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A Paisagem Hoje

No documento Conceito jurídico de paisagem (páginas 82-101)

Como vimos ao longo do capítulo, a paisagem é algo complexo que interliga o natural e o cultural, o real e a percepção, o coletivo e o individual, dificultando sua apreensão. Mas sua existência é necessária por vários motivos.

Inicialmente, deve-se pensar que um povo sem memória não compreende sua própria significação na atualidade. Cada pessoa é o que é pela formação social e cultural que obteve ao longo da vida, passada de geração em geração e refletida na realidade atual que transformamos diuturnamente. A paisagem é o resultado do olhar humano sobre o espaço, o território, razão pela qual, se faltar o observador, resta apenas o meio ambiente como elemento físico inanimado. É a formação cultural que cria a relação sentimental entre os indivíduos e seu território, produzindo a paisagem, segundo Nunes (2005) “À medida que o homem se agrupa em grandes centros urbanos, valoriza áreas naturais de valor cênico, como fonte de lazer, saúde e bem estar, a relação do homem com a paisagem torna-se mais estreita e consciente.”

Em segundo lugar, ao se abordar a paisagem, precisa-se considerar a beleza. Embora a organização do mundo humano seja importante, pois sem ela o

homem viveria no caos, sem a beleza o mundo se transforma em algo sem sentido.

Agora definir o que seja beleza, é uma questão tão complexa como viver. O belo é algo individual, mas para o reconhecimento dele, são utilizados parâmetros, que permitam seu estabelecimento em termos pelo menos de um grupo social. Assim, são estabelecidos critérios básicos que tornam algo belo a partir de uma maioria, o que não impede a existência de vários tipos de belos, ao mesmo tempo reconhecidos por um único e mesmo grupo ou por grupos distintos. Nossa cultura e história permitem explicar as sensações em relação a uma paisagem, por isso, inconscientemente, ao se decodificar a paisagem, privilegia- se tal ou qual elemento.

O belo não está adstrito a conceitos determinados, porquanto a satisfação por ele proporcionada é livre. Nas palavras de Kant (41): O agradável e o bom têm uma referência à faculdade de aptidão (42) e nesta medida trazem consigo, aquele um comprazimento patologicamente condicionado (por estímulos) este um comprazimento prático, o qual não é determinado simplesmente pela representação do objeto... Contrariamente o juízo do gosto é meramente contemplativo. “Isto é, um juízo que, indiferentemente em relação à existência de um objeto só considera a sua natureza em comparação com o sentimento de prazer ou desprazer. Dessume-se, pois, que o juízo de gosto é sempre subjetivo, daí por que jamais será universal, mas universal será a possibilidade deste juízo (43). Assim, todo ser humano, ainda que de forma involuntária, é cotidianamente impactado pelas paisagens urbanas sofrendo as influências dessa percepção e ajuizando sobre o que vê. (MARCHESAN, 2008, p. 25)

Como foi visto, entretanto, hoje não apenas a beleza, mas também a memória, a saúde física e mental levam à proteção da paisagem, que, por sua vez, viabiliza as funções sociais das cidades e coopera com o equilíbrio ambiental.

Desde o surgimento da proteção de paisagem até bem pouco tempo, a paisagem considerada digna de proteção era a natural ou do campo, a histórica e a pictural, pois estas eram vistas como escassas. Enquanto isso, os outros elementos poderiam ser modificados indiscriminadamente, gerando um sem número de cidades, as quais cresciam vertiginosamente e se desvinculavam de suas raízes histórico-culturais, onde viviam cidadãos individualistas. Começou-se a perceber, então, que apesar da grande quantidade de cidades e do tamanho delas, revelavam também possuir uma simbologia única para as sociedades que nela viviam, simbologia essa que estava se perdendo. Essa perda gerou uma

série de problemas sociais, como a não vivência no espaço habitado, a perda da noção de coletivo e a perda do vínculo com os antepassados. Já se sabe há muito tempo que um povo sem história não evolui, pois recorre nos erros que já deveriam ter sido ultrapassados.

