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E DA PSICOLINGUÍSTICA

1. A Gramática Universal

V. Cook (1988 : 172) lamenta que, para além da desaprovação em relação aos métodos behaviorísticos audiovisuais, motivada pela crítica a Skinner, as teorias e os trabalhos de Chomsky tenham tido tão pouca influência no ensino das línguas. Recorrendo ao argumento da nossa ignorância quanto à natureza da Gramática Universal, muitas das abordagens de ensino das línguas seguiram caminhos que as tornam hoje incompatíveis com as teorias chomskianas, devido à ênfase posta na comunicação e na interacção.

Chomsky, tendo observado como o conhecimento de uma língua é tão complexo e abstracto e como a experiência linguística recebida é tão limitada, propõe, como vimos, num primeiro modelo, a existência de um dispositivo inato (LAD - "Language Acquisition Device"), que, uma vez posto em contacto com os dados disponíveis de uma língua natural, forneceria bases para uma formação adequada da gramática dessa mesma língua.

1.1. A Gramática de Princípios e de Parâmetros

Durante os anos 80, um outro modelo tem vindo a ser desenvolvido. Segundo este novo modelo, em vez de uma "black box" com um conteúdo misterioso, Chomsky propõe agora um sistema específico de propriedades, cada uma delas pronta a ser desenvolvida; passa-se de um sistema de regras para um modelo de Princípios e Parâmetros.

"If this approach is correct /.../ a language is not, then, a system of rules, but a set of specifications for parameters in an invariant system of principles of universal grammar (UG); and traditional grammatical constructions are perhaps best regarded as taxonomic epiphenomena, collections of structures with properties resulting from the interaction of fixed principles with parameters set one or another way. There remains a derivative sense in which a language is a "rule systems" of a kind; namely, the rules of L are the principles of UG parametrized for L" (N. Chomsky, 1989 : 43).

O modelo de aquisição é conceptualizado em termos de estádios da mente: um estádio inicial geneticamente determinado (So - estado zero) presente na mente de todas as crianças como um sistema de princípios e de parâmetros que, respondendo à evidência linguística disponibilizada à criança, cria uma gramática nuclear que fixa valores para todos os parâmetros, produzindo uma das possíveis línguas. Um estádio Ss (Steady State), em que os parâmetros já estão fixados, consiste numa gramática nuclear, numa gramática periférica e num

léxico composto por itens idiossincráticos que são variáveis.

Assim, competência gramatical é um conjunto de princípios universais, valores atribuídos a parâmetros, informação lexical e uma componente adicional de conhecimento periférico. Cada criança parece atingir a mesma competência gramatical, embora seja diferente a capacidade que cada uma terá de usar a linguagem. Deste modo, o modelo faz uma distinção entre aquisição e desenvolvimento.

Aquisição é um modelo idealizado, "instantâneo", no qual o tempo e a experiência desempenham um papel mínimo; o factor crucial é a relação entre So e Ss, isto é, entre o "estádio zero" e o "estádio estabilizado". O desenvolvimento é a história dos estádios intervenientes e reflecte a complexa interacção da linguagem com outras faculdades da mente que estão a amadurecer ao mesmo tempo (V. Cook, 1988 : 81).

Em investigação muito recente, desenvolvida nos últimos cinco anos, este modelo tem vindo a ser testado e a questão que se tem posto é se os princípios e parâmetros da UG continuarão disponíveis na aquisição de uma língua não primeira.18 Essa investigação tem tido como objectivo testar se os parâmetros identificados pela teoria19 são ou não violados nas interlínguas e, assim, discutir se há ou não disponibilidade da UG.

As hipóteses têm ido desde a afirmação de que a UG não tem qualquer papel até à afirmação de que ela opera exactamente como numa primeira língua.

18 Chomsky (1989: 72, nota 23) faz referência a esta investigação, nomeadamente aos trabalhos de S. Flynn. 19 A investigação tem-se centrado sobretudo em três áreas: (1) "The Prodrop Parameter"; (2) "The Head-

Direction Parameter" e (3) "Marcação".

São exemplos de trabalhos publicados: (1) White 1985, "The Pro-drop Parameter in Adult Second Language Acquisition", Language Learning 35, pp. 47-62; (2) Flynn e Espinal 1985, "Head-initial/Head-final Parameter in Adult Chinese L2 Acquisition of English", Second Language Research, 1, pp. 93-97;(3) Marcação: Mazurkewich, White, Liceras, Shardwood-Smith e Gair todos em Flynn e O'Neil, 1988a).

A posição mais forte, e que é defendida por muito poucos investigadores, é que a aquisição de L2 é o resultado da interacção pura entre UG e os dados da L2. Este seria, segundo White (1989 : 49), um modelo equivalente à construção criativa de Dulay e Burt (1974) ou à Teoria de Aquisição (não de Aprendizagem) de Krashen, 1981).

