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Elementos comuns ao Fundo Estadual de Cultura

No documento LEI JEREISSATI ( 1 9 9 5 a 2 0 0 3 ) (páginas 31-49)

Para iniciar a análise da estrutura e funcionamento da “Lei Jereissati –

LJ”, destacamos o trabalho realizado pelo Professor Francisco Humberto Cunha, que editou em 2002 o livro Análise da concepção, estrutura e funcionamento da

“Lei Jereissati,” e outras publicações39 que tratam da sua experiência como Secretário

de Cultura de Guaramiranga,40 enriquecida por sua experiência como professor da área de Direito da Universidade de Fortaleza.

Sua análise de cunho deontológico ajudou a compreender meandros da

LJ, principalmente em seus aspectos jurídicos, deixando o espaço aberto para uma compreensão mais qualitativa e sociológica do objeto de estudo.

Antes de entrar na especificidade dos incentivos fiscais relativos à LJ,

faz-se necessário fazer um breve comentário dos incentivos fiscais como um todo.

Incentivos fiscais são estímulos concedidos pelo governo, na área fiscal, para a viabilização de empreendimentos estratégicos, sejam eles culturais, econômicos ou sociais. Tem ainda a função de melhorar a distribuição da renda regional (CESNIK e MALAGODI, 2002); a explicitação feita Antônio Roberto Sampaio Dória41 fala do incentivo como “instrumento de vitalização econômica dirigida” e acrescenta:

(...) o estímulo tributário desdobrou-se no Brasil, na década passada, num leque de alternativas que em originalidade, amplitude e ambição de propósitos, não encontra símile no mundo contemporâneo.Programas de desenvolvimento lastreados em análoga instrumentação, como o do Mezzogiorno na Itália meridional e de porto Rico nas Antilhas, apequenam se diante da experiência brasileira que, ainda quase só potencial, entremostra apenas seus primeiros frutos.

39 CUNHA, Francisco Humberto. Normas básicas da atividade cultural (co-autoria com Artur Bruno),

INESP/CE, 1998. Direitos culturais como direitos fundamentais na ordenamento jurídico brasileiro, Brasília Jurídica, DF, 2000. Teoria e prática da gestão cultural, UNIFOR/CE, 2002.

40 Informações sobre Guaramiranga, Área: 107,6km². População: 5.705.Distância da Capital em Linha Distância por Rodovia: 92km. Vias de Acesso à Capital: CE 356 e CE 065 (dados do IPLANCE- 2002).

Hoje possuindo dois projetos inseridos no calendário cultural do Estado e da Região Nordeste: Festival Nordestino de teatro e Festival de Jazz.

41 DÓRIA,Antônio Roberto Sampaio(org). Incentivos fiscais para o desenvolvimento. São Paulo: José Bushatsky editor.

40

No ângulo positivo, revelou o incentivo fiscal extraordinária flexibilidade em se acomodar aos mais diversificados escopos.

Constitui-se, ademais, excelente fórmula de compromisso para integrar no projeto comum de desenvolvimento de correção de desequilíbrios no País, o dinamismo no processo econômico privado e a necessária coordenação da receita, a mola que os impulsiona (DÓRIA, 2001).

Certamente que os graves e profundos desequilíbrios regionais

brasileiros ainda precisam ser enfrentados de forma mais ampla, especificamente os incentivos fiscais ligados à cultura no Brasil, onde a produção cultural nacional movimenta mais de 1% do PIB;42 mas esses aspectos já foram tocados e

aprofundados

no primeiro capítulo, cabendo nesse momento um olhar mais acurado da Lei Estadual

de Incentivo do Ceará.

