• Nenhum resultado encontrado

2 A ADOÇÃO DO NEOLIBERALISMO E AS TRANSFORMAÇÕES NO ESTADO

3.1 Historicizando o movimento grevista

Neste capítulo trataremos do movimento sindical e, mais especificamente, do fenômeno greve docente. O mesmo está estruturado em três subseções para facilitar a compreensão do tema analisado. Iniciamos com uma discussão sobre o movimento sindical nas décadas de 1980, 1990 e 2000; depois, partimos para uma análise da reforma universitária no governo Lula. Finalizamos fazendo análise de trabalhos de alguns autores que se dedicaram ao fenômeno greve docente para, a partir daí, apresentarmos a nossa tese.

Para fazermos uma abordagem sobre a temática em questão, consideramos necessário nos reportarmos à década de 1980, período marcado pela explosão dos movimentos sociais e pelo despontar de uma série de greves (em 1978, 1979 e 1980). Elas foram sustentadas graças à reorganização do movimento sindical favorecido pelo crescimento de sindicatos combativos com o surgimento do novo sindicalismo e pela criação da CUT, que organizou uma série de greves em defesa dos direitos dos trabalhadores e pela ampliação deles. Nesse contexto, o novo sindicalismo contribuiu para o surgimento de novas lideranças sindicais que se formaram ao longo do período ditatorial. Essas lideranças eram desvinculadas do esquema comunista-petebista e dispostas a conquistar o seu espaço no novo movimento. Soma-se a isso, a participação ativa da ala progressista da Igreja Católica junto com os movimentos populares, que se uniram ao movimento sindical na luta pela democracia e pela conquista de direitos para a classe trabalhadora.

Da união dos movimentos populares e sindicais na década de 1980, na luta pela democracia do Brasil e pela ampliação de direitos trabalhistas, surgiu a ideia de fundarem uma central sindical única para representar a classe. No início de 1980, ocorreram várias reuniões, encontros e congressos para debater sobre a questão. Como resultado desses debates, realizaram uma Conferência em 1981. Foi uma das mais importantes, porque conseguiu unir praticamente todas as facções militantes do meio sindical. Essa reunião ficou conhecida como Conferência Nacional da Classe Trabalhadora - CONCLAT e ocorreu na Paia Grande, litoral de São Paulo no mês de agosto. Da conferência, participaram representantes de sindicatos urbanos e rurais, associações de funcionários públicos, federações confederações, totalizando 1.126 entidades e 5.247 delegados. Foi tirada uma comissão que deveria organizar o congresso de fundação da nova Central. Por conta de

divergências entre as lideranças de diferentes vertentes sindicais e políticas, o congresso só ocorreu em 1983.

Como esses grupos não entravam em consenso, a tendência conhecida como autênticos, bloco mais à esquerda no interior do movimento sindical e o grupo das oposições sindicais, resolveram convocar para agosto de 1983 O I Congresso da Classe Trabalhadora (CONCLAT) em São Bernardo do Campo. Nesse Congresso, fundaram a CUT. Embora os sindicalistas da Unidade Sindical (Pelegos, PCB, PC do B, MR8) e os sindicatos rurais tenham se ausentado do congresso, foi possível reunir 5059 delegados de 912 entidades, com participação ainda de uma confederação e cinco federações. Com uma participação considerável do setor público, segundo Rodrigues (1991, p.34), “[...] deve-se salientar o grande aumento do número de delegados do setor público, que passou de 145, na CONCLAT de 1981, para 483 no CONCLAT DE 1983. [...].” Os grupos que se ausentaram desse Congresso por divergências realizaram um congresso em novembro daquele ano com o mesmo nome do anterior CONCLAT. Elegeram uma comissão nacional e cerca de três anos depois fundaram sua própria central: a Central Geral dos Trabalhadores-CGT em março de 1983.

Na CUT ficaram os sindicalistas “combativos” (do ex-bloco dos autênticos), junto com os militantes das oposições sindicais, da esquerda católica e dos pequenos grupos de orientação marxista, leninista ou trotskista. Na CGT ficaram os dois partidos comunistas, o MR-8, os sindicalistas ligados ao PMDB e ainda os dirigentes mais próximos do sindicalismo norte-americano, liderados por Magri, presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo. (RODRIGUES, 1991, p.34).

