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Fundação do Pólo Petroquímico de Bahía Blanca

Polo Petroquímico Bahía Blanca está inserido no projeto governamental de instalação das indústrias de base gestado em meados dos anos 1950. A decisão de criar dois pólos petroquímicos deu-se em 1967, quando uma comissão formada por técnicos das estatais DGFM e YPF realizou um estudo de viabilidade dos projetos petroquímicos. Em 1970, fundou-se a Petroquímica General Mosconi (PGM), em Ensenada. No ano seguinte, foi criada a Petroquímica Bahía Blanca (PBB). O projeto original para a instalação da PBB pertencia à multinacional Dow Chemical, que recebeu a autorização (decreto 6.908) em 1969, mas decidiu inaugurar uma petroquímica na Província de Santa Fe. A escolha da região patagônica para instalação da PBB decorreu do entroncamento de gasodutos ai instalados pelos quais fluíam o gás das bacias de Austral e Neuquén, da existência de infraestrutura portuária e de depósitos de sal (produção de cloro e soda, usados na terceira fase da indústria petroquímica). O pólo foi formado por um conjunto de sete plantas que operavam estreitamente ligadas. YPF fornecia o gás, Gas del Estado “craqueava” o gás e produzia eteno. Em seguida, uma empresa - formada pela Gas del Estado, YPF e DGFM e outras empresas privadas que operavam outras cinco plantas (satélites) - recebia o eteno e o processava para obter etileno. PBB iniciou as operações somente em 1987, por causa da apresentação separada dos projetos, dos atrasos na oferta de créditos do BND, das modificações técnicas e econômicas etc. Em 1991, o Estado vendeu suas ações nas empresas Petropol, Polisur, Induclor e Monómeros Vinílicos. Quatro anos depois, a partir da lei 24.045, privatizou o PBB.

Fonte: Odisio (2008).

O novo governo militar de 1976 assumiu a tarefa de aprovar os projetos apresentados dentro da lei 20.560. Em 1977, a lei de promoção 21.608 eliminou a diferença dispendida entre capitais estrangeiros e nacionais e demonstrou uma maior preocupação com os custos do fomento industrial e com os aportes mínimos do Estado. Para Schvarzer (1987, p. 35), “la política global de promoción industrial después de 1977 tendió hacerse más restrictiva entre 1979 y 1981, mediante la aplicación de criterios de indexación para impuestos diferidos

y el uso del cupo fiscal como criterio limitativo”99. No começo dos anos 1980, emergiram pressões para a flexibilização da lei 21.608, com a derrocada do regime militar.

Face ao ataque ao modelo de Bem Estar Social e reversão dos ideais keynesianos, no âmbito internacional, e ao fracasso da experiência peronista, no âmbito interno, o ministro da economia Alfredo Martínez de Hoz, no último governo ditadorial (1976-1981), levou a cabo um novo modelo de acumulação baseado no rentismo e nos fluxos de capitais (FREDERICO, 2007). Num contexto de alta inflação e crise econômica, o discurso de ineficiência das empresas estatais e de suas consequências sobre o déficit fiscal abriu o caminho para o desmantelamento do Estado empresário. Inicialmente, o processo de privatização ocorreu sob a forma de licitação de áreas de exploração de petróleo, subcontratação de atividades antes oferecidas por estatais e venda de participações acionárias.

Até finais dos anos 1980, sob a administração de Raúl Alfonsín (1983- 1989), 120 empresas haviam sido privatizadas, dissolvidas, liquidadas, entregues sob a forma de comodato, concedidas ou transferidas à justiça. Outras 46 estavam em processo de privatização. Houve a venda de participação acionária em 207 empresas e a declaração de falência de outras 46. O processo de privatização não foi linear, dada a estatização da Compañía Italo Argentina de Electricidad e das empresas vinculadas ao Banco de los Andes S.A. Em finais dos anos 1980, o contexto hiperinflacionário e a campanha negativa contra a empresa pública abriram caminho à privatização das principais empresas estatais.

