• Nenhum resultado encontrado

O Sistema de Proteção Escolar e o Professor Mediador Escolar e Comunitário

3 O SISTEMA DE PROTEÇÃO ESCOLAR – SPEC

3.2 O Sistema de Proteção Escolar e o Professor Mediador Escolar e Comunitário

A criação do SPEC (SÃO PAULO, 2010a) nas escolas públicas paulistas, após evidências de que vivenciam várias ocorrências, ligadas a contextos de vulnerabilidade, e que vêm se acentuando nos últimos anos, atendeu a necessidade de uma ação voltada para o combate às condições que fragilizam o ambiente escolar, e para a prevenção destas ocorrências, bem como para a garantia de direitos e construção de uma rede de proteção social, e culminou com a criação da função de Professor Mediador Escolar e Comunitário (PMEC), entendendo ser necessário dentro da escola um elemento que pudesse atuar especificamente nestas situações.

A função possui as atribuições do trabalho definidas na legislação (SÃO PAULO, 2010a) e, segundo esta, para desenvolvê-las, o professor deve ser capacitado. Segundo descrito na apresentação do curso inicial de formação, disponível on-line, em ambiente virtual de aprendizagem, o Professor Mediador Escolar e Comunitário

[...] é um educador de proximidade dedicado à promoção da proteção escolar. Ele soma esforços à equipe gestora e a toda a equipe docente para lidar com as questões que se manifestam no ambiente escolar e produzem reflexos na convivência que se estabelece dentro da escola, contemplando as relações interpessoais de todas as pessoas que a frequentam: alunos, professores, funcionários e pais. É imprescindível que toda a comunidade escolar esteja ciente dos recursos que o Professor Mediador Escolar e

Comunitário agrega à escola, sem, contudo, eximir-se do papel que cada um desempenha em relação às questões abordadas por ele. (SÃO PAULO, 2015).

Para implementar as ações específicas do Sistema de Proteção Escolar na escola, o artigo 7º da Resolução SE 19/2010 estabeleceu para a escola a possibilidade de contar com até dois docentes para o desempenho das atribuições de PMEC. O critério para contar com dois professores foi estabelecido na Instrução Conjunta CENP/DRHU (Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas/Departamento de Recursos Humanos), de 27 de janeiro de 2011 (SÃO PAULO, 2011). A Instrução determinou que a escola tem que funcionar “[...] em no mínimo 3 (três) turnos

(manhã, tarde e noite), com pelo menos 10 (dez) classes em cada turno” (SÃO PAULO, 2011).

Com a intenção de alcançar êxito nas ações do SPEC, a Secretaria da Educação estabeleceu que, para desempenho da função, o professor deve se inscrever voluntariamente para o projeto e demonstrar um perfil profissional com características para as atribuições da função (SÃO PAULO, 2010a). Conforme instruções divulgadas pelos órgãos centrais (SÃO PAULO, 2010b), o Mediador é o agente de desenvolvimento das ações no ambiente escolar e é selecionado pela análise do perfil.

A seleção dos docentes para o desempenho da função é feita pela Gestão Regional do SPEC, junto com a Comissão de Atribuição de Classes e Aulas da Diretoria de Ensino, ouvida a equipe gestora da escola. As instruções relativas aos procedimentos a serem adotados no processo de seleção dos docentes candidatos ao exercício da função foram estabelecidas pelos órgãos centrais da SEESP.

A partir de 2012, a seleção do professor passou a ser regulamentada pela Resolução SE 07/2012 (SÃO PAULO, 2012b), que estabeleceu nova carga horária de aulas, a regra de distribuição da mesma e a ordem de prioridade para atribuição.

Os critérios para análise dos requisitos do perfil para exercício da função, conforme o § 2º da Resolução SE 07/2012 (SÃO PAULO, 2012b), de cada candidato submetido à avaliação, são estabelecidos pelos responsáveis pela Gestão Regional do Sistema de Proteção Escolar na Diretoria de Ensino, acompanhados pela Comissão de Atribuição de Classes e Aulas e ouvida a equipe gestora da escola.

