• Nenhum resultado encontrado

Indústria cultural

No documento LEI JEREISSATI ( 1 9 9 5 a 2 0 0 3 ) (páginas 130-137)

dinheiro”, o cineasta Arnaldo Jabor citava a opinião de Orson Welles sobre a matériaprima

dos cineastas: “De l’argent, monsieur, de l’argent”.

Mas se a demanda é sempre a mesma, a clientela é no entanto bastante

variada: órgãos públicos os mais diversos, fundações culturais, associações de bairro,

organizações profissionais, artistas, produtores, diretores, etc. E essa multiplicidade de clientes acaba fazendo com que a atuação dessas agências, por força da

distribuição fragmentária de recursos, assuma uma acentuada natureza pluralista.

De fato, a crítica de “sectarismo” não é formulada contra essas agências, que normalmente gozam de apoio sensível nas suas respectivas clientelas.

A segunda característica fundamental dessas agências, além de seu

clientelismo pluralista, é o seu caráter assistencial: elas tendem a apoiar atividades que, por várias razões, encontram grandes dificuldades para sobreviver no mercado da indústria cultural. É o caso, por exemplo, do teatro, da ópera, da dança, do circo, da música de concerto, de algumas manifestações das artes plásticas, e do chamado

“folclore” em geral. Aliás, essa atividade assistencial não é própria apenas do caso brasileiro, pois a literatura existente a evidencia como sendo universal,

independentemente do tipo de sistema econômico da sociedade.

153

É preciso destacar, ainda, que a ausência de uma política cultural definida por parte do Estado, e de uma estrutura organizacional hierárquica, gerou uma autonomia bastante ampla para essas agências, autonomia que foi ainda mais acentuada pelo fato de alguns setores da sociedade as terem adequadamente percebido como “agências de socialização política” ou “aparelhos ideológicos do Estado” e, pois, como arenas políticas, como espaços a serem democratizados. Da multiplicidade de atores assim envolvidos no processo de decisão dessas agências, resultou um insumo constante de novas idéias, muitas das quais deram origem a um número expressivo de programas e projetos culturais de inegável qualidade.

Apesar dos inevitáveis “acidentes de percurso” da difícil fase política atualmente vivida no País, o fato é que o saldo da ação dessas agências, a julgar pela própria opinião de seus muitos beneficiários, e da imprensa em geral, é nada desprezível.

Diria mesmo que é positivo.

demandas de camadas menos favorecidas da população. Tal correção é certamente necessária, e a meu ver inevitável. as a inexistência de uma política orgânica substantiva na área da cultura não significa que não exista no País um projeto cultural

em execução. Esse projeto existe, é o projeto do mercado, é a indústria cultural.

Não é um projeto engendrado e implementado pelo Estado, mas sim por empresas privadas, sendo por ele consentido. E não sem poucos conflitos: conflitos entre produtores de espetáculos artísticos e a censura; entre empresas nacionais e

multinacionais na área do cinema; entre instituições privadas e órgãos públicos no campo da preservação do chamado patrimônio histórico nacional; etc. endo em vista o rápido crescimento da indústria cultural, é possível que a questão da sua regulação pelo Estado venha a transformar-se em tema de debate público nos 154

próximos anos. A questão é delicada. De um lado, existe o temor, compartilhado por todos, de que uma política cultural que vá além da prática hoje em execução possa pôr em perigo a liberdade de criação, possa deixar de fomentar e passar a dirigir o processo cultural. De outro lado, a ausência de ações estatais tendentes a regular o mercado, permitindo assim o seu arbítrio completo no que diz respeito à produção, circulação e consumo de bens culturais, acarretaria a reprodução das grandes desigualdades que caracterizam esse mesmo mercado. É que se aplica à distribuição da riqueza cultural o mesmo raciocínio aplicável à distribuição da riqueza material: ou bem existe uma vontade política de alertar o processo, ou este, entregue à sua própria lógica, não resolverá o problema nem na rapidez nem na profundidade necessárias a uma sociedade que se quer democrática.

