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Lista de Abreviaturas e Siglas

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA: ENERGIA, AMBIENTE E SOCIEDADE

2.1 A hidroeletricidade no Brasil

No Brasil, a maior parte da produção de energia elétrica é proveniente da hidroeletricidade, com aproveitamento do potencial hidráulico de cerca de 30%, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética - EPE (2013). As primeiras usinas foram instaladas entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX, principalmente para atender sistemas isolados, sendo constituídas por pequenos empresários ou pelas prefeituras municipais.

Dentre os países com maior potencial teórico do mundo, o Brasil se destaca em 3º lugar, com 3.040 TWh/ano, além de ocupar a mesma posição no ranking dos países com maior potencial hidrelétrico tecnicamente aproveitável (1.488 TWh/ano) (EPE, 2013).

A produção da energia hidrelétrica ocorre a partir do aproveitamento do potencial hidráulico de um curso d‟água, através da utilização da vazão do rio, da quantidade de água disponível em determinado período de tempo e seus desníveis, sejam eles naturalmente formados, como as quedas d‟água, sejam eles criados pela construção de barragens (TOLMASQUIM, 2005).

A energia hidráulica é proveniente da irradiação solar e da energia potencial gravitacional. O sol e a força da gravidade condicionam a evaporação, a condensação e a precipitação da água sobre a superfície da Terra. A gravidade ainda faz a água fluir pelo leito do rio, e esse movimento possui energia cinética, que pode ser convertida em energia mecânica, e esta, por sua vez, em energia elétrica, nas centrais hidrelétricas (TOLMASQUIM, 2005).

O aproveitamento do potencial hídrico para a produção de energia elétrica apresenta custo de produção relativamente menor em comparação com outras fontes (como os derivados de combustíveis fósseis e algumas fontes alternativas de energia, como o óleo diesel, o óleo combustível e a energia eólica), conforme apresentado na Figura 1. É considerada também uma energia limpa, visto que não provoca emissões de poluentes atmosféricos, libera pouca

quantidade de gases causadores de efeito estufa na produção de energia, além de ser uma das fontes de energia limpa que podem ser comercialmente produzidas em larga escala.

(*) Gás natural liquefeito (**) Bagaço de cana

Figura 1 - Custos de produção de energia elétrica no Brasil

Fonte: Aneel (2008, p. 30)

A energia hidrelétrica é a segunda fonte de geração de energia elétrica mais importante no planeta, responsável por cerca de 20% de toda a eletricidade gerada no mundo, e é utilizada em mais de 150 países. Nos últimos anos, representantes de mais de 170 países chegaram a um consenso de que, como energia renovável, seu desenvolvimento deve ser apoiado internacionalmente, o que foi declarado inicialmente em 2002, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, em Joanesburgo, e, novamente, em 2003, no Terceiro Fórum Mundial da Água em Kyoto (YUKSEL, 2010). Em comparação com outras fontes de energia, as vantagens que a energia hidrelétrica possui são (HUANG; YAN, 2009; YUKSEL, 2010):

 A fonte de energia utilizada, ou seja, a água, não se esgota durante a produção de eletricidade. As instalações hidrelétricas aproveitam a energia potencial da água para gerar eletricidade.

 A energia hidrelétrica é a forma mais eficiente para gerar eletricidade, pois as turbinas hidráulicas podem converter até 90% da energia disponível em eletricidade.

 Oferece flexibilidade operacional, já que pode responder às flutuações de demanda por eletricidade.

 Promove a segurança energética e a estabilidade dos preços, já que a água é um recurso doméstico e, ao contrário do combustível ou de gás natural, não está sujeito às flutuações do mercado.

Contudo, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL (2008, p. 52):

O principal argumento contrário à construção das hidrelétricas é o impacto provocado sobre o modo de vida da população, flora e fauna locais, pela formação de grandes lagos ou reservatórios, aumento do nível dos rios ou alterações em seu curso após o represamento.

