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A formação e a atuação do bibliotecário na escola

No documento A biblioteca escolar e os nativos digitais (páginas 44-47)

2.1 BIBLIOTECA ESCOLAR

2.1.3 A formação e a atuação do bibliotecário na escola

O bibliotecário, principalmente aquele atuante no contexto escolar, necessitaria estar disposto a servir como catalisador da informação, de forma dinâmica e integrada à atuação pedagógica dos docentes. Esse profissional, atuante na biblioteca escolar, necessita dominar não apenas as técnicas biblioteconômicas, como ter noções da área de Educação. Isso se deve ao fato de que esses bibliotecários necessitam atuar também como educadores e essa premissa colaboraria para um melhor resultado das ações desses profissionais.

Por outro lado,

deve estar atento, não confundindo sua função, ou seja, ter bem definido quem é o professor e quem é o bibliotecário, pois o bibliotecário não foi preparado para ser professor assim como o professor não foi preparado para ser bibliotecário (ELLWEIN, 2006, p. 91).

Na Sociedade da Informação, onde realmente a informação é o centro das discussões, a biblioteca escolar pode servir como um centro para disseminação cultural, através de atividades como hora do conto, palestras, encontro com escritores, entre outros. Para tanto, deve apresentar um ambiente físico adequado e agradável, que venha a atrair os estudantes (FURTADO, C., 2004).

Contudo, nem sempre a infraestrutura presente nas bibliotecas escolares é a ideal. Silva (2009) destaca que

Em geral, as bibliotecas escolares brasileiras estão dispostas em espaços que não oferecem segurança e conforto para receber pelo menos uma turma de alunos, pois o ambiente é pequeno, o mobiliário está incompleto, sendo composto pelas sobras de outras salas da escola. Além disso, a iluminação não é boa e a ventilação revela-se precária, uma vez que tudo foi improvisado desde o começo, sem planejamento para criação de um espaço adequado (SILVA, 2009, p. 119).

O bibliotecário necessita ser um sujeito mais do que técnico, mas também um intelectual. Nesse momento, para uma atuação mais eficaz somente o domínio das técnicas biblioteconômicas não basta, como salienta Rubens Borba de Moraes citado por Maroto (2012):

O bibliotecário moderno deve ser um misto de técnico e de intelectual. A sua preocupação principal não deve ser datilografar fichas perfeitas, segundo um código de catalogação, mas conhecer o conteúdo dos livros que possui, ser um guia intelectual do leitor. Muitos bibliotecários esquecem que a principal coisa na biblioteca para o leitor é o livro, e não a técnica que se empregou para catalogá-lo e classificá-lo. O bibliotecário moderno, repito, é um intelectual e um técnico [...]. É por isso que julgo um erro colocar à frente das bibliotecas não só eruditos sem preparo técnico, mas também técnicos sem erudição (MORAES, 1983, p. 43-44 apud MAROTO, 2012, p. 55). A atuação do bibliotecário no ambiente escolar nem sempre é fácil. Em pesquisa de Morais (2009) todas as bibliotecárias entrevistadas afirmaram não terem sido preparadas na graduação para coordenarem bibliotecas escolares. Silveira (2007) já delineava a questão da formação do bibliotecário, ao constatar que,

(...) se nosso objetivo era investigar em que medida os currículos das escolas de Biblioteconomia aproximam o universo das práticas culturais às atividades desenvolvidas em uma biblioteca, penso já termos levantado indícios suficientes para apontar que o ensino de Biblioteconomia no Brasil optou, isto é uma característica histórica, por formar profissionais capacitados tecnicamente para o processamento e gestão dos acervos preservados em uma unidade de informação, em detrimento do exercício de capacitá-los a compreender criticamente a importância que seu ofício assume no processo de construção das muitas esferas de atuação humana (SILVEIRA, 2007, p. 194).

Contudo, sob outro prisma, encontramos a visão de Campello (2009b), que enfatiza haver por parte dos bibliotecários a consciência de seu papel como educadores, além das funções técnicas que necessitam desempenhar. Entretanto, enfrentam dificuldades, que vão desde o número reduzido de pessoas em sua equipe até o desconhecimento, por parte do corpo docente da escola das funções que o bibliotecário deve (ou não) desempenhar.

Em sua atuação na biblioteca escolar o bibliotecário necessita, inicialmente, de sensibilizar e conquistar o usuário. Assim, predominam as ações que atraem a comunidade escolar para a biblioteca e a leitura.

