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Lista de Abreviaturas e Siglas

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.3 Fatores relacionados à ocorrência de enchentes e inundações no município de Atibaia

5.3.4 Pesquisa com a população não afetada

Assim como com a população afetada, foram entrevistados 40 membros da população não afetada pelas enchentes e inundações, a fim de comparar a percepção dos dois grupos. Os entrevistados da população não afetada residem em 28 bairros do município (conforme demonstrado na tabela 32).

Tabela 32 - Bairro de residência dos entrevistados da população não afetada Bairro Frequência (%) Alvinópolis 7,5 Caetetuba 7,5 Bairro da Ponte 5 Brotas 5 Centro 5 Estância Lynce 5 Mato Dentro 5 Pinheirinho 5 Piqueri 5 Ponte Alta 5 Ressaca 2,5 Boa Vista 2,5 Cachoeira 2,5 Caioçara 2,5 Guaxinduva 2,5 Itapetinga 2,5 Lagoa 2,5 Laranjal 2,5 Maracanã 2,5 Marmeleiro 2,5 Portão 2,5

Ribeirão dos Porcos 2,5

Rio Abaixo 2,5 Rio Acima 2,5 Rosário 2,5 São Roque 2,5 Tanque 2,5 Usina 2,5 Total 100

Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

O perfil dos entrevistados da população não afetada é caracterizado por uma maioria de 55% pertencentes ao sexo feminino, na faixa etária de 31 a 40 anos, composta por funcionários de empresa privada, autônomos e profissionais liberais. Possui escolaridade mediana e renda

inferior à da população afetada (60% ganham de 1 a 3 salários mínimos), conforme pode ser observado nas tabelas a seguir.

Tabela 33 - Sexo dos entrevistados da população não afetada

Sexo Frequência (%)

Feminino 55

Masculino 45

Total 100

Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 34 - Idade dos entrevistados da população não afetada

Idade Frequência (%) De 31 a 40 anos 25 De 21 a 30 anos 20 De 41 a 50 anos 17,5 De 51 a 60 anos 15 Acima de 70 anos 10 De 61 a 70 anos 7,5 Menos de 20 anos 5 Total 100

Tabela 35 - Nível de escolaridade dos entrevistados da população não afetada

Nível de escolaridade Frequência (%)

Ensino Médio Completo 32,5

Ensino Fundamental Completo 20

Pós-graduação 15

Ensino Médio Incompleto 10

Ensino Superior Completo 7,5

Não possui instrução formal 7,5

Ensino Fundamental Incompleto 5

Ensino Superior Incompleto 2,5

Total 100

Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 36 - Ocupação dos entrevistados da população não afetada

Tipo de ocupação Frequência (%)

Funcionário de empresa privada 35

Autônomo/Profissional liberal 25

Aposentado 12,5

Dona de casa 12,5

Desempregado 5

Estudante 5

Funcionário de empresa pública 5

Total 100

Tabela 37 - Renda dos entrevistados da população não afetada Renda Frequência (%) 1 a 3 salários mínimos 60 4 a 6 salários mínimos 32,5 7 a 9 salários mínimos 7,5 Total 100

Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Tabela 38 - Período de ocorrência das enchentes e inundações no município

Período de ocorrência Frequência (%)

2009–2010 52,5

2009–2010 e 2010–2011 30

2010–2011 17,5

Total 100

Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

Acerca das causas das enchentes e inundações, os entrevistados da população não afetada indicaram, em sua maioria, acúmulo de lixo nas ruas, bueiros e rios (37,5%), e excesso de chuvas (32,5%). Somente 2,5% dos entrevistados mencionaram a PCH Atibaia, indicando que seu reservatório haveria transbordado. Assim como ocorreu com a população afetada, 7,5% da população não afetada também indicou a má administração municipal, contudo sem especificar de que forma isso afetaria a ocorrência dos eventos. É importante destacar que alguns entrevistados indicaram acúmulo de lixo nas ruas, bueiros e nos rios, falta de manutenção da mata ciliar, problemas de infraestrutura, entupimento de bueiros, falta de capacidade de escoamento das águas e assoreamento dos rios, contudo sem relacioná-los. Ainda foram citados aspectos importantes, como o fato de a área corresponder à várzea do rio e ter sido brejo antes da urbanização e loteamento.