A partir do contexto descrito, percebemos que as duas centrais surgiram com rachas. Foi necessário construir internamente unidades em torno de suas principais propostas de luta. A CUT, ao longo da década de 1980, apresentou-se como a principal central de luta, conduzindo grandes greves e conquistando direitos para a classe dos trabalhadores. De 1983 em diante, ela foi crescendo em número de filiados e conquistando a simpatia dos trabalhadores pela forma como conduziu lutas importantes para a classe através de grandes mobilizações e greves gerais.

As transformações no mundo do trabalho vinham sendo operadas nos países do Primeiro Mundo com a adoção das práticas neoliberais provocando a crise no sindicalismo mundial. No Brasil, esse modelo só seria implantado na década de 1990 com a chegada de Collor de Mello à presidência da República. Mesmo assim, apesar de os trabalhadores passarem por condições difíceis, eles estavam bem organizados através dos sindicatos, que

ressurgiram com práticas mais combativas à exploração do capital, como as greves e a ampliação do número de sindicatos fortalecendo a luta pelos direitos dos trabalhadores. O movimento foi definido pelos estudiosos como novo sindicalismo, caracterizado por Antunes (2009) como um período marcado pelo despontar de várias greves, de vários tipos de categorias de trabalhadores; pela expansão do sindicalismo do assalariados médios e do setor de serviços, como o funcionalismo público; pela continuidade do avanço do sindicalismo rural; pelo nascimento das centrais sindicais, como a CUT; com a efetivação de uma luta pela autonomia e liberdade dos sindicatos em relação ao Estado.

Eduardo Noronha (1991), analisando a explosão das greves na década de 1980, mostra que elas tiveram momentos de fluxos e refluxos e revelaram padrões diferenciados nos setores privado e público. Até metade dos anos 1980, as greves predominavam no setor privado, quando a situação se inverteu, em 1987: “mais de 60% dos grevistas e 80% das jornadas perdidas correspondem ao setor público [...]” (NORONHA, 1991, p. 101).

Há que se observar que o crescimento do funcionalismo público contribuiu muito para a explosão das greves, embora tenha sido o setor que enfrentou maior rigidez nas negociações, ocasionadas, de acordo com Noronha (1991), pela crise do setor financeiro, pelos congelamentos de preços e pelas dificuldades de negociações coletivas. Nesse período, as greves tinham uma explicação que atualmente serve para justificá-las: a reivindicação pelo reajuste salarial que pudesse limitar as perdas provocadas pela inflação.

Dificilmente as greves apresentam apenas um significado: elas são formas de ação do sindicato no sentido de reagir à política salarial do governo. Servem também para apresentar novas lideranças sindicais e as condições de trabalho da categoria, além de questionar o papel do sujeito no movimento de reivindicação. Para Mascarenhas (2002), a prática sindical torna pública as condições e relações trabalhistas, ao mesmo tempo em que sedimenta o caráter coletivo das relações favorecendo a construção de laços no interior do espaço de trabalho que poderão se estender para além do mesmo.

Noronha destaca de forma positiva a participação do setor público na construção de muitas greves. Trata-se de um grupo que resistiu bem às dificuldades de negociação e que também continuou se manifestando ao longo das décadas seguintes quando as políticas neoliberais imprimiram grandes perdas para a categoria de trabalhadores. Trataremos dessas categorias nos capítulos seguintes.

Para Mattos (2009a), a CUT apresentou-se e cresceu durante os anos 1980 afirmando a necessidade de enfrentamento do capital e da defesa dos interesses imediatos e históricos da classe trabalhadora. Por outro lado, a mesma, desde o seu nascedouro, foi marcada por rachas

internos, provocando assim, uma polarização interna e um controle por parte da sua direção, formada pela tendência Articulação Sindical - assim direcionando sua administração para a exclusão dos demais setores da Central. A partir daí a CUT se tornou participativa nos espaços convocados pelo governo e por empresários até se filiar à Confederação Internacional de Organizações Sindicais Livres (CIOSL). No Governo Lula, tornou-se uma das maiores defensoras das reformas propostas pelo governo para a classe trabalhadora e manteve relação íntima e contratual com o governo à medida que dirigentes da CUT se licenciavam de seus cargos na Central para assumirem postos na estrutura administrativa do governo. Araújo e Oliveira (2014) também atestam a relação íntima do PT com a CUT e vice-versa. Vejamos:

