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A fase Pré-paisagística no Ocidente (Pré-História, Idade Antiga e

No documento Conceito jurídico de paisagem (páginas 35-50)

Primeiro ponto importante a ser levantado é em relação ao que é o Ocidente. Quando se busca identificar o início do processo de construção e consolidação de civilizações pré-paisagísticas, a referência centraliza-se na Europa e locais de expansão dos impérios nela sediados e conhecidos, ou seja, o mundo conhecido no período da Pré-história à Idade Média. Nessa fase, o termo Ocidente não se aplica às Américas e África, porque não há informações arqueológicas ou documentos suficientes para analisar a percepção da paisagem nesses continentes e assim viabilizar a discussão da sua importância para as comunidades locais dessa época.

Sabe-se que, segundo a classificação de Berque (1995), as sociedades ocidentais não são consideradas paisagísticas até o período do Renascimento, pois falta um ou vários dos elementos imprescindíveis para que uma sociedade possa ser intitulada como paisagística.

Os estudos sobre a pré-história são ainda insuficientes para determinar realmente como viviam nossos ancestrais e, especialmente, o comportamento do planeta nesse período histórico. O que se sabe até o momento é que o efeito dos nossos ancestrais no meio ambiente global foi insignificante, mas existem teorias que afirmam haverem deixado marcas no ambiente local em que viviam. É o caso, por exemplo, da Mesopotâmia, que, segundo alguns estudiosos, era um vale verde e fértil e se tornou um deserto devido ao grande impacto da presença humana na região12. Apesar das conjecturas, nada ainda foi comprovado.

O ser humano surge, segundo as teorias mais modernas, no último segundo da criação do mundo, no fim da Era Glacial, na África, a partir de um ancestral comum com os macacos, que teria se desenvolvido de forma paralela a esta espécie de mamíferos13. A maior das evoluções da espécie hominídea teria

ocorrido quando esse ancestral comum desceu das árvores e tirou as mãos do

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Essa teoria da influência humana no Oriente e na África foi adotada pelos pensadores brasileiros do Século XVIII. Entre eles, o mais notável foi José Bonifácio de Andrada (PÁDUA, 2002).

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Não existem, entretanto, provas da existência dessa espécie hominídea, por isso chamada de elo perdido. A teoria darwiniana foi criticada desde o seu surgimento, alegando seus opositores que, se fosse assim conforme sugere a teoria da evolução haveria macacos virando homens até hoje.

solo. Segundo Engels (1976, p. 25), “O homem conseguiu imprimir sua marca sobre a natureza e isso só foi possível por causa da mão. Mesmo a máquina a vapor precisa da mão para manejá-la”.

A transformação do Homem passou por vários estágios e vários locais. Nossa relação com o entorno em cada estágio muda, mas as primeiras experiências de domesticação de outros animais, e de espécies vegetais através da agricultura, ocorrem há cerca de 10 mil anos, iniciando-se primeiramente no Oriente Médio. Segundo estudos, a vila mais antiga do mundo data de 9.500 anos a.C., na Jordânia, local privilegiado, pois ficava à margem do mediterrâneo, próxima a uma floresta farta em legumes e outros vegetais em estado selvagem, e da rota migratória de alguns animais, tipo a gazela.

Nesse período de evolução da pré-história aos dias de hoje, o ser humano passa pela fase de nômade, como caçador e coletor, à fase de sedentário, quando inicia suas atividades agropastoris, vindo somente depois a consolidação de seu sedentarismo com a urbanização e, por último, a era da tecnologia moderna. As modificações empreendidas pelos seres humanos na Terra têm provocado mudanças tão profundas que já se fala em uma era geológica criada por ele, o Antropoceno.

Até a fase do sedentarismo o ser humano era como os outros animais, caçadores da natureza. Mas uma invenção crucial vai mudar essa situação: a descoberta do fogo e seu domínio, porque possibilitam grandes modificações na natureza e de forma rápida. Essa conquista espalhou a marca inconfundível do ser humano por todo o planeta, diminuindo sua submissão à natureza, permitindo ao homem se aquecer nos tempos frios, cozinhar e criar instrumentos que facilitam a caça de alimentos, limpar a área para ele viver e afastar os outros animais.14 Como diz Sérgio Rodrigues (1989, p. 60), “nosso mundo começa na

borda de uma fogueira”.

