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CAPÍTULO II – ESTUDOS CIENTÍFICOS SOBRE GENEROSIDADE

2.2 A generosidade para o bom funcionamento das empresas.

Adam Smith em seu livro “Teoria dos Sentimentos Morais”, publicado no ano de 1759, no que diz respeito à importância humana e social da Generosidade e da Justiça, professa: “a benevolência é menos essencial à existência da sociedade do que a

justiça. A sociedade pode manter-se sem benevolência, embora num estado não confortável; mas a predominância da injustiça a destruirá absolutamente” (1999, p.141).

É possível realmente que a injustiça social possa com efeito vir a destruir absolutamente nossa sociedade como decorrência de uma acumulação interminável de riqueza, conforme avaliou Marx.

Piketty avalia também que os níveis de desigualdade social, neste inicio de século XXI, encontram-se em níveis equivalentes aos do inicio do século XX, sem nenhuma possibilidade de inversão de tendência diante do modelo atual.

As revoltas sociais, fruto em parte da desigualdade extrema em que vivemos, já se encontram presentes na violência urbana protagonizada muitas vezes por jovens marginais que não gozam do mínimo de condição econômica para construírem uma vida digna.

Para uma família que perdeu um filho, vítima de um assalto violento, os reflexos dessa injustiça destruidora, prenunciada por Adam Smith, já se tornou realidade. Afinal, o que poderia ser mais socialmente injusto do que uma criança que nasce sem oportunidade de uma boa educação?

No entanto, seria realmente a generosidade algo secundário para o bom desenvolvimento de nossa sociedade?

Pesquisas recentes têm procurado investigar de forma mais profunda a importância e o poder econômico da generosidade.

Adam Grant, um premiado pesquisador e professor da Universidade de Wharton, propõe em seus estudos que os direcionadores de sucesso no concorrido mercado profissional globalizado, dinâmico e integrado de hoje, dependem muito mais da forma como interagimos e colaboramos com as pessoas do que somente de talento, trabalho duro, entusiasmo ou sorte. Grant demonstra, através de pesquisas em diferentes ramos de atividade, que a construção de uma sólida rede social de relacionamento, baseada em princípios de generosidade, conduz a um sucesso profissional duradouro e contagiante.

De acordo com seus estudos, poderíamos até mesmo sugerir a generosidade como uma competência comportamental qualitativa (“Competência da Generosidade”) passível de avaliação nas empresas e capaz de gerar ótimos resultados, pois parte de uma voluntariedade natural do ser humano em se apegar, reconhecer e seguir líderes empresariais essencialmente generosos.

Em seu livro “Give and Take”, publicado em 2013, Grant divide os profissionais nas empresas em três grandes grupos:

1 – Givers: profissionais que ajudam os outros sem esperar nada em troca; 2 – Takers: profissionais que apenas tentam fazer com que as outras pessoas atendam aos seus objetivos, enquanto preservam suas habilidades e seu tempo para si mesmos;

3 – Matchers: profissionais que estão dispostos apenas a ajudar os outros se (ou para) receberem algo em troca.

Grant também notou que a disposição em ajudar generosamente o outro está no centro de um ambiente empresarial que preza pela inovação, melhoria de qualidade e excelência dos serviços. E que, em locais de trabalho em que esse comportamento se torna uma norma, os benefícios se multiplicam rapidamente.

Em outras palavras, generosidade gera lucro para as empresas. Ou melhor, generosidade gera riqueza. Basta saber como trabalhar e identificar essa competência nas pessoas. (GRANT, 2013)

Em artigo publicado na Harvard Businesss Review, Grant destaca um estudo realizado pelo professor e pesquisador Nathan Podsakoff da Universidade do Arizona. O artigo descreve uma pesquisa na qual a equipe de Podsakoff analisou 38 estudos de comportamento organizacional representando mais de 3.500 unidades de negócios em diferentes indústrias. A análise identificou que a doação, colaboração e generosidade

dos empregados (Givers) em seu ambiente de trabalho e os resultados dos negócios nas diferentes indústrias avaliadas foram surpreendentemente positivos.