Com isso, observou-se que, com a rápida modernização, as cidades perdiam cada dia mais elementos paisagísticos e se transformavam abruptamente, o que geraria uma sociedade também cada vez mais perdida e destruidora de seu próprio habitat. Esses fatores conduziriam a uma perda da identidade e vínculos entre os cidadãos, o que fatalmente conduziria a uma deterioração da qualidade de vida, segundo Prieur (2006, p. 102) "Le paysage fait partie des éléments familiers de la vie quotidienne de chacun et contribue a son sentiment d'appartenance à un lieu et à une communauté d'habitants, Il contribue de ce fait à l'équilibre mental e psychique des individus [...]35. As cidades, portanto,

perdem suas peculiaridades, o que se repercute nas pessoas que ali habitam, e no modo como elas se relacionam com o seu entorno. Conforme MARCHESAN (2008, p. 35), “Essa involução paisagística acaba repercutindo na formação da personalidade dos habitantes que, por sua vez, saem em busca de uma identidade, muitas vezes criando linguagens particulares como as expressas pelos pichadores nas metrópoles do país”.

A paisagem garante também a possibilidade de sentir-se bem onde se habita, conduzindo ao prazer de viver em um local, pois há diferença entre habitar e viver em um espaço. No ato de habitar não há preocupação em garantir a qualidade de vida, pois o território habitado é apenas algo funcional, sem vínculo emocional, enquanto viver reflete uma ligação forte e duradoura dos habitantes com o espaço em que pretendem criar suas próximas gerações e preservar o que as gerações passadas deixaram, ou seja, existe o vínculo emocional. A experiência paisagística é, antes de tudo, um processo de mediação social e cultural e a paisagem revela, antes de tudo, a sensibilidade, a natureza subjetiva, enquanto o meio ambiente se constitui de fatos objetivos. (MARCONDES, 2005)

A existência dos vazios nas cidades tem papel importante, pois são espaços de convivência social e também de convivência dos habitantes com a natureza, tornando mais suportável a vida moderna. O vazio da paisagem é um

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A paisagem faz parte dos elementos familiares na vida cotidiana de cada pessoa e contribui para o seu sentimento de pertencimento a um local e a uma comunidade. Ela contribui dessa forma para o equilíbrio mental e psíquico dos indivíduos (...) (tradução nossa).

retorno de contato com a natureza e a identidade histórica de uma sociedade, garantindo a possibilidade de reconhecer-se dentro da coletividade, fornecendo ainda um elo com o passado que faz o indivíduo se identificar como membro de um todo. Ou seja, a paisagem é mediação entre os indivíduos e o mundo em que vivem, garantindo reconhecimento de pertencimento a uma sociedade, o que conduz à interação social.

Com todas essas reflexões, demonstra-se a importância da paisagem, que por fim ganhou seu reconhecimento social, mesmo por parte de indivíduos que não tiveram uma formação para enxergá-la.

A paisagem passou a ser protegida e considerada nos planos de organizações territoriais como elemento importante para o bem estar e a qualidade de vida dos cidadãos. Uma vez que, na atual conjuntura da sociedade preocupada com os direitos humanos, a proteção à vida já é considerada básica e indiscutível, busca-se garantir que essa proteção não seja apenas o direito de não ser morto, como era visto quando de sua criação no estado liberal. Hoje já se está além, pois, no atual Estado Democrático de Direito, tem se preocupado com a vida, com a dignidade e a qualidade. A degradação da paisagem passa a ferir o direito, não apenas à cultura, mas também esse direito de qualidade de vida, fazendo surgir com isso o conflito, fator que leva à interferência do Direito na sociedade.

O direito à paisagem surge como garantidor da qualidade de vida dos indivíduos e passa a figurar em várias leis. Importante lembrar que a proteção da paisagem pelo Direito já existia há algum tempo, mas, com essa configuração, ele é recente – fim do século XX.