Carlos Menem (1989-1999) aprofundou o processo de privatização e liquidou o BND100. A transferência de empresas ocorreu sob a forma de venda de ações e ativos, contratos de associação e concessões. As primeiras companhias privatizadas foram ENTEL e Aerolíneas Argentinas, seguidas por canais de televisão, empresas de energia e centrais hidroelétricas, rede ferroviária etc. Entre as empresas industriais, houve a venda destas empresas: Somisa, Altos Hornos Zapla, YPF, Gas del Estado e petroquímicas. Das 89 empresas estatais registradas em 1990, 27 foram privatizadas, 12 concedidas, duas estavam em processo de privatização, 30 haviam sido liquidadas ou se encontravam em processo de liquidação e somente 18 estavam em funcionamento (ROUGIER, 2012a). No governo Menem, houve ainda a assinatura do Tratado de Assunção, em 1991, que deu origem ao Mercado Comum do Cone Sul (MERCOSUL), do qual foram signatários, também, Brasil, Uruguai e Paraguai.

99 Entre 1979 e 1981, houve a aprovação de projetos, sob o novo regime, que somaram US$ 2.275 milhões. 100 Outras medidas abrangeram a desregulação da economia (diminuição das taxas e das cotas à importação) e o estabelecimento da lei de convertibilidade (equiparação do peso ao dólar). As medidas permitiram atacar a alta inflação sob o custo de altas taxas de juros e da dependência da entrada de capitais estrangeiros.

No Brasil, o general Emílio Médici (1969-1974) propôs o Programa de Metas e Bases para a Ação do Governo, com as seguintes áreas prioritárias: educação, saúde e saneamento; agricultura e abastecimento; desenvolvimento científico e tecnológico; fortalecimento do poder de competição da indústria nacional. As metas envolviam a manutenção das altas taxas de crescimento, a expansão do emprego, a elevação do investimento e das exportações. Para tanto, promulgou-se o I Plano de Desenvolvimento Nacional (PND), em 1971, para promover a expansão da infraestrutura (transportes e comunicações101), a produção siderúrgica e petroquímica, os estaleiros e a geração de energia. A lei 70.553 criou o Plano Básico de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PBDCT), para estimular programas setoriais e projetos que resultassem num upgrade tecnológico.

Entre os projetos elaborados, temos a ponte Rio-Niterói, as rodovias Transamazônica e Cuiabá-Santarém, as hidrelétricas de Três Marias e de Itaipu, a usina nuclear de Angra dos Reis, os corredores de exportação etc. Essas obras faziam parte do Plano de Integração Nacional (PIN). Quanto às estatais, a Petrobrás ampliou a atividade de refino e criou as empresas Braspetro (1970) e Petrobrás Distribuidora (1971) para, respectivamente, participar de joint ventures no exterior (exploração, assistência técnica) e ampliar a distribuição de derivados. As siderúrgicas estatais expandiram a produção102 e a CVRD ampliou as exportações de minério de ferro (BAER, KERSTENETZKY, VILLELA, 1973).

As exportações de produtos industriais receberam novos subsídios e incentivos fiscais por meio da criação da Comissão para Concessão de Benefícios Fiscais e Programas Especiais de Exportação (BEXIEX), em 1972. O setor industrial contou, ainda, com o Fundo de Modernização e Reorganização das Indústrias (FMRI), sob administração do BNDE, criado para apoiar a modernização, o aumento da escala de produção, a concentração de capitais e a formação de grandes empresas (BAER; VILELLA, 1980)103. O novo imposto, Programa de Integração Social (PIS), fortaleceu a Caixa Econômica Federal (unificada nos anos 1970) e a sua política de destinação de fundos especiais ao setor privado.

Com a crise do petróleo em 1973, os sucessivos saldos positivos na balança comercial diluíram-se e emergiram os déficits. A balança de pagamentos ampliou o saldo negativo. Ernesto Geisel (1974-1979) enfrentou-se com o dilema de promover um programa de austeridade ou levar a diante o projeto de “Brasil grande potência”. A decisão foi pela manutenção das taxas elevadas de crescimento econômico via diminuição das reservas

101 O governo criou a holding Telebrás, que passou a controlar as principais empresas regionais de telefonia. 102 A holding Siderbrás, criada em 1973, reuniu todas as empresas siderúrgicas sob controle estatal.

