• Nenhum resultado encontrado

A greve de 2011: a luta em defesa da UESPI

2 A ADOÇÃO DO NEOLIBERALISMO E AS TRANSFORMAÇÕES NO ESTADO

4.1 A ADCESP na construção e condução das greves

4.1.4 A greve de 2011: a luta em defesa da UESPI

Em 2011, os docentes deram continuidade ao movimento de defesa da Universidade e de direitos de docentes e estudantes. O sindicato já tinha entendido a lição: para fortalecer um possível movimento paredista, era preciso a ajuda dos estudantes. Essa parceria foi fortalecida com o Movimento S.O.S UESPI em 2010. A partir de março começaram a organizar assembleias da categoria para discutir os problemas que atingiam a todos e tentar uma audiência com o governador.

As tentativas de negociação com o governo tiveram início no fim de março de 2011, data prevista para início do ano letivo. Os professores estavam insatisfeitos com o quadro de

docentes provisórios e com o fechamento de cursos,34 no ano anterior, por não apresentarem

condições mínimas de funcionamento exigidas pelo Conselho Estadual de Educação. Aliado a

34 Muitos cursos na universidade foram criados sem ao menos terem portaria de funcionamento e, com as

cobranças do Conselho Estadual de Educação, a universidade tinha que se adequar à lei e nos locais onde era impossível atender os critérios exigidos tiveram que fechar cursos. Não encontramos nos relatórios de ações da instituição dados referentes a esses cursos fechados.

isso, havia ainda a questão do piso salarial que o governo não pagava. Foi elaborado então um calendário de manifestações e paralisações durante todo mês de abril.

Antes da deflagração da greve, os docentes se mobilizaram em paralisações de advertência para sinalizar ao Estado suas insatisfações. Mas de nada adiantou, porque este se mostrou irredutível e não apresentou proposta para a categoria. O reitor da UESPI, em entrevista ao jornal O Dia, apresentou pontos positivos e negativos da instituição. Dentre os pontos positivos, destacou o salário dos professores como um dos melhores entre as universidades públicas: “[...] O Plano de Carreira dos professores da UESPI se for comparado às outras universidades públicas, ele não deixa nada a desejar. Pelo contrário, o salário dos professores da UESPI é um dos melhores entre as universidades públicas. [...].” (O SALÁRIO..., 2011, p. 03). Com essa assertiva, ficava mais difícil a negociação, uma vez que o próprio reitor não reconhecia os problemas apontados pelos professores.

No dia 12 de maio, em assembleia realizada no campus Poeta Torquato Neto, decretaram a greve, com votação de 39 votos a favor e nove contra. Dentre as reivindicações, constava novamente um reajuste salarial para a classe, de forma que o salário ficasse no valor de R$ 2.200,00, baseado no piso definido pelo Dieese para professor 20 horas. Além disso, havia outras pautas defendidas em 2010 através do Movimento S.O.S UESPI, como: autonomia financeira da UESPI, realização de concurso público com 700 vagas para professores35, contratação de técnicos e a melhoria da estrutura mínima para o funcionamento da instituição, bem como, material de expediente (papel, pincel, tinta para impressora, apagador, grampos, etc.). A falta de estrutura nas salas de aulas, laboratórios e campi reforçados pela posição do governador Wilson Martins (PSB) em não negociar com a categoria, foram fatores determinantes para a eclosão da greve.

Uma vez deflagrada a greve, a categoria organizou inúmeras atividades para chamar a atenção do governador e apresentar para a sociedade suas pautas de luta. Dentre as atividades, constavam mobilização dos professores nos campi, manifestações nas ruas com passeatas de protestos sobre a situação de precariedade da universidade em todo o Piauí, manifestações através de redes sociais divulgando os problemas para toda a sociedade, audiências com deputados, exigindo destes que apresentassem proposta de melhorias para a instituição, destinassem emendas para a UESPI e ajudassem na negociação com o governador. A situação dos docentes ganhou reforço e notoriedade social com o apoio dos estudantes e servidores da

35 Em 2011, a UESPI contava com um quadro docente formado por 1.505 professores, sendo 608 efetivos e 897

instituição e de alguns parlamentares nas audiências realizadas na Assembleia Legislativa do Estado.