Vivenciamos, todavia, na atual estrutura tributária brasileira um grave

equívoco baseado na discriminação do município que cada vez mais é cobrado de sua função social, econômico e cultural, e cada vez menos tem acesso ao bolo da arrecadação. Desfazendo um pouco do “canto da sereia” da municipalização que repassa atribuições em forma geométrica e repassa os meios financeiros e

econômicos

em forma aritmética, temos que repactuar a Federação brasileira em parâmetros de maior respeitabilidade ao ente federativo primeiro e mais próximo dos problemas cotidianos, que é o Município, e para isso necessitamos sim de uma reforma tributária

que pelo menos devolva os patamares de 1988.43

Outro aspecto a ser destacado é a importância do envolvimento dos

municípios nas discussões e destinos e aplicações das leis de incentivo estadual para a cultura, mas, ainda retornaremos a essa questão mais adiante.

O primeiro aspecto a ser destacado refere-se ao tributo escolhido para

que os respectivos contribuintes possam deixar de pagar uma certa quantia devida ao Estado, a fim de favorecer um projeto cultural ou Fundo Estadual de Cultura.

Este tributo é o Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre a Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação-mais conhecido pela sigla ICMS (CUNHA FILHO, 2002).

A tão propalada responsabilidade social, tanto governamental em suas

várias esferas – união, estadual e municipal – tem que se expor de forma mais

democrática possível, para que a população possa decidir também em que rumos e em que políticas culturais devemos seguir. Fazemos aqui um parêntese para sublinhar

42 Dados da Fundação João Pinheiro. Pesquisa: diagnóstico dos investimentos da cultura no Brasil – 1985 a 1994.

43 No Ceará a mobilização feita pela APRECE pode ser acompanhada pelo site: www.aprece.org.br

41

um elemento que julgamos muito importante, que é a responsabilidade municipal com o compromisso da criação de estruturas administrativas e profissionais direcionadas à cultura; nossa experiência no Fórum Municipal de Secretários de Cultura da Região Metropolitana de Fortaleza, idealizada pelo PLANEFOR,44 e particularmente envolvemo-nos com a Estratégia 5. Cultura, identidade e auto-estima.

Preservar e potencializar os valores, o patrimônio e as manifestações culturais como fatores de fortalecimento da identidade e da auto-estima da população, e da geração de emprego e renda; participando e formando o conselho gestor do Fórum

Metropolitano de Secretários de Cultura da RMF e experiências anteriores apontam para a necessidade de montagem dessas estruturas e capacitação permanente das equipes da área cultural, mais adiante retornaremos a esses aspetos. CUNHA se refere assim a escolha do ICMS :

Trata-se do principal e mais complexo tributo dos

estados.45 Portanto, em princípio, foi correta a escolha do mencionado imposto, pela potência de recursos e pela quantidade de contribuintes.

A limitação da renúncia, contudo, a até 2% (dois por cento) do valor do imposto a recolher mensalmente, para qualquer que seja o contribuinte, reduz a alguns poucos a possibilidade de fazer uso da renúncia fiscal para apoiar a cultura.46

Não obstante, o Decreto n. º 23.882/95 (e alterações posteriores), por seu Art. 20, inovado (ilicitamente) as prescrições da Lei, excluiu os produtos tributados com base em substituição tributária da pauta daqueles que podem beneficiar a cultura.47

Também o Decreto referido, como se fora autônomo, estabeleu o limite global de renúncia em R$ 320 mil mensais.48 Consideramos o

44 PLANEFOR – O Plano Estratégico de Fortaleza e sua Região Metropolitana (13 municípios), definido como um processo inovador de lançamento e participação, tem como objetivos “mobilizar a comunidade para, num exercício de cidadania, manifestar seus anseios e sonhos sobre a Cidade a ser construída; contribuir com os Governos Estadual e Municipais no planejamento para o próximo milênio, considerando sua inserção num contexto Metropolitano e sua função de Capital do Estado; projetar a Cidade para um crescimento intencional, conciliando o desenvolvimento econômico com a melhoria na qualidade de vida dos seus habitantes; e buscar eficácia nos investimentos, definindo prioridades na implementação dos projetos e estimulando a convergência das ações empreendidas pelos distintos agentes urbanos”. Dados contidos na Cartilha PLANEFOR: 2002.