O começo da fase sedentária, em oposição da nômade, ainda é uma incógnita, mas a fixação em aldeias facilitou ao ser humano a defesa, abrigo e alimentação segura e regular, permitindo inusitado desenvolvimento populacional. As primeiras populações a se fixarem e desenvolverem a agricultura de que se tem conhecimento foram as do Egito, Norte da África e Ásia Central.

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O fogo exercia um fascínio sobre as comunidades e dominá-lo para eles é brincar um pouco de Deus, como pode ser visto ainda hoje, em comunidades indígenas aqui no Brasil, que gostam de brincar com fogo e queimar coisas.

Num período já bem desenvolvido do sedentarismo, o homem começa a derrubar árvores para serem utilizadas como combustível e material de construção. Assim começa a formação de comunidades, o surgimento das primeiras cidades, o que facilitava as atividades essenciais de defesa, alimentação, dentre outras. A partir disso, surgem os primeiros impérios da Idade Antiga.

Neste período pré-histórico, a relação do ser humano com a natureza é de submissão, medo e louvor, atitudes e emoções que geraram várias narrativas míticas. Os homens pensavam que a natureza se importava com eles. E o que não podiam explicar era considerado sobrenatural, por isso eles endeusavam a natureza, criando uma cadeia de deuses aos quais eles tinham que se sujeitar, essência das religiões primitivas. Esse processo propiciou uma série de narrativas míticas passadas de geração a geração de forma oral e posteriormente escrita. Essa sujeição é feita pelo mito, que determinava e sancionava as normas morais e éticas do grupo social15. Em homenagem aos Deuses, inicia-se a construção de

templos que vão aumentando em suntuosidade à medida que estes grupos se tornam mais poderosos e a crença e peregrinação a eles aumenta.

Kelsen (1945, p. 16) apresenta a opinião dos etnólogos sobre as sociedades primitivas, salientando que “o homem primitivo, à diferença do civilizado, não se considera a si mesmo o Senhor da Criação, superior aos animais, plantas e objetos inanimados, senão igual, quando não, às vezes, inferior a eles, e que os trata com todo respeito e medo”. Assim vemos que, na pré- história, as comunidades viviam em comunhão com o entorno, que o respeitavam e endeusavam, mas principalmente temiam.

Com o tempo e melhor organização social, surgem as primeiras civilizações, dentre as quais a mais importante para o Ocidente é a egípcia. Apesar de sua linguagem complexa, contribuiu para a disseminação do conhecimento por apresentar os primeiros escritos em papiro, a primeira forma conhecida de papel no Ocidente, o que facilitava guardar e carregar os escritos, ao contrário dos antigos blocos de pedra onde eram esculpidos os primeiros textos.

A dependência da natureza em que os seres humanos se encontravam era muito grande, já que estavam sujeitos aos desígnios do rio Nilo para

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sobreviver. Os Deuses ainda eram ligados aos fenômenos naturais, os quais eles não conseguiam explicar e de que tanto dependiam para viver. O regime era absolutista, com convergência do poder religioso e estatal nas mãos do faraó.

No Egito Antigo, o belo era considerado importante, tanto que, no período da IV dinastia, foram criados jardins ornados para deleite do faraó, mas nada, além desse elemento surge, não havendo escritos sobre a paisagem ou termos específicos para designá-la, não cumprindo os requisitos para ser denominada uma sociedade paisagística.

Em termos de importância, temos, em seguida, a predominância da civilização grega. Base filosófica da civilização moderna, a Grécia também não tinha um termo para designar paisagem, centrando-se as demonstrações artísticas deste período histórico sua atenção sobre o ser humano e seus feitos. Essa cultura se construiu a partir de tribos, que adoravam seus antepassados como deuses, revelando uma visão antropomórfica dos fenômenos e das realidades naturais. Personificavam os elementos do mundo natural e projetavam sobre eles os temores e as aspirações humanas, criando posteriormente deuses que, apesar de superiores, demonstravam possuir fraquezas humanas e se manifestavam na natureza de forma a punir ou ajudar os seres humanos. A evolução de seu povo chegou a formar um grande império, que dominou todo o mediterrâneo.

