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5 A ROSEIRA DA RAINHA DE COPAS

5.2 Dispositivos que perpassam o devir professor

5.2.3 A Graduação

O ingresso à universidade é algo muito almejado na sociedade, o que se justifica em diferentes desejos. Com toda a desvalorização da profissão professor, ainda temos pessoas que optam por cursar as licenciaturas. O dicionário da língua portuguesa define como professor aquele que possui formação acadêmica para ministrar uma determinada disciplina ou matéria. Percebemos que algumas vezes quando se diz que é professor, quase de forma automática surge a indagação, você é professor de quê? De qual disciplina? Isso nos levar a pensar se é possível ser professor de várias disciplinas de áreas de conhecimento distintas. A resposta a esta pergunta é ―Sim‖, para isso temos o curso de licenciatura em Pedagogia.

O curso de Pedagogia no Brasil foi criado na década de 1930, época propícia para a manifestação de fatos educacionais circunscritos aos debates sobre a criação das primeiras universidades brasileiras. Esses fatos educacionais são também causa e conseqüência do conjunto de acontecimentos socioeconômicos e culturais da década, marcada inicialmente pela eclosão da Revolução de 30 (BRZEZINSKI, 1996, p.1).

Para a autora, após um período conturbado de acontecimentos que afetaram o campo educacional no século XX. A modalidade de formação de professores em nível

médio, na época o chamado normal médio25, que tinha por objetivo formar professores primários26, ganha uma continuidade agora à nível superior. O que acontece por meio do Decreto nº 1.190 em 04 de abril de 1939, que surge inicialmente como primeiro instrumento normativo do curso de Pedagogia. Porém, apenas com a reforma da modalidade nível superior em 1968 que de fato os estudos com ênfase em pedagogia à nível superior se concretiza no Brasil.

Diante de um logo processo histórico, de mudanças e adaptações as Novas Diretrizes Curriculares Nacionais referentes ao curso de Pedagogia CNE/CP, nº 1 em 05/2006 define:

Art. 4º O curso de Licenciatura em Pedagogia destina-se à formação de professores para exercer funções de magistério na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar e em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. Art. 5º O egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a: VI - ensinar Língua Portuguesa, Matemática, Ciências, História, Geografia, Artes, Educação Física, de forma interdisciplinar e adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano.(CNE/CP, 2006, p.2)

Observamos a partir das novas diretrizes que é de responsabilidade do curso de Pedagogia preparar os professores para atuarem no Ensino Infantil e nos anos inicias do Ensino Fundamental com seis disciplinas, dentre elas a matemática. Reforçando a importância do cumprimento do artigo 19 do Decreto-Lei 1.190/39, sobre a oferta da disciplina de matemática no primeiro ano do curso superior em Pedagogia, como mostra a tabela a seguir:

Tabela 3 - Currículo do curso de Pedagogia

Ano Disciplinas obrigatórias

Primeiro Complemento de Matemática; História da Filosofia;

Sociologia; Fundamentos biológicos da educação; psicologia educacional.

Segundo Psicologia Educacional; Estatística Educacional;

História da Educação Fundamentos; Sociológicos da Educação; Administração Escolar.

Terceiro Psicologia Educacional; Educação Comparada;

Filosofia da Educação; Administração Escolar; História da Educação.

FONTE: Art. 58 Decreto-Lei nº 1.190//39

25

Brzezinskitrás em sua obra Pedagogia, pedagogos e formação de professores, a Escola normal como instituição responsável para formar professores para atuar na educação fundamental. A definição normal médio surgiu por se tratar de uma modalidade que acontecia no ensino médio.

26

Brzezinski (1996) define, que a expressão professores primários se expandiu no Brasil com a homologação da Lei 5.692 de 11 de agosto de 1971, a qual defini as diretrizes e bases para o ensino Fundamental e Médio.

Diante do que foi exposto, compreendemos que o curso de Graduação em Pedagogia é um dispositivo com função de formar, direcionar e produzir subjetividades nos integrantes. No interior da grade curricular que amarra essa modalidade de ensino, nos deparamos com os estudos relacionados ao conhecimento matemático, o que consideramos o dispositivo a sala de aula Matemática na Licenciatura em Pedagogia. É durante a realização dessas aulas que os licenciados estabelecem de forma subjetiva diversas experiências com a disciplina. Durante esses encontros alguns sentimentos são brotados, marcas são revividas, (re)significadas e surgidas, subjetividades são produzidas em relação ao modo de pensar, e agir enquanto professor de Matemática. Esses acontecimentos acabam sendo essências para desencadear o devir professor de Matemática, desta forma os sujeitos são afetados e transformados pelas forças que perpassam tal dispositivo.