45 Ver MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. 7. ed. São Paulo: Malheiros, 1993.

Trata-se de um dos mais eminentes tributaristas do Brasil. Na obra mencionada, versa sobre a matéria (p.

251-76).

46 Art. 2º da Lei Estadual nº 12.464/95.

47 Ver VIANA NETO, Matteus. A Lei Complementar nº 87/96 Interpretada. São Paulo: LED-Editora de Direito Ltda, 1997. Este autor explica e classifica, com riqueza de detalhes, a substituição tributária (p. 83- 90). Uma justificativa para a exclusão dos produtos (ou pessoas) tributados com base na substituição

tributária, na possibilidade de apoiar a cultura, reside no fato de que, neste caso, a arrecadação não está consolidada, podendo haver devolução ao contribuinte, por parte do Estado, de todo ou de parte do tributo recolhido por essa sistemática; contudo persiste a idéia de que somente a Lei (e não o Decreto) poderia determinar esta exclusão.

48 5º do Art. 7º do Decreto nº 23.882/95.

42

estabelecimento de um teto de abdicação de tributos algo razoável, legítimo, mas tal limite não pode ser fixado por um decreto, quando o legislador não lhe concede esta prerrogativa.

A solução para o problema apontado seria o estabelecimento de uma proporcionalidade inversa do limite de renúncia, por contribuinte – ou seja, quanto menor a capacidade de recolhimento do ICMS, maior o percentual do imposto passível de renúncia em benefício da cultura.

Fica sugerida também a ampliação do limite global de renúncia fiscal ou, quando menos, a sua fixação no índice que atualiza o ICMS (CUNHA, 2002).

Os depoimentos colhidos com vários artistas e produtores culturais no decorrer da pesquisa corroboram a análise feita por Cunha, ao afirmarem:

(...) antes da Lei Jereissati eu conseguia apoio maior e com essa limitação agora fica amarrada ao um percentual que um burocrata achou que era bom e que muitas vezes não consegue corresponder as minhas necessidades no momento da captação (inf. 01).

(...) o Próprio empresário me disse e eu não vou aqui dizer o nome afirmou que podia contribuir com bem mais, portanto a Lei tem um teto e eu tenho que obedecer...(...) o mesmo empresário disse que antes da Lei gastava mais com cultura que hoje (inf. 02).

(...) sinceramente essa questão do teto tem que ser repensada e se não fosse demais era bom chamar os mais interessados: os artistas e o pessoal que vive da cultura pra emitir opiniões (inf. 03).

A Secretaria cultura organizou um Seminário em 2003: Cultura XXI,

quando foram discutidas várias questões relacionadas ao tema e está sendo colocado para a sociedade um Plano Estadual de Cultura que é fruto desse Seminário.49

A SECULT apresentou no dia 17 de novembro de 2003, o Plano estadual

de Cultura que contou com uma programação que tentou incluir setores da sociedade que estavam excluídos das discussões ligadas ao setor.50

49 Plano Estadual de Cultura é fruto do Seminário: Cultura XII que foi organizado com o os objetivos de formar novos profissionais para a cadeia produtiva da arte. Este é o objetivo do convênio que o Centro Dragão do Mar e o SENAC assinarão durante o Seminário Cultura XXI, no período de 17 a 21 de março de 2003. Promovido pela Secretaria da Cultura, o evento contou com a participação do ministro Gilberto Gil, de representantes de entidades artísticas e movimentos culturais. Em palestras seguidas de mesas redondas e debates, eles discutirão a política pública de cultura que querem para o Ceará. Cinco temas-eixo: gestão, políticas de financiamento, Economia da cultura, municipalização e patrimônio cultural.Todo o conteúdo do seminário foi gravado para servir de base à elaboração do plano estratégico da SECULT . Segundo a secretária Cláudia Leitão, ‘o envolvimento da sociedade na construção do planejamento estratégico da SECULT nos próximos anos é de fundamental importância.’ ( Jornal O POVO, 16 de março de 2003) p.