Essa visão tira da paisagem a lógica de proteção devido à estética do belo, passando a ser protegida porque é importante e vinculada à sociedade, não sendo necessário saber se ela é bela ou grandiosa, feia ou comum aos olhos de outros. Sua proteção será garantida devido a sua importância social. Para Pons (2004, p. 315):

Le paysage est désormais reconnu indépendamment de sa valeur exceptionnelle puisque toutes les formes de paysages conditionnent la qualité du cadre de vie des citoyens et méritent d’être prises en compte dans les politiques paysagères. De nombreuses zones rurales et périurbaines notamment, connaissent des transformations profondes et

doivent faire l’objet d’une plus grande attention de la part des autorités et du public.36

Esses novos fatores trazidos à análise levam à criação de vários tipos de paisagem. Dentre eles, um recente, que tem ganhado mais atenção, é a paisagem ordinária. Esta vem sendo valorada cada vez mais socialmente. A paisagem ordinária pode não ser monumental ou mesmo bela, mas tem uma representatividade grande para a sociedade, que quer protegê-la, pois carrega parte de sua identidade cultural. Segundo Nogueira (2000, p. 192):

Apesar de admitir que seja inevitável o processo de integração das comunidades locais em uma estrutura social e econômica mais ampla, recomenda que sejam asseguradas as necessidades básicas desses povos; entre elas o direito de preservar sua identidade cultural.

Preservar a identidade cultural, entretanto, vai além de proteger os objetos criados por determinada cultura e garantir sua permanência através dos tempos, sendo necessário também asseverar que a mobilidade seja protegida. A sociedade muda, sua perspectiva de mundo muda, por isso, engessá-la, proibindo a modificação, é separá-la de sua realidade. Durante muito tempo acreditou-se que a paisagem era imóvel e assim deveria permanecer para garantia de sua preservação, mas hoje já se compreende que isso não é real. Quando se imobiliza uma paisagem, na verdade se impede que ela acompanhe a modificação social, o que pode desacreditá-la como importante para aquela sociedade, pois ela pode deixar de ter sentido e, por agredir a economia ou outro fato que aquela sociedade considera importante, perder esse aval de proteção.

Em algumas sociedades, a situação pode ser mais estranha, pois além de proteger, o estado reconstrói a paisagem para representá-la como ela era, gerando um estranhamento. Com isso, a paisagem pode perder sua representatividade e tornar-se um impedimento à adaptação social ao mundo vivente. Deve ser lembrado que à paisagem é “atribuído o status de testemunhos históricos, veículos de transmissão cultural” (ROSSETTO; BRASIL JUNIOR, 2004, p. 10). Isso não significa, por outro lado, a total destruição do passado para reafirmar o presente, pois a existência apenas do presente não é real. É ilusório

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A paisagem passa a ser reconhecida independentemente de seu valor excepcional, já que todas as formas de paisagens condicionam a qualidade da cadre de vie (quadro da vida, modo de vida) dos cidadãos e merecem ser levadas em conta nas políticas paisagísticas. Várias zonas rurais e periurbanas especialmente sofrem transformações profundas e devem ser o objeto de uma maior atenção das autoridades e do público.

achar que o ser humano é fruto apenas da sociedade em que vive e que o passado não se reflete nele e em onde ele vive.

As paisagens são históricas, resultam das ações das pessoas sob o ambiente ao longo do tempo e, como ocorrem em determinadas áreas, apresentam uma dimensão espacial. A paisagem é portadora de significados, expressando os valores, as crenças, os mitos e as utopias dos seres que a habitam, tendo, portanto, uma dimensão cultural.

Em sua tripla significação, a paisagem é caracterizada pela forma de percepção do território em que vive uma comunidade; é testemunha das relações sociais do passado e do presente entre os indivíduos e seu meio; é fator que leva à proteção das especificações locais, à formação da sensibilidade, a práticas, a conhecimento e tradições de uma determinada sociedade. Por isso, justifica-se a proteção da paisagem como interesse social, valorizado pelas comunidades, administradores e normas jurídicas. Para valorar, é preciso compreender a relação que se tem com aquele ambiente, levando à configuração da sensibilização e para isso é necessário educação. Assim, a educação é o primeiro ponto que leva à valorização da paisagem e o segundo ponto é o valor dado a essa.

A educação é um ponto muito significante para criar ou despertar a consciência sobre fatos, atos ou ideias importantes que requerem a atenção, preocupação e defesa da sociedade. É com a educação que se dá a formação das opiniões sobre as discussões envolvendo os interesses interpessoais. Educar é pôr fim ao vandalismo humano e à propensão de destruir, à barbárie natural. Logo, é como colocar limites de moral social.