103 A partir de 1971, visando beneficiar os produtores locais de bens capital, a compra de maquinas e equipamentos produzidos no país tornou-se isenta dos impostos IPI e ICM.

cambiais e endividamento externo. Para tanto, lançou o II PND, com volumosos recursos carreados à expansão da indústria de base (petroquímica e siderurgia) e de bens de capital, e ampliação da infraestrutura econômica (geração de energia, transportes e comunicação).

Sawaya (2006) salienta os seguintes objetivos subjacentes ao II PND: i) alcançar autonomia em relação à economia internacional; ii) fortalecer as empresas nacionais; iii) enquadrar as empresas multinacionais aos interesses de desenvolvimento nacional. As estatais realizaram a maior parte dos investimentos em energia, siderurgia e infraestrutura econômica (Eletrobrás, Petrobras, Siderbrás104, Embratel etc.). Por exemplo, a Petrobras fundou a Interbrás (1976) - para promover a exportação de produtos nacional em troca da importação de derivados de petróleo, a Petrofértil (1976) – produção de insumos à agricultura – e Petromisa (1977) – pesquisas mineralógicas (NAPOLEÃO, 2002). A crise do petróleo impeliu ao incremento na produção de energia e avanço internacional da Petrobrás e à criação do Programa Nacional do Álcool, em 1975, para estimular a produção de álcool anidro.

Coube ao BNDE um papel importante no desenvolvimento das indústrias de base e de bens de capital105, por meio da criação de subsidiárias. A Financiamentos de Insumos Básicos S.A. (FIBASE) apoiou o suprimento de insumos industriais básicos - fertilizantes106, metais não ferrosos, papel e celulose, química etc. A Mecânica Brasileira S.A. (EMBRAMEC) fomentou as empresas produtoras de bens de capital. As duas subsidiárias apoiaram o setor privado, sobretudo, por meio da participação acionária minoritária. A Investimentos Brasileiros S.A. (IBRASA) atuou no suporte às firmas privadas via subscrição de ações preferenciais ou ordinárias. Outros programas criados consistiram no financiamento às PME e apoio na compra de itens básicos. A parcela dos empréstimos do banco na formação de capital fixo do país atingiu 9%, graças ao aporte dos recursos provenientes do PIS.

Em 1979, com término do II PND e a chegada ao poder do último governo militar, a inflação e o endividamento externo, já elevados, foram agravados pelo segundo choque do petróleo e pela escalada dos juros internacionais. O Estado abandonou o planejamento, desarticulou o esquema de incentivos administrados pela CDI, diminuiu

104 Em 1976, constituiu-se a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), uma joint venture de controle majoritário estatal e participação minoritária dos grupos Kawasaki (Japão) e Ilva (Itália). A CST iniciou a produzir semiacabados de aço em 1983. Em 1977, Siderbrás deu início à construção da siderúrgica Açominas. 105 Lograram apoio financeiro Ripasa Celulose e Papel, Indústrias Reunidas F. Matarazzo, Usina da Barra Açúcar e Álcool, Petrobrás, CSN, Aracruz Celulose S.A., Vale do Rio Doce, Pólo Petroquímico de Triunfo, Fundição Tupy, Indústria Têxtil Hering, Usina hidroelétrica de Itaipu, Cia. Votorantim, Alumínio Brasileiro S.A., Cimento Tocantins S.A., Bahia Sul Celulose, Pólo Petroquímico de Camaçari etc. (SILVA JUNIOR, 2009).

106 FIBASE (49%), em parceria com a estatal Petrofértil (49%) e governo do Estado de Minas Gerais (2%), criou a Fosfértil, em 1977. No mesmo ano, a Petrofértil assumiu o controle da empresa privada Ultrafértil (criada pela multinacional estadunidense Phillips Petroleum e o grupo local Ultra). Ver: Kulaif (1999).

gradualmente os incentivos fiscais à exportação, reduziu os subsídios às PME e à agricultura, eliminou os subsídios às importações, reduziu os empréstimos do BNDE e os investimentos em infraestrutura etc. Para compensar a perda dos subsídios, recorreu-se às desvalorizações da moeda e ao controle não tarifário das importações (VERSIANI; SUZIGAN, 1990).

