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Resultados e discussões

No documento Anais da Semana dos Museus da UFPel: 2019 (páginas 85-89)

O processo de criação da exposição passou a ser mais palpável ao criarmos uma maquete (Figura 4) onde começamos a defi nir núcleos que abordaram aspec- tos temáticos da produção e vida de L. C. Vinholes privilegiando então as facetas de poeta, compositor, colecionar, afetivas/biográfi ca, juntamente com catálogos, livros e entrevista projetas com falas do artista.

Figura 04 - Maquete e planta da Galeria Marina de Moraes Pires. Fonte: Acervo MALG.

As confi gurações de formatos, cores, disposição, seleção de textos explicativos, imagens, vídeos foram estabelecendo-se na expografi a. A junção de conteúdo e for- ma foram equilibrando-se durante o processo, visto que “um curador tenta identifi car as vertentes e comportamentos presentes para enriquecer a compreensão da expe- riência estética. Ele agrupa a informação e cria conexões” (OBRIST apud Leonzine, 2010), fazendo surgir aos poucos as constelações.

O exercício do olhar e a sintonia do trabalho em grupo foram essenciais para que a exposição fosse construída. Dentro do grupo, todos compreendiam bem as respon- sabilidades individuais e coletivas, cada qual em seu tempo. Essa trama de sujeitos responsáveis pela exposição potencializou as soluções visuais auxiliando na fl exibili- dade para resolução de problemas durante a montagem da expografi a.

Figura 05 - Abertura da Exposição 7 de Novembro de 2018. Fonte: Gustavo Lara.

É importante ressaltar o papel do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, enquanto instituição pública, incitando novas relações com a comunidade. Hans Ulrich Obrist ao entrevistar Walter Zanini7 enfatiza a refl exão do entrevistado, para quem “o museu é

um lugar onde a vida é reenviada para si mesma” (OBRIST, 2010, p.198) reforçando novos diálogos que essa instituição pode estabelecer na maneira que apresenta as obras para o público, além de enfatizar a importância do mesmo como reativador de memórias e ressignifi cações históricas.

Desta forma a exposição de L. C. Vinholes contempla também obras interativas do artista, em que o público é convidado a participar a partir de propostas orienta- das: a sugerir títulos, trazer pedras, movimentar algumas peças de lugar, realizar uma leitura mais demorada dos poemas, interagir em proposições musicais - como a

7 Walter Zanini (São Paulo, São Paulo, 1925 - Idem, 2013). Professor, historiador, crítico de arte e curador.

‘Instrução 618’ – para que, através dessas dinâmicas simples, ressignifi quem as re-

lações estabelecidas dentro da instituição, construindo uma abertura para pequenas transformações do estado contemplativo, dando lugar a uma experiência viva e ativa do público.

Flutuando nesse lugar onde a experiência acontece de modo transversal, tra- zendo a vivência, a “experimentação, portanto, nada mais é do que aprender a criar esses mundos outros, a partir dos encontros com signos diversos, [...] uma proprieda- de característica do fazer artístico” (VINCI, 2018, p.325) que engendra situações de trocas mútuas.

Conclusões

Nesse percurso construtivo pensar as diversas etapas do processo, desde o ma- terial biográfi co de L. C. Vinholes, até a exposição montada, foi uma experiência sur- preendente. Conseguir visualizar as suas qualidades, conexões estéticas, conceitu- ais, afetivas e históricas, fruto de uma série de encontros e trocas é “perceber como é complexa a maneira de ver a arte, quão relevante é a curadoria, e como toda perspec- tiva em relação a arte é subjetiva” (LEONZINI, 2010, p. 10). A experiência produzida ao participar em conjunto com a equipe do MALG trouxe contribuições signifi cativas sobre o circuito da arte, a profi ssionalização e a importância da tríade ensino, pesqui- sa e extensão, proporcionando uma visão mais integrada dos fazeres e dos saberes. A exposição L. C. Vinholes: constelações e fronteiras dissipadas além de pro- porcionar visibilidade a um artista exímio, produtor de obras que estimulam refl exões atuais sobre as relações humanas e suas memórias, também permitiu recontextua- lizar de maneira sutil questões pertinentes sobre a relação do museu/arte com seu público. Essa prática imersiva no Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo expandiu minhas signifi cações de curadoria enquanto experiência, uma vez que, na

[...] experimentação, parte-se de algo já conhecido, um siste- ma teórico, e busca-se precisar quais as condições necessárias para que raciocínios abstratos previamente elaborados sejam comprovados empiricamente com precisão (VINCI, 2018, p.324).

Deixando latente essas linhas invisíveis que conectam memórias e vida tecendo narrações visuais que estimulam signifi cações sensíveis atravessadoras de subje- tividades, construtoras de novas memórias. Situando as relações expositivas tanto do público, quanto dos articuladores em uma roda geradora de novas experiências, propulsora de novos caminhos.

8 Em 1961 compõe Instrução 61, para quatro instrumentos quaisquer, parâmetros precedentes para o surgimento da música aleatória brasileira, executada pela primeira vez pelo Grupo de Música Nova Tomihisa Nakajima, no Estúdio Nakajima, em Tóquio. Trata-se da primeira música aleatória produzida por um compositor brasileiro (Núcleo de Curadoria do MALG).

Referências

ALBUQUERQUE, Fernanda. Esse tal de curador. Revista Aplauso, Porto Alegre, n. 65, ano 7. 2005.

CHERIX, Christophe. In: OBRIST, Hans Ulrich. Uma breve história da Curadoria. Tradução Ana Resende. São Paulo: BEÎ Comunicação, 2010.

LEONZINE, Nessia. In: OBRIST, Hans Ulrich. Uma breve história da Curadoria. Tradução Ana Resende. São Paulo: BEÎ Comunicação, 2010.

LÚCIO, Carolina C. M. A trama do valor na arte – aspectos da história da cura-

doria. Disponível em:<http://www4.pucsp.br/ic/21encontro/artigos-premiados-20ed/

CAROLINA_CARMINI_MARIANO_LUCIO.pdf>. Acesso em 10 de Dezembro de 2019.

OBRIST, Hans Ulrich. Uma breve história da Curadoria. Tradução Ana Resende. São Paulo: BEÎ Comunicação, 2010.

VERAS, Luciana. Quem tem medo de arte contemporânea? Revista Continuum. Itaú Cultural: 2009.

VINCI, Christian. O conceito de experimentação na fi losofi a de Gilles Deleuze. Revista Fluxo Contínuo. SOFIA (ISSN 2317-2339), VITÓRIA (ES), V.7, N.2, P. 322- 342, JUL./DEZ. 2018. Disponível em:< http://www.periodicos.ufes.br/sofi a/article/ view/20467>. Acesso em: 20 de Abril de 2019. Acesso em 10 de Abril de 2019.

4.7. O RESGATE E RESTAURAÇÃO DE UMA OBRA

No documento Anais da Semana dos Museus da UFPel: 2019 (páginas 85-89)