A natureza como conceito filosófico foi analisada e estudada por vários filósofos gregos. A natureza exprimia a noção de cosmologia grega – composta pelas coisas, pelo céu, pelo ser humano, sua sociedade e os deuses – e a maior preocupação era compreender o que eram os componentes do mundo e suas origens. Os estudos, feitos com propósito subjetivos, iniciaram-se em torno do século VII a.C., por estudiosos que receberam a denominação de filósofos. Com a filosofia, os homens começaram a se ver como capazes de intervir e da natureza extrair modelos éticos e morais para a sociedade, pois pensavam que o mundo exterior era dotado de existência independente da presença e interferência humana e estava impregnado de uma ordem. O belo estético também foi tratado em diversas teorias filosóficas, como o epicurismo e a escola platônica, sem, entretanto, chegar a um consenso sobre seu sentido.

O conhecimento filosófico que apresenta é impressionante, e é base de todo conhecimento ocidental. Muitas das ideias e instituições ali criadas

permanecem e influenciam todo o pensamento ainda hoje, apesar de grande parte das obras não terem chegado ao conhecimento dos dias atuais.

A relação homem-natureza nesse período ainda era de influência do meio na vida dos indivíduos, apresentando-se como fruto do destino, por isso indecifrável, nada podendo ser feito a não ser se submeter a ele, que era um desígnio dos Deuses. Isso não significa que os antigos não se importavam com o espaço, que foi estudado largamente, como pode ser visto em várias obras, devendo ser destacado especialmente Aristóteles, como estudioso do tema.

Em grego são usadas duas palavras para significar lugar: topografia (lugar real) e topotesia (lugar fictício), sendo, no entanto, empregadas sem importância ou representação subjetiva que dessem a conotação de paisagem, atribuindo importância apenas às relações sociais que se desenrolavam nesse espaço. Como exemplo, pode-se mencionar a atitude de Sócrates, que odiava caminhar na natureza, pois considerava perda de tempo, já que as relações pessoais, elemento que merecia ser estudado, se realizava na Ágora, como descreve Platão no Livro Apologia a Sócrates.

Outra importante civilização surgiu alguns séculos depois da Grécia, formando o Império Romano, que apresentava, no Lácio, o mesmo tipo de organização em tribos. Quanto à relação dos seres humanos com o entorno e a paisagem, os romanos não trouxeram nada de inovador ao que historicamente antecede a esse período. Embora também não dispusessem de um termo para definir paisagem, em Roma foram criados parques públicos com grandes construções arquitetônicas harmônicas, que isolavam, fora da cidade, a natureza, vista como hostil.

A formação da cidade não tinha função embelezadora, mas utilitarista e de representação de poder, apesar de terem sido construídos alguns jardins embelezadores incrustados, para deleite das classes nobres. Não houve pinturas cujo foco estivesse centrado sobre a paisagem, apenas algumas literaturas pastorais que falavam dos belos locais. Destaque deve ser dado à arquitetura, cujos preceitos foram desenvolvidos por Vitrúvio e ainda hoje são estudados.

Nas sociedades grega e romana, a paisagem aparecia como um pano de fundo, tanto na literatura como nos desenhos, e apenas quando essenciais para explicar as situações tratadas ou apresentadas, porque aparentemente “a

Natureza e o ser humano estavam sempre em oposição, pois, Natureza não importava para a arte” (MAXIMIANO, 2004, p. 84).

Em todos os casos, apenas as classes superiores eram agraciadas com o uso dos jardins e espaços artificialmente arborizados, que serviam para uso e prazer de imperadores e sacerdotes. Essa cultura se manteve na Idade Média onde reis, nobres e religiosos tinham acesso aos jardins enclausurados nos castelos e conventos e a população comum vivia vinculada à religião, num mundo à parte, buscando a sobrevivência e preocupados com o pos mortem.