Entre todos os seguimentos com os quais se identificou, foi com a CUT que o PT construiu, desde a origem de ambos, laços políticos mais fortes e com quem sua imagem mais se associou, positiva ou negativamente, no imaginário popular. O PT sempre foi uma força política amplamente majoritária entre os militantes da CUT, embora jamais tenha tido aí uma presença monolítica, sempre atuando a partir de tendências, que guardam posições conflitivas entre si. De outro lado, parte expressiva dos petistas teve origem ou manteve-se atuante no sindicalismo combativo. A CUT construiu-se como seguimento destacado do campo democrático e popular, apoiando decididamente as quatros candidaturas de Lula à presidência. (ARAÚJO; OLIVEIRA, 2014, p. 30).

A maioria dos estudiosos aponta uma crise no novo sindicalismo ainda na década de 1980, provocada pelas novas relações de trabalho instauradas pelo capital, afetando de perto a forma de ser da classe trabalhadora, que se tornava mais heterogênea, fragmentada e complexa. Ricardo Antunes (2002), analisando essa crise, aponta alguns fatores que teriam contribuído para o seu crescimento: a diminuição das taxas de sindicalização, a separação entre trabalhadores estáveis e os precarizados, intensificação da tendência neocorporativa, redução das ações e práticas de greves. Antunes adverte, entretanto, que não devemos pegar essas características como uma uniformização do sindicalismo e que existem países em que a taxa de sindicalização não diminuiu, como na Suécia. A diferenciação entre trabalhadores estáveis e não estáveis tem dificultado uma união da classe e o desenvolvimento de uma consciência de classe, resultando em uma redução das práticas de greve, tornando o sindicato intensamente mais corporativo. O autor considera isso perigoso, pois pode gerar desentendimento entre as classes e expansão de movimentos xenofóbicos.

Antunes, por se apresentar preocupado com o processo de desregulamentação no mercado de trabalho, bem como o aumento do desemprego no Brasil, tem apontado em seus estudos, esses grupos de trabalhadores que não são sindicalizados porque vivem na informalidade. Esse grupo pode se revoltar em relação aos que são protegidos pelas leis e

pelos sindicatos que lutam exigindo direitos. Nesse caso, aponta para a urgência de lutas conjuntas e com bandeiras mais amplas para abarcar toda a classe trabalhadora. Concordamos com o autor sobre a necessidade de ampliar as lutas.

Rossi e Gerab (2009), que também concordam com uma crise no movimento sindical, salientam que, além dos reflexos das pressões externas ao sindicalismo, o quadro político interno também apresenta problemas, como o apego aos aparelhos dos sindicatos. O sindicalismo brasileiro tem apresentado ainda momentos de fluxos e refluxos. Os motivos dos refluxos são vários. Conforme Mattos (2009b): os problemas de sustentação financeira, a queda no índice de sindicalização, as experiências dos trabalhadores com as transformações no mundo do trabalho, a permanência da estrutura sindical corporativa e as opções políticas dos líderes da CUT.

Mattos (2009a) parte de uma análise da relação da classe trabalhadora com o capital como época de grandes derrotas que se acentuou no Brasil na década de 1990, sintetizada em maior precarização das relações de trabalho, aumento das taxas de desemprego, agravamento das condições de existência, tendo como consequência: “[...] Do ponto de vista da subjetividade coletiva [...] o recuo do sentimento de pertencimento a um coletivo social [...] e da identificação com os projetos de transformação social orientados por uma perspectiva de classe trabalhadora [...]” (MATTOS, 2009a, p. 27); fragmentação tanto nas relações de trabalho, como no nível da consciência de classe.

Ainda na década de 1990, o movimento sindical teve que enfrentar a luta do projeto de lei da reforma da Previdência, quando, por ironia do destino, efetivou-se a implantação durante o governo de Lula, ex-sindicalista. Essa mudança foi duramente criticada pelo movimento sindical, mas encabeçada pela CUT que, naquele contexto, muitas vezes se confundia com o governo, causando a desconfiança dos sindicatos, provocando inclusive uma grande desfiliação dos sindicatos daquela Central. Esse período foi marcado por lutas pontuais no que se refere à própria organização dos sindicatos brasileiros que se ampliaram no início da administração petista em 2003 e anos seguintes em lutas contra as reformas na legislação trabalhista.

