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CAPÍTULO III – DESENVOLVIMENTO DA FERRAMENTA PROPOSTA

3.1 Impactos e benefícios da tecnologia na educação

Para que possamos avaliar o papel da tecnologia nas relações de ensino e aprendizado dentro e fora de uma sala de aula, é importante observarmos primeiramente o papel da tecnologia no desenvolvimento da sociedade atual.

No capitalismo que vivemos hoje, a tecnologia vai além da busca por uma “mais-valia relativa” empregada diretamente nos meios de produção como forma de aumentar os lucros e geração de riqueza, como dizia Marx. A tecnologia é na atualidade, parte integrante da sociedade composta por indivíduos, empresas e estado, interligados em redes virtuais tanto no contexto local, nacional ou internacional no dizer de Castells e Cardoso..

Em um primeiro momento, a tecnologia apareceu de forma singular, através de estações de trabalho ou máquinas capazes de executar, de formas mais ágeis e organizadas, tarefas antes realizadas de forma manual. Hoje vivemos em uma sociedade em rede que, para o efetivo desenvolvimento de seu potencial, necessita da combinação de iniciativas de diversos setores conforme Castells e Cardoso descrevem no texto abaixo:

Quando, no ano 2000, a União Européia aprovou uma estratégia conhecida como a Agenda de Lisboa, para acompanhar os EUA em termos de competitividade econômica, enquanto fortalecia o modelo social europeu, a ênfase foi colocada principalmente na atualização tecnológica e no melhoramento das capacidades de pesquisa. A infra- estrutura tecnológica européia melhorou consideravelmente, mas os efeitos na produtividade, na formação, na criatividade e na iniciativa empresarial, foram muito limitados. Isto aconteceu porque agir no desenvolvimento potencial específico da sociedade em rede necessita da combinação de iniciativas em sectores como a tecnologia, os negócios, a educação, a cultura, a reestruturação espacial, o desenvolvimento de infra-estruturas, a mudança organizacional e a reforma institucional. É na sinergia entre estes processos que as ações têm capacidade de mudar os mecanismos da sociedade em rede. (CASTELLS, CARDOSO, 2005, p. 26)

A educação é parte integrante de uma sociedade em rede em que o “três estados de capital cultural”, incorporado, objetivado e institucionalizado, apontados por Bourdieu, assumem novas formas.

Se em algum momento a incorporação de um “capital intelectual” era estabelecida na escola ou na família como ensina Bourdieu, hoje o desenvolvimento da tecnologia oferece adicionalmente a internet como fonte de conhecimento e cultura.

Podemos apontar que a sociedade em rede ampliou e amplia cada vez mais o desenvolvimento cultural dessa sociedade em que também temos nossas virtudes inseridas.

Nesse contexto vale avaliar o que descreve Cesar Coll e Carles Monereo sobre o desenvolvimento da internet:

O fenômeno da internet e seu impacto na vida das pessoas seriam, neste sentido, apenas uma manifestação a mais e com toda certeza não a última, do novo paradigma tecnológico e das transformações socioeconômicas e socioculturais a ele associadas. Com efeito, a internet não é apenas uma ferramenta de comunicação e de busca, processamento e transmissão de informações, que oferece alguns serviços extraordinários; ela constitui, além disso, um novo e complexo espaço global para a ação social e, por extensão, para o aprendizado e para a ação educacional. (COLL, MONEREO, 2010, p. 16)

Não há dúvida de que os benefícios da internet para o desenvolvimento de ações no campo educacional são enormes e ainda muito pouco explorados. No entanto, vale observar também que, se por um lado a internet permite o compartilhamento e a troca de um volume ilimitado de informações entre um volume ilimitado de pessoas, por outro

ela não garante que esta enorme quantidade de conteúdo seja efetivamente incorporado como “capital intelectual” pelos indivíduos.

Ou seja, transformar informação em conhecimento ou nas palavras de Bourdieu, o “ter que se tornou ser, uma propriedade que se fez corpo”, é um desafio que persiste ou até mesmo se intensifica diante do enorme volume de informação disponível e de fácil acesso através da internet. Para isso, o direcionamento educacional torna-se imprescindível e avaliar os impactos e benefícios da tecnologia na educação torna-se importante para auxiliar no processo de escolha e administração desse processo.

Para Cesar Coll e Carles Monereo existem três conceitos que aparecem repetidamente nas literaturas sobre tecnologia e educação que merecem destaque: adaptabilidade, mobilidade e cooperação.

