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A fundação da siderúrgica Altos Hornos de México (AHMSA)

nacional. Um grupo de empresários e banqueiros privados elaborou um projeto de construção de uma siderúrgica de laminação a frio e produtora de aços longos a partir da sucata, porém, a produção continuaria dependente da importação e dos problemas de abastecimento internacional. Por isso, o projeto foi reelaborado e as ações se direcionaram à construção de usina siderúrgica integrada que usasse carvão e minério de ferro situados no país. O projeto era, à época, ambicioso e estava além das capacidades dos investidores privados, de modo que, logo no seu início, não havia mais recursos. NAFINSA passou, então, a subscrever as ações da companhia, com recursos emprestados do EXIM-BANK, e tornou-se a principal acionista, restando aos investidores privados 36% do capital social. Para a construção, os empresários e o banco contaram com a assessoria da companhia estadunidense Armco Rolling Mill. Em 1941, foram comprados fornos usados e reconstruídos nos Estados Unidos e, em 1944, entrou em operação o primeiro forno.

Fontes: López (2009, p. 15-16), Bennett; Sharpe (1979, p. 47).

Geralmente, a atuação do banco não foi dada a priori, fundamentada num projeto de atuação estatal. Ao contrário, NAFINSA atuou em socorro da iniciativa empresarial, incapaz de alavancar os projetos por causa da enorme quantidade de capitais que eram necessários. Os dados apresentados na tabela 4 demonstram isso claramente, pela

65 Promulgou a Ley de Industrias de Transformación (1941) e a Ley de Fomento de Industrias de Transformación (1945), que isentaram de impostos as indústrias que passassem a produzir bens não manufaturados no país ou que produzissem visando preencher uma demanda insuficientemente atendida.

predominância dos empréstimos sob a forma de valores, isto é, participação acionária (subscrição de ações, por exemplo). Não só na AHMSA, mas em companhias como Compañía Industrial Atenquique (papel) e Cementos Guadalajara, S.A. (cimento) houve a entrada do banco no controle acionário, para evitar a malogro do negócio.

Nos quatro países destacados, as crises econômicas internas provocadas pela guerra e pela depressão de finais do século XX, de um lado, e o desenvolvimento de novas forças sociais (burguesia industrial, principalmente), de outro lado, aumentou a “consciência” sobre os efeitos da dinâmica interna da economia (baseada na agricultura e exploração mineral para a exportação) dependente dos vetores externos. O Estado em formação passou por uma reelaboração e assumiu novas funções a partir dos anos 1930. As instituições reformuladas e as novas foram uma resposta à estruturação do poder em curso, quer dizer, o aparato estatal (novas ou reformuladas) refletiu a pugna contraditória entre as classes sociais.

Em cada país, para fazer frente às novas demandas de classes e para contornar os impactos externos, ganhou relevância a prática do planejamento econômico, desempenhado por instituições, conselhos etc. vinculados diretamente ao executivo e distantes das mazelas políticas. Isso não quer dizer que todas as instituições desenvolveram um forte

esprit de corps, dado a ambivalência das leis e a pugna de classes. A atuação direta do Estado,

sobretudo com os bancos de desenvolvimento, se constituiu numa decisão de ultima instância, pela incapacidade financeira da iniciativa privada, do que uma estratégia estabelecida a priori.

2.4 Política econômica entre o pós-guerra e finais de 1960

A Argentina é um dos casos mais paradigmáticos, por causa dos sucessivos presidentes durante o período. As relações contraditórias entre os vetores internos e externos, com seus impactos sobre a economia (desemprego, inflação, crise na balança de pagamentos), culminaram em tensões entre as classes sociais e golpes de Estado. Com exceção de Perón, os demais governos podem ser caracterizados por uma política liberal (com diferentes matizes). Até finais dos anos 1960, delineou-se uma mudança no bloco de forças dentro do aparato estatal, com o paulatino deslocamento da aristocracia pampeana e a condensação de forças entre empresas estatais e corporações multinacionais.