Ruth Ferreira (1994), em seus estudos sobre movimentos sociais e partidos políticos, identificou a dupla militância de lideranças que participaram do movimento social e do partido. Segundo ela, muitos partidos de esquerda investiam nos movimentos sociais buscando exercer alguma influência política sobre eles. Essa realidade pôde ser constatada durante as administrações petistas à frente do executivo federal, quando o partido, no

governo, procurou apoio nos sindicatos e em suas principais lideranças para aprovar as suas propostas de reformas no Estado.

A maioria dos estudiosos apontam a década de 1990 como o período de crise do novo sindicalismo, marcada pela ascensão da política neoliberal no Brasil com a reestruturação produtiva provocando desemprego, flexibilização das leis trabalhistas, profundas transformações no mercado de trabalho e, consequentemente, um enfraquecimento das formas de lutas e do próprio sindicalismo combativo da década anterior. Para Mattos (2009b), com a redemocratização do Brasil e as eleições presidenciais de 1989, encerra-se a era do novo sindicalismo.

[...] do ponto de vista de um movimento politicamente organizado, o neoliberalismo como ideologia do estado mínimo, a reestruturação produtiva como prática de maximização dos ganhos do capital e o ataque ao direito do trabalho como processo de individualização e mercantilização das relações trabalhistas desembarcaram no Brasil nos anos de 1990, inicialmente com Collor de Mello e posteriormente, se vê recrudescer sob FHC [...] (BRIDI; FERRAZ, 2014, p. 88).

A conclusão de que a década de 1990 foi marcada pela crise do sindicalismo provocada pela adoção da política neoliberal no Brasil é comum entre os vários autores que estudam o sindicalismo brasileiro (BOITO JR., 1999; ANTUNES, 2005; BRIDI, 2005; TRÓPIA, 2009; MATTOS, 2009a, 2009b). O que diferencia os autores são as leituras que os mesmos fizeram da trajetória do sindicalismo diante da crise, conforme o aporte teórico de cada autor. Alguns autores caracterizam o período como de rendição do novo sindicalismo e de crise no modelo de luta.

Mattos (2009a) parte de uma análise da relação da classe trabalhadora com o capital como época de grandes derrotas, como o recuo do sentimento de pertencimento a um coletivo e fragmentação nas relações de trabalho e no nível de consciência de classe, como já mencionamos anteriormente. Antunes (2005) vê como um desmoronamento do sindicalismo vertical e uma intensificação do neocorporativismo, quando o sindicato passou a defender os interesses da categoria à qual o sindicato está vinculado, deixando à mercê do capital a grande massa de trabalhadores em situações precarizadas de relações de trabalho e vê ainda como uma acomodação social democrática. Boito Jr. (1999) também identifica características neocorporativista no movimento sindical, ao mesmo tempo em que identifica o período como de ofensiva da política neoliberal. Trópia (2009), analisando a atuação da Força Sindical nos anos 1990, época de implantação da política neoliberal, identifica a mesma como tolerável pelo governo e pelas empresas investidoras que veem sua atuação como desejável para os

governos neoliberais, pois a mesma colaborou com o processo de desmonte da legislação trabalhista, ao propagar a ideologia neoliberal entre seus associados, agindo como “uma espécie de empresa, que investe e incentiva as relações mercantis entre os trabalhadores e sindicatos” (TRÓPIA, 2009, p. 30). Bridi (2005) identifica a atuação dos sindicatos como de crise de mobilização. Enfim, cada um a seu modo caracterizou o momento de crise do sindicalismo.

Bridi e Ferraz (2014), embora concordem com a crise de mobilização ocasionada pela perda de filiados, afirmam que a mesma ocorreu, principalmente, em setores que mais foram atingidos pelas medidas de mercantilização das relações trabalhistas. E estas eram as principais categorias que compunham a CUT e a Força Sindical, mas no setor dos servidores públicos é possível ver uma ampla expansão do sindicalismo, sobretudo nos setores da educação e da saúde, favorecidos pela conquista do direito de sindicalização na Constituição de 1988. Mas nos dois mandatos (1995-2002), FHC conseguiu tomar medidas que prejudicaram os trabalhadores de forma geral, inclusive os funcionários públicos, com a desregulamentação de direitos sociais e a flexibilização das relações de trabalho. Nas universidades, passou a ter um controle rigoroso sobre a carga horária do professor exigindo produção computada em números e fiscalizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Toda a relação trabalhista passou a ser pensada com vista a dar lucro, aumentando a exploração sobre o grupo de trabalhadores.

