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A formação inicial e contínua do professor

3 O SISTEMA DE PROTEÇÃO ESCOLAR – SPEC

4. A FORMAÇÃO DO PROFESSOR

4.1 A formação inicial e contínua do professor

A LDB (BRASIL, 1996, p. 35) prevê, em seu artigo 62, formação inicial para todos os professores da educação básica, pretendendo uma formação adequada à atuação, ao trabalho docente e assim uma melhor qualidade para a educação. A profissionalização torna-se obrigatória. A exigência de formação inicial para exercício profissional, considerando os contextos atuais, o papel docente, as finalidades da educação, direcionam para a profissionalização do ofício de professor. Neste sentido, o Ministério da Educação afirma que

[...] é certo que há uma enorme distância entre o perfil de professor que a realidade atual exige e o perfil de professor que a realidade até agora criou. Essa circunstância provoca a necessidade de muito investimento na formação profissional. [...] Nesse contexto, a formação inicial como preparação profissional tem papel crucial para possibilitar que os professores se apropriem de determinados conhecimentos e possam experimentar, em seu próprio processo de aprendizagem, o desenvolvimento de competências necessárias para atuar nesse novo cenário. A formação de um profissional de educação tem que estimulá-lo a aprender o tempo todo, a pesquisar, a investir na própria formação e a usar sua inteligência, criatividade, sensibilidade e capacidade de interagir com outras pessoas. (BRASIL, 2000, p. 12-13).

A formação inicial do professor deve, como primeira etapa, promover o desenvolvimento de competências profissionais, do conhecimento de teorias e práticas e suas articulações, de concepções dos aspectos relativos ao processo de ensino-aprendizagem, do valor da pesquisa em educação e do comprometimento com valores e princípios democráticos e humanos (BRASIL, 2000).

Alguns conhecimentos importantes para a atuação docente são os referentes às dimensões da vida humana que interferem na educação, bem como aos aspectos políticos, sociais, econômicos e culturais. O MEC afirma que

[...] este âmbito, bastante amplo, refere-se a conhecimentos relativos às relações sociais na realidade social e política brasileira e sua repercussão na educação, ao papel social do professor, à discussão das leis relacionadas à infância, adolescência, educação e profissão, às questões da ética e da cidadania, às múltiplas expressões culturais e às questões de poder a elas associadas. [...] É importante, sobretudo, que o professor adote uma visão pluralista de sociedade e desenvolva a capacidade de compreender o “outro” – base da ética, da autonomia, da solidariedade. (BRASIL, 2000, p. 56).

Outro aspecto muito importante da formação inicial é desenvolver a consciência de que o professor é um profissional que estará em formação permanente e que caberá a ele zelar por seu desenvolvimento ao longo da carreira.

A visão de que a formação inicial não é acabada é muito importante no contexto escolar, pois embora o profissional esteja sempre habilitado pela formação alcançada, devido às transformações temporais e sociais, ele não estará sempre pronto, sendo necessário atualizar e rever teorias e práticas, para aplicar as que sejam mais adequadas ao tempo e ao contexto. É uma busca para amoldar-se a novas perspectivas da educação, que exigem novos conhecimentos.

Após a formação inicial e a inserção na vida profissional, surge a formação contínua. Ela é um caminho de desenvolvimento profissional no percurso da carreira. Ela qualifica e valoriza o professor, atualizando, reciclando e ampliando seus conhecimentos, e é geratriz de aperfeiçoamento docente.

Houve uma mudança na abordagem da formação contínua. Segundo Gatti e Barretto (2009, p. 202-203),

[...] assistiu-se a um movimento de reconceitualização da formação continuada em decorrência de pesquisas destinadas a investigar questões relativas à identidade profissional do professor. As propostas inspiradas no conceito de capacitação cedem lugar a um novo paradigma, mais centrado no potencial de autocrescimento do professor, no reconhecimento de uma base de conhecimentos já existente no seu cabedal de recursos profissionais, como suporte sobre o qual trabalhar novos conceitos e opções. As representações, atitudes, motivação dos professores passam a ser vistas como fatores de capital importância a se considerar na implementação de mudanças e na produção de inovações na prática educativa. O protagonismo do professor passa a ser valorizado e a ocupar o centro das atenções e intenções nos projetos de formação continuada. Novos modelos procuram superar a lógica de processos formativos que ignoram a trajetória percorrida pelo professor em seu exercício profissional.

Conforme Gatti e Barreto (2009, p. 203), a formação é um processo “[...] contínuo ao

largo da vida profissional”. Tardif (2010, p. 292) também afirma que a formação contínua “[...] se perfaz no exercício contínuo da profissão”. Ele reconhece a formação como uma ação

relacional entre sujeitos cujas práticas são portadoras de saberes. A formação durante a prática permite avaliar saberes e as próprias ações, e a partir disto remodelar ou inovar posturas.

A formação inicial e contínua, previstas para os professores na LDB e na legislação específica do PMEC, configura-se como oportunidade para aprendizagem, reciclagem e (re)construção de práticas.

O docente é sempre um mediador. Mas atuando na função de PMEC, a mediação não ocorre mais entre o conhecimento e o aluno; ele torna-se mediador das relações pessoais e

institucionais, e para isso são necessários conhecimentos mais específicos de gestão de conflitos, de rede de proteção social, de como ocorrem as interações na escola e, principalmente, de posturas próprias ao trato das relações humanas. O conhecimento advindo de sua formação inicial e contínua, como docente em sala de aula, é insuficiente para atuar de forma mais ampla, em nível de organização, trabalhando com todos os segmentos inseridos na escola e articulando a escola com toda a comunidade de seu entorno, principalmente com instituições de assistência à criança e adolescente e para agir na resolução de conflitos e outras situações ligadas às vulnerabilidades. Diante disto, faz-se necessário um trabalho específico de formação.