Em 1979, são criados o Programa Nacional de Desburocratização e a Secretaria Especial para Controle de Empresas Estatais (SEST). Esta permitiu um controle mais centralizado das estatais. Face à escalada da inflação, os preços dos bens e serviços das estatais não foram reajustados, ao contrário, o preço real caiu de ferro e aço (50%), energia elétrica (40%) e serviços telefônicos (60%). As empresas estatais, também, assumiram empréstimos internacionais acima das suas necessidades para que o governo pudesse enfrentar a balança de pagamentos (BAER, 2002, p. 302-303). No ano de 1981, a Comissão Especial de Desestatização identificou 140 empresas que podiam ser privatizadas e recomendou a venda de 50 delas. Com a privatização, entre 1981 e 1984, arrecadaram-se US$ 190 milhões.

As instituições responsáveis pelo maior controle das importações, pelo apoio à exportação (reintrodução dos créditos de IPI) e pelos programas para o desenvolvimento de novas fontes de energia foram fortalecidas. Houve a fundação do Conselho Nacional do Álcool (CNAL) e da Comissão Executiva Nacional do Álcool (CENAL), para acelerar a produção de álcool, e o subsídio à conversão do uso de óleo combustível pela energia elétrica. Até meados da década, vários projetos iniciados com o II PND entraram em operação (energia, mineração) e promulgou-se a Política Nacional de Informática (1984), que apoiou a implantação do segmento de mini e microcomputadores por empresas privadas nacionais (SUZIGAN; VILLELA, 1997).

Entre 1985 e 1987, o Estado reorientou o desenvolvimento industrial, com ênfase na competitividade e no aumento da eficiência. O Ministério de Ciência e Tecnologia, criado em 1985, agrupou outros institutos (entre eles FINEP), estimulou a qualificação de recursos humanos e o desenvolvimento de novas tecnologias, implementou a política de informática etc. O CPA reformou as tarifas comerciais (eliminou as taxas redundantes), mas nãos alterou os níveis de proteção. Para apoiar as firmas exportadoras, criou-se o Programa de Apoio ao Incremento das Exportações (PROEX).

Segundo Suzigan; Villela (1997), sob um matiz liberal, promulgou-se a Nova Política Industrial (NPI), em 1988, cujo objetivo era atualizar a estrutura industrial e suportar a melhoria da eficiência e aumento da produtividade das empresas. Contudo, o sistema de proteção e subsídio à exportação permaneceu inalterado, inclusive, aumentaram os incentivos. Apesar da pequena redução na proteção tarifária (de 51 para 40%), não houve

alteração das barreiras não tarifárias. Logo após a NPI, estabeleceram-se as Zonas de Processamento de Exportações (ZPE), a fim de fomentar o desenvolvimento regional.

É nos anos 1980 que se acrescenta o “S” ao BNDE, com a constituição, em 1982, do Fundo de Investimento Social (FINSOCIAL), para diminuir as desigualdades por meio de investimentos na alimentação, habitação popular, saúde e educação (SILVA JUNIOR, 2009). O banco realizou 13 operações de reprivatização de firmas em dificuldades incorporadas pelo BNDESPar107, por meio do decreto n. 91.991, e aumentou o percentual dos empréstimos às indústrias, porém, continuou a concentração dos recursos à indústria tradicionalmente apoiada (celulose e papel, metalurgia, química, equipamentos de comunicação e elétricos, equipamentos de transporte, têxteis). A constituição de 1988 retirou os recursos do PIS do banco e lhe alocou 40% do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

Nos anos 1990, as políticas implementadas (entre elas o combate à inflação, redução do déficit público, a privatização de empresas estatais e a redução das tarifas aduaneiras de importação etc.) demonstraram, claramente, a redefinição da função do papel do Estado brasileiro na economia, cabendo ao capital privado o papel de condutor do desenvolvimento econômico. Essa redefinição marcou a opção pelo neoliberalismo, indicando que doravante interessaria mais o mercado, a eficiência e a competitividade.

As políticas de estabilização impediram qualquer elaboração de uma política industrial e ganhou importância a liberalização comercial e a competitividade. As medidas de combate à inflação, no governo de Fernando Collor de Mello, implicaram a eliminação dos incentivos fiscais (importações e exportações, superintendências, indústria de computadores etc.), a liberalização do câmbio, a redução gradual das tarifas de importação, a extinção de vários órgãos, a diminuição dos gastos das empresas estatais, a privatização108.