Os impactos resultantes da construção e implantação de usinas hidrelétricas estão relacionados ao tamanho, volume, tempo de retenção do reservatório, localização geográfica e características e condições hídricas.

A classificação de uma usina depende de sua potência instalada, conforme critérios estabelecidos pela Aneel, que elenca Centrais Geradoras Hidrelétricas (empreendimentos com potência instalada de até 1 MW), Pequenas Centrais Hidrelétricas (que devem possuir aproveitamento hidrelétrico com potência entre 1,1 e 30 MW e reservatório com área igual ou inferior a 3 km2) e Usina Hidrelétrica de Energia (com mais de 30 MW instalados) (ANEEL, 2008).

Considerando diversas hidrelétricas brasileiras, Ross (1999) e Silva (2014) elencam os impactos gerados nas várias fases de implementação de uma barragem, a saber: construção da barragem, enchimento e operação do reservatório e finalização da construção.

Na fase de construção da barragem, por exemplo, há uma série de impactos diretos no meio físico e biótico, como o desmatamento para a instalação de canteiro de obras, alojamento e até mesmo vias de acesso, podendo haver também atividades de caça e pesca, que contribuem para a dispersão e o desaparecimento da fauna. A construção da barragem afeta ainda aspectos do relevo e da hidrografia do rio, como a intercepção da rede de drenagem, além de acarretar a alteração das bacias de captação e movimentação de grandes massas de terra na formação do reservatório.

Ainda na fase de construção da barragem, há os impactos socioeconômicos, como crescimento demográfico nos municípios do entorno, que intensificam a demanda por infraestrutura, serviços e emprego, podendo resultar em aumento da criminalidade.

Já no processo de enchimento e operação do reservatório, os impactos no meio físico e biótico atingem a flora, a fauna, o relevo, a hidrografia e o solo, já que ocorre desmatamento da área a ser inundada, o que afugenta a fauna e inviabiliza o desenvolvimento de atividades agropecuárias. O relevo sofre alteração pelos processos erosivos, que podem desencadear assoreamento e favorecer a proliferação de insetos.

Sobre a emissão de metano e gás carbônico, ocorre de maneira lenta, por difusão, ao longo dos cursos dos rios, abaixo das barragens, e é proporcional à área alagada. Contudo, comparativamente, as hidrelétricas emitem menos poluentes que outras fontes que utilizam combustíveis de origem fóssil.

Na fase de enchimento e operação do reservatório, ocorrem ainda impactos socioeconômicos diretos, como a necessidade de remoção das populações ribeirinhas, podendo interferir em bens de valores afetivos, culturais e religiosos dessas populações, além de afetar suas práticas agrícolas. Também há dificuldades de circulação e comunicação entre comunidades do entorno.

Por fim, na fase de término da construção, há um “esvaziamento demográfico”, gerando liberação de mão de obra e a desaceleração da economia local, o que pode acarretar em desemprego e desequilíbrio social.

Entretanto, além dos impactos negativos, há alguns impactos positivos oriundos das usinas hidrelétricas, tais como a regularização de enchentes e estiagens, a navegabilidade dos rios e a criação de empregos (SILVA, 2014).

Existem metodologias para a análise de benefícios e impactos provenientes da instalação de uma hidroelétrica, sendo algumas obrigatórias, como os Estudos e Relatórios de Impactos Ambientais (EIA-RIMA), e outras facultativas, como o Planejamento Integrado de Recursos (PIR) ou a Metodologia para Avaliação da Sustentabilidade Socioeconômica e Ambiental da UHE (SILVA, 2014).

Um dos principais impactos produzidos pelas hidroelétricas, sem dúvida, é a área a ser alagada pelo reservatório. Contudo, os impactos podem ser minimizados através da implementação de medidas compensatórias à população local, além de que não se pode esquecer o ganho social que se tem com a produção de energia elétrica, que beneficia inúmeras comunidades.