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A formação do patrimônio industrial em Pelotas

No documento Anais da Semana dos Museus da UFPel: 2019 (páginas 43-45)

A cidade de Pelotas surge a partir de 1780 com o início da atividade charqueado- ra as margens do Arroio Pelotas. A localização foi estratégica para o desenvolvimento dessa atividade devido à abundância de gado na região da campanha e pelos diver- sos cursos hídricos que conformaram um centro de convergência de rotas comerciais. O crescimento populacional e econômico promovido por essa atividade na região de- sencadeou o surgimento de uma aristocracia local que aspirava pela construção de um espaço urbano para o desenvolvimento das relações socioculturais.

A urbanização inicia-se a partir de uma capela, seguindo a tradição das cida- des luso-americanas (GUTIERRES, 2004, p. 114-116), e seguindo também, o traçado urbano defi nido na planta de 1815, conhecido como o primeiro loteamento. Nesta época, Pelotas ainda não era uma cidade, e, portanto, esse primeiro loteamento – da freguesia de São Francisco de Paula – pertencia à cidade de Rio Grande.

Para Gutierrez (2004), em virtude da grande demanda comercial do charque, fez-se necessária a ampliação dos meios de transporte que atendessem às expor- tações e importações de mercadorias. Em 1832 iniciam as atividades de navegação fl uvial localizadas no Porto, com o transporte de carga e de passageiros entre São Francisco de Paula e a cidade de Rio Grande. No ano de 1830 a freguesia foi elevada à Vila, e em 1835 à cidade.

O aumento das atividades no Porto acabou direcionando o crescimento urbano em sua direção. A planta do segundo loteamento é datada de 1835. É no segundo loteamento que se construíram os principais prédios de estilo arquitetônico eclético, como teatro, clubes comerciais, bancos, biblioteca pública, residências particulares, incluindo as dos barões do charque, os quais eram representativos da aristocracia, e dos ideais socioeconômicos e culturais da época.

Em 1884 foi inaugurada a estrada de ferro ligando Rio Grande à Bagé, passando por Pelotas, e possibilitando assim a circulação de mercadorias desde o porto maríti- mo até a região da campanha gaúcha (PAULITCSH, 2008). Mesmo com a facilidade de escoamento da produção através dessas duas redes de transportes, a atividade charqueadora não conseguiu se manter como a principal atividade econômica na vi- rada do século XIX para o século XX. A abolição da escravatura, em 1888, afetou diretamente essa atividade provocando uma crise, que se agravou com o coincidente período da imigração alemã para a região.

Conforme Pesavento (1985), a vinda dos imigrantes estrangeiros para o Brasil no século XIX é um movimento que se insere no amplo processo de expansão mun- dial do capitalismo, que por sua vez é uma consequência da revolução industrial. Os problemas oriundos da industrialização na Europa, como a expulsão do camponês da terra, destruição das pequenas produções artesanais, geração de mão de obra excedente e sua incapacidade de ser absorvida pela indústria, ocorrem na Alemanha e Itália tardiamente por causa de suas unifi cações e industrializações também tardias.

É com a vinda dos imigrantes, principalmente os alemães, e especifi camente os chamados de “burguês imigrante” (PESAVENTO, 1985, p. 32-37) que trouxeram con- sigo o capital e as novas tecnologias, que a industrialização se inicia em Pelotas. Al- gumas das indústrias mais expressivas fundadas por alemães na segunda metade do século XIX foram: F.C.Lang S.A., fundada em 20 de setembro de 1864, por Frederico Carlos Lang; Cervejaria Ritter, fundada em 1870, por Carlos Ritter; Cervejaria Sul Rio- -Grandense, fundada em 24 de setembro de 1889, por Leopoldo Haertel (FERREIRA, 2011). O trabalho de pesquisa desenvolvido por Ferreira (2011), intitulado Patrimônio Industrial Rural e Urbano na cidade de Pelotas, constitui num inventário com cerca de uma centena de remanescentes do patrimônio industrial da cidade.

O espaço localizado entre o Porto e a Estação Férrea foi favorável para a ins- talação de diversas indústrias, devido à proximidade com essas infraestruturas de transporte, o que acarretou na formação espontânea de uma zona industrial, que foi se consolidando até meados do século XX através da instalação de diversas fábricas, bem como a instalação de infraestruturas, equipamentos urbanos e demais edifícios que propiciaram o desenvolvimento de atividades sociais, como vilas operárias, clu- bes sociais, e escolas. Conforme Keller (Apud ESSINGER, 2009) a implementação de ações que ligassem o trabalhador à fábrica, através da dotação de um complexo aparato socioeconômico, cultural e político no entorno da fábrica, fazia parte de uma política de excelência e elevação no patamar das fábricas na época.

De acordo com Brito (2011), o processo de industrialização na cidade foi signi- fi cativo para o seu desenvolvimento econômico, social e histórico. Infl uenciou o cres- cimento populacional, confi gurou bairros, modifi cou o zoneamento urbano, desenvol- veu novos meios de transporte e circulação, modernizou o sistema de saneamento, e transformou a cidade num pólo econômico da metade sul do estado. O patrimônio arquitetônico e urbano construído neste período é representativo da ascendente bur- guesia industrial e comercial de Pelotas, e dos ideais nacionalistas e modernistas da época.

Devido a sucessivas crises econômicas vivenciadas ao longo do século XX, e com o início da globalização e da revolução técnico-científi co-informacinal presencia- das nas últimas décadas, diversas fábricas decretaram falência, foram abandonadas e entraram em um processo de degradação. Nos últimos anos, o perfi l econômico da cidade se consolida pelo comércio e prestação de serviços, em detrimento da indús- tria, e em relação à economia do estado, a produção industrial vem apresentando decréscimos desde o fi nal da década dos anos 90 do século XX. Diante dessa crise, a cidade vem tentando encontrar novas formas de solucionar as problemáticas espa- ciais e econômicas, atribuindo novos usos a esses antigos lugares de trabalho e de memória.

Os instrumentos legais e a atividade museológica na preservação do

No documento Anais da Semana dos Museus da UFPel: 2019 (páginas 43-45)