Para Bridi e Ferraz (2014, p. 91), não se pode analisar o poder do sindicato apenas pelo crescimento de filiados, nem muito menos pelo número de greves conduzidas por ele. O seu “[...] poder reside na disposição para a ação coletiva, o que implica a capacidade tanto de promovê-la, como evitá-la, em função de conjunturas específicas e de cálculos racionais sobre ganhos e perdas possíveis. [...].” Muitas vezes, o sindicato percebe que pode conseguir o que deseja sem necessariamente chamar para uma greve, pois este é o ponto máximo da ruptura. Tal estratégia só é indicada pelo sindicato quando todas as outras possibilidades de negociação foram exploradas sem resultados favoráveis à categoria que o mesmo representa.

Para os autores, com o processo de redemocratização do Brasil, o sindicalismo vive um outro momento de institucionalização, portanto, com poder de intervenção institucional junto a outros atores sociais capazes de diminuir a mercadorização da força de trabalho. Tal afirmação pode ser confirmada observando a participação de vários conselhos criados pelo governo para gerir o processo de transformação no mundo do trabalho. O sindicato deve avaliar a participação e o grau de interferências que a mesma pode ocasionar nos interesses do

sindicato, pois, uma vez participando do processo, pode ter os seus interesses embaralhados com os de outros setores, inclusive com interesses do governo.

[...] Assim, os anos de 1990 para o movimento sindical brasileiro devem ser descritos através de dois fenômenos. O primeiro é mais frequentemente visível nos estudos sociológicos e consiste na diminuição do movimento grevista e na capacidade de mobilização de massa dos sindicatos de trabalhadores. O segundo consiste no crescimento do seu poder institucional junto a outros atores sociais. (BRIDI; FERRAZ, 2014, p. 94).

O que os autores concluem é que o sindicalismo da década de 1990 não tinha a mesma capacidade de mobilização dos anos de 1980, devido à própria conjuntura de desregulamentação de direitos, às dificuldades de negociação e ao baixo índice de sindicalização. Concordamos que eram tempos difíceis para as organizações sindicais. Novo contexto de regulamentação do trabalho se apresentava, bem como, crescia o número dos trabalhadores desempregados exigindo dos sindicatos novas estratégias de lutas. Mas não podemos desconsiderar o papel desempenhado pela Força Sindical no interior do movimento amortecendo as lutas.

Trópia (2009), analisando a participação da Força Sindical na década de 1990, vai apresentar uma Central colaboracionista com o governo, no sentido de facilitar a aplicação das políticas neoliberais entre os trabalhadores, completamente comprometida com os interesses do grande capital e tirando vantagens dele, uma vez que a Força Sindical passou a gerir recursos se comportando como uma verdadeira empresa junto aos trabalhadores. Então, uma vez que uma central ou um sindicato assumam a posição de colaborar com o governo, os mesmo podem ter os seus interesses comprometidos e perder a confiança dos seus filiados. A participação institucional é uma faca de dois gumes e deve ser bem avaliada pelo movimento sindical antes de se optar por este caminho.

Para Trópia (2009), o apoio da Força Sindical ao neoliberalismo se desenvolveu em duas frentes. Uma delas empreendeu uma forte oposição à CUT e ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e a outra se tornou o “braço” da política neoliberal no sindicalismo, tendo papel decisivo na desregulamentação das relações de trabalho e na redução dos gastos sociais.

Se o discurso da Força Sindical era ambíguo, sua prática não deixava dúvidas quanto à defesa da privatização dos serviços sociais. Além de ter sido omissa na denúncia da redução dos gastos, a Central cresceu, em grande medida, ao assumir funções sociais relegadas pelo Estado como educação e saúde, especialmente. A Força Sindical negociava seguros de vida, seguros saúde e atuava crescentemente na oferta