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A gestão do mecenato cearense

No documento LEI JEREISSATI ( 1 9 9 5 a 2 0 0 3 ) (páginas 72-75)

O mecenato cearense é gerido pela Comissão de Análise de Projetos,

mais conhecida pela sigla CAP.

A CAP tem a seguinte composição: presidente nato – o secretário da Cultura e Desporto; representantes do poder público estadual – (três (3) servidores da SECULT

e um (1) servidor da Secretaria da Fazenda – SEFAZ; e (3) representantes da sociedade

civil (indicados por associações civis de fins culturais ou entidades de artistas).

Esta composição revela a quase completa inutilidade da participação da

sociedade, a não ser como colaboradora, uma vez que concentra todos os poderes decisórios da comissão nas mãos do Estado – no caso, personificado pelo gestor da Pasta da Cultura. O Estado, na CAP, tem cinco membros, contra três da sociedade civil, que são submetido a critério de escolha no mínimo questionável, pois “as indicações de representantes serão apresentadas em listas tríplices (...), cabendo ao secretário da Cultura e Desporto a escolha dos membros da CAP”.90

Note-se que não há a exigência de que as entidades culturais hábeis a

indicar membros para a CAP tenham caráter e atuação em todo o Estado, podendo representar – como usualmente ocorre – tão-somente as organizações da Capital.

Tampouco há um critério de alternância entre as diversas entidades que eventualmente

habilitem candidatos.91

Os contribuintes não se fazem presentes na composição da CAP e tampouco há representantes dos municípios.

90 Parágrafo 2º do Art. 2º do Decreto nº 23.882/95 (e alterações posteriores).

91 A CAP, segundo atos (inominados) do governador do estado, publicados no Diário Oficial do estado do Ceará, nas edições de 4 de dezembro de 1995, 3 de março de 1997 e 4 de maio de 1998, recrutou

representantes da sociedade civil exclusivamente das seguintes entidades: Associação de Cinema e Vídeo, Associação dos amigos da Música Antiga e Fundação dos Amigos do Teatro José de Alencar.

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Essa disparidade numérica de membros em favor do Estado já o exclui,

de pronto, do potencial usufruto do direito representado pela “delegação“ prevista na Lei Federal.

O que vem a ser isto? É a circunstância que permite a estados e Municípios

que tenham leis de incentivo à cultura regidas por comissões, no mínimo, paritárias, entre membros da sociedade civil e do poder público, para decidir sobre a aprovação de projetos oriundos do seu território, renunciando a tributos federais.

Segundo o critério de José Carlos Durand et al., a estrutura da CAP é das menos democráticas, dentre as similares no Brasil.92

Com referência à competência da CAP, aplicam-se as observações e informes expedidos quando da análise da Comissão Gestora do FEC. Quanto aos mandatos dos

membros da comissão analisada, na parte da composição vinculada ao Estado, também

é desnecessário repetir o que foi dito, aplicando-se igualmente similar argumentação,

no sentido da ausência de necessidade da renovação dos mandatos a cada ano.

Para os representantes da sociedade civil, contudo, é rota a legislação, pois textualmente prescreve que “terão mandato de um ano, permitida a recondução

por igual período”.93 Sublinhe-se que a norma permite a recondução, e não uma, duas ou três reconduções, ensejando a quebra, deforma sub-reptícia, do princípio da temporariedade dos mandatos, inerente ao republicanismo adotado pelo Brasil.

Os leitores hão de observar possível contradição em nosso argumento,

passível de tradução pela seguinte pergunta: por que limitar os mandatos de uns e não

de todos? A resposta é simples: os representantes vinculados ao Estado representam um interesse que, com as devidas desculpas a Marx, é perene, desenvolvendo, tais agentes, seu mister de forma impessoal, podendo ser substituídos por outros, a qualquer

momento, sem que a finalidade da norma seja violada. Quanto aos representantes da sociedade, estes espelham um dado momento desta, que é muito mais dinâmica que o Estado e necessita constantemente das possibilidades de renovação.