No decorrer das paralisações, houve audiências públicas na Assembleia Legislativa e posicionamento de parlamentares. O deputado Luciano Nunes (PSDB) propôs uma discussão dos problemas da UESPI com todos os envolvidos em busca de solução. O senador João Vicente (PTB) também relatou em plenária do senado a situação da instituição. O deputado Fábio Novo (PT) propôs a destinação de recursos de emendas para a UESPI, de forma que cada parlamentar destinaria R$ 50 mil e esse valor ajudaria a somar aos recursos já destinados no Orçamento Estadual, porém a proposta não foi aceita pelos demais. A emenda proposta pelo deputado Firmino Filho (PSDB), no valor de 23 milhões para a UESPI, não foi aprovada (4 votos a favor - Cícero Magalhães (PT), Luciano Nunes (PSDB), Firmino Filho (PSDB) e Evaldo Gomes (PTC) e 22 contrários). Em nada adiantou, pois não houve de fato interesse político em atender às reivindicações de professores e alunos. Nas audiências públicas, o Estado não compareceu para discutir os problemas da instituição.

As manifestações e assembleias aconteceram, principalmente, em Teresina, no Campus Poeta Torquato Neto. Houve audiências públicas na Assembleia Legislativa, ocorreram passeatas e protestos em frente ao Palácio de Karnak e na Facime. O movimento SOS UESPI, que ocorreu no ano de 2010, com várias manifestações em defesa da melhoria da universidade se fortaleceu também por meio de redes sociais, continuou em 2011 e apoiou a greve dos docentes. Nas primeiras assembleias, os professores queriam que o concurso para professor efetivo contemplasse 700 vagas, mas o governador sinalizou que teria condições de disponibilizar apenas 200 vagas.

Em assembleia realizada no dia 25 de maio, os grevistas decidiram manter a greve e rejeitar a proposta de reajuste de 7,1% apresentada pelo Estado e aprovaram uma contraproposta: que o piso do magistério da rede básica (R$1.187,00) fosse aplicado ao professor 20 horas da UESPI com graduação. No início da campanha salarial, a proposta era o piso do DIEESE no valor de R$ 2.200,00.

A greve teve seu desfecho, quando completou um mês sem nenhuma proposta aplicável apresentada pelo governo. A suspensão foi anunciada no dia 16 de junho de 2011, mas os docentes resolveram manter o estado de greve. A greve durou 35 dias e não houve avanço nas negociações com o governo. Em advertência, continuaram exigindo mais verbas e autonomia, salários e condições de trabalho. Os docentes conquistaram, com a greve, a realização do concurso para professor efetivo com 240 vagas direcionadas a mestres e doutores e 250 vagas para preenchimento do quadro de técnico-administrativo.

Pela análise dos documentos, especialmente as atas das assembleias dos docentes, constatamos que a questão salarial não era a principal reivindicação da diretoria do sindicato, embora a maioria dos professores presentes nas assembleias defendesse a pauta salarial como principal. A diretoria priorizou a bandeira da melhoria estrutural, autonomia financeira e administrativa, pautas defendidas no movimento de 2010. Ao tomar essa posição, mostrou-se mais madura politicamente em defender a educação pública de qualidade para os que realmente precisam dela: os estudantes. Por isso, a greve foi sustentada, em sua maioria, por estudantes, pois nas atas da ADCESP é constante a reclamação de que os professores não estavam comprometidos com as atividades da greve. Entretanto, tiveram que assumir ser impossível manter uma greve por muito tempo com um governo irredutível, tendo conquistado o concurso para professores, mas não o tão sonhado aumento salarial. A pauta da autonomia financeira vem sendo debatida desde a greve de 2003, mas nenhum governo abriu um canal de negociação nesse quesito. A greve foi vitoriosa? Para a diretoria do sindicato o movimento é sempre visto como vitorioso, pois é momento de se avaliar a universidade e a própria situação docente, além da conscientização de professores e alunos. De conquistas de novos quadros de professores efetivos, que podem futuramente aumentar o número de filiados ao sindicato, mas principalmente que podem dar mais qualidade e garantia de reconhecimento a muitos cursos da instituição que até o momento temiam do não credenciamento por falta de condições mínimas de funcionamento.

O problema de uma greve finalizada sem acordo salarial conduziu a uma próxima no ano seguinte, porque os professores não aceitaram ficar sem reajuste. Isso gerou dificuldades para todos, sobretudo, para o sindicato que teria que enfrentar a luta pelos mesmos problemas e desgaste da imagem da universidade, que era sempre apontada como precária. O fato é que não se pode negar é que foi ao longo dos anos 2000 que a universidade foi ganhando corpo e estrutura de universidade, pecando muito na qualidade dos serviços oferecidos, na falta de estrutura e de política de apoio estudantil. Ao longo dos anos, foram sendo implementadas reformas na estrutura, mas muitos problemas permanecem intocáveis.