Tabela 39 - Causas das enchentes e inundações identificadas pela população não afetada

Causa das enchentes e inundações Frequência (%) Acúmulo de lixo nas ruas, bueiros e nos rios 37,5

Excesso de chuvas 32,5

Falta de manutenção da mata ciliar 10

Problemas de infraestrutura 10

Descarregamento de maior volume de água pelo Sistema Cantareira

7,5

A barragem do Sistema Cantareira rompeu 7,5

Entupimento de bueiros 7,5

Má administração municipal 7,5

A área corresponde à várzea do rio 5

Falta de capacidade de escoamento das águas 5

Um lago “estourou” a montante do bairro 5

A área era um brejo 2,5

Assoreamento do rio 2,5

O reservatório da PCH Atibaia transbordou 2,5

Não soube responder 2,5

Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

As medidas indicadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações envolvem a limpeza dos rios e córregos (30%), e grande parte dos entrevistados não soube responder ou alegou que não foi tomada nenhuma medida. Pequena parte da população não afetada soube indicar medidas tomadas para minimizar a ocorrência desses eventos, o que indica que as pessoas (tanto afetados como não afetados) não estão muito envolvidas com essa questão.

Tabela 40 - Medidas que foram e vêm sendo tomadas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações no município, identificadas pela população não

afetada

Medidas para minimizar a ocorrência e os impactos das enchentes e inundações

Frequência (%)

Limpeza dos rios e córregos 30

Não soube responder 27,5

Nenhuma 22,5

Desapropriação de algumas áreas de risco 7,5 Abertura das comportas do reservatório da PCH Atibaia 5

Desassoreamento dos rios 5

Conscientização da população 2,5

Melhorias na infraestrutura 2,5

Realocação da população residente em áreas de ocupação irregular

2,5

Visita da Defesa Civil na época dos eventos 2,5

Fonte: Elaboração própria a partir de dados obtidos em campo, 2014

5.3.5 Conclusões:

Considerando a explanação realizada no presente trabalho, apresentam-se as principais conclusões desta dissertação.

Inicialmente, as tabelas 41, 42 e 43 apresentam um resumo dos resultados das entrevistas realizadas com os especialistas e técnicos, bem como dos questionários aplicados com a população afetada e não afetada pelas enchentes e inundações em Atibaia.

Tabela 41: Resumo dos resultados das entrevistas com especialistas e técnicos

Elemento Resultado Frequência

Sexo Masculino 83,33%

Escolaridade Ensino Superior Completo 50%

Idade 51 a 60 anos 50%

Período de ocorrência 2009 – 2010; 2010 – 2011 100%

Fatores influenciadores 1 – Aumento do volume de precipitação;

II – Falta de limpeza e manutenção da calha do rio; III – Ocupação das áreas de várzea.

I – 83,33% II – 83,33% III – 66,66% Influência da PCH Atibaia Não 66,66%

Medidas tomadas I – Limpeza e desassoreamento dos córregos e afluentes;

II – Elaboração do plano de contingência e de combate às enchentes.

I – 66,66% II – 50% Fonte: Elaboração própria

Tabela 42: Resumo dos resultados dos questionários com a população afetada

Elemento Resultado Frequência

Sexo Feminino 60%

Escolaridade Ensino Médio Completo 42,5%

Idade I – 31 a 40 anos

II – 51 a 60 anos

25% cada

Ocupação Funcionário empresa privada 25%

Renda De 04 a 06 salários mínimos 50%

Período de ocorrência 2009 – 2010 45%

Fatores influenciadores I – Excesso de chuvas;

II – Ocupação das áreas de várzea; III – Reservatório da PCH Atibaia.

I – 60% II – 25% III – 12,5%

Medidas tomadas I– Limpeza dos rios e córregos; II – Nenhuma.

