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O USUÁRIO DA BIBLIOTECA ESCOLAR NA ATUALIDADE: OS

No documento A biblioteca escolar e os nativos digitais (páginas 47-51)

Conforme dito anteriormente, estamos diante de uma geração de pessoas que já nasceram com a internet, os computadores e os videogames. É uma geração que domina bem a tecnologia, usa o celular, o tablet, o controle remoto da televisão. Essa geração pode assumir diferentes denominações, segundo os diversos autores.

Se a nomenclatura não está bem definida, as características desse grupo estão: são aqueles nascidos depois da invenção das tecnologias da informação e da comunicação, passam boa parte de seu tempo conectados, o que torna a

diferenciação entre real e digital nem sempre clara. Em trabalho de 2014, Castro elaborou um quadro que resume bem as definições segundo os diferentes autores:

Quadro 3 - Relação autores e conceitos de Nativos Digitais

Autores Termos adotados Definição

Prensky (2001) Nativos Digitais ‘falantes nativos’ da língua digital dos computadores, vídeo games e da Internet

Palfrey e Gasser (2008) Nativos Digitais Aqueles que têm acesso às tecnologias digitais e possuem habilidades para lidar com tais tecnologias

Indivíduos que passam boa parte de suas vidas conectados e não distinguem sua vida online de sua vivência off-line

Veen e Vrakking (2006) Homo Zappiens Geração que cresceu usando vários dispositivos tecnológicos desde a infância

Rowlandset al (2008) Geração Google Fazem parte de um grupo que não tem memória da vida antes da internet

Tapscott (1999) Geração Net A primeira [geração] a crescer rodeada pelas mídias digitais Fonte: Adaptado de CASTRO, 2014, p. 41

Como destaca Lemos (2009), essa geração é formada por sujeitos que querem as informações de forma rápida e estão acostumados a multitarefas. Assim “os nativos digitais vivem imersos em diferentes comunidades de aprendizagens, abrindo várias janelas ao mesmo tempo” (LEMOS, 2009, p. 39).

A Ciência da Informação, principalmente a Biblioteconomia, ainda se debruçou pouco no tema de Nativos Digitais. A busca em bases de dados acusa poucos resultados, o que demonstra a necessidade de se refletir mais a respeito. Principalmente no caso da Biblioteca Escolar, que atua diretamente com esses novos sujeitos, é primordial compreendê-los e entender o que eles pensam sobre a biblioteca e o bibliotecário.

Esses jovens estão em processo de formação e, como já dito, possuem uma relação bastante distinta com a tecnologia e a informação. Essa relação traz consigo algumas surpresas, como o fato desses nativos digitais não dominarem plenamente os computadores, como destacado por Antunes (2015) ao citar a pesquisa de Rowlands,

Os resultados da pesquisa de Rowlands revelam que constitui um mito a ideia de que estes jovens tenham capacidades especiais para lidar com a informação virtual. Segundo este estudo, o impacto das tecnologias de informação e comunicação sobre estes jovens tem sido superestimado. O estudo ainda evidencia que eles, embora aparentemente demonstrem facilidade e familiaridade com computadores, constituem uma geração que confia demais em motores de busca. Ainda de acordo com o estudo, estes jovens “correm os olhos” ao invés de ler e não têm habilidades, consideradas pelos autores críticas e analíticas, para julgar o que encontram na Internet (ANTUNES, 2015, p. 32).

Os nativos digitais presentes nas escolas atuais são normalmente ensinados por “colonizadores digitais” e por “imigrantes digitais”, cujos conceitos são sintetizados por Santos, Scarabotto e Matos

Os autores Palfrey e Gasser (2011, p. 13) caracterizam os colonizadores digitais como pessoas mais velhas, as quais estão desde o início da era digital, mas cresceram em um mundo analógico e vem contribuíndo para a evolução tecnológica, continuam conectados e sofisticados no uso das tecnologias, porém baseados nas formas tradicionais e analógicas da interação. Como exemplo é possível citar Bill Gates, criador de um dos maiores softwares utilizados, porém nascido antes da década de 80, ou seja, não pode ser caracterizado como nativo digital conforme definição dos autores, acima citados.

