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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR/EDUCADOR

CAPÍTULO I REVISÃO DA LITERATURA

1.4 A FORMAÇÃO DO PROFESSOR/EDUCADOR

O profissional da escola, quando assim procede, integra o educador que ensina responsavelmente a ler o mundo, com o professor, que ensina competentemente a ler as palavras deste mundo. Professor e educador não se separam: o primeiro informa, o segundo dá o sentido humano e ético da própria informação.

(Paolo Nosella)

Diante da exigência da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394, de 20/12/1996), que sugere uma nova visão do ensino superior em relação aos caminhos por onde tramitam as novas pedagogias, o perfil do professor do novo milênio, com certeza, passa por uma mudança radical, tanto em suas habilidades e saberes quanto em suas

competências, para não perder sua finalidade maior, não deixar de cumprir o seu papel e, todavia, manter sua capacidade de jamais parar de “aprender a aprender”.

Neste momento, da revisão da literatura, citaremos um estudo feito pelo professor Nosella (2003, p. 1-5), chamado por ele de esboço histórico-filosófico, em que, segundo a etimologia, certos conceitos e palavras revelam seu pleno significado e conteúdo, conforme as palavras chave: formador, educador e professor.

Portanto, o termo formação apresenta uma profunda ambigüidade em seu núcleo semântico original, que torna o ato formativo um ato humano, ético, de liberdade e opção. Formar alguém torna-se um processo de cumplicidade entre o formador e o formando, no qual o primeiro apresenta formas e experiências conhecidas e o segundo exercita a liberdade e cria o futuro.

Quando o educador, bloqueado pelo medo, anula a possibilidade do fracasso, foge do âmbito da ética ou da liberdade e entra no âmbito da natureza, da mecanicidade, da necessidade. Entendendo e aceitando a possibilidade de sucesso e também a de fracasso do aluno, só então estará pronto a aceitar a função do professor-educador como sendo um ato ético de liberdade e esperança.

Educador, desde o berço de nossa civilização ocidental, é aquele que nutre e acompanha a criança a partir do seu nascimento até a idade adulta.

Professor, do latim prófero, fers,tuli, latum, ferre, significa tirar para fora, levar a público, fazer aparecer, manifestar, publicar,divulgar. O sentido do termo e do conceito de professor aponta para um movimento unidirecional, de dentro para fora, do mestre para vários alunos, conotando o fato de que ele tem dentro de si uma competência ou um saber para oferecere levar a público.

Assim, se o termo educador indica um movimento de cumplicidade – juntos – e de maiêutica – de dentro do aluno para sua expressão externa –, o termo professor indica o

movimento inverso, do mestre para o público dos alunos, unidirecionalmente. Ou, ainda, o educador acompanha e segue a evolução do educando e o ajuda a se expressar e se desenvolver, mesmo que à luz de uma forma ideal, de um modelo; o professor conhece uma crença e umatécnica e as ensina publicamente aos alunos.

Neste sentido, vale ressaltar as palavras de dois eminentes sociólogos, Assmann e Sung (2001, p. 20), que assim se posicionaram:

É admirável que haja um número crescente de professores/as que se sentem responsáveis por ideais gigantescos. Em si não há nada de mal em sentir uma responsabilidade grande, uma urgência de relacionar-se com tarefas amplas. Mas que passa quando não as podemos transformar em práticas significativas? Pode-se acumular, nesse caso, a sensação de um peso insuportável, no qual a responsabilidade se confronta com a impotência, sem sabermos como balancear os dois elementos. Da sensação de impotência pode surgir um aumento da instabilidade emocional e, aos poucos, de irritabilidade quase constante.

Nesta linha de raciocínio, Moretto (2000, p. 23) ressalta que “a palavra de comando é educar para as competências, através da contextualização. É preciso dar significado ao que se fala em ‘sala de aula’, sem isso não há âncora para a aprendizagem.”

Desenvolver habilidades e competências4 em nossos professores, tendo como processo a interdisciplinaridade é, evidentemente, um segmento permanente de construção dos seus saberes, ou seja, é justamente pelo fato de se estar no comando de um saber, de um conhecimento, que temos a obrigação, o dever de estarmos em constante reciclagem com o próprio conhecimento.

Conforme Assmann e Sung (2001, p. 210):

4 De acordo com PERRENOUD (2000), habilidade é uma espécie de ‘inteligência capitalizada’ que decorre de

competência. Competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) para solucionar, com pertinência e eficicácia, uma série de situações. Trata-se de aprender, fazendo.

Os analfabetos de amanhã não serão os que não aprenderam a ler e a escrever, mas os que não aprenderam a aprender por toda a vida. E aprender por toda a vida não significa apenas manter-se em estado aprendente diante de novas formas de atividade humana. Significa igualmente continuar criativo e aprendente no que se refere aos relacionamentos interpessoais e à convivialidade humana, tanto no plano interpessoal imediato quanto em perspectiva ampla e planetária.