Efetiva-se a educação, inicialmente, através de políticas públicas governamentais, que formam na sociedade um posicionamento critico (e não de imposição de ideias, como vários governantes fazem crer), que insere aquele tema em sua vida, incluindo preocupações que são repassadas gerações após gerações e que se estabelecem como elemento cultural. Muitas vezes, como pudemos perceber no trabalho de campo realizado, os cidadãos já têm o sentimento em relação a paisagem, mas não têm a lapidação suficiente para ter posicionamentos firmes sobre o tema. Foi possível perceber que vários cidadãos compreendiam o que era a paisagem, muitas vezes até sua função, mas não conseguiam entender seu papel na criação e proteção desta. É como ocorre,

segundo a teoria de Vygotsky, quando as crianças têm um sentimento sobre determinado objeto, mas não conseguem compreender o que efetivamente é e necessitam de um pai para levar à compreensão inicial.

Essa é a importância de inserir o cidadão comum na determinação do que seja paisagem a ser protegida em sua região, pois os cientistas formam tais paisagens, mas a população fica alheia ao processo, não compreendendo as imposições estabelecidas para a proteção dela, ou como as atitudes e gestos comuns interferem na paisagem. Em São Cristovão, uma das cidades do trabalho de campo, isso ficou muito claro, quando os cidadãos se referiam ao IPHAN como “o patrimônio”, e se percebia, pela forma de falar, o distanciamento que aquele órgão tinha da população comum.

Acredita-se que isso tem um pouco a ver com a lógica inicial de criação, de maneira de se enxergar a paisagem. Segundo Rodríguez (2007), até recentemente apenas as elites cultas, no ocidente, apreciavam a paisagem, orientando-se a lugares sublimes e pitorescos e experimentando sentimentos estéticos pela leitura e descrições literárias de lugares, ou ouvindo certas músicas, o que hoje forma a chamada paisagem sonora.

Educar para enxergar a paisagem não é mais privilégio das elites, por se haver finalmente compreendido que a paisagem tem uma função maior, que se liga a todos os cidadãos. Educar para ver a paisagem significa educar para estar apto a receber a transmissão cultural histórica de uma comunidade, pois ela é o reflexo da história da construção identitária dessa sociedade. Logo, educar o olhar sobre a paisagem é possibilitar a criação e análise de um instrumento de educação histórica, de memória e identidade. Manuel (2001, p. 188) corrobora essa ideia, ao defender ”la transmisión de la experiencia es el objetivo más importante de nuestra época, el paisaje es uno de los lugares de la transmisión. La enseñanza y la comunicación operan una transmisión directa; el paisaje indirecta. El paisaje es el lugar de lectura del sentido de la história” 37.

A educação provoca o engajamento dos cidadãos com a paisagem, que pode se refletir de três formas principais: primeiro protegendo a paisagem e seus elementos mais significativos, mas ao mesmo tempo garantindo sua mobilidade através da criação de novas e melhores paisagens, quando se vê

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A transmissão da experiência é o objetivo mais importante de nossa época, a paisagem é um dos lugares dessa transmissão. O ensino e a comunicação operam uma transmissão direta; a paisagem, indireta. A paisagem é um lugar de leitura da história (tradução nossa).

necessário, que seria a segunda forma; e, por fim, participando, exigindo políticas públicas de planejamento da evolução e proteção da paisagem. É este educar que leva à valorização da paisagem.

Quem sabe perceber uma paisagem consegue entender seu valor, perceber a importância dela em sua vida, criar um vínculo afetivo e conseqüentemente defender sua perpetuação. Para que isso ocorra, o indivíduo necessita estar de bem com a vida, possuir uma educação que lhe permita meditar sobre sua existência e seu entorno e precisa de uma atitude cultural e psicológica equilibrada numa sociedade de justiça social (NUNES, 2005).

A perda da paisagem produz impacto social, emocional e econômico em uma sociedade, portanto deve ser valorada. O valor é um termo com raiz nas ciências econômicas, e se caracteriza pela escassez, tendo algo valor apenas quando é considerado único, escasso ou se encontra ameaçado de assim se tornar.