É com base no pensamento de Deleuze que Lima e Alvarenga (2012, p.32) afirmam:

[...] o afeto é esse outro tipo de informação – não apenas intelectual, não apenas corporal – que instiga a perceber ou a pensar tudo de maneira diferente. O afeto, então, funciona como uma ―onda de choque‖ para o pensamento (que, reflexivamente, leva a pessoa a ver, ouvir ou a sentir coisas que antes eu não via, ouvia ou sentia – ―ver com outros olhos‖ – ou a ―pensar de outro jeito‖ a mesma coisa. Um movimento, uma variação do tom emocional presente em toda percepção, mas que não se confunde com nenhum dado dela e nem é algo da ordem do pensamento, mas que o estimula a reconsiderar o que viu e o que pensou.

Não é nossa intenção caminhar pelos currículos e grades curriculares das instituições superiores com intenção de descrever a organização e efetivação do seu currículo. Nosso objetivo, alinhado com a perspectiva desta pesquisa é compreender como as disciplinas ofertadas ajudam a visualizar a sala de aula matemática. Observando como a grade dos cursos de Pedagogia das principais instituições de Pernambuco são montadas. O que possibilita o encontro entre os Licenciados e a educação Matemática e assim interferem na constituição de novos afetos.

Tabela 4 - Disciplinas que envolvem o conhecimento matemático nas universidades de Pernambuco

Universidade Duração do Curso Disciplinas Carga horária

Universidade Federal de Pernambuco 10 Períodos Fundamentos do Ensino da Matemática I Fundamentos do Ensino da Matemática II Introdução à psicologia da educação matemática (eletivo)

Recursos didáticos para o ensino de matemática (eletivo) 75H 45H 60H 60H Universidade Federal de Pernambuco

Centro Acadêmico do Agreste 9 Períodos

Metodologia do ensino da matemática 1 Metodologia do ensino da matemática 2 60H 60H Universidade de Pernambuco *Campus Petrolina

8 Períodos Conteúdo e Metodologia em

Matemática 60H

Universidade de Pernambuco *Campus UPE Mata Norte

10 Períodos

Fundamentos e métodos do ensino

Da matemática 60H

Universidade Federal Rural de Pernambuco *Unidade Acadêmica de Educação à Distância 8 Períodos Matemática na Prática Pedagógica I Matemática na Prática Pedagógica I Metodologia do Ensino da Matemática I Metodologia do Ensino da Matemática II 45H 45H 45H 45 H

Universidade Federal Rural

de Pernambuco 8 Períodos Matemática na Prática Pedagógica I Matemática na Prática Pedagógica I Metodologia do Ensino da Matemática I Metodologia do Ensino da Matemática II 45H 45H 45H 45H Fonte: Grade Curricular disponíveis no site das instituições

Percebemos de acordo com a disposição curricular, que durante a graduação estudos relacionados à educação Matemática aparecem de uma forma discreta. Comparado com a duração do curso e as disciplinas ofertadas, entretanto é visível a importância da disciplina para o curso avaliado, visto que aparece pelo menos uma vez em sua grade curricular.

É durante os encontros com os conteúdos matemáticos, realizado durante as aulas das determinadas disciplinas que os licenciados e deparam com processos de subjetivação e com o despertar de desejos, e também lidam com a resistência, com as marcas e afetos. ―Os fluxos de força que percorrem uma sala de aula, as marcas dos sujeitos – alunos e professores −, o mero contato entre sujeitos já os afetam mutuamente. Fluxos de forças, marcas e afetações.‖ (QUEIROZ, 2015, p. 163).

Ao realizar uma pesquisa com os licenciandos do curso de matemática da Universidade Federal de Pernambuco (Campus Agreste) Queiroz (2015), reconhece que durante os encontros com a matemática no ambiente acadêmico estes trazem diversas marcas, desejos e agenciamentos adquiridos em outros dispositivos. Para a autora, a graduação é permeada por diversos acontecimentos advindos de outros dispositivos, o que reflete no devir professor. Observando então que o devir professor reflete-se no modo de estar, agir e pensar a sala de aula pelos professores. Referente às informações coletadas no campo de pesquisa, ao observar a regência de aulas por meio dos estudantes do curso de licenciatura em matemática Queiroz (2015, p. 162-163) afirma:

No momento em que esses licenciandos estão lecionando, observam que experiências outras, não ligadas diretamente ao contexto de sala de aula, vivenciadas em outros dispositivos, não ficam fora da sala de aula, mas, sim, fazem parte de um eterno retorno ao movimento de inventar-se professor de Matemática. São inseparáveis do sujeito e, à medida em que atua como professor, novas experiências são acrescidas às antigas, havendo uma cisão, fusão, fissão, ruptura, entrelaçar, enfim um movimento do devir professor de Matemática. Os fluxos de força que percorrem uma sala de aula, as marcas dos sujeitos – alunos e professores −, o mero contato entre sujeitos já os afetam mutuamente. Fluxos de forças, marcas e afetações.

A experiência prática da docência desperta no licenciando reflexões sobre o que vivencia na universidade e as subjetividades daqueles a quem ele leciona. Forças circulam na sala de aula tanto em direção ao professor quanto aos alunos e desta maneira ambos sujeitos agregam elementos ao seu processo de devir.

6 O depoimento de Alice

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