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A Gentrificação e os Conflitos ao Intervir no Espaço Urbano

CAP 03 REGENERAÇÃO URBANA: UMA ANÁLISE DOS ESPAÇOS SUBUTILIZADOS EM CENTROS URBANOS

10. Reconhecer que os diversos elementos que constituem uma estratégia podem evoluir em ritmos diferentes Onde será necessário redirecionar os recursos e ações, com o

3.4. A Gentrificação e os Conflitos ao Intervir no Espaço Urbano

As estratégias atuais para intervir nos centros urbanos ao redor do mundo ainda têm como base muitos dos conceitos originados a partir do período da Reinvenção Urbana, iniciado ainda na década de 80 e que vem se estendendo aos dias atuais (VARGAS; CASTILHO, 2009). As estratégias que valorizam a Regeneração Urbana e os princípios da sustentabilida- de são ainda recentes, em sua grande maioria ainda apresentam caráter de Plano. Mesmo com o crescimento do reconhecimento e importância das ações de regeneração que priori- zam os aspectos de sustentabilidade (seja ela social, cultural, econômica ou ambiental), a presença das estratégias que utilizam-se do conceito de city marketing e do planejamento es- tratégico de mercado para promover melhorias na imagem da cidade é ainda muito forte no contexto urbano contemporâneo. Com o avanço da globalização as Metrópoles passam a se vender como um produto lucrativo frente ao mercado mundial e áreas degradas/deterioradas dentro dessas cidades funcionam como marketing negativo na atração de capital e investi- mentos, assim como no posicionamento dessa cidade frente à competição do mundo globali- zado atual.

O processo de renovação urbana e de regeneração urbana de espaços subutilizados carrega consigo grandes riscos, uma vez que ambos dependem de investidores privados e do merca-

do como parte integrante desse processo. É preciso que exista organização e um direciona- mento adequado desses processos, a fim de evitar uma supervalorização da terra que acabe ocasionando uma consequente gentrificação em massa acabando por limitar um dos aspec- tos mais indispensáveis ao espaço urbano, sua diversidade.

As estratégias de marketing urbano mostram-se eficazes quando aliadas a uma gestão com- partilhada e democrática, onde os diversos atores atuam na definição da intervenção e onde o espaço é reestruturado de modo dinâmico, com diversidade nos usos, buscando atrair in- vestimentos para tornar a cidade mais competitiva. É preciso, no entanto, um cuidado espe- cial em não projetar apenas para o turista ou para a população flutuante. Sabe-se que em uma área degradada existe a necessidade de atrair de volta parte da população ao lugar, po- rém, o princípio norteador deve ser o de sempre criar áreas que promovam o bem-estar da população, bem-estar esse que deve ser tanto de caráter social, quanto ambiental e econô- mico.

Em uma época onde a imagem da cidade é extremamente importante para a competição do mercado capitalista, é necessário observar de perto e trabalhar os problemas sociais, já que esses problemas sociais podem ser mascarados com o urbanismo espetacular, mas surgirão novamente no futuro se não forem bem trabalhados. A gentrificação é hoje um dos aspectos mais discutidos quando se fala em intervenções no espaço construído, muitos projetos pro- movem o enobrecimento dos espaços transformando-os em locais para as classes de renda elevada, o que acaba por expulsar as classes mais humildes que antes utilizavam-se daquele espaço. Bidou-Za hariansen (2006), des a a que “a ualmen e a gen ri i ação re onhe ida como um elemento que se destaca na trans ormação dos en ros urbanos” e adverte também

sobre o perigo que existe quando se implementa um grande projeto de renova- ção/regeneração que ignora os efeitos desse processo.

As intervenções em áreas centrais devem ter o objetivo de promover o Centro para todos e não somente para as poucas elites que podem pagar para usufruir das suas potencialidades, entretanto vemos muitos bons projetos serem engavetados por não darem a devida atenção às questões urbanas e às necessidades das diferentes classes sociais ali presentes, são pro- jetos em larga escala que muitas vezes beneficiam apenas um núcleo especifico da popula- ção, acabando por gerar disputas dentro e fora do governo que chegam a atrasar por anos a implementação das intervenções. Fato este que muitas vezes pode fazer com que a situação diagnosticada se modifique ou se agrave, tornando o projeto desatualizado. A grande tarefa dos urbanistas e gestores na contemporaneidade é a de transformar uma área que hoje en- contra-se desvalorizada em uma região novamente dinâmica em seus variados aspectos – e não somente no quesito econômico - e diversificada, entretanto sem favorecer a população que encontra-se no topo da pirâmide social em detrimento da população mais humilde ou dos próprios moradores destes locais, já que todos possuem igualmente o direito sobre a cidade. O contexto de disputa entre as classes sociais apenas contribui para que maioria das inter- venções venha a fracassar, dividindo os envolvidos em dois macro-grupos, o dos grandes projetos que geralmente envolvem uma mudança substancial do ambiente construído, aca- bando por gerar um enorme aumento na valorização da terra e o grupo das moradias sociais que hoje busca revitalizar regiões degradadas/deterioradas como forma de suprir o déficit ha- bitacional existente nas Metrópoles. O que ocorre é que ambos os grupos possuem boas ini- ciativas e projetos, porém, da mesma forma que a criação de um parque linear iria revitalizar uma determinada região subutilizada, esse mesmo parque poderia acabar por expulsar anti-

gos moradores devido à supervalorização da terra no local. Nesta mesma linha de pensa- mento, acredita-se que promover a utilização dos edifícios ociosos para habitação social po- derá até garantir certa otimização da infraestrutura existente, mas essa estratégia por si só não devolve vitalidade a uma região que enfrenta esse quadro de deterioração, esvaziamento e redução do valor das transações. Sem o estímulo do sentimento de pertencimento ao lugar essa população tende a ir embora com o tempo e as atividades econômicas não sofrem o impulso necessário para se fortalecerem.

Sendo assim, mais uma vez entra em cena importância da diversidade de usos em uma in- tervenção urbanística, a necessidade de se estimular o uso por diferentes setores e classes sociais, buscando um equilíbrio no convívio entre eles. A gentrificação ocorrerá nesses espa- ços por se tratar de algo natural dentro da vida urbana, mas é preciso combater esse proces- so a fim de evitar que os grandes e audaciosos projetos de revitalização dos espaços públi- cos transformem essas áreas em novos condomínios fechados habitados somente pelas eli- tes.

Para ajudar nesse impasse surgem os conceitos defendidos pelo Novo Urbanismo e sua ver- tente contemporânea, o Urbanismo Sustentável, que tem a tarefa de unir esses grupos em favor do crescimento urbano sustentável da cidade e do bem-estar da população de forma geral, e não somente de alguns poucos e específicos. É a busca pela construção de uma ci- dade para todos, no lugar de uma cidade para poucos.

3.5. O Processo de Degradação / Deterioração no Centro de São Paulo - Bairro