Furtado, C. (2004) destaca a necessidade da interação entre corpo docente e equipe da biblioteca, o que nem sempre ocorre. A integração entre bibliotecário e professor melhoraria os trabalhos dos dois segmentos (ALVES, 1992; MOTA, 2004, MORAIS, 2009, FÉLIX, 2014).

Em estudo empreendido por Alves (1992) sobre a questão da integração entre bibliotecários e professores, ficou claro que se trata de uma ação promissora, mas até o momento falha, ao menos em terras brasileiras, superficial e ainda longe de colaborar efetivamente para as ações de ambos. Contudo, como demonstra Montiel-Overall (2005 apud Félix, 2014) a colaboração entre bibliotecário e professor é possível. A pesquisa foi realizada nos Estados Unidos e mostra que essa colaboração pode ocorrer em quatro níveis. No primeiro nível, a colaboração é como uma coordenação, requerendo baixos níveis de envolvimento entre professor e bibliotecário. No segundo nível, ou cooperação, professores e bibliotecários trabalham próximos a fim de oferecer melhores recursos para os alunos. No terceiro nível, ou instrução integrada, envolve um maior grau de aprofundamento e compromisso entre professores e bibliotecários, exigindo certa confiança mútua. No quarto nível, o currículo integrado (integrated curriculum), requer um grau profundo de colaboração, alterando inclusive a estrutura curricular.

Tendo um panorama sobre a atuação do bibliotecário escolar, é necessário refletir sobre a questão da formação oferecida pelos cursos de Biblioteconomia.

O trabalho de Silveira (2007) deixa claro que os currículos dos cursos de Biblioteconomia oscilam entre o tecnicismo e o humanismo. Trata-se de uma situação histórica, na qual, em determinada fase um aspecto se sobressai sobre o outro. O advento das novas tecnologias trouxe destaque para a necessidade dos bibliotecários, profissionais da informação, se aperfeiçoarem nas técnicas, motivo a mais pelo qual o lado humanista da profissão acabou ficando em segundo plano.

Autores como Santos (2002) e Maroto (2012) destacam que o bibliotecário atuante na biblioteca escolar deve aliar as técnicas a um lado social, humano. Dessa forma, se faz necessário verificar como a formação em Biblioteconomia está preparando esses profissionais para atuar no contexto educacional, na Biblioteca Escolar.

Desde 1988, em artigo publicado por Murilo Bastos da Cunha, se fala na necessidade de mudança na postura do bibliotecário, sendo necessário assumir seu papel como educador. Contudo, como salienta Soares (2014) o papel educador do bibliotecário é debatido desde o século XIX, através dos Serviços de Referência.

Apesar disso, Campello (2009a) identificou em seu trabalho que o papel educativo do bibliotecário brasileiro, ainda que apareça em discurso desde 1960,

ainda não reflete a prática. E um dos entraves para esse papel ser desempenhado de forma mais eficiente é a falta de entrosamento entre o bibliotecário e o professor como já citando anteriormente.

Soares (2014) sintetiza o panorama da atuação pedagógica do bibliotecário salientando que

podemos dizer que os empecilhos para o exercício do papel pedagógico são principalmente a ênfase nas atividades técnicas e a falta de interação entre bibliotecários e professores. Soma-se a esses o fato de o bibliotecário não possuir formação suficiente para exercer este papel, conforme explicitado por diversos autores (SOARES, 2014, p. 21).

A questão da formação do bibliotecário para atuar no contexto escolar pode ser melhorada através de programas de pós-graduação, como demonstra Pereira, G. (2009) ao analisar a criação do curso de Especialização em Biblioteca Escolar no Centro de Ensino Superior Anísio Teixeira (CESAT), no Espírito Santo. Conforme a autora, o curso buscou em seu escopo, prover os bibliotecários dos conhecimentos necessários para atuar no contexto educacional. Pode-se perceber que a criação de cursos específicos para a atuação do bibliotecário escolar seria uma boa opção.

Diante de tantas questões, como destacam Castro e Calil Jr. (2014), os bibliotecários escolares devem estar atentos ao novo público que está nas escolas: os nativos digitais. Esses jovens necessitam de atenção diferenciada e ações voltadas para seu perfil. Trata-se de mais um desafio para os bibliotecários que atuam nas escolas.

2.2 O USUÁRIO DA BIBLIOTECA ESCOLAR NA ATUALIDADE: OS

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