En se modifiant, les paysages expriment l’évolution de notre mode de vie. Ils reflètent notre culture et montrent l’utilisation que nous faisons de notre héritage naturel et culturel. Ce qui est menacé devient précieux et nécessite des mesures appropriées de protection et de gestion. Il ne suffit plus de protéger quelques monuments ou sites38 (ANTHROP, 2008,

p. 4)

A paisagem não está em todo lugar; ela tem uma simbologia única para o grupo social e por isso é valorizada, devendo ser preservada e respeitada como tal.

A paisagem de qualidade deve atender a dois requisitos básicos: estética e funcionalidade. Ambos valores e, enquanto tais, desejados pelo ser humano. O valor é da essência humana. Assim como o conhecer e o querer. Todo o querer pressupõe um valor. Só queremos aquilo que nos parece valioso e digno de ser desejado. (MARCHESAN, 2008, p. 25)

A paisagem, além de ser um bem a se proteger por suas qualidades ambientais, simbólicas, sentimentais e históricas, tem trazido muito lucro para os locais onde elas se encontram. Esse lucro pode advir tanto da especulação imobiliária consciente (ou não) como do turismo.

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Ao se modificar, as paisagens exprimem a evolução do nosso modo de vida. Elas refletem nossa cultura e demonstram o uso que nós fazemos de nossa herança natural e cultural. O que está ameaçado se torna valioso e necessita de medidas apropriadas de proteção e de gestão. Não basta proteger alguns monumentos ou locais (tradução nossa).

La mise em valeur d’un pays s’appuie, pour partie, sur l’inventaire et les projets d’utilisation touristique des ressources locales. Actuellement, Le paysage s’affirme de plus en plus comme réservoir de richesses qui offre la possibilité de proposer de nouvelles formes de tourisme, garantes de la quailité et de la pérennité du patrimoine paysager.39 (BERINGUIER;

LAQUES, 1998, p. 229)

Para valorar a paisagem é necessário compreender como fazê-lo. O estudo da valoração da paisagem é ainda hoje incipiente, mas vem crescendo muito, especialmente nos EUA.

O turismo é a primeira forma de se dar valor econômico à paisagem. Essa atividade vem crescendo vertiginosamente desde o século XVIII e principalmente no último século pelo aumento das facilidades para viajar. Tal crescimento leva à conscientização da necessidade de proteção do patrimônio pela comunidade e governos locais e à busca de novos monumentos (naturais ou artificiais) para incrementar o turismo e tornar toda uma região, e não apenas um ponto específico, reconhecidamente turístico. A busca e a criação surgem, inicialmente, a partir de uma valoração do que deve ser protegido.

O mesmo se passa com a incrementação imobiliária de regiões de entorno dos centros urbanos. A partir da década de 70, nos EUA e Europa e da década de 80, no Brasil, os habitantes vêm buscando sair dos grandes centros barulhentos, cinzentos e poluídos, à procura de um entorno com um pouco mais de qualidade de vida: natureza, ar mais puro, tranquilidade, bela paisagem. Surge daí a cultura dos subúrbios, hoje chamados de periurbanos.

Inicialmente, esses subúrbios eram ocupados por pessoas sem condições de adquirir um imóvel no centro das cidades. Hoje, as classes média e alta, buscando tranquilidade, vêm esvaziando os hipercentros urbanos.

De fato, como nos indica Donadieu e Dalla Santa (1998), a troca de residência é uma escolha entre o fácil e rápido acesso aos serviços públicos e ao trabalho e a tranqüilidade da natureza e paisagens naturais ou rurais, com espaços mais tranqüilos para recreação, ou seja, preservação do modo de vida (cadre de vie).

Para o surgimento dessas novas regiões, faz-se necessário analisá-las e valorá-las de forma a incentivar esse desenvolvimento, mas, buscando, ao

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A valorização de um pays se apóia em parte sobre o inventário e os projetos de utilização turísticos dos recursos locais. Atualmente, a paisagem se afirma cada vez mais como uma reserva de riquezas que oferece a possibilidade de propor novas formas de turismo, garantia da qualidade e perenidade do patrimônio paisagístico (tradução nossa).

mesmo tempo, a proteção do meio ambiente e da paisagem. Para realizá-lo, é necessário utilizar instrumentos técnicos e, especialmente, econômicos.

No documento Conceito jurídico de paisagem (páginas 82-101)