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Análise estética e estudo iconográfi co

No documento Anais da Semana dos Museus da UFPel: 2019 (páginas 109-111)

A pintura tratada neste trabalho é uma reprodução, sendo a original uma pin- tura sobre pedra com moldura em parta repuxada (Figura 2). Apresenta uma pers- pectiva hierárquica, tendo a Virgem como ponto central e em maior dimensão do que os outros elementos. Maria se apresenta como fi gura feminina, coroada, em posição frontal com a cabeça em posição de três quartos direcionada para a esquerda. Veste hábito carmelita, túnica marrom, e escapulário da mesma cor (CUNHA, 1993) e um manto branco. O braço esquerdo está fl exionado em 90º e a mão segura um cetro, que, junto com a coroa é uma representação da realeza.

Figura 02 – Pintura original sobre pedra com moldura em prata repuxada. Fonte: Disponível em:

<https://www.facebook.com/sanmiguelitodepillaro/photos

/a.1505983419693203/1792353681056174/?type=3&theater>. Acesso em: 19/04/2019.

Carrega o Menino Jesus com braço esquerdo. Este veste uma túnica vermelha, com detalhes em branco. Carrega na mão esquerda o globo terrestre, como sua re- presentação do salvador e abençoa os fi éis com a mão direita.

A Santa está sobre uma peanha com aparência torneada e base quadrada. Sua representação remete a uma escultura de vulto, que se faz presente também em outras pinturas de origem do mesmo país, Equador, como a quitenha “Inmacula con Corona” e Inmacula Concepción con Simbolismos1 ambas do século XVII. As duas

obras citadas apresentam o mesmo tipo de perspectiva e composição que La Niña Maria de Jerusalén, sendo as três ladeadas com elementos que condizem com sua devoção de origem.

A iconografi a é mesma da Nossa Senhora do Carmo, imagem cultuada no po- voado de San Miguelito no século XVII, quando ainda era venerada no local como tal (SILVEIRA, 2018). Durante as guerras de independência do Equador, a imagem desempenha um papel importe na região, foi tida como protetora local, por exemplo, para evitar o recrutamento de jovens de família numerosa, sua celebração é nos dias 7 e 8 de setembro. Jeny Ibarra (2014. p. 26) narra que:

Enquanto estava na caverna de Quillán, Jose Robalino, de 36 anos, e seu fi lho, Manuel Robalino, encontraram a pedra, onde está a Virgem Maria. No tempo da milícia, ele e seu fi lho se es- conderam pela segunda vez na caverna [...] a pedra da Virgem estava no mesmo lugar onde a deixou virada para baixo. Depois disso, José, a levou a Píllaro, às autoridades eclesiásticas, deu parte ao padre Dr. Juan José Roca [...]. A pintura passou pelo sacerdote Benítez, quem a batizou com o nome de Señora de

Copabacana. Mas depois de um sonho, Don José Robalino, dis-

se ter tido uma visão, e que a Virgem insistia em ser chamada de La Niña Maria de Jerusalém (tradução nossa).

A Menina Maria está sobre um fundo azul, com um querubim de cada lado. Posi- ciona-se sobre, ao que parece, um altar margeado com arco de meia volta ornamen- tado com motivos fi tomorfos.

Os dois jarros presentes ao lado da base da Santa seguem a fi guração de um tratado do século XVIII, onde:

[...] o padre Dionisi dedicou todo um tratado à maneira pela qual se devia honrar a Virgem. Era preciso, como se faz ainda hoje no México, erguer um pequeno altar e “decorá-lo” da melhor for- ma possível, “dispondo ao redor, com arte, os candelabros e os vasos”. As fl ores consagradas eram o lírio-do-vale, o aleli e, sobretudo a fl or de pilriteiro, que, como o lírio, é tradicionalmente dedicado a Maria (BOYER, 2000. p. 98).

Ao lado direito, estão posicionados Santana, mãe de Maria. Figura feminina, sobre uma nuvem, de joelhos de túnica laranja, manto ocre e véu branco, segura uma vela com a mão direita. Abaixo se tem um querubim, que seguindo na vertical é segui- do por São Miguel Arcanjo, fi gura masculina alada, com veste azul, espada na mão di- reita e um escudo na esquerda, está, também, sobre uma nuvem. São Miguel Arcanjo aparece como um dos patronos de San Miguelito, juntamente com La Niña María de Jerusalén (TORRES, 2012). Finalizando este lado vemos mais dois querubins. Ainda se nota a presença de uma sutil vegetação em verde. Todas as fi guras estão voltadas para a fi gura central da Virgem.

À esquerda se tem São Joaquim, pai de Maria, um ancião sobre uma nuvem, túnica marrom e manto azul, com a mão direta segura uma vela e com a esquerda um bastão. Seguindo há um cordeiro. O cordeiro é o próprio Cristo Salvador, cujo sangue foi derramado para salvar os homens (EUSÉBIO, 2004). Do lado esquerdo há três querubins e descendente, Santo Isidro, uma fi gura masculina com vestes campesi- nas, segurando um bastão, acompanhado por um burro. A presença deste último se

dá por ser também um santo de grande representatividade em San Miguelito, que tem como principais atividades econômicas a agricultura e criação de gado, suas festivi- dades no povoado se celebra 15 de maio.

Conta a lenda que desde da Cruz do Calvário de San Miguelito até no que hoje se conhece como os sete bairros, existia uma quebrada com um chaquiñán como uma via de comunicação para os agricultores que transitavam com suas mulas de carga. No entanto, pelo perigo constante e necessidade fez com que os vizinhos abrissem uma estrada nesse trecho; pelo mês de abril de 1974 teve no lugar uma reunião contando com o apoio de várias pessoas, com difi culdades, mas com união coletiva conseguiram transforma a quebrada em uma estrada de secun- dária. Logo após esta reunião, no mesmo lugar os moradores organizaram a festa em honra a São Isidro (BELÉN, 2012 apud ROBALINO, 2014, tradução nossa).

Em geral a obra tem fi guras não eruditas, embora o pintor tenha se atentado à detalhes de formas tão pequenas como os presentes nos rostos e manto da Virgem. O fundo marrom da obra contribui para que o foco se dê nas formas em planos sub- jacentes e na parte central por serem construídas com cores claras. Na parte mais baixa tem uma inscrição “LA NIÑA MARIA DE JERUSALEN. Vn recuerdo de amistad de Leon Yereña a Ana Hernandes”.

No documento Anais da Semana dos Museus da UFPel: 2019 (páginas 109-111)