O fim da guerra coincidiu com a primeira fase do governo de Perón, que adotou uma política expansionista (fiscal e monetária), nacionalizou os serviços públicos e os depósitos bancários, aumentou os salários e os benefícios sociais, controlou os preços,

aumentou a intervenção na economia66 etc. Para Ferrer (2000, p. 231), “durante el trienio 1946-1948 el gobierno llevó hasta sus ultimas consecuencias lo que podríamos llamar la fase clásica del proceso de sustitución de importaciones en el marco de una redistribución de ingresos en favor de los sectores populares”. No início dos anos 1950, ocorreu uma maior contenção dos salários, o subsídio à produção agrícola e a atração de capitais estrangeiros67.

O Instituto Argentino de Promoción al Intercambio (IAPI), criado em 1946, substituiu as Juntas de Regulación e assumiu a função de defender os preços dos bens exportáveis e garantir a compra de bens industriais importados. Até finais dos anos 1940, o instituto recebeu a metade dos empréstimos concedidos pelo Banco Industrial (ROUGIER, 2012). Quando da queda dos preços internacionais, o instituto retinha estoques de produtos exportáveis à espera da melhora das cotações. No segundo governo peronista (1950-1955), o IAPI foi usado para diminuir os custos dos produtos agropecuários de consumo popular, o que, logicamente, resultou em perdas para o instituto (FERRER, 2000).

Em 1945, a carta orgânica do Banco Industrial passou por mudanças que permitiram a concessão de créditos de curto prazo. Com isso, prevaleceram os empréstimos para a compra de matérias-primas e pagamento de salários, enquanto os empréstimos de longo prazo (investimentos fixos) tiveram uma importância residual. O ramo industrial (alimentos, têxteis e bebidas) recebeu um pouco mais de 1/3 dos recursos, pois a maior parte teve como destino as empresas de transporte, construção e IAPI. As grandes empresas industriais, organizadas sob a forma de sociedades anônimas, desfrutaram da maior parte dos empréstimos a taxas de juros negativas - menor que a inflação (ROUGIER, 2012).

À lei 14.630 acrescentou-se, em 1948, beneficio adicional cedido pelo Banco Central, permitindo que as empresas de “interesse nacional” pudessem importar bens de capital a um câmbio apreciado (atingiu 33%). Nos 13 anos de vigência lei, dos 160 pedidos de benefícios apenas 40 foram aprovados. Os ramos de máquinas e equipamentos elétricos, veículos e maquinaria, químico e metalúrgico responderam por 77.5% dos benefícios. As 40 indústrias declaradas de interesse nacional desfrutaram de cotas de importação, liberação de impostos de importação de matérias-primas e bens de capital e permissão para importação. A metade delas (pilhas, laminados de aço, plásticos etc.) já existia desde a II Guerra Mundial,

66 As leis 15.349 (1946) e 13.653 (1949), respectivamente, estabeleceram o marco jurídico para as empresas mistas e aquelas de controle totalmente estatal. A própria constituição de 1949 consagrou a intervenção estatal quando ela fosse necessária para preservar os interesses gerais (UGALDE, 1983, p. 49-50).

67 Em 1953, houve a aprovação da lei 14.122, que ofereceu benefícios à instalação de empresários estrangeiros no país, cotas de importação e deu garantias de repatriação dos lucros. Segundo Schvarzer (1987), a lei fomentou a atração de apenas US$ 42,7 milhões, dos quais US$ 33 milhões corresponderam a uma planta automobilística.

40% eram novas (antibióticos, automobilística, tubos sem costura etc.) e o restante, 10%, eram indústrias de “interesse nacional” (pólvora, ferro-gusa, enxofre etc.) (BELINI, 2010).

Embora somente 0.4% dos estabelecimentos tenham sido beneficiados, alguns casos tiveram considerável transcendência. As empresas de laminação (Acindar, Tamet etc.) incrementaram a produção quase cinco vezes e diversificaram a oferta de produtos - Dalmine surge, em 1953, com apoio estatal à produção de tubos sem costura, por exemplo. Em metalmecânica, a italiana FIAT comprou a unidade de tratores da IAME, a Mercedes Benz se instalou em parceria com empresário local, IAME estabeleceu parceria com a estadunidense Henry Kayser para a produção de automóveis68. Na indústria farmacêutica, multinacionais (Squibb &Sons, Parke Davis & Co. etc.) se instalaram com incentivos cambiais e isenção de impostos de importação. Na indústria elétrica, receberam apoio as indústrias de pilhas, motores elétricos e eletrodomésticos (Siam di Tella, por exemplo)69.