Sob a administração de Collor, seis importantes empresas foram transferidas às mãos da iniciativa privada, sendo três siderúrgicas (Usiminas, Acesita, CST), duas petroquímicas (Petroflex, Copesul) e uma produtora de fertilizantes (Fosfértil). Todas as empresas atuavam no setor industrial, as vendas envolveram 100% do capital acionário e foram arrecadados mais de US$ 4 bilhões. Houve uma coalizão de forças no processo de privatização envolvendo grupos econômicos locais de atuação industrial (Suzano Feffer, Odebrecht) e financeira (Banco Safra, Unibanco e Bozano Simonsen), empresa estrangeira (Nippon Steel), fundos de pensão das empresas estatais (Previ, do Banco do Brasil, e Sistel, da Embratel) e empresas estatais (Petrobras e CVRD) (SPOSITO; SANTOS, 2012).

107 Braço de investimentos do banco criado em 1982, por meio da fusão da Embramec, Fibase e Ibrasa. 108 A lei n. 8.031, de 1990, criou o Programa Nacional de Desestatização (PND).

Após a queda de Collor de Mello, o empossado Itamar Franco relutou um pouco, por causa de sua postura nacionalista, em retomar o programa de privatização. O mesmo ocorreu com relação à atratividade ao capital estrangeiro. Porém, enfrentou a inflação por meio do ajuste fiscal. O seu ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, implementou o Plano de Ação Imediata, que consistiu num corte de gastos, na maior rigidez no recolhimento dos impostos e na negociação das dívidas dos estados. Com a retomada das privatizações, o Estado saiu quase que por completo do setor industrial e empresas importantes (CSN, Ultrafértil, Cosipa, Açominas, PQU, Embraer) foram privatizadas. Os valores envolvidos nas negociações das estatais giraram em torno de US$ 3,4 bilhões, dos quais quase a metade procedeu da venda da CSN.

No governo de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), adotou-se uma política macroeconômica que, por um lado, permitiu o controle da inflação e, por outro lado, foi extremamente perversa porque se baseou numa paridade cambial, em elevadas taxas de juros internas e no aumento do endividamento público. As diretrizes de privatização contidas no PND foram mantidas e promulgou-se a lei n. 8.987, de concessão de serviços públicos, que abriu caminho à venda de empresas de serviços de utilidade pública (geração e distribuição de energia, fornecimento de gás, transporte ferroviário, telecomunicações), bancos e exploração petrolífera. Ao todo, nos dois mandatos de FHC, 80 empresas foram privatizadas a um custo de US$ 73 bilhões. Entre as empresas mais importantes que passaram às mãos da iniciativa privada, podemos citar CVRD, Telesp, Embratel, Banespa e inúmeras companhias estaduais de distribuição de energia elétrica.

O BNDES atuou como o gestor do Fundo Nacional de Estatização (FND), órgão vinculado ao PND, ou seja, como depositário das ações das empresas de propriedade direta e indireta da União. O banco deu o suporte técnico, administrativo, financeiro e material ao processo de privatização. Além disso, criou várias linhas de financiamento, com cobertura de quase todos os setores. Os principais beneficiários dos empréstimos foram: Cia. Votorantim, Cia. Suzano de Celulose, Embraer, Petrobrás, Gerdau, CSN, Estaleiro Mauá, Fiat, Construtora Mendes Júnior, Açominas, Aracruz Celulose, Cia. Siderúrgica de Tubarão, Sadia, Riocell Papel e Celulose, Andrade Gutierrez Construtora etc. (SILVA JUNIOR, 2009).

Apesar das medidas liberais, não houve um abandono das políticas setoriais. O BNDES desempenhou um papel importante no financiamento dos grupos vencedores da privatização e no processo de reestruturação (fusões e aquisições). Os fundos de pensão estatais também participaram do processo de privatização, num hibrido junto com sócios locais e empresas multinacionais (SPOSITO; SANTOS, 2012). Setorialmente, a indústria

automobilística contou com um regime especial de incentivo e proteção tarifária. No final dos anos 1990, foram criados fundos setoriais, com a participação da iniciativa privada na formulação e planejamento do incentivo à inovação (ALMEIDA, 2009).

