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6.1 Identificando/caracterizando a amostra – Quem é o PMEC?

Esta pesquisa teve início em 2014, com 62 (sessenta e dois) profissionais atuando na função PMEC e todos se dispuseram, voluntariamente, a participar da mesma. Inicialmente, consideramos importante descrever a população, pois o contexto do sujeito da pesquisa é muito significativo para enriquecer a compreensão das demais análises. Apresentamos dados obtidos dos questionários, após tabulação das respostas.

Observamos que na amostra há acentuada representatividade feminina quanto à função de PMEC:

GÊNERO

Masculino

11

17,7%

Feminino

51

82,3%

Total

62 100,0%

Gráfico 1 – Gênero

Fonte: Dados coletados e tabulados pela autora, 2014.

A porcentagem de mulheres (82,3%) no exercício da função não foge aos dados que expressam maioria feminina na docência e se fundamentam historicamente pela divisão de gênero, marcada pela ampliação da presença feminina no ensino e inclusive no rol dos profissionais da Secretaria de Educação de São Paulo.

A questão dos gêneros na docência aponta para a constituição e relações dos mesmos na estrutura de uma profissão: “[...] a utilização do gênero como categoria explicativa de análise ganha enorme utilidade para a compreensão da divisão/segregação sexual do trabalho contida na feminização da docência” (VIANNA, 2001-2002, p. 90).

Há profissões caracterizadas como espaço social de determinados gêneros, como imposição de responsabilidade a determinado sexo, sendo estes fatores históricos na produção e reprodução social. Para compreender a desigualdade percentual no exercício da docência, recorremos à feminização histórica da docência, desde o seu início na educação pública e nas escolas de normalistas.

Vianna (2001-2002, p. 83-85) contextualiza historicamente a presença feminina na docência no ensino brasileiro:

No ensino desenvolvido sob a responsabilidade do Estado, no Brasil, a docência feminina nasce no final do século XIX relacionada, especialmente, com a expansão do ensino público primário. [...] No século XX, o caráter feminino do magistério primário se intensificou a tal ponto que, no final da década de 20 e início dos anos 30, a maioria já era essencialmente feminina. [...] A presença feminina no magistério estendeu-se aos demais níveis de ensino após a progressiva expansão da oferta de vagas nos cursos de ensino primário em cidades de grande porte, como São Paulo, no final da década de 30 e meados de 1940.

Como prática social, o trabalho apresenta divisões e a sociedade mostra, talvez até inconscientemente, a docência como atributo das competências do universo feminino, interferindo nas relações. Segundo Vianna (2001-2002, p. 93),

Os significados femininos e masculinos definem as relações entre professores/as e alunos/as no espaço escolar e no sindicato da categoria docente. Eles se baseiam nas diferenças entre os sexos, mas indicam também uma construção social – com base nessas diferenças – que ajuda a explicar as relações de poder que definem a divisão sexual do trabalho e a inserção das mulheres em profissões ligadas a funções consideradas femininas e socialmente mais desvalorizadas.

Com clareza, a docência é profissão fortemente feminina e percebemos a forte redução na proporção de homens na função. O relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre a educação mundial, de 2006, apesar de talvez existirem novos relatórios, traz uma importante informação sobre esta redução e afirma que muitos países se preocupam com ela.

As inquietações quanto à crescente feminização da docência estão relacionadas aos benefícios que a presença de maior número de homens trabalhando nas escolas traria para estudantes e professores, principalmente em termos de modelos positivos de papéis masculinos para meninos pouco envolvidos; e à possibilidade de que uma redução no número de professores do sexo masculino sinaliza uma perda mais ampla do apelo da docência como carreira (ORGANIZAÇÃO PARA A COOPERAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, 2006, p. 59).

Os movimentos de emancipação feminina, na luta pela igualdade de direitos e oportunidades, são fatores históricos e levaram as mulheres a buscar cada vez mais a inserção no mercado de trabalho e destacadamente o trabalho docente foi sempre uma porta aberta.

Consideramos importante destacar que, mesmo sendo uma profissão predominantemente feminina, hoje em dia vem perdendo espaço na escolha da profissão até neste universo. De acordo com Gatti (1997), a carreira docente está cada vez menos atraente, considerando as condições de formação; as condições do exercício profissional e as condições

salariais. São poucos os jovens do sexo masculino que a escolhem e, ultimamente, jovens de sexo feminino também vêm abandonando esta opção e escolhendo outras áreas.

Alguns argumentos que podem contribuir para a compreensão do fenômeno de recusa da profissão, pelas pessoas do sexo masculino, foram relatados no relatório da OCDE (2006), que, mesmo distante no tempo, apresenta considerações valiosas para a reflexão sobre o tema. O relatório elenca a sugestão de uma pesquisa australiana, feita em 2003 pelo Ministerial Council on Education, Employment, Training and Youth Affairs (Melbourne), para compreender a mudança no perfil do gênero da docência: a) salários mais baixos que outras profissões; b) fator cultural das famílias, que consideram a docência como “trabalho de mulher”; e c) temor de que equivocadamente sejam acusados de abuso infantil como desestímulo para o ingresso de homens na carreira docente.