I – 37,5% II – 30% Fonte: Elaboração própria

Tabela 43: Resumo dos resultados dos questionários com a população não afetada

Elemento Resultado Frequência

Sexo Feminino 55%

Escolaridade Ensino Médio Completo 32,5%

Idade 31 a 40 anos 25%

Ocupação Funcionário empresa privada 35%

Renda De 01 a 03 salários mínimos 60%

Período de ocorrência 2009-2010 52,5%

Fatores

influenciadores

I – Acúmulo de lixo nas ruas, bueiros e nos rios II – Excesso de chuvas;

III – O reservatório da PCH Atibaia transbordou.

I – 37,5% II – 32,5% III – 12,5%

Medidas tomadas I – Limpeza dos rios e córregos; II – Não soube responder III – Nenhuma.

I – 30% II – 27,5% III – 22,5% Fonte: Elaboração própria

Assim, ressaltando a análise energética realizada, verificou-se uma redução nas vazões médias anuais reais da PCH Atibaia, resultante da dinâmica socioambiental existente na região, destacando-se, conforme já evidenciado, a criação do Sistema Cantareira a partir de 1975, o crescimento populacional, que aumenta a demanda por recursos hídricos, bem como a crescente taxa de urbanização do município.

Contudo, analisando o índice pluviométrico mensal e comparando-o às vazões médias mensais, observou-se uma elevação registrada nos meses de dezembro de 2009, janeiro de 2010 e janeiro de 2011, em comparação aos mesmos meses em anos anteriores. Conforme mencionado anteriormente, com relação ao índice pluviométrico em dezembro de 2009 registrou-se 398 mm, 417,6 mm em janeiro de 2010 e 474,7 mm em janeiro de 2011. È importante mencionar que as vazões médias dos meses destacados também apresentaram elevação, ocasionadas pelo aumento do volume de precipitação, e que este período coincide com o de ocorrência de enchentes e inundações no município.

Com relação à influência da PCH Atibaia na ocorrência destes eventos, dois dos três relatórios analisados concluem que não há relação; a maioria dos técnicos e especialistas

entrevistados, assim como a população afetada e não afetada também acredita não haver esta influência.

Portanto, analisando as informações levantadas, pode-se afirmar que a ocorrência de enchentes deve ser atribuída a diversos fatores combinados entre si, e não a fatos isolados. Além disso, é importante destacar que a barragem da PCH Atibaia é que poderia exercer influência sobre a ocorrência de enchentes e inundações (o que não ocorre), independentemente de a PCH estar em operação para produzir energia. Para o município de Atibaia, os fatores que podem ter contribuído para a ocorrência de enchentes são:

 Aumento do volume de precipitação em dezembro de 2009, janeiro de 2010 e janeiro de 2011, que influenciou, por sua vez, o aumento do volume de vazão da PCH Atibaia (período em que coincide com os registros de ocorrências de enchentes e inundações no município), conforme informações apresentadas na Tabela 10.

 Aumento do grau de urbanização do município.

 Aumento das áreas impermeáveis e da canalização dos recursos hídricos.

 Ocupação de áreas de várzea e APPs.

 Ocupação irregular.

 A construção das barragens do Sistema Cantareira, que diminuiu o fluxo de água vertido para o Rio Atibaia, possibilitando a ocupação de áreas que anteriormente eram alagáveis.

 Manejo do Sistema Cantareira, pois a vazão liberada pelos reservatórios influencia a vazão do Rio Atibaia.

 Falha na gestão das informações e dos dados dos sistemas meteorológicos utilizados pelo Sistema Cantareira e pela Prefeitura Municipal.

É possível verificar que o crescimento urbano desordenado em Atibaia tem pressionado principalmente as áreas de várzea (fato já evidenciado pelos autores TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2012; TUCCI, 2008, apresentado na fundamentação teórica), o que tem gerado impactos socioambientais que aumentam o grau de vulnerabilidade da população residente no município, vulnerabilidade esta confirmada pelo aumento do número de famílias afetadas pelas enchentes. Entretanto, salienta-se que a maioria das áreas atingidas pelas enchentes está em situação regular, aprovada pela Prefeitura e por demais órgãos governamentais competentes.