Os imigrantes digitais são definidos por Palfrey e Gasser (2011, p.13) como menos familiarizados com o ambiente digital, os quais aprenderam ao longo da vida a utilizar as tecnologias como e-mails e redes sociais (SANTOS; SCARABOTTO; MATOS, 2011, p. 15844).

Parte-se do pressuposto de que o bibliotecário é o especialista que domina o processo de busca da informação. É na biblioteca que se encontram as ferramentas que possibilitam a produção do conhecimento. Mas, será que esses alunos pensam dessa forma? Será que eles têm essa noção de atuação? Confiam neste espaço e neste profissional para auxiliá-lo? Será que a BE e o bibliotecário escolar estão preparados para auxiliar os nativos digitais?

3 METODOLOGIA

Ao se traçar os caminhos metodológicos dessa tese, foi fundamental lembrar que “o objeto das Ciências Sociais é complexo, contraditório, inacabado, e em permanente transformação” (MINAYO, 2004, p. 22).

Para o desenvolvimento da pesquisa é necessário o emprego de teorias e métodos para responder seus problemas, além de colaborar na formação do conhecimento científico.

A pesquisa desenvolvida nas Ciências Sociais possui características próprias, já que seu objeto pode se confundir com o próprio pesquisador. As Ciências Humanas e Sociais não têm a possibilidade de isolar seu objeto e analisá-lo friamente, diferente das Ciências Naturais.

Segundo Laville e Dionne (1999) a teoria é a “explicação geral de um conjunto de fenômenos” (p. 93). Já o método é assim destacado por Marconi e Lakatos (2011).

Todas as ciências caracterizam-se pela utilização de métodos científicos; em contrapartida, nem todos os ramos de estudo que empregam esses métodos são ciências. Dessas afirmações, podemos concluir que a utilização de métodos científicos não é da alçada exclusiva da ciência, mas não há ciência sem o emprego de métodos científicos (MARCONI; LAKATOS, 2011, p. 44).

Compreender como pensa uma determinada população (ou geração, no nosso caso) não é das tarefas mais fáceis. Conforme salientado anteriormente, há o risco de o pesquisador se confundir com o objeto pesquisado. Na busca de dados mais precisos, ou ao menos próximos da realidade, foi proposta fazer uma pesquisa do ponto de vista etnográfico.

Para tanto, trabalhou-se com alguns conceitos-chave dessa perspectiva. O primeiro se refere à dicotomia proximidade/distanciamento. Trata-se de um movimento circular de entrar e sair dos contextos pessoal e estudado. Ou seja, o pesquisador caminha entre o seu contexto pessoal e o contexto onde se desenvolve a pesquisa, sempre de forma circular e contínua.

Outro conceito importante é o de reflexividade. Este conceito está presente no fazer, no pensar, no seguir na perspectiva etnográfica. É o momento em que temos de fazer o exercício de pensar o campo, nossos valores, perspectivas, opiniões. A questão da reflexividade ajuda a minimizar o receio de “contaminar” a pesquisa com

a subjetividade do pesquisador. Lembramos novamente que o objeto das Ciências Sociais pode facilmente se confundir com o próprio pesquisador.

A escrita etnográfica também se mostra muito importante. Pensar na audiência, na contribuição do trabalho, é uma questão que muitas vezes se perde no decorrer do caminho de pesquisa. O pesquisador deve estar sempre atento a escrever de forma que os que leiam possam compreender e produzir, a partir de suas reflexões, novos conhecimentos.

Alguns autores utilizados para tratar da escrita etnográfica – Wolcott (1994), Spradley (1979) e Lea; Street (1998) – trouxeram aspectos que elucidaram esse fazer, cooperando não somente com o leitor mas em grande parte com o pesquisador. Wolcott (1994) descreve três níveis de escrita: a descrição, a análise e a interpretação. Esses níveis não organizam apenas o texto, mas o fazer e o raciocínio do pesquisador.

Já Spradley (1979) contribui ao destacar a importância do etnógrafo como tradutor. Suas orientações quanto a forma de entrevista etnográfica demonstraram, de maneira bastante elucidativa, as especificidades da ferramenta. A entrevista etnográfica é uma estratégia de aproximação dos sujeitos mais sutil que uma entrevista comum. Dessa forma, o pesquisador tem a possibilidade de apreender mais a fundo as informações que o sujeito pesquisado possui.

No documento A biblioteca escolar e os nativos digitais (páginas 47-51)