Para os efeitos deste trabalho e da metodologia empregada no desenvolvimento da ferramenta, avaliaremos em maior profundidade o aprendizado colaborativo e cooperativo que tem como intenção transformar em “capital cultural incorporado” habilidades de diversos membros de um grupo em torno de objetivos comuns. No entanto adaptabilidade e mobilidade também serão abordadas na medida em que questões como interface usuário-máquina em constante adaptação e o desenvolvimento da Web 2.0 em aplicativos móveis também representam fatores relevantes para o encaminhamento deste trabalho.

A incorporação das tecnologias de informação e comunicação aos diferentes âmbitos da atividade humana vem contribuindo para reforçar a tendência de projetar metodologias de trabalho e de ensino baseadas na cooperação, como explicitam Coll e Monereo.

O trabalho em grupo está presente nas diferentes esferas do relacionamento humano e é reconhecidamente importante para o bom funcionamento das empresas. Aprender e ensinar a trabalhar em grupo torna-se ainda mais importante com o desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação que ampliam de forma significativa o espaço de convivência e relacionamento humano.

Conforme avalia Adam Grant no contexto da generosidade nas empresas, os direcionadores de sucesso no concorrido mercado profissional globalizado, dinâmico e integrado de hoje, dependem muito mais da forma como interagimos e colaboramos com as pessoas do que somente de talento, trabalho duro, entusiasmo ou sorte.

De maneira a entender melhor os ambiente virtuais nos quais os indivíduos são levados a interagir e colaborar, Coll e Monereo identificam quatro categorias que

sintetizam sete tipos básicos de grupo com base em critérios de demanda e dependência em suas relações:

1) Grupos de trabalhos virtuais que atuam sobre demandas previstas com base em um formato colaborativo, mas de maneira independente. Esse grupo divide-se em: equipes de trabalho em rede com o objetivo de alcançar uma meta comum e equipes de serviços com o objetivo de desenvolver um serviço especifico em um tempo determinado.

2) Grupos de trabalhos virtuais que atuam também sobre demandas previstas, mas com base em um formato interdependente de grupo. Este grupo divide- se em: equipes de desenvolvimento de projetos e equipes de produção. Tanto em um quanto em outro, o grupo possui uma ligação na qual a ausência de um participante afeta diretamente o trabalho de todo o grupo.

3) Grupos de trabalhos virtuais que atuam em demandas inesperadas, mas com independência entre seus membros. Esse grupo divide-se em equipes paralelas e equipes de ação imediata.

4) Grupos de trabalhos virtuais que atuam em demandas inesperadas, mas com interdependência entre seus membros. Um exemplo desse formato de grupo são as equipes de gestão administrativas.

Categorizar esses tipos de grupo torna-se importante na medida em que iremos evoluir este trabalho no contexto da Web 2.0 que trataremos a seguir.

“A educação escolar deve servir para dar sentido ao mundo que rodeia os alunos, para ensiná-los a interagir com ele e a resolverem os problemas apresentados” (COLL, MONEREO, 2010). Nesse sentido, podemos abreviar nosso entendimento sobre os impactos e benefícios das tecnologias de informação e comunicação nas escolas, uma vez que o beneficio deve estar diretamente relacionado á capacitação dos alunos na resolução dos problemas de diferentes naturezas apresentados em suas interações com a sociedade capitalista em que vivemos, construímos e consumimos.

Conforme o paradigma Marxista, observamos que mais importante do que entender o que produzimos em uma determinada época, é entender a forma como produzimos. Mais especificamente, como forma de produção, quais qualificações são necessárias para resolver os problemas apresentados e demandados pela sociedade capitalista que tem seus meios de produção em constante evolução. Os benefícios e impactos das tecnologias na educação não fogem de atender esse contexto. Elas representam na verdade um suporte para que a engrenagem capitalista possa girar cada vez mais intensamente.

Acreditamos que as tecnologias da informação e comunicação estão para a educação de forma não diferente do que a tecnologia em si de produção esteve para Marx na composição do que ele denominou “mais-valia relativa”. Ou seja, algo que possa imprimir maior eficiência e eficácia aos processos produtivos ou aos processos educacionais de ensino e aprendizado na incorporação de um “capital social” conforme define Bourdieu.

Vale observar que Bourdieu define “capital social” como um valor decorrente de uma “rede de relações” entre os indivíduos e exprime dessa forma a importância, o valor e os benefícios dos relacionamentos em grupo no sistema capitalista. Conforme veremos a seguir, a Web 2.0 tem uma relação direta com essa “rede de relações” expressa por Bourdieu.