Com a desagregação do império romano e as invasões bárbaras, a população sofre uma diminuição e um enclausuramento em regiões específicas, onde homens importantes, com suas propriedades protegidas, aceitam defender outras, em troca de favores servis, trabalho. Os 1.000 anos que compõem a Idade Média são um período de transição das artes, da sociedade e da economia, do feudalismo para a monarquia. O império da Idade Média é o da Igreja Católica16,

que busca a todo custo criar um novo império da religião cristã.

O papado tenta impor um imperador, Carlos Magno, mas já era impossível. Os senhores feudais mais fortes se organizam e começam a formar os estados nacionais, sendo Portugal e Espanha os primeiros a assim se configurarem. A expulsão dos árabes e mouros de Portugal e Espanha propiciou a concentração do poder nas mãos dos reis e a formação prematura desses estados nacionais, que puderam se preocupar com outros assuntos. A guerra contra os mouros e árabes, que ocupavam o mediterrâneo, interrompeu o comércio com as Índias, obrigando os portugueses a buscarem um caminho alternativo para o comércio. Mas encontrar um caminho para as Índias também se investiu de um cunho religioso, pois, segundo Junia Furtado (1999, p. 449), a “busca do eldorado e do paraíso se configurou na expansão pra o oriente, encontrar a rota oriental para as Índias, significava encontrar [também] o tesouro e o paraíso [cristão]”.

Nesse período, conhecer a natureza significava conhecer o Deus que a havia criado, sendo defendida a superioridade do ser humano frente aos outros seres, sobre os quais lhes teria sido dado poder de vida e de morte. Imperava a certeza de que a natureza sempre fora e seria como era, de que a Terra havia sido criada por Deus daquela forma e assim seria até o fim dos dias, com as

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mesmas espécies de animais e plantas, em contraste com a história da humanidade, que se desenvolve no tempo.

O pouco conhecimento disseminado era produzido pelas faculdades católicas, que ensinavam filosofia grega e os conhecimentos da época. O centro do conhecimento era Paris e de lá surge um professor de nome Abelardo, autor do primeiro Discurso sobre o método do pensamento ocidental, cuja influência levou os eruditos a pressionarem a Igreja a introduzir uma base filosófica que respaldasse a fé cristã.

O Cristianismo, através da Escolástica, trouxe Aristóteles para sua base filosófica, mas de forma interpretada, devido a sua incongruência com a fé cristã. São Tomás de Aquino praticamente criou uma nova filosofia aristotélica, mais dogmática, ao defender que os seres não existem por si, tendo sido criados, postulando que Deus é o criador incriado. Introduziu a teoria da alma imortal, independente e destacada do corpo, afirmando que a alma não era um simples motor, como defendia Aristóteles, mas sim a reunião das características que formam a personalidade de cada um. Os escolásticos eram racionalistas e idealistas que desprezavam a evidência da observação e faziam uso da retórica para aniquilar os ideais humanos, tornando-os propósitos imediatistas cujo intento era o de levar os homens a salvarem-se no juízo final. Assim, eles exaltavam a natureza abstrata, ignorando o concreto, preocupando-se mais com a vida após a morte.

Se na Idade Média conhecer a natureza significava, no fundo, conhecer a Deus, depois da Revolução Científica, nos séculos XVI e XVII, os homens estavam em luta permanente com a natureza, que lhes provocava imagens pavorosas. As montanhas, as florestas, a natureza selvagem, seus habitantes eram vistos como perigosos e bárbaros. Faziam-se leis para combater os pássaros predadores, os lobos e todos os animais que competiam com os homens pelos recursos da Terra.

Até o século XVIII, o campo era sinônimo de ignorância e rusticidade, enquanto a cidade era o lugar da libertinagem e da corrupção. Terras não cultivadas significavam desperdício e presença de homens incultos; as ervas não cultivadas eram daninhas e as flores silvestres “contaminavam” os jardins. Uma paisagem habitada, cultivada, domesticada, ao contrário, era tida como bonita. As áreas de cultivo possuíam formas regulares e geométricas, seja para aproveitar o

espaço, seja para mostrar o controle do homem sobre a natureza. Nesta ordem criada estava a essência da beleza e mantinha-se a separação entre cultura e natureza.