12, Vida & arte.

50 Apresentação do Plano Estadual de Cultura e do Programa Valorização das Culturas Regionais com as presenças do Governador do estado de Ceará; prefeitos municipais. Apresentações do Conselho Estadual de Turismo; novo Conselho Estadual de Cultura; Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural – COEPA; apresentação da minuta do projeto de Lei para criação dos Conselhos Municipais de Turismo e

Cultura; lançamento do Programa “ valorização das culturas regionais” etc. (informativo da SECULT, 2003).

43

As tentativas da SECULT de chamar os municípios para a discussão e participação do Plano Estadual de Cultura representa uma avanço, portanto

necessitamos que esse plano se efetive e faça parte da pauta dos Governos estadual e municipais como um todo, pois as discussões e os planos sem compromisso político

para a sua implementação são “letra morta”; mas voltaremos a essas questões na parte final dessa dissertação, quando abordaremos as perspectivas da política pública e da lei de incentivo no âmbito federal e no Ceará.

O segundo aspecto trazido por Cunha Filho parece-nos muito sério, qual

seja: “os erros” do Decreto n. º 23.882/95. Causa estranheza que uma secretaria que possui em seus quadros uma procuradoria incorra num “erro” tão elementar que é o de julgar um Decreto que tem como premissa maior a regulamentação de uma Lei anterior; ou demonstra a faceta de uma burocracia cultural que não abre espaços de discussões para possibilitar o que um dos informantes fala: ‘(...) que os mais

interessados: os artistas e o pessoal que vive da cultura pra emitir opiniões’, transformando-se num feudo fechado para garantir que poucos tenham acesso.

É importante também salientar que as críticas à Lei Jereissati feitas nesse

trabalho não têm por objetivo colocá-la na lata do lixo ou mesmo satanizá-la, mas propiciar uma discussão aprofundada da sua estrutura, do seu desempenho e dos seus resultados, visando a antes de tudo contribuir para a sua otimização. Neste sentido, as opções colocadas por Cunha podem ser levadas em conta, assim como buscar outras fontes de impostos que poderiam ser revertidos para a cultura de forma fixa e sustentável, como, por exemplos, impostos oriundos das televisões e cinemas comerciais e outros.

O quadro a seguir organizado por Cunha foi acrescentado por nós com o

número de projetos que foram finalizados de 1995 a 2003, ressaltando o fato de que Fortaleza, pela importância social, política e cultural que exerce, continua dando mostras de uma fragilidade no trato da questão da política cultural, pois sua Lei de Incentivo nunca foi colocada em prática pelos dirigentes municipais desse período.

Quadro comparativo do tributo sobre o qual incide o incentivo fiscal à cultura nos âmbitos federal, cearense e fortalezense

FEDERAL CEARENSE FORTALEZENSE Imposto de Renda ICMS ISS

FONTE: CUNHA:2002

44

Qualquer postulação dirigida às instâncias de incentivo fiscal à cultura

no Ceará deve obedecer ao formato de um projeto, que pode e deve ser assentado em formulário fornecido pela Secretaria da Cultura.51

A tramitação dos projetos na Lei Jereissati segue o seguinte processo:

projetos requeridos (veja tabela), aprovados (veja tabela) ou indeferidos, arquivados e finalizados.

Em contato com a CAP (Comissão de Análise de Projetos) da SECULT

obtivemos informações de que é difícil ter dados relativos aos projetos que foram aprovados e estão hoje sendo captados, exceto os que estão totalmente finalizados e sem nenhuma pendência. Os projetos requeridos de 1995 a 2003 somam 2.022.