O SPEC não exige um perfil feminino nem masculino. Há aspectos em ambos os gêneros favoráveis à função. Ao relacionarmos a questão do gênero com a função PMEC, podemos observar que o universo feminino tem desenvolvido em sua formação a afetividade como traço marcante – a mãe, a filha, a irmã, a amiga, etc. –, o que favorece as relações do professor mediador nos conflitos; funciona como um chamado à confiança, pois pode levar à aceitação, à ponderação, à reflexão. O universo masculino, geralmente, tem a primazia da racionalidade e de maior objetividade, o que também é essencial na condução de situações de vulnerabilidade e pode conduzir à imparcialidade, à sensatez.

Entendemos que a incidência de um maior universo feminino no quantitativo PMEC não é obstáculo para o programa SPEC, pois não há registros de não aceitação de PMEC em sua atuação em decorrência do gênero; ambos os gêneros são bem aceitos nos ambientes escolares.

Outro aspecto considerado na pesquisa é a faixa etária:

IDADE

Qual a sua idade?

Entre 18 e 28 anos 1 1,6%

Entre 29 e 38 anos 12 19,4%

Entre 39 e 48 anos 23 37,1%

Acima de 49 anos 26 41,9%

Total 62 100,0%

Gráfico 2 – Faixa etária

Os dados quanto à faixa etária dos PMEC nos mostram que 79% dos professores estão acima de 39 anos de idade, sendo 41,9% do total acima de 49 anos. Pela amostra, observa-se que o grupo de docentes tem um mínimo de professores mais jovens e apenas um PMEC com idade até 28 anos. O grupo de profissionais que trabalha com a mediação, na diretoria pesquisada, predomina na faixa etária de 29 anos até acima de 49 anos. Isso evidencia maturidade como indivíduo e como profissional na área da educação. Como indivíduos, são pessoas definidas em seus valores, cultura e contexto social. Como docentes, a maturidade vem do exercício do magistério na rede pública, com experiências em mediação do ensino, com posturas forjadas no convívio diário com alunos.

A idade, de certa forma, influencia, principalmente, a aceitação de formação continuada, pois a adoção de novas condutas gera desbloqueio ou desacomodação do que já está sedimentado no profissional, como conduta utilizada na mediação de ensino. Então o trabalho de formação para a mediação exige uma maior constância e supervisão, tendo em vista a prática mediadora e os objetivos do SPEC, adotados na rede.

Apesar de ter sido feito há quase uma década, o relatório da OCDE (2006) já apontava o envelhecimento da força de trabalho docente como fonte de preocupações e inquietações, afirmando que tem implicações diversas. Há uma relação entre a experiência docente, devida a professores com maior tempo de serviço e a renovação dos profissionais, com o ingresso de jovens no mundo do trabalho docente. Isso pode limitar a capacidade dos sistemas para empreender novas iniciativas; não obstante a experiência docente ser benéfica para a escola, ela pode demandar recursos adicionais para atualização e motivação de docentes que já atuam por um longo tempo; e quanto mais aumentar a proporção dos que chegam à aposentadoria poderá haver escassez de docentes. O Censo do Professor (BRASIL, 2007a), realizado pelo MEC, em 2007, também indica envelhecimento dos docentes de educação básica no Brasil e em São Paulo, sendo perceptível pelos índices expressivos nas faixas a partir de 33 anos:

Tabela 2 – Comparativo da proporção de professores da educação básica por faixa etária - Brasil - São Paulo, 2007

Brasil/UF Professores por Faixa Etária

Até 24 anos De 25 a 32 De 33 a 40 De 41 a 50 Mais de 50

Brasil 6,07% 26,06% 27,17% 28,83% 11,86%

São Paulo 4,47% 22,21% 26,86% 31,18% 15,28%

Fonte: MEC/INEP/Deed. 2007.

Podemos inferir que na rede pública paulista fica visível a possível carência de professores e que ações para recrutamento de novos professores em todos os segmentos de atuação já devem ser desencadeadas.

Quanto à atuação no SPEC, a idade demonstra que têm mais experiência de vida, mas que devem estar abertos ao aprendizado constante, visto que os professores acabam por ter a necessidade de rever e/ou desenvolver competências e habilidades para a atuação no projeto; inclusive em relação às novas tecnologias e às mudanças de enfoque no trato das situações de vulnerabilidade, indisciplina, entre outras.

Outro ponto importante a se considerar é o referente à formação acadêmica:

Gráfico 3 – Habilitação profissional

Fonte: Dados coletados e tabulados pela autora, 2014.

No gráfico observamos que 100% dos professores têm nível educacional superior. Observa-se que o grupo possui docentes com formação em diversas áreas do conhecimento, destacando o maior número em Letras/Português (28%), seguida por Educação Física com 15%; História com 13%; Ciências com 8%; Matemática, Geografia e Psicologia com 6% cada, e as demais disciplinas com 2%.

Há alguns docentes (40,02%) que possuem uma segunda formação superior, sendo que a maioria (21%) tem a segunda licenciatura em Pedagogia. Podemos inferir que a segunda formação em Pedagogia indica o interesse em prosseguir na carreira da educação, ocupando cargos de especialistas em educação, na gestão escolar.

A formação em nível superior visa garantir um melhor referencial de qualidade de ensino, pois pressupõe que garanta uma base sólida do conhecimento técnico e científico relacionado à teoria e à prática da docência; à formação do aluno e ao contexto da educação.

A formação do professor ocupa espaço de destaque no cenário educacional, sendo que é vista como solução para vários problemas do ensino.