O argumento é ponderável dos dois lados, e é evidente que a solução

não dependerá do esforço de introspecção dos dirigentes das agências públicas da área cultural. O problema, não sendo individual, mas político, só se resolverá democraticamente através de amplo e livre debate de todos os interessados. O certo é que qualquer reorientação de profundidade na atuação das agências de fomento da área da cultura terá necessariamente de passar por essa questão fundamental:

como posicionar-se ante uma sociedade crescentemente de massa e dotada de uma forte indústria cultural, sem querer competir isoladamente com essa indústria (sob pena de fracasso, como exemplificado pelas televisões educativas), e sem recusar a sua realidade, voltando-se para o passado na busca idealizada de um patrimônio histórico e artístico “nacional”.

6

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Cândido José Mendes de. Arte é Capital, 1994, Rio: Roco

ARTICULTURA COMUNICAÇÃO ILIMITADA. Curso Básico Intensivo de Marketing Cultural, 1995.

BARBALHO, Alexandre. Relações entre estado e cultura no Brasil. Ijuí: Ed.

UNIJUÍ, 1998

BARBOSA, Lucia Machado; BARROS, Maria do Rosário Negreiros; BIZERRA,

Maria da Conceição (Orgs.) Ação Cultural: idéias e conceitos. Recife: Editora Massanguana, 2002

BARROS, José Márcio. Raízes e Antenas – Política Cultural, Contemporaneidade e Cidadania, 2000, Revista Trabalhos de Antropologia e Etnologia, Vol. 40 (1-2), Porto, Portugal.

BAUDRILLARD, Jean. Sociedade de Consumo, 1981, Lisboa, edições 70.

BOBBIO, Noberto. O Futuro da Democracia: Uma defesa das regras do jogo, Rio de Janeiro, Paz e terra, 1986.

BORGES, Moacir Carlos. Roteiro para execução e prestação de contas de projeto cultural. Brasília, Ministério da Cultura.

BRANT, Leonardo Botelho. Marketing Cultural não é só patrocínio, http://

www.zaz.com.br/pensarte

BRANT, Leonardo Botelho. Mercado Cultural. São Paulo: Escrituras, 2001.

CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização, 1995, Rio, ED. UFRJ.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Tomemos a sério os direitos econômicos, sociais e culturias. Coimbra- Portugal: Universidade de Coimbra, 1998.

CAVALCANTI, Márcio Novaes. Fundamentos da Lei de Responsabilidade Fiscal.

São Paulo: Dialética.

CESNIK, Fábio de Sá e MALAGODI, Maria Eugênia. Projetos culturais:

elaboração, administração, aspectos legais e busca de patrocínio. 4 ed. São Paulo:

Escrituras, 2001.

156

CHAUÍ, Marilena de Souza. Cultura e Democracia. São Paulo, Cortez, 1998.

COELHO, Teixeira. Dicionário Crítico de Política Cultural, 1997, São Paulo, Iluminuras.

COMPARATO, Fábio Konder. “Incentivo tributário à cultura” in Revista de Direito Tributário. São Paulo: julho a setembro de 1990. p. 53, 77-81

COSTA NETO, José Carlos. Direito autoral no Brasil. São Paulo: FTD Constituição da República Federativa do Brasil, Brasília, 1998.

CUNHA Filho. Francisco Humberto. Teoria e prática da gestão cultural. Fortaleza:

Universidade de Fortaleza – UNIFOR, 2002

______. Análise da concepção, estrutura e funcionamento da “ lei Jereissati”.

Fortaleza, 2002.

______. Normas básicas da atividade cultural. Co-autoria com Artur Bruno. Inesp, 1998.

______. Direitos culturais como direitos fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro, Brasília jurídica, DF , 2000.

DEBATES, Fundação Konrad Adenauer. A Constituição Democrática Brasileira e o Poder Judiciário. São Paulo, 1999.

DIAZ, Elias. Estado de direito e sociedade democrática. Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1972.

DÓRIA, Antônio Roberto Sampaio (coordenador). Incentivos fiscais para o

desenvolvimento. São Paulo: José Bushatsky Editor.

DURAND, José Carlos. Profissionalizar a Administração da Cultura, 1995, II Encuentro Internacional sobre Formacion en Gestion Cultural, OEI.