A avaliação do perfil é feita com base no que determina o parágrafo 1º do artigo 3º da Resolução SE 07/2012 (SÃO PAULO, 2012b), e consiste de:

1 - apreciação de carta de motivação, a ser apresentada pelo docente, contendo exposição sucinta das razões pelas quais opta por exercer as atribuições de Professor Mediador Escolar e Comunitário, [...];

2 - realização de entrevista individual, com a participação do diretor da escola selecionada;

3 - análise de certificados de cursos ou comprovação ou participação do docente em ações ou projetos relacionados aos temas afetos à Proteção Escolar, tais como mediação de conflitos, Justiça Restaurativa, bullying, articulação comunitária, entre outros.

O parágrafo 2º (segundo) do artigo 7º (sétimo) da Resolução SE 19/2010 já previa

formação específica: “[...] os docentes que desenvolverão as atribuições de PMEC serão capacitados [...]” (SÃO PAULO, 2010a). Mesmo assim, a Resolução SE 07/2012 reforçou a

previsão de capacitação em serviço, conforme artigo 6º (sexto):

Os docentes selecionados para o exercício das atribuições de Professor Mediador Escolar e Comunitário serão capacitados e observarão, no desenvolvimento dessas atribuições, metodologia de trabalho a ser definida por esta Pasta, estando previstas as seguintes atividades de supervisão e formação em serviço:

I - apresentação de relatórios sobre as atividades desenvolvidas, para análise e discussão pela equipe gestora da escola e pelos responsáveis pela Gestão Regional do Sistema de Proteção Escolar;

II - participação em cursos e Orientações Técnicas centralizadas e descentralizadas (SÃO PAULO, 2012b).

De acordo com a legislação, o lócus de atuação do PMEC é a escola e suas proximidades e, para atuação mais adequada aos objetivos do projeto, há um curso de formação inicial e momentos de formação continuada (SÃO PAULO, 2010a, 2012b). Segundo as informações legais, de sítios virtuais, e de documentos e instruções da SEESP (SÃO PAULO, 2010a, 2012b, 2015), a formação inicial do PMEC é feita por meio de curso à distância e a formação contínua por meio de orientações técnicas.

A SEESP, para subsidiar a atuação quanto ao SPEC, encaminha para cada escola materiais e livros que tratam de assuntos ligados aos temas que são foco da ação do SPEC. Também criou um sistema virtual, que se chama Sistema Eletrônico de Registro de Ocorrência Escolar – ROE, para registros de ocorrências e contato direto da gestão da escola com a Supervisão do SPEC e, portanto, com o Gabinete da Secretaria de Estado da Educação.

A implementação do SPEC, com a figura do Professor Mediador, foi uma inovação. Como toda inovação, altera crenças, hábitos, interesses, valores, serviços, procedimentos e produtos. Uma inovação implanta ideias novas que alteram as condições organizacionais e, em muitos casos, deve superar resistências.

A inserção de um PMEC na escola exige, por parte das pessoas que ali convivem, aceitação. A aceitação do profissional, que fará intervenções nas relações pessoais que

ocorrem no ambiente escolar e atuará nas situações de vulnerabilidade, deve ser coletiva e deve ser conquistada pelo próprio professor.

Há também uma exigência ao PMEC, que é a adoção de posturas e de ações coerentes, pautadas no conhecimento da legislação, na aplicação de técnicas de mediação, nas práticas de resolução de conflitos, no desenvolvimento de projetos, na garantia de direitos, na proteção integral à criança e ao adolescente. Seus trabalhos e projetos devem ser direcionados ao enfrentamento e superação das vulnerabilidades da escola.

Em uma breve análise, as normas legais que regulamentam o SPEC apresentam com clareza os princípios e ações que o tornam concreto, demonstrando a intenção da SEESP em buscar mecanismos e instrumentos adequados ao seu propósito.

A legislação e normas correlatas estabelecem a seleção, responsabilidades e atuação do PMEC, refletindo a intenção da SEESP de integrar este educador com a coletividade, a comunidade, porém nos limites do ambiente escolar em que se insere.