Neste momento, é de bom alvitre recordar os quatro pilares da educação, citados no Relatório de uma Comissão da UNESCO (1996, UNESCO apud ASSMANN; SUNG, 2001, p. 211):

Aprender a aprender → priorizar as experiências de aprendizagem. Aprender a fazer → ênfase nas competências e habilidades. Aprender a viver juntos → juntar competência e solidariedade.

Aprender a ser → realizar-se como indivíduo e como ser social.

É preciso permanecer atento às mudanças e transformações, buscando uma concepção ampla e integral de educação permanente, na qual aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser contribuem para um novo mundo onde a fé, a esperança, a solidariedade, a sensibilidade e a harmonia façam parte do processo educativo.

Neste tocante, citem-se as palavras de Assmann e Sung (2001, p. 244-245):

O agir pedagógico e o próprio conceito de aprendizagem e de construção do conhecimento supõem que se trata de um empreendimento humano que faz sentido para os seres humanos. Numa frase: educar, aprender e conhecer implicam numa aposta positiva na perfectibilidade e educabilidade ‘humanizante’ do ser humano. Ao pressupormos que o ser humano é ‘melhorável’, estamos afirmando implicitamente que ele sempre se encontra ainda num processo de ‘vir-a-ser’, que admite avanços, mas jamais se estagna numa plenificação totalmente alcançada. Sem esse pressuposto não teria sentido a afirmação de que educar, aprender e conhecer valem a pena e são processos humanizadores.

A educação, como processo social, implica o desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual, proporcionando conhecimento e prática dos usos de sociedade, civilidade, delicadeza, polidez, cortesia, valores sociais tão necessários ao desenvolvimento de uma sociedade culta, crítica e civilizada. O novo século necessita de um homem novo, culto, crítico e civilizado.

O papel do professor recebe uma ênfase especial como agente de mudanças e formador do caráter e do espírito das futuras gerações, tendo em vista a necessidade de evitar os preconceitos étnicos e o totalitarismo.

De acordo com Câmara (1998, p. 4), em seu trabalho apresentado no X Congresso Mundial de Educação Comparada, realizado na cidade do Cabo, África do Sul:

Educar hoje é diferente de ontem e será ainda mais diferente amanhã! Essa dinâmica nos mostra a necessidade de repensar nossas concepções e convicções para melhor atuar no novo cenário. Embora toda educação envolva aquisição de conhecimentos, no mundo de hoje, onde a pluralidade e a dinâmica são constantes, o aspecto instrucional da educação já não consegue dar conta da profusão de conhecimentos disponíveis e emergentes, até mesmo em áreas específicas. Educar é muito mais que instruir! É a utilização plena da capacidade reflexiva e da fantástica expansibilidade da competência humana.

Neste contexto, remontam muitas das discussões sobre o perfil do professor, especificamente do professor da área do cálculo matemático, a respeito de sua formação profissional, fazendo surgir, de acordo com Perrenoud (2001, p. 12-13), questões do tipo:

1. Qual a natureza das competências do professor especialista? 2. Como essas competências são adquiridas?

3. Como organizar o aprendizado dessas competências profissionais?

Conforme enfatizam Assmann e Sung (2001, p. 223), “toda aprendizagem é social, mas hoje as aprendizagens devem tornar-se conscientemente sociais, porque estamos imersos

numa aceleração dos potenciais de conectividade tecnológica e inter-humana da sociedade do conhecimento.”

Não sejamos ingênuos a ponto de não sabermos que a globalização arrasta, consigo, o sujeito, tendo um efeito de exclusão social, diante da avalanche de informações permeadas pela aceleração de sua condução aos mais ínfimos e longínquos pilares da sociedade, provocando uma interdependência nos domínios econômico, social, cultural e ecológico, tornando o processo, por sua natureza, complexo e ambíguo.

Compete a cada um de nós gerar habilidades suficientes para o entendimento dessas mudanças, preparando-nos para a quebra de velhos paradigmas e alcance de novos desafios.

Conforme preconiza Delors (2001, p. 19), fazendo referência à educação, colocando- a ao longo de toda a vida, no coração da sociedade:

O conceito de educação ao longo de toda a vida aparece, pois, como uma das chaves de acesso ao século XXI. Ultrapassa a distinção tradicional entre educação inicial e educação permanente. Vem dar resposta ao desafio de um mundo em rápida transformação, mas não constitui uma conclusão inovadora uma vez que já anteriores relatórios sobre educação chamaram a atenção para esta necessidade de um retorno à escola, a fim de se estar preparado para acompanhar a inovação, tanto na vida privada como na vida profissional. É uma exigência que continua válida e que adquiriu, até, mais razão de ser. E só ficará satisfeita quando todos aprendermos a aprender.

Se o primeiro professor que a criança ou o adulto encontrar na vida tiver formação deficiente ou se revelar pouco motivado, essas serão as próprias fundações sobre as quais se irão construir as futuras aprendizagens que ficarão pouco sólidas, interferindo, com certeza, no processo educativo quando da aquisição, atualização e utilização de novos conhecimentos.