Ou seja, um ambiente empresarial no qual a generosidade é praticada, leva a uma maior rentabilidade, produtividade, eficiência e satisfação dos clientes. E ainda apresenta custos e taxas de rotatividade de pessoal mais baixa. Funcionários identificados como Givers facilitam também a resolução e a coordenação de problemas, afirma Grant.

Claro que os desafios de criar uma cultura de generosidade e um ambiente generoso dentro de uma empresa são diversos. E Grant levanta algumas questões em seu artigo que têm uma relação direta com as reflexões que estamos propondo neste trabalho.

Grant aponta que, da mesma forma que a Generosidade impulsiona alguns funcionários para o topo das organizações, ela também pode impulsionar para baixo. Isso representa um grande desafio aos gestores: é possível promover a generosidade sem cortar produtividade? Como evitar ou arbitrar situações em que pessoas generosas possam involuntariamente, através de suas atitudes, perder espaço para colegas egoístas (Takers)? Como, em suma, os gestores empresariais podem proteger profissionais generosos de serem tratados como “capachos”?

Se, a partir dos estudos de Adam Grant, assumirmos que indivíduos generosos realmente podem trazer melhores resultados para as empresas, certamente estamos diante de uma grande oportunidade de desenvolver ferramentas voltadas ao que denominamos “educação para generosidade”. Ao longo do tempo, na medida em que ações efetivas sejam tomadas nessa direção, certamente poderemos obter indicadores importantes que direcionem novas pesquisas e motivem novos pesquisadores.

No início deste trabalho, quando avaliamos o desenvolvimento do sistema capitalista, citamos algumas passagens de Marx, em que ele considera a educação como parte integrante dos modos de produção. Ele demonstra inclusive que a formação e educação do trabalhador ocorre ao longo do próprio processo de trabalho.

Uma vez que a generosidade passa a representar um fator importante para uma melhor formação do ambiente de trabalho, com importantes ganhos de produtividade e qualidade, a “educação para generosidade” certamente ganha ainda maior relevância, pois visa suprir não apenas um comportamento social desejável, mas uma melhoria direta no modo de produção capitalista avaliado de forma integrada à educação conforme postulou Marx.

Quando posicionamos os estudos de Adam Grant no contexto da educação podemos observar ainda outro ponto muito relevante.

Grant observou em suas pesquisas que os “Givers” (profissionais essencialmente generosos) estavam presentes tanto no topo como nas bases da pirâmide. Ou seja, que havia profissionais com ótimas qualificações no que chamamos de “competência da generosidade”, tanto em posições de destaque, como presidentes ou diretores de empresas, como também profissionais em funções simples do dia-a-dia das empresas, com ótimo potencial técnico, bons indicadores qualitativos na “competência da generosidade”, mas que não conseguiam evoluir na empresa.

Não há dúvida de que as qualificações que levam ao desenvolvimento profissional dos indivíduos são diversas, mas Grant destaca um ponto em especial que certamente pode ser ensinado e aprendido no contexto educacional.

O ponto, em si, é tão simples quanto destacável: “organização do tempo”. Em histórias relatadas em seu livro, esse pesquisador de Wharton aponta que, enquanto alguns profissionais “Givers” interrompem seus trabalhos a todo o momento para ajudar seus companheiros, outros reservam um horário no dia para isso. Dessa forma, esses profissionais que podemos denominar “Givers Eficientes” conseguem tanto exercer muito bem suas atividades rotineiras, como também auxiliar seus colegas, contribuindo para um ambiente mais agradável, harmônico, voltado à inovação, melhoria de qualidade e excelência dos serviços.

Certamente mais um ponto a ser trabalhado no campo educacional com jovens, ou mesmo com crianças, conforme demonstra Yves de La Taille em um artigo que avaliamos a seguir.