92 DURAND, José Carlos; GOUVEIA, Maria Alice de; e BERMAN. Patrocínio Empresarial e Incentivos Fiscais à cultura no Brasil. Análise de uma Experiência Recente. Paper apresentado no XVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, promovido pela INTERCOM/ Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Aracaju, 6 a 10/09/95. Atualizado com informações colhidas na cerimônia de abertura do evento Economia da Cultura: as leis de incentivo, promovido em São Paulo, em 12/09/95.

Estes autores constataram, em estudo comparado:

“Com exceção das leis municipais de São Paulo e Salvador, que admitem maioria para os representantes das entidades culturais (...), nas demais se vê um equilíbrio entre representantes do governo e das entidades artísticas. Como casos limites, as leis de Londrina, Estado do Paraná, e de Teresina, no Piauí, concentram poder em mãos de representantes das áreas de finanças, cultura e da chefia do executivo municipal”.

E assentando posição axiológica própria, concluem, ironizando:

“Ou os prefeitos de Teresina costumam ser mais envolvidos e versados em cultura que os do resto do País, ou a sociedade civil local está em nível tão baixo de estruturação que não existem entidades organizadas na área cultural, ou é clientelismo explícito mesmo.”

93 Parágrafo 5º do Art. 2º do Decreto nº 23.882/95 (e alterações posteriores).

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Quadro comparativo da participação popular no gerenciamento das legislações de incentivo à cultura (principalmente no que concerne ao mecenato), nos âmbitos federal, cearense e fortalezense

FEDERAL

1) É tentada através da CNIC, assim composta:

.membros natos:

ministro (presidente)

. mresidentes das vinculadas (em número de 5)

. presidente do Fórum de Secretários de Estado e Distrito Federal membros indicados:

. (com mandato de 2 anos, renovável uma vez):

. 1 representante do empresariado nacional

. 6 representantes de entidades Artístico Culturais de caráter nacional 2) Competências da CNIC:

. deliberar sobre os limites do PRONAC . apreciar recursos de projetos não aprovados . aprovar o plano anual de trabalho do FNC

. ampliar o rol de ações do PRONAC . ampliar o rol de segmentos do PRONAC

. fixar as entidades que podem apresentar planos de atividades no lugar de projetos . apreciar recursos sobre contas não aprovadas

. estabelecer projetos prioritários, nas carências de recursos . avaliar o PRONAC

3) A SISTEMÁTICA DA DELEGAÇÃO, que consiste na possibilidade de que a análise, a aprovação, o acompanhamento e a avaliação técnica dos projetos – resguardada a decisão final pela CNIC – possam ser delegados pelo Ministério da Cultura aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios, mediante instrumento jurídico que defina direitos e deveres mútuos.Contudo, a delegação dependerá da existência de:

a. lei de incentivos fiscais para a cultura, no âmbito do ente delegado;

b. órgão colegiado, cuja existência esteja prevista pela dita Lei, para análise e aprovação dos projetos; e c. que o referido órgão colegiado tenha representação da sociedade pelo menos paritária, e as diversas áreas culturais e artísticas estejam representadas.

CEARENSE

1) É tentada através da CAP, assim composta:

.membro nato:

. secretário (presidente) membros nomeados:

. 3 servidores da SECULT . 1 servidor da SEFAZ

membros indicados, com mandato de 2 anos, sem limite de renovação:

. 3 representantes de entidades artísticas e culturais Competência da CAP:

-deliberar sobre projetos e, para tanto definir critérios e proceder a diligências, incluindo perícias . -apreciar pedidos de reconsideração.

FORTALEZENSE

1) É prevista na Lei uma comissão composta por:

. Técnicos do município, dentre os quais é obrigatória a presença de representantes da SEFIN; e . Artistas indicados por sindicatos e associações

A Lei, contudo, remete toda a regulamentação para Decreto do executivo.

Competências da Comissão:

– analisar e avaliar projetos culturais.

FONTE: CUNHA FILHO,2002.

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