Apesar do discurso manifesto de não intervenção nos segmentos de atuação da iniciativa privada, com as aquisições e nacionalizações, o Estado passou a atuar e competir diretamente com os empresários locais, principalmente (tabela 5). Os casos mais paradigmáticos, durante o peronismo, se constituíram a Sociedad Mixta Siderúrgica Argentina (SOMISA) e Dirección Nacional de Industrias del Estado (DINIE) (caixa de texto 5).

Tabela 5: Empresas estatais criadas ou nacionalizadas durante o primeiro governo peronista

Empresa Ramo de atividade Forma de

investimento

Controle Ano

Atanor - Compañía Nacional para la

Industria Química Química - metanol, cloro e soda cáustica Novo DGFM e investidores privados 1944

Mercado Nacional de Frutas Frutas Novo Estatal 1944

Líneas Aéreas del Estado (LADE)* Aviação Fusão Estatal 1945

Instituto Mixto Argentino de Reaseguros

(IMAR)** Seguros Novo Parceria com seguradoras privadas (80%) 1946

Instituto Mixto de Inversiones Mobiliarias

(IMIM) Investimento em ações de empresas Novo Parceria com bancos privados (50%) 1947

Dirección General de Combustibles Sólidos Minerales – Yacimientos Carboníferos Fiscales (YPPF)

Exploração de carvão Novo Estatal 1945

Gas del Estado Distribuição de gás Nacionalização Estatal 1945

Dirección de Energía de la Provincia de Buenos Aires (DEBA)

Distribuição de energia Nacionalização Estatal 1947

Agua y Energía Eléctrica Geração, transmissão e

distribuição, irrigação

Novo Estatal 1947

Empresa Mixta Telefónica Argentina (EMTA)***

Telecomunicação Nacionalização Estatal 1948

Destilería de Alcohol Anídrico Álcool de milho Nacionalização Estatal 1948

Empresas Ferrocarriles Argentinos (EFA) Ferrovias Nacionalização Estatal 1949

Flota Argentina de Navegación de Navegação Nacionalização Estatal 1949

68 A produção de tratores e automóveis só ocorreu quando o Estado entrou diretamente na produção (via IAME) e ofereceu vantagens adicionais (empréstimos subsidiados, permissão para importação para montagem no país). 69 A lei 14.630 apoiou indústrias onde atuavam grandes empresas (automóveis, fármacos etc.) e aquelas com PME (motores elétricos, bens eletrodomésticos) (BELINI, 2010).

Ultramar (FANU) e Flota Argentina de Navegación Fluvial (FANF)****

Aerolíneas Argentinas***** Aviação Fusão Estatal 1950

Empresa Provincial de Energía de

Córdoba (EPEC) Distribuição de energia Nacionalização Estatal 1952

Industrias Aeronáuticas y Mecánicas del

Estado (Iame, Dinfia, Ime)****** Produção de aviões, automóveis etc. Fusão Estatal 1952

Astilleros y Fábricas Navales del Estado Estaleiro Novo Estatal 1953

* União das companhias estatais LANE e LASO, criados pela aeronáutica em 1940.

** Em 1957, a empresa foi nacionalizada e, em 1952, liquidada. As funções passaram a ser desempenhadas pelo Instituto Nacional de Reaseguros (INDER).

*** Compra de Unión Telefónica (ITT) e outras oito companhias privadas.

**** Aquisição da Compañia Argentina de Navegación Dodero e divisão dos ativos em FANU e FANF.

***** As empresas Flota Aérea Mercante Argentina (FAMA), Zonda, Alfa e Aeroposta Argentina, criadas em 1945 como sociedades mistas, foram unidas e nacionalizadas.

****** Sucessora da Fábrica Militar de Aviones.