Desse total, 1.207 foram aprovados e somente 80 foram totalmente finalizados, o equivalente a 6.63%, apenas. Em relação aos projetos aprovados e em fase de captação, não há dados disponíveis, demonstrando a fragilidade do processo de acompanhamento dos projetos pela CAP.

Ademais, a “obsoletização” dos recursos informacionais da CAP dificulta

mais ainda que esses dados tenham consistência, com uma dificuldade maior para acessar aos dados relativos ao Fundo Estadual de Cultura-FEC e num grau menor de dificuldade os dados relativos ao mecenato. Cabe aqui ressaltar, porém, o esforço da equipe técnica da CAP para disponibilizar esses dados para pesquisa, apesar das condições de trabalho não permitirem uma excelência nesse atendimento.

Outro aspecto a ser ressaltado é a total inconsistência dos dados

disponíveis pela internet na página da SECULT (www.secult.ce.gov.br), pois, além de desatualizadas, levam o leitor a acreditar que os recursos destinados aos projetos aprovados tenham necessariamente sido captados e finalizados. Veja tabela:

Quadro Anual de Projetos Captados pelos incentivos fiscais (1996 a 2003)

ANO DE CAPTAÇÃO QUANTIDADE DE PROJETOS CAPTADOS VALOR TOTAL CAPTADO (R$) (%)

1996 66 2.053.226,08 1997 117 3.912.717,42 1998 137 4.003.103,97 1999 116 4.133.699,35 2000 114 3.677.026,26 2001 109 4.248.230,42 2002 104 4.221.943,14 2003 53 2.199.448,65 TOTAL 816 28.472.115,94

51 Cópia dos formulários, decretos e portarias e a íntegra da Lei estão nos anexos do presente texto.

45

FUNDO ESTADUAL DE CULTURA – FEC 1996/2003

ANO QUANTIDADE DE PROJETOS APROVADOS RECURSOS DISPONIBILIZADOS 1996 29 775.295,99

1997 52 1.230.722,00 1998 35 854.495,28 1999 47 1.387.948,56 2000 37 1.534.870,10 2001 35 2.379.802,70 2002 38 4.532.957,59 2003 15 560.000,00 TOTAL 288 13.256.092,22

Fonte: CAP – Lei Estadual de Incentivo à Cultura. www.secult.ce.gov.br , acrescentado pelo autor.

Está demonstrado muito bem no quadro abaixo que a inconsistência dos

dados demonstram um aspecto muito forte na máquina administrativa de todo o Estado

brasileiro, em suas várias esferas de governo, que é a incompetência no acompanhamento

dos recursos públicos. O que dizer das políticas públicas mais amplas?

Quadro das situações dos projetos de 1995 a 2003 em relação ao mecenato da Lei Jereissati

SITUAÇÃO QTD. PROJETOS VALOR TOTAL ( R$) (%) REQUERIDOS(1) 2022 150.765.907,40

APROVADOS(2) 1207 61.275.920,68 INDEFERIDOS(3) 602

ARQUIVADOS(4) 632 16.247.572,19 AVALIAÇÃO DA CAP 9

CANCELADO 189 5.355.276,31 CAPTADO 16 840.692,80 CAPTANDO 33 6.606.868,11

COM DECLARAÇÃO 42 1.218.823,71 CONCLUIDO 80 3. 387.364,72 DEFERIDO 3 253.108,00

EM DILIGÊNCIA 229 17.557.478,23 INADIMPLENTE 95 3.076.202,75

INADIMPLENTE TRIMESTRAL 14 2.341.181,34 NO CADINE(5) 12 1.573.441,69

RESTAÇÃO DE CONTAS 52 8.173.187,14 REAVALIAÇÃO DA CAP 0

SEM SITUAÇÃO 14

FONTE: Dados da CAP, organizados pelo autor.