Na Idade Média, paisagens apareciam nos desenhos e pinturas apenas para compor uma cena, ou dar a entender a situação do ser humano desenhado, não lhes sendo atribuída importância para embelezar. Em alguns desenhos, a paisagem aparece menor que os indivíduos retratados, demonstrando a importância dos indivíduos nas pinturas, e como a paisagem só aparecia porque se necessitava de um pano de fundo, como nas figuras abaixo. (figuras 3 e 4)

Já em fins da Idade Média, ocorrerá o grande evento que modificará todo o futuro do mundo. São as descobertas ocasionadas pelas grandes navegações. Ao chegarem ao Novo Mundo, os colonizadores encontraram uma terra com mais de dez mil anos de ocupação humana pelos ameríndios, que já haviam transformado de maneira incomensurável a paisagem naquele continente, considerado novo pelos europeus.

Os ameríndios foram provavelmente fruto de migração de tribos nômades, que para outras terras viajaram atrás de rebanhos de animais há

Figura 4 - Gaston Phébus, Le Livre de Chasse, folio 68. Disponível em

<http://queridobestiario.blogspot.com/2009_04_01_archive.ht ml>

Figura 5 - HORAS DO DUQUE DE BERRY, dos irmãos Limbourg. (1411-1416). Disponível em

aproximadamente 12.000 anos e lá permaneceram isolados do resto do mundo até o encontro com os colonizadores no século XV. “Durante o período das fases iniciais da era cristã na Europa, os ameríndios criaram governos teocráticos, calendários e matemática sofisticados e uma arquitetura e cultura própria. Isso prova a unidade da natureza humana” (DUBOS, 1974, p. 47).

A população ameríndia se caracterizava por uma ligação total com a natureza, acreditando que os deuses e seus antepassados se expressavam por meio dela.

Antigas tribos americanas antes de realizarem uma ação avaliavam seus efeitos em 7 gerações: a atual, a de seus filhos, netos e bisnetos e as de seus pais, avós e bisavós. Dessa reflexão consciente sobre suas conseqüências, decidiam se a ação deveria ser praticada. (LIMA, 1998, p. 141)

O enfrentamento de duas culturas tão distintas levou ao “encobrimento” de uma, que seguramente era a que estava menos preparada para uma guerra. Os ameríndios foram dizimados pelas lutas, pelas doenças que contraíram dos colonizadores e pela escravidão que lhes foi imposta, além de terem também sua cultura dizimada pela e para a imposição da cultura européia, englobando, dentre outros, aspectos relacionados à religião, arquitetura, leis e filosofia.

Pelo que chegou até nós, através das ruínas de Macchu Picchu, e monumentos outros, como as pirâmides dos astecas no México, sabe-se que as cidades eram ordenadas em torno do centro de poder religioso, que ficava em um local mais alto e central, possivelmente por questões de segurança. Nada sobre paisagem, em termos de literatura, pintura ou linguagem, foi encontrado na história dos povos ameríndios.

Todos os fatores descritos levaram ao surgimento de uma nova modificação cultural no Ocidente, que recebeu o nome de Renascimento, berço da sociedade paisagística atual.

Apesar de esta época histórica ser conhecida por Renascimento, ela é muito mais uma época de transição. Entre suas principais características se destacam as revoluções protestantes, que estavam a pleno vapor, a formação dos Estados e as modificações da cultura. Acot (1990, p. 131) sintetiza esse período, afirmando que “Formulando-se matematicamente, o universo se laiciza, o céu esvazia-se e os encantamentos se esvanecem, é desumanização da natureza, e isolamento do homem, rompem uma aliança multimilenar”.

É nesse período que começa a glorificação do ser humano, que só vai ser coroada com a Revolução Científica. O ser humano já está no ápice da cadeia da vida e de uma natureza criada por Deus para lhe servir, agora só lhe falta dominar o conhecimento desta. Mas o ser humano ainda é parte da natureza e ela é o elo que o liga a sua origem. Essa glorificação faz com que a criação do ser humano e sua dominação sobre a natureza sejam motivos de orgulho, logo, a cidade, habitat criado pelo homem com o domínio sobre o natural, passa a ser

No documento Conceito jurídico de paisagem (páginas 35-50)