______. Patrocínio Empresarial e Incentivos Fiscais á Cultura no Brasil..., 1995, XVIII Congresso da INTERCOM

FARIA, Hamilton / SOUZA, Valmir de (orgas). Projeto Cultural para um Governo Sustentável. São Paulo: POLIS – Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais.

FEATHERSTONE, Mike. Cultura Global. 5ª ed. Rio de Janeiro, Brasiliense, 1997.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, Diagnóstico dos Investimentos em Cultura no Brasil, 1998, Belo Horizonte.

157

FERREIRA, Sérgio D´andrea. “O incentivo fiscal como instituto do direito econômico “in Revista de Direito Administrativo. Rio de janeiro, janeiro e março de 1998. p. 211-31-46

GRECO, Marco Aurélio. “Notas à lei de incentivos fiscais à cultura” in Revista Forense. São Paulo, abril a junho de 1987. p. 298, 116-123.

GREENBERG, Clement. Arte e Cultura: ensaios críticos. São Paulo, Ática, 1997.

HALL, Stuart. Identidades Culturais na Pós-Modernidade, 1997, Rio, DP&A.

HERSCOVICI, Alain. Economia da Cultura e da Comunicação. Vitória: fundação ceciliano Abel de Almeida, UFES, 1995.

HIGUCHI, Hiromi; HIGUCHI, Fábio Hiroshi, Celso H. Imposto de renda das empresas: Interpretação e prática. 25 ed. São Paulo: Atlas, 2000.

IANNI, Octávio. A idéia de Brasil moderno. São Paulo, Brasiliense, 1992.

______. A Sociedade Global. Rio de Janeiro, Brasiliense, 1997.

JELÍN, Elizabeth; INGLESIAS, Enrique; outros. Cultura e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Cadernos de nosso tempo, Edições Fundo Nacional de cultura, 2000.

KOTLER, Philip. Administração de Marketing, 1994, São Paulo, Atlas.

LAURELL, Ana Cristina (Org.). Estado e Políticas Sociais no Neoliberalismo.

São Paulo, Cortes, 1997.

Lei nº 12.464, de 29 de junho de 1995. De incentivos fiscais à cultura, à

administração do Fundo Estadual de Cultura e dá outras responsabilidades. Ceará.

LIPOVETSKY, Gilles. A era do vazio: ensaio sobre o individualismo contemporâneo, São Paulo, 1983.

LISBOA, Simone Marília. Razão e Paixão dos Mercados – um estudo sobre a utilização do marketing cultural pelo empresariado. Belo Horizonte, C/Arte, 1999.

MACHADO NETO. Manoel Marcondes. Marketing cultural: Das práticas à teoria.

Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda, 2002

MARCUSE, Hebert. Cultura e Sociedade, São Paulo, Paz e terra, 1998.

MÉLEGA, Luiz. Programa Nacional de Apoio à Cultura – PRONAC. São Paulo:

LTr Suplemento Tributário, 36/95, 1995, p.249-250; Legislação do Imposto sobre 158

a Renda – incentivos a projetos culturais – Programa Nacional de Apoio à Cultura.

São Paulo, 19/92, 1992. p. 137-142

MELLO, Mário Vieira de. Desenvolvimento e Cultura. São Paulo, Paz e terra, 1999.

MENDES, Cândido. A arte é capital, visão aplicada do marketing cultural. Rio de janeiro: Rocco, 1994.

MOISÉS, José Álvaro & BOTELHO, Isaura. Modelos de Financiamento da Cultura.

Rio, Funarte, 1997.

MORAIS, Denis. Globalização: Mídia e Cultura Contemporânea. São Paulo, Letra Livre, 1999.

NAVAS, Cássia. Dança e Mundialização – Políticas de Cultura. São Paulo, Hucitec,

1999.

NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Curso de Direito Tributário. 14 ed. São Paulo: Saraiva, 1995.

OLIVEIRA, Manfredo Araújo & TEIXEIRA, Francisco J. S. (orgs.). Neoliberalismo e Reestruturação Produtiva. São Paulo, Cortez, 1998.

OLIVEIRA, Vicente Kleber de Melo. Direito Tributário – Sistema Tributário Nacional – Teoria e prática. Belo Horizonte: Del Rey, 2001.