No outro extremo, estão aqueles que defendem que os princípios da UG não estão de modo nenhum disponíveis, pelo menos no que diz respeito aos adultos, aquando da aprendizagem de uma L2.Clahsen (1988 : 69) afirma que a aprendizagem de L2 por adultos é o resultado de estratégias indutivas de aprendizagem baseadas em processamento geral de informação e em princípios de resolução de problemas ("problem-solving principles"). 20

A maior parte tem uma posição intermédia e defende que o acesso à UG é mediado pela L1. Actualmente, há duas versões diferentes desta hipótese:

. a UG é inacessível, mas alguns aspectos disponíveis na L1 podem ser usados na L2. Esta é uma versão fraca da posição anterior. De acordo com esta perspectiva, aquele que aprende uma L2 só teria disponíveis os princípios e parâmetros instanciados na primeira língua. Esta é, por exemplo, a posição de Schachter (1989b : 85) 21

Isto significaria que, se a L1 e a L2 diferem no valor de um parâmetro, o valor desse mesmo parâmetro em L2 nunca seria atingido.

. em contraste com esta, uma outra posição defende um papel mais activo da UG, embora continue a atribuir importância considerável à gramática de L1; princípios e parâmetros da L1 são usados, pelo menos inicialmente, mas é possível a refixação de valores de parâmetros, o que significa que a UG ainda está activa (Ver White 1989 : 175).

Como se disse, a investigação neste quadro teórico é ainda muito pouco extensa: são relativamente poucos os investigadores que trabalham nesta área e não se encontra qualquer trabalho experimental antes de 1984; de resto, não poderia ser de outro modo visto que também a teoria é recente. Se observarmos as conclusões dos trabalhos publicados, veremos que elas apelam sempre para a necessidade de mais evidência empírica visando a

20 Ver Clashen, 1988 : 69. Em "Conclusions and Open Questions", Clashen sintetiza as suas posições, bastante

diferentes das dos outros colaboradores do mesmo volume (Flynn e O'Neil, 1988a).

21 "This position that adult learners have available and accessible only the specific instantiation of UG exhibited in

obtenção de respostas mais definitivas e a posição de cada um dos que trabalham nesta área oscila muitas vezes entre, sobretudo, as duas últimas posições (para revisão de posições, ver, por exemplo, White, 1989 : 174).

No entanto, as opiniões parece inclinarem-se para a disponibilidade de uma UG, mas também para a existência de vários outros factores que afectam a sua operacionalidade. "UG é só uma componente (um módulo) numa teoria de aquisição, seja L1 ou L2. Este módulo entrará em interacção com outros e o fracasso dos sujeitos que aprendem uma L2 (quando há fracasso) pode ser atribuído a essas outras áreas, e não necessariamente à não operacionalidade da UG. Um certo número de diferenças entre aquisição de L1 e de L2 pode ser acomodado dentro de uma teoria de aquisição de L2 que assume que UG está ainda de certo modo disponível, sem que tenhamos de aceitar uma identidade total entre aquisição de L1 e de L2" (White, 1989:50).

Um aspecto interessante e que vale a pena realçar é a importância dada à L1 e, consequentemente, o regresso à análise contrastiva exactamente pela mão dos teóricos da mesma escola que a tinham posto em causa nos anos 60. Newmeyer - Weinberger (em Flynn e O'Neil, 1988a : 40) dizem a este respeito: "A associação no passado entre esta abordagem /análise contrastiva/ e o behaviorismo e o descritivismo deixou um sabor desagradável na boca dos generativistas pesquisadores de L2, que tendiam a desacreditar qualquer tipo de estudos contrastivos. Mas muitos acabaram por perceber que não há nada de intrinsecamente errado em "contrastar" as gramáticas de duas línguas com o fim de melhor compreender a aquisição de uma por um falante nativo da outra. Como consequência a análise contrastiva tem sido reconstruída no mais alto plano teórico, no qual traços teorica- mente significantes das línguas em causa são contrastados e não, como em muito do trabalho realizado no passado, só os traços superficiais e facilmente observáveis".

Um exemplo: Um dos aspectos que mereceu bastante atenção na aquisição de L2, na sequência da ordem de aquisição proposta por Brown (1973) da L1, foi o morfema -s que em Inglês marca a 3ª pessoa do presente do indicativo. Ora, à luz da Gramática de Princípios e Parâmetros, esta é uma propriedade específica do Inglês que tem de ser aprendida. O facto de um sujeito que aprende inglês como L2 cometer frequentemente erros neste caso é irrelevante para a questão da disponibilidade ou não de uma UG, de uma gramática interna, no dizer de Chomsky (1986, cap. 2), - de um sistema representado na mente de um indivíduo. A preocupação da GU na sua mais recente abordagem - a Gramática de

Princípios e de Parâmetros - é determinar aquilo que o falante sabe sobre a linguagem e de onde é que vem esse conhecimento.