Notas: (1) Projetos requeridos – são todos os projetos que deram entrada em requerimento próprio para a CAP. (2) Projetos aprovados: são todos os projetos que obtiveram aprovação junto à CAP e portanto estão aptos a receberem os CEFICS; estando assim preparados para a captação, que se iniciará após carta de uma empresa disponibilizando-se para apoiar o projeto em um prazo de 1 ano. (3) Projetos indeferidos: são todos os projetos que não cumpriram as determinações legais previstas na Lei Jereissati.(4) Projetos arquivados; são todos os projetos que não conseguiram no tempo hábil de 1 ano a carta de interesse da empresa em relação ao projeto.(5) projetos que estão no CADINER – Cadastro de Inadimplentes do Estado do Ceará, ficando seus titulares impossibilitados de prestarem concursos públicos e outra sanções previstas.

46

Para melhor visualização da distribuição dos recursos no período de 1995 a 2003, tanto de projetos requeridos e aprovados, veja tabelas a seguir:

Projetos requeridos por ano e seus respectivos valores (r$) ( 1995 a 2003)

Ano Requerimento Qtde de Projetos Requeridos Valor Total Requerido(%) 1995 53 5.867.237,36

1996 380 15.643.679,27 1997 420 26.513.734,08 1998 449 32.913.933,01 1999 281 22.160.803,37 2000 124 13.469.301,70 2001 191 18.391.798,21 2002 101 11.310.979,77 2003 23 4.494.440,63 Total 2022 150.765.907,40

Projetos aprovados por cada ano e seus respectivos valores (r$) ( 1995 a 2003)

Ano da Aprovação Qtde de Projetos Aprovados Valor Total Aprovado(%) 1995 14 1.035.058,55

1996 158 6.244.350,61 1997 263 12.179.668,29 1998 408 18.112.821,77 1999 52 3.322.296,45 2000 30 4.014.454,38 2001 187 8.399.541,58

2002 88 6.858.309,03 2003 7 1.109.420,02 Total 1207 61.275.920,68

Esses quadros referem-se a um dado que chama muito a atenção, qual

seja, 40,31% dos projetos não são aprovados pela CAP, não ficando claro para nós os reais motivos dessa não-aceitação e após uma ano de busca por um empresário que aceite financiar o projeto, os projetos aprovados que não conseguirem uma 47

carta de aceitação do empresário em relação ao projeto serão arquivados, somando no período, 632, ou seja mais de 52%.

Devem ser informados, em gênero, a) o nome do projeto; b) dados do

proponente e do responsável direto – com as devidas comprovações, incluindo ato constitutivo (das pessoas jurídicas) e/ou curriculum vitae; c) indicação dos

segmentos

culturais abrangidos; d) descrição, justificativa e objetivos; e) cronograma detalhado do plano de realização; f) orçamento; g) outras informações indispensáveis.

A rigor, o formulário ora referido recebe da legislação, também, a alcunha

de requerimento e, em razão disto, está incompleto. Não dispõe, por exemplo, de espaço para que o proponente assinale que está remetendo o projeto para a Comissão Gestora do Fundo Estadual de Cultura (FEC) ou para a Comissão de Análise de Projetos do Mecenato Cearense(CAP). Se o remete para a CAP, não tem como informar, de plano, a modalidade de apoio preferida. Em síntese: se o proponente quer expressar alguma vontade prévia, solicitando o pronunciamento de uma autoridade específica, deveria fazer acompanhar o formulário de um requerimento autônomo (CUNHA FILHO, 2002)

As observações feitas por muitos beneficiários da LJ se referem ao

formulário como ‘complicado’, ‘extenso’, ‘burocrático em excesso’, ‘um verdadeiro vestibular’, ‘uma ‘loteria’ etc., porém cabe aqui destacar dois aspectos, abstendonos tanto das questões jurídicas, como das eventuais dificuldades dos artistas e

produtores nos preenchimentos dos formulários; destacar a importância da SECULT em possibilitar para o agente cultural a capacitação necessária para o atendimento das necessidades de um projeto abalizado e tecnicamente aceitável. Numa

oportunidade posterior retornaremos a essa questão, esclarecendo a necessidade da formação continuada dos setores da cultura para garantir a esses mesmos setores uma participação mais ativa nos parcos recursos que estão disponíveis, que muitas vezes não são acessados por incompetência dos mesmos.