No Chile, num contexto de maior tensão social, Salvador Allende assumiu a presidência em 1970, amparado numa coalizão de esquerda, e propôs um programa de governo de transformação do país em um Estado socialista. Com isso, pretendia superar o histórico processo de exploração e miséria desenvolvida sob o jugo do capital monopolista, a exploração imperialista e os privilégios de classe. Desde o início, buscou-se realizar uma profunda redistribuição dos salários, da riqueza e da propriedade privada.

Coube à CORFO um novo papel, não só na estatização, senão também na administração de empresas de diversos ramos e tamanhos. Isso resultou numa reorganização interna do banco que, além do planejamento, passou a realocar os capitais gerados pelas várias empresas. A estatização ocorreu em negócios estratégicos, como indústria, agricultura, mineração e banco. O fundamento institucional que permitiu a expropriação das empresas havia sido promulgado anteriormente: indústria - leis 520 (1932), 1.262 (1953) e 1.279 (1966); bancos - decreto n. 252 (1960); agricultura - lei 16.640 (1967). Em 1973, 421 firmas eram controladas pelo Estado, de distintos ramos da atividade econômica109 (tabela 7)

Tabela 7: Empresas sob controle da CORFO em setembro de 1973 Setores

Mais de 50% do capital

Controle majoritário com outras entidades

Sucursais das filiais da CORFO Interferidas ou confiscadas Total Antes

de 1970 de 1970 Depois Antes de 1970 Depois de 1970 de 1970 Antes de 1970 Depois de 1970 Antes de 1970 Depois

Florestal 5 9 - - - 7 21 Pesqueiro 4 7 - 1 - 1 - 8 21 Construção 1 5 1 1 - 2 - 10 20 Têxtil - 4 - - - 36 40 Químico 4 1 2 1 - 2 - 17 27 Energia e combustível 3 - - 2 2 - - 2 9 Eletrônico 2 2 - - - 1 - 16 21 Mecanização agrícola 1 5 - - - 6 Agroindustrial 3 8 5 - - 1 - 42 59 Metalurgia 2 5 1 1 - 23 - 49 81 Automotriz 1 7 - - - 3 11 Farmacêutico - 1 - - - 3 4 Mineração - 6 2 1 - 1 - 13 23 Metalmecânico - 1 - - - 1 Indústrias diversas 5 11 - 3 - 5 - 26 50 Serviços - - - 27 27

109 Em 1973, a participação das estatais no mercado era a seguinte: mineração (85%), indústria (40%), transporte (70%), eletricidade, gás e água (100%), comunicações (70%), sistema financeiro (85%) (LARROULET, 1984).

Total 31 72 11 10 2 36 - 259 421 Fonte: Larroulet (1984).

Org: Leandro Bruno Santos, 2012.

Além da expropriação, CORFO apoiou a modernização agrícola, a produção de maquinários agrícolas por Ransomes Chilena S.A., a ampliação da superfície planta de vinhedo e o aperfeiçoamento da comercialização, a construção de planta industrial da Madeco (cabos telefônicos, fios elétricos), a construção de fábrica de trifosfato de sódio, a instalação de rede micro-ondas com as empresas ENTEL e Compañía de Teléfonos de Chile, a produção em massa de eletrodomésticos e eletrônicos (Siam di Tella e Industrias de Radio y Televisión S.A.), a racionalização e criação de empresas automobilísticas (CORFO-Peugeot, CORFO- Citroen), a aliança com a espanhola Pegaso (ônibus) etc. (MARTÍNEZ et al. 1989).

Contudo, à medida que CORFO avançou sobre as atividades econômica, com a finalidade de promover o “desenvolvimento geral” e romper com as estruturas monopólicas, ela se tornou um fardo para o Estado, porque contribuía para agravar o déficit fiscal e o desequilíbrio externo (MARTÍNEZ et al. 1989, p. 235). Isso ocorreu porque as estatais foram os principais instrumentos usados para a redistribuição da renda (política de preços inferior ao custo da produção). Para Larroulet (1984, p. 138-140), as principais debilidades de tal política é que, de um lado, ela beneficiou os setores de maior renda e, de outro lado, penalizou os de menor renda com o aumento da inflação. A inflação se acentuou com a emissão de dinheiro para financiar a estatização, os investimentos e os subsídios.

Após a queda do governo da Unidade Popular, em 1973, e instauração do regime militar, adotou-se um novo modelo de intervenção econômica, no qual o mercado