Que dicas podemos dar para o professor que quer se atualizar? Qual o caminho? O primeiro ferramental para esse professor é o diálogo. Vale lembrar Paulo Freire, que foi genial ao colocar quatro passos para esse caminho: Primeiro, ler o mundo. Despertar o aluno pela curiosidade, Segundo, compartilhar o mundo. Isso exige solidariedade com o outro. Perguntar sempre ao próximo: que leitura você faz desse acontecimento, dessa realidade? Terceiro, construir o conhecimento coletivamente. Quarto, dialogar, sempre. Precisamos criar novos vínculos, novas relações sociais e humanas para que se consiga o sucesso. Não podemos deixar que nossos alunos fracassem, mas ensiná-los a superar os próprios limites.

Melhorar a qualidade e a motivação dos professores deve ser prioridade em qualquer instituição de ensino.

Com o advento da nova LDB5, as instituições passaram a olhar mais de perto o seu quadro docente, quanto à sua formação acadêmica, bem como o recrutamento de novos professores e o oferecimento de programas de formação contínua, de modo que cada professor possa recorrer a eles, freqüentemente, especialmente por meio de tecnologias de comunicação adequadas.

De acordo com Delors (2001, p. 159), algumas medidas se fazem necessárias para melhorar a qualidade e a motivação dos professores, tais como: recrutamento; formação inicial; formação contínua; professores de formação pedagógica; controle; gestão; participação de agentes exteriores à escola; condições de trabalho; e, meios de ensino.

Atualmente, o mundo no seu conjunto evolui tão rapidamente que os professores, como os membros das outras profissões, devem começar a admitir que a sua formação inicial não lhes basta para o resto da vida: precisam de se atualizar e aperfeiçoar seus conhecimentos e técnicas, ao longo de toda a vida. O equilíbrio entre a competência na disciplina ensinada e a competência pedagógica deve ser cuidadosamente respeitado.

De acordo com Delors (2001, p. 160):

A qualidade de ensino é determinada tanto ou mais pela formação contínua dos professores do que pela formação inicial. (...) a formação contínua não deve desenrolar-se, necessariamente, apenas no quadro do sistema educativo: um período de trabalho ou de estudo no setor econômico pode também ser proveitoso, contribuindo para a aproximação do saber e do saber fazer.

A escola perdeu muito de seu caráter formador e profissional, em grande parte pelo descompasso que se observou entre a evolução da sociedade, inclusive sob o aspecto tecnológico, e as práticas pedagógicas. Prover, disseminar e agregar novos conhecimentos é papel fundamental do professor, diante da educação como chave para pensar e agir eticamente, na interpretação da realidade do aluno que se quer ajudar a educar, para só, então, proceder-se à sua formação.

Nesta linha de comportamento, citemos Moretto (2000, p. 13):

Os novos rumos da educação brasileira apontam para a busca da formação de um novo profissional e de um novo cidadão. Essa orientação necessita transformar-se em ação no ambiente privilegiado de interação que é a sala de aula. Para isso é preciso que tanto a escola como os educadores, individual e coletivamente, tenham clareza quanto ao papel social da escola, à natureza do conhecimento, ao processo de apropriação do conhecimento e o papel do professor em contexto escolar. Analisar esses conceitos com todos aqueles que trabalham em contexto escolar, apontando os rumos da nova educação.

Somos gerados no interior de uma caverna escura e úmida, em total silêncio, porém, em perfeita harmonia, supridos de nossas mais primárias necessidades. O nascimento (o nascer) é uma ruptura, arranca o ser do seu mar de tranqüilidade, lançando-o à luz da vida para que continue nessa caminhada buscando, ao longo de toda a sua jornada, os valores necessários ao seu pleno desenvolvimento como ser pensante disposto a mudanças, aberto às novas interpretações do mundo à sua volta.

Nós não podemos nunca perder o senso crítico e a capacidade se sonhar. Um professor que não sonha, que não pensa, que não tem um projeto de vida, é incompetente. Faz parte da competência dele a utopia, o sonho, o compromisso, a vontade de mudar as coisas. Porque ele educa um mundo que está em construção, portanto o sonho faz parte do projeto educativo. Infelizmente, há um desencantamento, mas existem pessoas com muita vontade e são essas pessoas que fazem com que a escola pública tenha um sentido.

Aliada a estas competências, consideramos importante a inclusão de alguns pressupostos apresentados por Hannoun (1998, apud ASSMANN; SUNG, 2001, p. 245-246) no seu livro “Educação: certezas e apostas”, na formação do professor/educador. Os pressupostos apresentados pelo autor estão divididos em fundamentais e instrumentais.

Entre os fundamentais, mostram-se incentivos para que a humanidade seja obreira da felicidade; que a imagem do homem a ser formado seja positiva; que a pessoa humana seja perfectível e esteja capacitada para a liberdade.

Entre os vários pressupostos instrumentais por ele apresentados, destacamos: que os conteúdos escolares sejam cientificamente determinados; que a avaliação escolar seja objetiva; que quem ensina seja capaz de ensinar e tenha vontade de ensinar; que a competência adquirida torne-se aptidão; e que a educação não seja manipulação.

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