ORTIZ, Renato. Cultura e Modernidade. São Paulo, Brasiliense, 1997.

PELLEGRINI F, Américo. Ecologia, Cultura e Turismo. São Paulo, Papirus, 1998.

PORTO, Marta. A Empresa e os Investimentos Culturais. http://www.zaz.com.br/

pensarte , Revista Marketing Cultural.

PORTUGAL, Leila e BORGES, Moacir Carlos. Manual de prestação de contas de projetos incentivados. São Paulo: Ministério da Cultura, Secretaria do audiovisual.

RAUL, Antelo. Declínio da Arte – Ascensão da Cultura. São Paulo, Letras Contemporâneas, 1998.

REIS, Ana Carla Fonseca & SANTOS, Rubens da Costa. Patrocínio e Mecenato:

ferramentas de enorme potencial para as empresas. Revista da Administração de Empresas, São Paulo, vol. 36, n. 2, 1996.

ROCHA, Everardo. Magia e Capitalismo: um estudo antropológico da publicidade.

Rio, Brasiliense, 1990.

159

RUBIM, Antônio Albino Canelas. Dos sentidos do Marketing Cultural. Revista Brasileira de Ciências da Comunicação, vol. XXI, 1998.

SANTOS, Manoel Lourenço dos. Direito Tributário. 3 ed. Rio de janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1970.

SEBRAE. Estratégias de Marketing Cultural. S.d, SEBRAE/RJ.

SECRETARIA DA CULTURA E DESPORTO DO CEARÁ.Muita gente entrou para a História ajudando a arte e a cultura. Agora você pode ganhar dinheiro fazendo o mesmo. Fortaleza: [S/D].

______.Plano de Cultura. Fortaleza : 1995 e 2002.

SESC/SEBRAE. Arte e Empresa – Parceria Multiplicadora. São Paulo, 1995.

SEBRAE. Como elaborar projetos culturais para captação de patrocínio.

SEBRAE/

RJ, 1996.

SILVA, José Afonso da. Ordenação constitucional da cultura. São Paulo: Malheiros Editores, 2001.

SILVEIRA, PX. Projeto elevado à arte. Rio de janeiro: Fundação Nacional de Arte, 2001.

SINGER, Paul. O Brasil na Crise: Perigos e Oportunidades. São Paulo, Editora Contexto, 1999.

SOCOLIK, Hélio. “Incentivos fiscais e renúncia de receita” in Tributação em revista.

São Paulo, janeiro a março de 1994. p. 35-52.

TOBAR, F. O Conceito de Descentralização: Usos e Abusos. Planejamento e Políticas Públicas, n. 5, jun. 1991, IPEA, DF, pp. 37-68.

VIEIRA, Evaldo. Democracia e Política Social. São Paulo, Cortez, 1992.

WEFFORT, Francisco. A cultura e as revoluções da modernização. Rio de janeiro:

Cadernos do Nosso Tempo, Edições Fundo Nacional de Cultura, 2000.

WEFFORT, Francisco e SOUZA, Márcio. Um olhar sobre a cultura brasileira.

Rio de janeiro: Funarte, 1999.

Livros Grátis

( http://www.livrosgratis.com.br ) Milhares de Livros para Download:

Baixar livros de Administração Baixar livros de Agronomia Baixar livros de Arquitetura Baixar livros de Artes

Baixar livros de Astronomia Baixar livros de Biologia Geral

Baixar livros de Ciência da Computação Baixar livros de Ciência da Informação Baixar livros de Ciência Política

Baixar livros de Ciências da Saúde Baixar livros de Comunicação

Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE Baixar livros de Defesa civil

Baixar livros de Direito

Baixar livros de Direitos humanos Baixar livros de Economia

Baixar livros de Economia Doméstica Baixar livros de Educação

Baixar livros de Educação - Trânsito Baixar livros de Educação Física

Baixar livros de Engenharia Aeroespacial Baixar livros de Farmácia

Baixar livros de Filosofia Baixar livros de Física

Baixar livros de Geociências

Baixar livros de Geografia

Baixar livros de História

Baixar livros de Línguas

No documento LEI JEREISSATI ( 1 9 9 5 a 2 0 0 3 ) (páginas 130-137)

Documentos relacionados