Localizamos na CAP, todavia, um texto organizado por um funcionário da SEFAZ intitulado: ‘Considerações sobre a cartilha de procedimentos para

encaminhamentos de projetos à Lei de Incentivo à cultura – N.º 12464/95. Segundo funcionário da CAP, eram comuns, antes do texto, os propositores da Lei ligarem ininterruptamente ao setor para fazerem perguntas que hoje estão respondidas nesse texto.52

52 Texto; ‘Considerações sobre a cartilha de procedimentos para encaminhamentos de projetos à Lei de Incentivo à cultura – N.º 12464/95.’ 12 páginas. Mimeografado.S/D. Fortaleza.( autor desconhecido)

48

É também comum aos dois mecanismos de incentivo à cultura existentes no Ceará o rol de atividades culturais, composto por dez segmentos, a saber: 1) música; 2) artes cênicas (tais como teatro, circo-escola, ópera, dança, mímica e congêneres); 3) fotografia, cinema e vídeo; 4) literatura(inclusive a de cordel); 5) artes plásticas e gráficas; 6) artesanato e folclore; 7pesquisa cultural ou artística; 8) patrimônio histórico e artístico; 9) filatelia ou numismática; e 10) editoração de publicações periódicas de cunho cultural e informativo.53 Cunha se refere á lista de atividades culturais dessa forma:

O que logo chama a atenção nesta lista de atividades culturais – que repete o padrão de leis similares, com as especificações concernentes à realidade local – é a possibilidade de apoio ao artesanato. O senão é que este setor é, desde há muito, no Ceará, vinculado à Pasta da Ação Social, havendo, inclusive, leis específicas tratando da questão, bem como um fundo próprio destinado a apoiar esta atividade – Fundo Especial para Desenvolvimento da Produção e Comercialização do Artesanato Cearense.54

Os artistas entrevistados posicionam-se diferentemente em relação a esses

aspetos: alguns demonstram euforia na possibilidade do apoio ao artesanato, ‘(...) é uma coisa do Ceará que tem que ser valorizado e quanto mais apoio melhor.’ (...) tenho amigos artesãos que nunca viram a cor do dinheiro de nenhum lugar.’ (...) quando é que um artesão vai ter acesso a Lei Jereissati...eles ficam com as migalhas’

(...) a Lei Jereissati só tem dinheiro pra grande cultura, pode ver as pessoas que recebem, um dinheiro de um filme de cinema daria pra uns 20 discos.’

O quadro a seguir expõe os segmentos incentivados nos âmbitos Federal,

Estadual e Municipal e os demais quadros expõem de maneira sucinta o número total de projetos do período – 1995 a 2003 e o percentual de cada segmento finalizados

pela Lei Jereissati.

53 Art. 6º da Lei Estadual n.º 12.464/95.

54 A Lei nº 10.606, de dezembro de 1981, criou o Fundo Especial para Desenvolvimento da Produção e Comercialização do Artesanato Cearense, e a Lei nº 10.639, de 22 de abril de 1982 o regulamentou, determinando, no Art. 2º, a respectiva constituição: créditos consignados no Orçamento do Estado ou em leis especiais; transferências de recursos em razão de convênios, acordos, ajustes e contratos firmados pelo Estado e/ou FUNSESCE e outros organismos, visando à expansão das atividades de desenvolvimento da produção e comercialização do artesanato, bem como ao financiamento de matéria-prima aos artesãos;

receitas operacionais oriundas do superávit das operações do FUNDART; saldo de exercícios financeiros anteriores; doações, legados e outras receitas eventuais.

