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Documentação museologia e pesquisa

No documento Anais da Semana dos Museus da UFPel: 2019 (páginas 73-77)

A documentação museológica representa um dos aspectos da gestão dos museus destinada ao tratamento da informação em todos os âmbitos, desde a entrada do objeto no museu até a ex- posição. Neste processo estão envolvidas tarefas direcionadas à coleta, armazenamento, tratamento, organização, dissemina- ção e recuperação da informação. Considerando os documen- tos como registro da atividade humana, a documentação serve como instrumento de comunicação e preservação da informa- ção no âmbito da memória social e da pesquisa científi ca (YAS- SUDA, 2009, p.22).

As ideias que conformam este artigo acadêmico, surgiram do trabalho de pre- enchimento das fi chas catalográfi cas dos objetos da Coleção Alcir Nei Bach. Não é

a pesquisa museológica que formula a fi cha de documentação, mas é a partir dos dados constantes nela que a pesquisa se orienta, tanto do seu ponto de vista técni- co (material, medidas, etc.) quanto da sua confi guração subjetiva. Isso quer dizer, é necessário se ter um olhar sobre os objetos e exercitá-lo, pensar a razão pela qual este objeto está passando pelo processo de musealização. Não é errado dizer que o processo de comunicação se dá a partir da leitura do objeto e da identifi cação de suas potencialidades. Esse questionamento, se iniciado a partir de processo analítico de documentação, aumenta a capacidade de extroversão.

Tabela 1: Reprodução do modelo da Ficha de Documentação do Museu do Doce

A) Nome da Instituição B) Número de Registro C) Outros Números: D) Nome do Objeto: E) Data/Época do Objeto: F) Legenda: G) Material/Técnica: H) Coleção: I) Histórico: J) Doador: K) Medidas: L) Referências no Acervo: M) Descrição: N) Autoria: O) Inscrição:

P) Estado de Conservação: ( ) Ótimo ( ) Bom) ( ) Ruim Q) Tratamento:

R) Circulação: S) Localização:

T) Responsável pelo Recebimento: U) Data do Recebimento: V) Observação: W) Preenchido por: X) Preenchido em: Y) Revisado por: Z) Revisado em:

Tradição gráfi ca

As mudanças na sociedade guiam ainda que de maneira involuntária, as mudan- ças nos museus. A instituição museológica que busca trabalhar com essas mudanças, demonstra o desejo de assegurar que a mesma siga sendo relevante no seu propósito principal.

Ou seja, para os museus é importante que a comunidade nas quais eles estejam inseridos valorize sua cultura; sabe-se, por exemplo, que muitas características culturais das comunidades estão se perdendo em meio ao avanço da globalização e, nes- se sentido, os museus tornam-se espaços de salvaguarda dos bens patrimoniais, como forma de incentivar a valorização e pre- servação cultural. Por outro lado, os profi ssionais de museus devem estar atentos às transformações sociais decorrentes dos avanços tecnológicos e da globalização, para que, assim, pos- sam identifi car as novas necessidades da sociedade da infor- mação/conhecimento, para atrair o público a esses espaços. É a interação entre indivíduo e a informação veiculada nos museus que move esses espaços e, por isso, é fundamental que se reco- nheçam as necessidades desse novo público da sociedade da informação/conhecimento, a fi m de se identifi car mecanismos tecnológicos e informacionais que possam ser utilizados para incentivar o processo comunicacional entre o público e o museu (PADILHA; CAFÉ; SILVA, 2014, p.74).

Um dos objetivos do artigo é mostrar como vendo sendo trabalhada a salvaguar- da desta coleção, portanto, cabe apontar novas outras prováveis pesquisas para esta Coleção. A arte publicitária, atua como suporte de memória e pode ter suas potencia- lidades reforçadas dentro do contexto museológico. Além disso, a sua capacidade de reprodutibilidade consiste em uma grande potencialidade em tempos de irreversível envolvimento tecnológico. As redes, no mundo moderno, se alimentam cada vez mais de imagens, o que faz com que patrimônio que está sendo construído hoje tenha ba- ses diferentes, e o já existente deve ser apresentado de maneiras diferentes.

Os museus constantemente são vistos como reservas de objetos, deslocados dos conceitos de pesquisa e educação, o que muitas vezes reside em um problema para que os mesmos ocupem seu lugar na sociedade. Uma das possíveis resoluções para isto seria, como sugere (SOFKA, 2009) a existência de uma cooperação sensí- vel por parte daqueles que desejam contribuir com a pesquisa avançada, orientada para campos específi cos e interdisciplinar. A presença de equipes multidisciplinares nos museus aumenta a sua capacidade de comunicação. Neste caso específi co dos rótulos, a partir de um trabalho de documentação museológica, surgiu outro de con- servação e restauro e poderá surgir mais outros ainda de semiótica ou iconografi a, por exemplo.

A abordagem semiótica nos leva a uma nova visão do museu não como instituição, como uma estrutura formalizada, mas como um meio, um instrumento, um sistema de comunicação, com uma estrutura dinâmica, cibernética, que tem uma parte ativa

no processo cultural; uma estrutura fl exível e mutante como a da Linguagem, que se apoia em um novo conceito do objeto ‘’museal’’. Sob essa ótica do sentido, os objetos inseridos no contexto museológico desempenham uma função signifi cativa, como signos da Linguagem museal: sua materialidade original e concreta serve como suporte de sentidos e remete-nos a ou- tros objetos, ausentes do nosso campo de visão mas presentes em nosso universo mental, como unidades culturais, como pala- vras de um texto cultural, expresso e refl etido no texto ‘’museal’’ (HORTA, 1994, p.10).

Figura 01 - Reprodução de rótulo da primeira indústria rural da região de Pelotas (1900). Fonte: Museu do Doce.

Figura 02 - Imagem de rótulo de conserva produzida em Pelotas na década de 1990. Fonte: Museu do Doce.

O doce apresentando-se como fato um fato social total que per- mite a compreensão do conjunto da sociedade e cultura locais, possui um valor cultural inestimável. Do ponto de vista dos sa- beres e fazeres, esse valor diferencia Pelotas de outras cidades, sendo um elemento central na composição da memória social e identidade cultural, motivo pelo qual podemos asseverar que ca- racteriza um patrimônio cultural merecedor de reconhecimento nacional (CERQUEIRA; FERREIRA, 2016, p. 2015).

Permitir que estes rótulos sejam pesquisados é estimular novas visões a res- peito do valor cultural da tradição doceira em Pelotas. Ademais, a responsabilidade no que tange a salvaguarda destas coleções aumentou a partir da outorga por parte do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que conferiu o certifi cado de reconhecimento do Conjunto Histórico de Pelotas e das Tradições Doceiras da Re- gião de Pelotas e Antiga Pelotas (Arroio do Padre, Capão do Leão, Morro Redondo, Turuçu) em 2018. Pelotas é a referência de uma região doceira que abarca uma mul- tiplicidade de saberes e identidades sob a forma de duas tradições: a de doces fi nos e a de doces coloniais. O doce desempenha um papel característico na composição da sociedade regional, sendo um elemento cultural que envolve a diversidade de grupos étnicos e sociais que a compõe, até os dias atuais. Deseja-se e espera-se que mais pesquisas sejam feitas a partir destes acervos que contemplam tantas identidades étnicas e saberes.

No documento Anais da Semana dos Museus da UFPel: 2019 (páginas 73-77)