estética é uma questão de gosto, de convenção segundo a época e a civilização, sendo mediada pelas visões e relações entre as diferentes comunidades e regida por tradições, regras implícitas, mais que pela palavra escrita. Infelizmente, as relações sociais são dominadas pelas elites, que, durante muito tempo, estabeleceram legitimamente o que seria importante, belo e tradicional. Essa ideia começa a mudar, no século XXI, com a figura da paisagem ordinária:

These connotations and the generally symbolic dimensions of the landscape, place its study in thematic cycles that exceed historical geography and are related to issues of ideas and symbols. They are also related to issues of cultural identities and relations of Power, as well as issues of political economy.76 (DOUKELLIS, MENDONI, 2004, p. II) 75

Assim, a paisagem é impregnada conjuntamente de mediação e história, não sendo, portanto, universal. A paisagem é fruto da experiência individual, no instante e no local em que está, e é forçosamente limitada por um horizonte certo, que é uma visão específica do mundo, própria de certo meio, de

No documento Conceito jurídico de paisagem (páginas 154-170)