49

Quadro comparativo dos segmentos culturais passíveis de serem incentivados pelas legislações federal, cearense e fortalezense de incentivo à cultura

FEDERAL CEARENSE FORTALEZENSE FONTE: CUNHA:2002

Teatro Dança Cirso Ópera

Mímica

Congêneres de Artes Cênicas Cinema

Vídeo Fotografia Disco

Congêneres de audio-visuais Literatura

Obras de referência Música

Artes plásticas Artes gráficas Gravuras Cartazes Filatelia

Congêneres de Artes Gráficas Folclore

Artesanato Patrimônio Cultural Patrimônio histórico Patrimônio Arquitetônico Patrimônio Arqueológico Bibliotecas

Museus Arquivos Demais acervos Humanidades

Línguas Clássicas (humanidades) Língua vernácula (humanidades) Literatura vernácula (humanidades) Principais Línguas Estrangeiras Principais culturas estrangeiras Historia

Filosofia

Rádio educativa e cultural, de caráter não comercial

Televisão educativa e cultural, de caráter não comercial

Cultura negra Cultura indígena Teatro

Dança Circo-escola Ópera Mímica

Congêneres Artes Cênicas Cinema

Vídeo Fotografia Literatura

Literatura de cordel Música

Artes plásticas Artes gráficas Filatelia Numismática Folclore Artesanato

Patrimônio Histórico Patrimônio Artístico Pesquisa Cultural Pesquisa Artística

Publicações periódicas de cunho cultural e artístico

Teatro Dança Circo Ópera Cinama Vídeo Fotografia Música Canto Artes Plásticas Artes Gráficas Computação Gráfica Artesanato

Patrimônio arquitetônico (móvel e imóvel

Museus Acervo Humanidades Comunicação

50

Quadro do número total de projetos do período e o percentual de cada segmento finalizados pela Lei Jereissati – 1995 a 2003

1995

Área Qtde % Valor (%)

Artes Cênicas 2 14,3% 142.127,84 Editoração de Publicações periódicas de cunho cultural 1 7,1% 177.000,00

Fotografia, Cinema e vídeo 2 14,3% 160.493,96 Música 8 57,2% 211.436,75

Pesquisa Cultural e Artística 1 7,1% 344.000,00 TOTAL DO ANO: 14 100% 1.035.058,55

FONTE dados da SECULT/CAP, organizados pelo autor.

1996

Área Qtde % Valor

Artes Cênicas 16 10,1% 339.799,40

Artes Plásticas e Gráficas 10 6,3% 377052,31 Artesanato e Folclore 7 4,4% 82.766,16 Editoração de Publicações periódicas de cunho cultural 5 3,7% 181.760,00

Fotografia, Cinema e vídeo 25 15,8% 2.608.907,10 Literatura, inclusive de cordel 20 12,2% 302.563,60 Música 66 41,8% 1.770.313,12

Patrimônio Histórico e Artístico 5 3,2% 368.691,80 Pesquisa Cultural e Artística 4 2,5% 212.497,12 TOTAL DO ANO: 158 100% 6.244.350,61

FONTE dados da SECULT/CAP, organizados pelo autor.

1997

Área Qtde % Valor

Artes Cênicas 27 10,3% 837.888,56

Artes Plásticas e Gráficas 11 4,2% 247.642,42 Artesanato e Folclore 35 13,3% 250.541,20 Editoração de Publicações periódicas de cunho cultural 6 2,3% 468.732,71

Fotografia, Cinema e vídeo 48 18,3% 5.410.621,89 Literatura, inclusive a de cordel 12 4,6% 178.405,00

No documento LEI JEREISSATI ( 1 9 9 5 a 2 0 0 3 ) (páginas 31-49)

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