Se, por um lado, houve um aumento significativo das chuvas em um curto período de tempo, que pode estar relacionado, segundo vários pesquisadores (IPCC, 2014), ao aquecimento global, tal fato tem sido agravado pela grande quantidade de lixo jogada indiscriminadamente nas ruas, o que acaba entupindo as “bocas de lobo”, que dariam vazão à água; e pela ocupação de APPs.

Jothityangkoon et al. (2013) salientam que uma questão que vem sendo cada vez mais discutida é se a barragem de uma hidrelétrica permanece segura considerando todas as alterações socioambientais que ocorrem naquela localidade no decorrer dos anos, indagando se as capacidades dos vertedouros das barragens são suficientes para o volume e a frequência das inundações atuais e futuras. O trabalho desses autores demonstra que o clima e as mudanças de uso do solo podem causar significativas alterações na magnitude de enchentes e inundações extremas.

Assim, crises ou catástrofes devem ser gerenciadas pelos serviços de socorro de acordo com a urgência, no contexto de planos definidos anteriormente, enquanto o risco exige ser integrado às escolhas de gestão e às políticas de organização dos territórios.

programas de gestão que considerem as características atuais, compreendendo e inserindo os conceitos de vulnerabilidade e risco ambiental. Dentre as estratégias metodológicas para gerenciamento de riscos, destacam-se a identificação e análise de riscos; a adoção de medidas de prevenção de acidentes e redução de riscos; o planejamento para situações de contingência e de emergência, informação pública, capacitação e mobilização social para autodefesa.

Em um estudo recente, Sayers et al. (2014) desenvolveram dez "regras de ouro" para a gestão estratégica das inundações, que envolvem responsabilidades pela governança e ação, para promover a participação das partes interessadas no processo de tomada de decisão e para refletir o contexto local e integrar-se com outros processos de planejamento. O estudo apresenta os desafios de lidar com os riscos de inundação e a gestão da água em ambientes complexos e em grande escala, afirmando que os conceitos comumente aceitos de gestão de riscos devem ser revistos, e que as oportunidades para as práticas de gestão compartilhada de inundações devem ser fomentadas.

Contudo, observa-se a falta de planejamento do setor público com relação à gestão dos recursos hídricos e dos efeitos das enchentes e inundações no município de Atibaia. O período atual (ano de 2015), em que o principal problema enfrentado é a escassez de água, apesar de a prioridade ser a provisão do recurso hídrico, seria um momento propício para a execução de medidas necessárias à prevenção de ocorrência de enchentes e inundações, tais como recuperação e reflorestamento de mata ciliar e recuperação e manutenção da calha do rio, o que não vem ocorrendo, conforme pode ser observado nas Figuras 35 e 36, que mostram as condições do Ribeirão do Itapetininga, localizado no bairro do CTB:

Figura 35 - Ribeirão do Itapetininga - CTB, dezembro de 2014 Fonte: Gonçalves (2014)

Figura 36 - Ribeirão do Itapetininga - CTB, dezembro de 2014 Fonte: Gonçalves (2014)

Nesse sentido, uma opção interessante seria a utilização de parte dos royalties oriundos da produção de energia pela PCH Atibaia (caso fosse reativada) para a manutenção de um fundo de reserva para custear ações relacionadas à prevenção de novos eventos, bem como prejuízos dos impactos das enchentes e inundações em Atibaia.

Outra ação, apontada pelo Relatório Final para o Plano Municipal de Drenagem de Águas Pluviais de Atibaia (GIANSANTE, 2012), seria a formação de um Departamento de Drenagem Urbana, ou um setor específico para a gestão integrada do sistema, que deveria atuar em conjunto com um Sistema de Informações Geográficas, através de um banco de dados georreferenciados. Outra sugestão, apresentada no mesmo relatório, seria a criação de um parque linear ao longo do Rio Atibaia, além de um sistema de alerta de inundações em conjunto com a defesa civil (GIANSANTE, 2012).